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Agricultura - Bem natural

2006. Ano 3 . Edição 26 - 1/9/2006

Produção, consumo e exportação de alimentos orgânicos crescem no Brasil, mas a falta de regulamentação, de controle de qualidade e de estratégias de distribuição eficiente limita a expansão do setor

Por Ottoni Fernandes Jr. , de São Paulo

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O mercado de alimentos orgânicos, produzidos sem o emprego de agrotóxicos e adubos químicos, ganha cada vez mais espaço nas prateleiras dos supermercados, e as exportações crescem, em média, 30% ao ano. Eles deixaram o circuito alternativo. Compõem uma cadeia que movimenta, anualmente, cerca de 250 milhões de reais - e exporta 85% do que produz. Mas o setor enfrenta as dores do crescimento. Precisa ser regulamentado e criar canais de distribuição eficientes. Há urgência nessas providências porque o fenômeno do aumento de consumo desses produtos, considerados mais saudáveis, não é exclusivo do Brasil. Em todo o mundo, e especialmente na Europa e no Japão, a procura é crescente. Aproveitar essa nova demanda é uma boa oportunidade. Os parceiros do Brasil no Mercosul, em sintonia com as exigências internacionais, regulamentaram o setor há quinze anos e ganharam espaço na Europa.

A garantia de qualidade é um selo colocado na embalagem. Atesta que não foram usados adubos químicos, agrotóxicos, hormônios de crescimento, antibióticos ou sementes transgênicas na produção. No Brasil, 24 empresas certificadoras oferecem esse serviço. Elas rastreiam o processo produtivo e também a embalagem e o transporte. As propriedades orgânicas são inspecionadas periodicamente por técnicos que tiram amostras do solo para verificar a presença de resíduos de adubos químicos ou agrotóxicos. Isso, no entanto, é insuficiente, pois as certificadoras não são regulamentadas ou fiscalizadas por um organismo governamental.

agricultura3_24Plantação de abobrinha orgânica no interior de Sao Paulo. Para proteger a cultura do ataque de pragas, os são cobertos com capas plásticas

"As regras ajudarão a consolidar o setor de alimentos orgânicos. Darão segurança aos consumidores", acredita Alexandre Harkaly, diretor executivo do Instituto Biodinâmico, empresa certificadora sediada em Botucatu, no interior de São Paulo, filiada à Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam, na sigla em inglês). A entidade, com sede em Bonn, na Alemanha, reúne 750 associações em 108 países. Harkaly reclama da lentidão na regulamentação. Seu texto básico foi aprovado na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgânica - que reúne representantes dos ministérios ligados ao setor, organizações não-governamentais (ONGs) e entidades empresariais - e encaminhado ao Ministério da Agricultura em dezembro do ano passado.

Informação Haverá uma vantagem adicional na regulamentação do setor. Hoje, não existem dados abrangentes e confiáveis sobre produção, venda e exportação de orgânicos no Brasil. E estatísticas são ferramentas fundamentais para o planejamento dos produtores e para a elaboração de políticas públicas. Até mesmo Eduardo Caldas, gerente do projeto de exportação de orgânicos da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), evita estimar o valor das exportações do setor. "A Câmara de Comércio Exterior criou em junho um campo específico para o registro das exportações de alimentos orgânicos no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). Assim, será possível conhecer o volume de embarque de orgânicos a partir do ano que vem", garante. Para ele, regiões mais ricas e desenvolvidas, como União Européia, Japão e Estados Unidos, são os mercados prioritários e "existe grande espaço para alimentos industrializados e cosméticos, pois os produtos orgânicos são associados a saúde e beleza".

Açúcar, café e soja dominam as exportações brasileiras de alimentos orgânicos. A Native, uma empresa de Sertãozinho, no interior paulista, que deve exportar 35 mil toneladas do produto em 2006 e está presente em 55 países, lidera o mercado mundial de açúcar produzido sem aditivos químicos. Otimista, o presidente da Apex-Brasil, Juan Quiros, prevê que as estatísticas do Siscomex permitirão provar que o Brasil é líder mundial em exportações nessa categoria. Até o momento, porém, com números comprovados, a Austrália ocupa o posto de liderança.

Não há controle governamental sobre as 24 empresas certif icadoras de que os alimentos orgânicos são produzidos sem agrotóxicos ou adubos químicos

No âmbito interno, também não se sabe exatamente em que pé andam os negócios orgânicos. Segundo Dias, do Ministério da Agricultura, "a maior parte das informações vem das certificadoras e pode estar duplicada. Além disso, muitos produtores fazem vendas diretas, que não são contabilizadas". Pelos seus cálculos, existem 830 mil hectares de área dedicada à produção agropecuária orgânica. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), cerca de 12 mil propriedades se dedicavam à produção orgânica no Brasil em 2004. Mas essas são apenas estimativas. O quadro real deverá ser conhecido a partir de 2007, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizará o Censo Agropecuário, com um código para identificar a área e as culturas orgânicas em propriedades rurais - um universo que abrange grandes exportadores, como a Native, e pequenos agricultores em assentamentos promovidos pela reforma agrária. Em Teodoro Sampaio, no oeste do estado de São Paulo, por exemplo, pequenos agricultores familiares foram iniciados nos mistérios da agricultura orgânica pelos técnicos da ONG Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê). Essa sabedoria envolve também tecnologia para garantir produtividade, alimentos de qualidade (bonitos e livres de pragas) e, portanto, lucratividade. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem toda uma área dedicada a pesquisas relacionadas ao tema - e à divulgação das técnicas a pequenos proprietários.

Orgânicos no mundo em 2005 (propriedades certif icadas, em milhões de hectares)

agricultura4_24Fonte: International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM)

 

 

 

Distribuição Outro gargalo que sufoca o crescimento da produção de orgânicos no país é a distribuição. Grandes empresas, com estabilidade de fornecimento e contatos com redes atacadistas, até que se saem bem. Para os pequenos, a situação é bem mais complicada. "Eu mesmo desisti dos orgânicos, exceto cogumelos, em meu sítio em Vargem Grande Paulista. Mandava 100 quilos de tomatinho ao supermercado, usando os serviços de uma distribuidora, e depois de quarenta dias ficava sabendo que só metade tinha sido vendida. Não tinha sequer controle sobre o descarte e as sobras", diz Plínio Silva Telles, presidente da Associação de Agricultura Orgânica (AAO), entidade sediada em São Paulo que reúne 2, 5 mil associados, dos quais 30% são produtores orgânicos. Seu diagnóstico da situação revela o porte do problema: os agricultores recebem pouco pela produção, que chega ao consumidor final a um preço muito elevado - e o lucro fica com distribuidores e supermercados.

Quem encontrou o caminho das pedras foi Fernando Ataliba, um sociólogo que plantava legumes com técnicas convencionais até 1997, quando foi procurado por uma distribuidora interessada em comprar produtos orgânicos durante o inverno. Seu sítio, o Catavento, com 36 hectares, em Indaiatuba, distante 80 quilômetros da cidade de São Paulo, foi certificado no mesmo ano, e ele está muito satisfeito com os resultados. Reserva 10 hectares para frutas e outros 10 para legumes e verduras. As terras são irrigadas por sistema de gotejamento, recebem adubo natural e são cercadas por quebra-ventos, estruturas que inibem a disseminação de pragas. Ataliba tem quinze empregados fixos e consegue ganhar dinheiro. A receita do sucesso:"Concentro a produção de hortigranjeiros no período de junho a agosto, pois o inverno é quente na minha região, enquanto os produtores de orgânicos da Serra da Mantiqueira ficam fora do mercado". Nesses meses, o sítio produz tomate, vagem, abobrinha, batata, berinjela e cebola, sensíveis ao frio. Como a oferta desses produtos é baixa, e existe procura, os preços sobem. Além disso, o produtor tira outras vantagens da localização de sua propriedade, próxima a duas rodovias estratégicas - Anhangüera e Bandeirantes -, e também de dois importantes centros consumidores - as cidades de Campinas e São Paulo. Não gasta com transporte. "Trabalho com três ou quatro distribuidores que retiram os produtos do sítio, embalam e entregam nos supermercados da região. "Nos meses quentes, o Catavento produz milho verde e frutas como melancia, uva, mamão, maracujá e lichia. Ataliba reconhece, no entanto, que a situação é complicada para a maioria dos agricultores orgânicos, "pois os supermercados ditam as regras e buscam grande margem de lucro na venda desse tipo de alimento, ainda considerado de luxo".

Maria Cristina Prata Neves, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, uma das dezesseis unidades da empresa dedicada à pesquisa orgânica, considera que os agricultores não sobreviverão se ficarem dependentes dos grandes supermercados. Para ela, a solução passa necessariamente por esquemas cooperativos. Um caso bem-sucedido ocorre na região de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ali, um grupo de dez agricultores familiares criou a marca Orgânicos do Vale, com a certificação da Associação dos Produtores Biológicos do Rio de Janeiro (Abio). A turma recebeu apoio da Associação Comercial de Vassouras e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Rio de Janeiro para a criação da marca e para a montagem da rede de comercialização. Vende em feiras, restaurantes e quitandas - circuitos alternativos aos supermercados. Outro exemplo: na Associação para o Desenvolvimento da Agropecuária Orgânica (Adao), de Fortaleza, no Ceará, consumidores pagam antecipadamente para receber, toda semana, cestas de frutas, legumes e verduras orgânicos da Chapada de Ibiapina. "Os agricultores podem investir em sementes e irrigação, já que têm receita garantida. E os compradores têm alimentos de boa qualidade a um preço menor do que pagariam em supermercados", conclui Neves.

Austrália na liderança
A área mundial de agropecuária orgânica chegou a 31, 8 milhões de hectares em 2005 e houve uma expansão de 15% no ano. O mercado é estimado em 28 bilhões de dólares. Os campeões de consumo são os alemães, cujo governo criou, em 2001, um selo verde, já estampado em 26 mil produtos. Na Alemanha, existem redes de supermercados, como o Rewe, com lojas exclusivas para orgânicos. Na ponta da produção, de acordo com as estatísticas da Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam), a Austrália é o primeiro país do ranking, com área certificada de 12, 1 milhões de hectares em 2005. A China ocupa o segundo lugar, com 3, 5 milhões de hectares principalmente dedicados à pecuária. A produção orgânica de soja e seus derivados garante a terceira posição à Argentina, com 2, 8 milhões de hectares. O Brasil tem cerca de 800 mil hectares de área dedicada à agropecuária orgânica - quarto lugar no ranking mundial. As estatísticas foram apresentadas em fevereiro, durante a Biofach, principal feira mundial de produtos orgânicos, realizada em Nuremberg, na Alemanha. Resultaram de um esforço conjunto entre a Ifoam, o Instituto de Pesquisa da Agricultura Orgânica da Suíça (FIBL) e a Fundação de Agricultura e Ecologia (Soel) da Alemanha.

Comissões estaduais da Câmara Setorial da Agricultura Orgânica, que reúnem ONGs e órgãos governamentais, andam discutindo alternativas comunitárias para a comercialização de alimentos orgânicos. Conforme Marcelo Laurino, do Ministério da Agricultura, o formato mais promissor parece ser o das alianças sociais, como a de Fortaleza. Seus cálculos indicam que a produção de um agricultor orgânico, com uma propriedade de 1 hectare, pode ser viabilizada pelo compromisso de setenta famílias que paguem 100 reais por mês cada uma para receber, semanalmente, uma cesta de frutas, legumes e verduras.

 

Custo Ainda que fossem solucionadas as questões relativas à regulamentação e à expansão dos canais de distribuição, restaria um problema: o custo. O plantio orgânico tem complicadores. Não foi sem razão que a indústria desenvolveu agrotóxicos e adubos químicos: eles garantem maior produtividade com menos trabalho. Foi assim que a produção de alimentos cresceu, em todo o planeta, e a fome, embora ainda persista, foi reduzida. Produzir alimentos à moda antiga é custoso, isso tem reflexo nos preços ao consumidor - e inibe a ampliação do mercado. Em meados de agosto, o quilo do tomate caqui orgânico era vendido por 13, 6 reais num supermercado paulistano, quase o dobro dos 7, 4 reais do concorrente plantado em escala industrial, grande, bonito, vermelho e brilhante. O preço da vagem era quase quatro vezes superior ao da convencional. Assim, esses alimentos, menos aditivados artificialmente, só cabem no orçamento dos consumidores mais abastados.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Ag ropecuária (Embrapa) tem 16 centros de pesquisa e 250 pesquisadores dedicados à agropecuária orgânica

agricultura5_24agricultura6_24      Fernando Ataliba (acima) dedica 20 hectares de seu sítio Catavento (ao alto) para o cultivo de orgânicos

Grandes redes de supermercados, entretanto, já perceberam o potencial dessa categoria de produtos e têm feito promoções para aumentar sua aceitação. A rede Carrefour oferece os produtos em suas lojas localizadas em regiões cujo poder aquisitivo dos clientes é maior, segundo informa Arnaldo Eijsink, diretor de agronegócios do grupo. "O movimento ainda é pequeno. A venda representa apenas 7% ou 8% das frutas, legumes e verduras produzidos convencionalmente, mas estamos investindo na promoção. "Uma das táticas utilizadas para atrair novos clientes é vender orgânicos pelo mesmo preço dos produtos convencionais num dia específico da semana - o que se tornou possível desde que as partes envolvidas aceitaram diminuir suas margens de ganho, conta Eijsink. Outro caminho explorado pelo Carrefour foi concentrar todos os alimentos orgânicos numa única seção.

Como tantos outros campos que têm sido descobertos nos últimos tempos, os chamados nichos de mercado, o universo dos produtos orgânicos é uma alternativa interessante para o Brasil, onde pequenos produtores rurais perdem espaço para grandes plantadores de soja e milho, por exemplo. É preciso, no entanto, instrumentalizar o setor. Eficiente, a produção orgânica poderá ser uma saída para a sobrevivência da agricultura familiar em pequenas propriedades.

 

 

 

 

Saiba mais:

Associação de Agricultura Orgânica (AAO)
www. aao. org. br

Associação dos Produtores Biológicos do Rio de Janeiro (Abio)
www. abio. org. br

Instituto Biodinâmico
www. ibd. com. br

Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam)
www. ifoam. org

Instituto de Pesquisa da Agricultura Orgânica (FIBL)
www. fibl. org

Fundação de Agricultura e Ecologia (Soel)
www. soel. de

 
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