resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
Serviços - Um setor em ebulição

2006. Ano 3 . Edição 29 - 11/12/2006

Ipea lança livro traçando o perfil do setor de serviços, um ramo que emprega mais do que a indústria e o comércio, e cuja receita cresceu 83% entre 1999 e 2003. Nele estão concentradas as empresas mais inovadoras e de mais alta tecnologia, porém elas se ressentem da falta de uma política específica para solucionar seus problemas

Por Lia Vasconcelos, de Brasília

servicos1_38

O setor de serviços não só é bastante heterogêneo como também desconhecido. Poucos são os estudos que se debruçam sobre o tema. Para ajudar a preencher essa lacuna, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou em outubro deste ano o livro Estrutura e Dinâmica do Setor de Serviços no Brasil, que apresenta uma radiografia das cerca de 900 mil empresas do setor,que movimentou uma receita de aproximadamente 326 bilhões de reais em 2003 e mostrou índices de crescimento superiores aos demais (veja gráfico A pujança do setor de serviços). De acordo com a Pesquisa Industrial Anual (PIA), a Pesquisa Anual de Comércio (PAC) e a Pesquisa Anual de Serviços (PAS),todas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizadas em 2003, os serviços não financeiros empregavam, naquele ano, cerca de 7 milhões de trabalhadores formais,volume superior ao observado na indústria ou no comércio. A publicação mostra que a velha idéia de que os serviços se caracterizam por baixos índices de produtividade merece ser revista.

O crescimento de certos segmentos de alta performance tecnológica no setor de serviços, como os de tecnologia da informação (TI) ou consultorias técnicas,apresentam taxas de inovação extremamente elevadas mesmo quando comparados aos setores mais inovadores da indústria. O que o livro aponta é que os serviços são insumos fundamentais para qualquer economia moderna e têm papel importante na difusão de inovações e de ganhos de produtividade para outros setores.

Em linhas gerais,o terciário brasileiro é dominado por pequenas empresas (96,6%), ou seja, aquelas com até dezenove pessoas ocupadas que dividem o maior volume de geração de emprego com as grandes (cem ou mais pessoas ocupadas). As últimas são responsáveis por 63,8% da receita do setor. A publicação concentra sua análise no que foi batizado de serviços intensivos em conhecimento (SIC) - empresas que podem ser caracterizadas como tecnológicas (serviços de telecomunicações ou de informática) ou profissionais cujo foco está no conhecimento administrativo,de regulação e de assuntos sociais, como serviços de publicidade,advocacia, engenharia e consultoria em gestão, entre outros. A pesquisa do Ipea aponta que os SIC têm alta participação na geração de receita. O grupo formado pelos segmentos de informática, telecomunicações e serviços técnicos voltados para as empresas é responsável por 37,9% da receita do setor como um todo. Entretanto, o mesmo peso não se verifica na criação de postos de trabalho: a participação dos SIC no terciário em termos de emprego é de 12,8%. Isso acontece,de acordo com o Ipea, porque são atividades intensivas em conhecimento, que produzem muito valor, mas o fazem empregando pouca e qualificada mão-de-obra,em comparação com outros ramos da economia. "O principal capital dessas empresas são as pessoas", afirma Luis Claudio Kubota,pesquisador do Ipea e um dos autores do livro.

Segundo o Ipea,há quatro maneiras de uma empresa inovar. O processo de inovação pode ser de produto,de processo, organizacional e de mercado. A introdução de uma gerência de qualidade total é um exemplo de inovação organizacional. As inovações de processo são renovações de procedimentos para produzir e entregar determinado serviço. Já inovações de mercado podem ser definidas como a adoção de novos comportamentos mercadológicos, como encontrar outro segmento de atuação ou ingressar em outra indústria. Segundo Kubota,quando são avaliadas as inovações tecnológicas para o mercado, observa-se que os percentuais são expressivos para os setores de informática, pesquisa e desenvolvimento e telecomunicações, com índices de inovação de 30%, 22% e 15%,respectivamente. "Uma análise mais detalhada sugere que as empresas que desenvolvem os serviços de informática internamente são mais inovadoras do que as que contratam esses serviços de terceiros, o que pode significar que o conhecimento e a aplicação de tecnologias da informação são de grande importância para o desenvolvimento de inovações tecnológicas no setor de serviços de maneira geral", explica Kubota. "A taxa de inovação é alta nas empresas de software e telecomunicações. São segmentos fundamentais para o desempenho de outros setores da economia", informa Alexandre Messa, pesquisador do Ipea e também autor do livro.

servicos2_38

"As empresas intensivas em conhecimento são importantes para o próprio setor de serviços e para os outros segmentos porque geram riqueza e empregam mãode- obra qualificada. Além disso, há uma relação entre a contratação dessas empresas e um maior índice de inovação", diz Carlos Torres Freire,pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que também assina o livro. Segundo o Ipea, firmas de serviços que contratam empresas intensivas em conhecimento da área de marketing têm mais probabilidade de inovar para o mercado - a margem é de até dezenove pontos percentuais sobre as que não contratam, dependendo do setor. O mesmo acontece com as firmas que contratam empresas de gestão: elas têm até dez pontos percentuais a mais de probabilidade de inovar para o mercado do que as que não contratam.

Henrique Luz, sócio da PriceWaterhouseCoopers, que oferece, entre outros, serviços de auditoria, assessoria tributária e gestão de riscos corporativos, concorda com a análise. "É muito grande a especialização de empresas como a Price. Nossos consultores têm grande nível de profundidade e especialidade num assunto e tipo de indústria e,por isso, ao prestar um serviço eles difundem conhecimento e levam inovação", acredita Luz,que explica que a Price presta serviços para os mais diversos segmentos: instituições financeiras, indústrias de consumo e varejo, agronegócio e governo. A pesquisa também verificou que os SIC têm em seus quadros maior proporção de pessoal ocupado do ensino superior do que qualquer outro setor. Em 1998,de todos os trabalhadores empregados nos SIC,33,4% tinham nível superior completo ou incompleto. Em 2002, essa proporção saltou para 41,7%. Vale destacar também que a soma dos que possuem ensino superior e médio entre os SIC atinge 85,7% da mão-de-obra. Isso significa que apenas 14,3% dos que trabalham nas empresas intensivas em conhecimento não tinham concluído o ensino médio.

Software
Para José Eduardo Roselino, umdos autores do livro e professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), as atividades voltadas para o desenvolvimento de software,um dos exemplos de serviços intensivos em conhecimento, têm apresentado importância crescente nos países mais desenvolvidos. "Isso porque a indústria de software tem efeitos indiretos no desempenho de inúmeras atividades. As atividades cotidianas renovam- se com o desenvolvimento do complexo eletrônico,de cuja base o software é um elemento fundamental. Esse papel crucial do software o faz objeto privilegiado de políticas públicas de fomento em diversos países centrais e não centrais", afirma Roselino.

A indústria brasileira de software é bastante robusta e apresenta números expressivos que a situam entre as dez maiores do mundo. Em 2001,o mercado nacional ocupava a sétima posição,com faturamento de 7,7 bilhões de reais, e empregava cerca de 160 mil pessoas. Entretanto, apesar de ter dimensões similares às de outros casos de reconhecido sucesso, como Índia,China, Irlanda ou Israel, a indústria brasileira é a que apresenta o pior desempenho quando o assunto é exportação. De acordo com dados coletados por Roselino, a indústria de software brasileira exportou, em 2002, 239 milhões de reais, sendo que esse valor foi quase inteiramente gerado pela operação de companhias estrangeiras no Brasil. São as empresas estrangeiras voltadas para o desenvolvimento de serviços de alto valor agregado (50% delas) e as estrangeiras voltadas para o software produto (41,6% delas) as responsáveis pela quase totalidade da receita das vendas ao exterior. Estimase que existam cerca de 40 mil empresas envolvidas nessas atividades, das quais a maioria (86%) é composta por firmas com quatro ou menos pessoas ocupadas, indicando a predominância de frágeis estruturas empresariais.

 

servicos3_38Os segmentos de alta performance tecnológica no setor de serviços apresentam taxas de inovação extremamente elevadas mesmo quando comparados com a indústria

Roselino divide o mercado de software em três categorias. A primeira engloba as empresas que prestam serviços de baixo valor agregado (ligados à Internet, como criação e manutenção de banco de dados, processamento de dados, suporte e terceirização). A segunda é o mercado de alto valor agregado,do qual fazem parte as empresas que desenvolvem software por encomenda (análise, projeto, programação, testes, implantação e documentação). Já na terceira categoria se encaixam empresas que desenvolvem, produzem, comercializam e licenciam softwares prontos para uso - é o chamado software de prateleira ou pacote. De acordo com a publicação do Ipea, o segmento de software de baixo valor agregado é o maior dos três. O valor da receita das empresas classificadas nessa categoria totalizou, em 2002, cerca de 6,3 bilhões de reais, ou 61% do total do mercado de software naquele ano. Esse segmento responde também pela maior parte das empresas, com 56% do total, e pela maior parcela de pessoas ocupadas: 77% do total. Nessa área, há predomínio de empresas de capital nacional, responsáveis por 79% da receita total. "Isso ocorre porque essa fatia do mercado é a que envolve menor densidade tecnológica, ou seja, as barreiras à entrada de conteúdos tecnológicos de acesso restrito são menores. Nela, o custo da mão-de-obra é que desempenha papel fundamental na determinação da competitividade", explica Roselino. Segundo ele, as empresas nacionais estão voltadas para clientes menores, que são atraídos pelas vantagens de custo que elas podem oferecer, enquanto as companhias estrangeiras prestam serviços mais rentáveis para grandes clientes do sistema financeiro e de seguros,por exemplo,que optam pela estabilidade e maior garantia de continuidade que as empresas transnacionais podem oferecer. "A grande infraestrutura acaba sendo provida pelas empresas estrangeiras, que são mundiais e oferecem soluções globais. São elas que fazem pesquisa e desenvolvimento e conseguem andar na frente, direcionando a demanda", diz Elio Boccia, diretor de desenvolvimento de negócios de uma das gigantes do ramo, a IBM.

Complexidade
A categoria de serviços de softwares de alto valor agregado compreende atividades que exigem das empresas maior empenho no desenvolvimento de funções corporativas mais complexas,como esforços de pesquisa e desenvolvimento e estratégias de marketing mais elaboradas. Das 746 firmas de software que têm vinte ou mais pessoas ocupadas no Brasil, 76 são estrangeiras. Apesar de o número de empresas nacionais representar quase 90% do total, ocorria, em 2002, um desequilíbrio na distribuição de receita, já que onze empresas estrangeiras respondiam por metade da receita total. Nesse caso, o domínio de conhecimentos específicos das etapas próprias à engenharia de software ganha relevância. "Isso é conseqüência da falta de políticas de incentivo, o que prejudica o surgimento de empresas nacionais de alta intensidade tecnológica", analisa João De Negri,diretor do Ipea. No segmento de software produto ou pacote,há também predomínio de empresas multinacionais em relação à receita gerada. As companhias estrangeiras, que representam cerca de 16% do universo total desse segmento, mas respondem por 56% da receita gerada.

servicos4_38Em 2003, o setor de serviços empregava mais de 7 milhões de pessoas. Volume superior à indústria e ao comércio

As nacionais Datasul e Politec são dois exemplos de empresas nacionais que estão no segmento de prestação de serviços de alto valor agregado. "É difícil fazer o trabalho que a Datasul faz, por isso as estrangeiras dominam. É preciso um investimento enorme para desenvolver um software, o que torna complicado concorrer com as multinacionais", afirma Paulo Caputo,diretor de novos negócios da Datasul. A empresa desenvolve e comercializa soluções integradas de softwares de gestão empresarial e atualmente conta com uma rede de 37 franquias de distribuição, sendo 31 nos principais estados brasileiros e seis fora do país:Argentina,Chile,Colômbia e México, unidades que também atendem clientes no Paraguai,Uruguai,Estados Unidos e Canadá. "A grande fonte de inovação para a empresa vem dos clientes que apresentam demandas para ser equacionadas. Além disso, fazemos acordos de cooperação com universidades e estimulamos os funcionários a se atualizarem constantemente por meio de cursos e participação em eventos", explica Caputo.

servicos5_38

Compreensão
Freud Oliveira é gerente de negócios internacionais da Politec,empresa com sede em Brasília e faturamento anual de 500 milhões de reais, cerca de 6 mil funcionários espalhados pelas vinte unidades no Brasil, além de subsidiárias nos Estados Unidos e no Japão, que oferece serviços de integração de sistemas,desenvolvimento de softwares, biometria, entre outros. Oliveira acredita que o grande desafio das empresas nacionais é entender o mercado global para aumentar as exportações. " Não adianta fazer investimentos por um ou dois anos. São necessários investimentos no longo prazo. A meta da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) de exportar 2 bilhões de dólares a partir de 2007 é factível, mas para isso o governo também precisa fazer investimentos em alguns gargalos,como a energia elétrica", acredita Oliveira. Para Roselino, os objetivos da PITCE estão equivocados. "A primeira meta é ampliar a participação das empresas brasileiras no mercado interno. Isso é desnecessário porque as firmas de capital nacional têm grande representatividade tanto no mercado de alto valor agregado como no de baixo. A segunda meta, de exportar 2 bilhões de dólares a partir de 2007, também está equivocada. O que precisa ser feito é abrir linhas de crédito para consolidar as empresas nacionais por meio de fusões e aquisições. Atualmente, elas são,na maioria, pequenas e pulverizadas", afirma.

servicos6_38

Aumentar as exportações parece não ser só um desafio para o segmento de software, mas para o setor de serviços como um todo. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o comércio global de serviços é estimado em 2,1 trilhões de dólares anuais. Em 2003,a participação dos países em desenvolvimento no total exportado foi de aproximadamente 20%. Dados da Pesquisa Anual de Serviços de 2002,do IBGE, mostram que os setores que apresentam maior proporção da receita originada das exportações são,naturalmente,o de transporte aéreo, com 26,7%, seguido pelo de transporte aquaviário,com 8,6% (veja gráfico Percentual de receita obtido com exportação de serviços). Para os demais setores (atividade de informática, telecomunicações, serviços audiovisuais e transporte rodoviário e ferroviário),o percentual exportado sobre a receita varia de 1,1% a 1,4%.

Segundo o Ipea, o aumento da receita líquida das empresas,do tempo médio de estudo dos funcionários e da remuneração média traz impactos positivos nas suas exportações. Estima-se que o incremento de 1% na receita líquida aumente em 0,21% a probabilidade de uma empresa exportar seus serviços. Se o tempo de estudo médio dos funcionários for 1% maior, as chances de a empresa exportar crescem 0,68%. Por fim, aumentando em 1% a remuneração média de seus trabalhadores, uma firma vê suas chances de exportar crescerem 0,21%.

Entraves
Para Ricardo Saur, diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom), alguns entraves precisam ser resolvidos para que o setor aumente suas vendas ao exterior. "Precisamos melhorar a formação das pessoas para que mais gente fale inglês e temos necessidade de promover o Brasil lá fora e desonerar o setor com estímulos fiscais no abatimento da contribuição previdenciária, por exemplo",afirma Saur. Outro ramo do setor de serviços que também está se movimentando em busca do mercado externo é o de audiovisuais. "Para incrementar a exportação de serviços de audiovisuais, é fundamental que o Brasil mergulhe nesse setor e compreenda bem como ele funciona. Também precisamos resolver problemas de distribuição e financiamento interno para co-produções", diz Christiano Braga, gerente de projetos de serviços e entretenimento da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex),órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Outra característica destacada na publicação é que o setor de serviços tem desempenhado papel central na atração de investimentos estrangeiros. De acordo com estimativas de 2003 da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), se o setor no começo dos anos 1990 era responsável por 50% do estoque global do investimento direto estrangeiro (IDE),em 2003 esse percentual saltou para 60%. Segundo Anita Kon,professora de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e uma das autoras do livro, essas estimativas revelam um novo padrão de investimentos, cuja concentração tradicional em serviços financeiros e de comércio exterior está perdendo lugar para outras indústrias de serviços de telecomunicações, publicidade, pesquisa e desenvolvimento. A Unctad atribui essa mudança de cenário a dois fatores. Em primeiro lugar, a economia de serviços em países desenvolvidos gera, hoje em dia, cerca de dois terços do Produto Interno Bruto (PIB). O segundo motivo é que as manufaturas estão estabelecendo filiais de serviços para apoiar suas operações de comércio exterior. Vale lembrar também que a expansão se apóia no rápido desenvolvimento da tecnologia das redes internacionais de informação e comunicação. "O setor de serviços tem ganhado muita importância, pois gera renda e alto valor agregado", acredita Kon.

Dados do Banco Central mostram que, na segunda metade dos anos 1990, os fluxos de IDE recebidos pelo Brasil tiveram uma mudança no seu padrão e os serviços tornaram-se o principal destino dos investimentos. Em 1995, 30,9% do acumulado de investimentos estrangeiros (estoques) estavam destinados ao setor de serviços. Em 2000, o percentual havia subido para 64%. Esse salto aconteceu porque, entre 1996 e 2000,90,3% dos IDE foram aplicados em serviços. O segmento de telecomunicações apresentou o maior volume de investimentos diretos estrangeiros em serviços naquele ano (18,2% dos estoques globais de IDE e 29% do total destinado ao setor de serviços).

servicos8_38  servicos9_38  O setor de serviços é muito concentrado: 134 municípios respondem por 90% do valor agregado

Exatamente pela crescente importância do setor,muitos acreditam que mereça uma política específica nos moldes da PITCE. "A fronteira entre o serviço e a indústria está diminuindo, quase não faz mais sentido falar em secundário e terciário. Nesse sentido, seria fundamental elaborar uma política para os serviços como há a política industrial, e elas precisariam ser articuladas", acredita Álvaro Comin, pesquisador do Cebrap e professor de sociologia da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, essa política teria de se estruturar sobre alguns pilares, como o redesenho das relações entre universidades, centros de pesquisa e setor privado, a criação de linhas de financiamento específicas para pesquisa e desenvolvimento, o fortalecimento institucional para promover a formalização das empresas e a formação profissional. "O perfil das profissões muda rapidamente. Os cursos superiores precisam se atualizar constantemente. Bolsas para o exterior também têm de ser incentivadas. Por fim, é muito importante que o Brasil estabeleça acordos de cooperação com universidades e centros de pesquisa de ponta,coisa que a Índia e a China fazem com competência", recomenda Comin. O que se percebe,portanto,é que um ciclo de desenvolvimento sustentado terá qualidade muito superior caso se consiga articular a PITCE com iniciativas voltadas especificamente para o setor de serviços, com a política educacional e com políticas de renda com investimentos focados em infra-estrutura.

Uma geografia desequilibrada
O setor de serviços no Brasil é mais concentrado do que a indústria: dos 5. 507 municípios brasileiros, apenas 139 respondem por 90% da massa salarial e do valor agregado gerado pelo terciário. O desequilíbrio é enorme (veja gráfico abaixo). Somente a região Sudeste responde por 70,76% dos salários pagos pelo setor no país, sendo que na região metropolitana de São Paulo estão 34,7%. Já a concentração da indústria é menor, pois essas mesmas cidades representam 65% do valor agregado gerado pelo setor industrial. É esse o retrato mostrado pela publicação Estrutura e Dinâmica do Setor de Serviços no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Baseamos a pesquisa no universo de empresas com mais de vinte funcionários. Essa amostra é muito mais concentrada do que o setor em geral porque nessas empresas há uma demanda crescente por alta tecnologia e profissionais mais qualificados, o que é mais fácil de encontrar nos grandes centros urbanos", explica Edson Paulo Domingues, professor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com a pesquisa, o interior paulista equivale à oferta de serviços de toda a região Sul ou do Nordeste e é duas vezes superior à do Centro-Oeste e dez vezes a oferta do Norte. O interior de São Paulo é, portanto, a maior área de dispersão de serviços no Brasil e, talvez, a única capaz de rivalizar com a capital do estado. O estudo também mostra que as grandes aglomerações de empresas de serviços são vinculadas a segmentos específicos da indústria, em particular os que usam mais tecnologia. Portanto, uma política de desenvolvimento regional voltada para empresas de alta tecnologia serviria também de atrativo para firmas de serviços de alta produtividade.

Mas aí aparece um problema: as empresas intensivas em pesquisa e desenvolvimento são pouco sensíveis a mudanças de localização, pois demandam locais com variada infra-estrutura tecnológica, urbana e mão-de-obra altamente qualificada. "A aglomeração potencializa a atividade do segmento. É preciso fazer políticas coordenadas para desenvolver alguns pólos no interior do país. A atração dos serviços está ligada ao desenvolvimento de políticas urbanas", acredita Ricardo Machado Ruiz, pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Domingues vai além:"Para incentivar a dispersão dos serviços é preciso articular esse movimento com a re-localização de empresas e de setores industriais inovadores e difusores de progresso tecnológico".

servicos7_38

 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334