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Conjuntura - Crescimento sem risco de inflação de demanda

2008 . Ano 5 . Edição 42 - 15/04/2008

Por Luiz Fernando Dutra, do Rio de Janeiro

A economia brasileira vive o seu melhor momento nos últimos 30 anos, desde que acabou a era do mi lagre econômico. Caso se confirmem as previsões para este ano, pela primeira vez após o triênio 1993, 1994 e 1995 o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro terá expansão média acima de 4% durante três anos seguidos. O bom momento da economia tem como base o aquecimento da demanda interna. Para este ano, a previsão é de que o PIB cresça novamente acima de 4%, podendo mesmo superar 5%.

A manutenção do crescimento sustentado, no entanto, está ameaçada pela política do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros (Selic) este ano para conter um suposto avanço da inflação. Para Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador de estudos de conjuntura e política econômica, se o Brasil quiser manter o crescimento em 2009 e 2010, será preciso mudar a política econômica para enfrentar os desdobramentos da crise interna nos Estados Unidos.

"Acredito que os americanos terão uma crise mais prolongada do que uma simples recessão. Os Estados Unidos têm uma economia movida a crédito. Muitos bancos foram atingidos por essa crise. Isso influi em outras economias, como a da China, e acaba afetando o Brasil, que será prejudicado se os preços das commodities caírem muito. O BC precisa acabar com essa reação pavloviana a qualquer deslocamento da inflação. A política monetária tem que ser menos ortodoxa", afirma Carneiro.

O professor acrescenta que dá para acomodar uma tolerância maior com a inflação na atual banda (o centro da meta da inflação é de 4,5% ao ano, com uma banda de dois pontos percentuais para cima e outros dois para baixo) e não trabalhar apenas com o centro da meta, quando se está no meio de uma crise internacional.

Segundo Carneiro, o Brasil já está com déficit em contacorrente e precisa tomar medidas como impor tarifas de importação e controle da entrada de capital estrangeiro para evitar que o problema se agrave nos próximos anos. "Temos que tentar substituir a demanda externa pela demanda interna. Há uma sinalização neste sentido com a nova política industrial que está se desenhando. Mas também é preciso uma mudança de perfil na economia. Se isso não acontecer, ela vai desacelerar rápido, voltando para o padrão de crescimento próximo de 2,5% ao ano, que foi a nossa média nas últimas duas décadas", alerta.

Ao contrário das avaliações que vêm sendo feitas pelo BC de que há o risco de aumento da inflação devido ao crescimento um pouco mais acelerado da economia, e que por esse motivo é necessária uma política monetária mais contracionista, Carneiro diz que o desequilíbrio da velocidade de crescimento da demanda ante a da oferta em alguns segmentos - como o de automóveis, por exemplo - pode ser corrigido com medidas bem menos traumáticas para a economia. "Não precisa subir a taxa de juros, basta adotar medidas seletivas, como limitar o financiamento de alguns bens duráveis", propõe.

CONSERVADORISMO Apesar da argumentação em sentido contrário por parte de diversos segmentos que acompanham a economia brasileira, o Conselho de Política Monetária (Copom), colegiado composto pela diretoria do BC, elevou em meados de abril a taxa básica de juros (Selic) de 11,25% ao ano para 11,75%, a mais elevada taxa real do mundo.

Nota técnica elaborada por três pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - Salvador Werneck Vianna, André Melo Modenesi e Miguel Bruno -, intitulada Reversão Preventiva na Política Monetária, divulgada no dia 14 de abril, também refuta a tese do BC sobre a necessidade de um ajuste prévio na taxa básica de juros para evitar pressões inflacionárias. O trabalho critica o excesso de conservadorismo do BC e alerta que a elevação da Selic poderia prejudicar o investimento e comprometer o crescimento da economia.

"Em um momento de possível retomada do crescimento sustentável, como o atual, o efeito dinâmico de uma contração monetária sobre a capacidade produtiva não pode ser desprezado. A demanda está crescendo e, portanto, os investimentos devem ser estimulados, e não o contrário. Temerário seria afunilar o fluxo futuro de investimento de produção, por meio de uma contração monetária. Há forte correlação positiva entre as variações da taxa de utilização da capacidade produtiva e da formação bruta de capital fixo. Ou seja, ao se conter os aumentos do nível de utilização da capacidade produtiva, desestimulam-se os investimentos - que permitiriam corrigir eventuais restrições de oferta, que preocupa o BC", diz a nota técnica.

Ainda de acordo com a nota, o forte aumento da produção e das importações de bens de capital, somado aos ganhos de produtividade da indústria, indica um incremento do PIB potencial. Esse quadro, por si só, já seria suficiente para questionar a necessidade de uma alta dos juros, afirma o texto dos três pesquisadores.

INVESTIMENTO O superintendente da Área de Pesquisas e Acompanhamento Econômico (APE) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ernani Torres, também diz que a inflação brasileira está "muito bem comportada", com apenas alguns produtos - ele cita feijão-carioquinha, leite e carne - puxando a taxa um pouco para cima. Torres diz que a política atual tem sido muito bem-sucedida, com o país crescendo sem a inflação subir junto, como acontece em outros países. Torres também diz não ver descompasso entre as trajetórias de oferta e demanda. Segundo as previsões da APE, a taxa de investimento brasileira deverá chegar a 18,5% do PIB este ano, com um crescimento de 15% ante o ano passado.

"As pessoas têm o direito de estar preocupadas, isso faz parte", comenta, "mas o movimento brusco na taxa de juros pode comprometer o melhor ambiente de crescimento no Brasil em 30 anos. A nossa economia está saudável, tendendo a crescer 7% ao ano." Segundo ele, o crescimento do PIB nos últimos dois anos tem perfil diferente do verificado em 2004, quando foi puxado pelas exportações. De 2006 para cá, diz, foi o aumento do crédito para os consumidores que acelerou a expansão da economia, fazendo com que a indústria, o comércio e os serviços também passassem a crescer. Ele afirma que, depois do crédito familiar, que já cresce consecutivamente há três anos, agora são outras modalidades, como o crédito imobiliário, que também estão crescendo rapidamente.

"Este é um momento único na história econômica do mundo. A China não crescia nesse ritmo há cerca de 500 anos. A taxa de investimento lá já esteve em 42% do PIB, coisa que ninguém acreditava, mas depois se verificou que era verdade. Atualmente, a taxa de investimento deles é cerca de 30%, algo incrível, que vai demorar a acontecer novamente. O Brasil não pode perder esta oportunidade", afirma Ernani Torres.

DEMANDA INTERNA Para Miguel Bruno, o BC tem que ser cauteloso ao mexer nos juros, para não desaquecer a demanda interna, que tem sido a responsável pelo crescimento do PIB. Diferentemente dos países desenvolvidos, cuja demanda é muito mais por renovação, o Brasil, na sua opinião, acumula há anos uma demanda reprimida, que vai do iogurte incorporado à dieta das crianças, passa pela compra do primeiro carro zero quilômetro e já chega à compra da casa própria, que agora é um sonho factível pelo maior acesso ao crédito imobiliário.

"A demanda interna, quando cresce, puxa o investimento produtivo. Grande parte dele vai começar a amadurecer agora, aumentando a capacidade da indústria e freando a pressão inflacionária. Acho que o temor de uma demanda muito aquecida também tem que ser revisto. O consumo das famílias vem 85% dos salários. O investimento deve ser preservado. A última variável a ser sacrificada deve ser o investimento", diz o pesquisador.

MERCADO As projeções do mercado apuradas pelo BC com analistas das instituições financeiras passaram a apontar uma taxa básica de juros de 12% ao ano para este ano, acima até mesmo dos 11,75% estabelecidos pelo Copom em meados de abril. Segundo Nelson Carneiro, economista-sênior da consultoria Austin Asis, "infelizmente, o BC adota uma posição extremamente conservadora num momento raro, por ser tão favorável, da economia brasileira".

Ele acrescenta que elevar os juros "só beneficia o investidor estrangeiro". O economista explica que "o fluxo de dólares está nas mãos do mercado financeiro, o que é ruim para o país. Até uns dois anos atrás, tínhamos saldo positivo. Aí, criamos barreiras de entrada, só que os dólares dos investidores estrangeiros já estavam aqui. Além disso, as taxas de juros estão caindo em todo o mundo, para dar maior liquidez ao mercado por causa da crise nos Estados Unidos". Ele afirma que "elevar a taxa de juros no Brasil está na contramão do que acontece no mundo".

Segundo João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) terá uma influência muito grande no desempenho da economia este ano. "Em 2008, vamos ter muito mais obras e investimentos do PAC. A iniciativa do governo de fazer obras públicas gera mais investimentos privados. Estamos vendo o setor produtivo privado tirar planos que estavam na gaveta há algum tempo e colocando- os em prática. Em fevereiro, a indústria cresceu 9,7%. É um número impressionante em qualquer país do mundo", afirma o diretor.

DEMANDA EXTERNA A Carta de Conjuntura, publicada pelo Ipea em março, prevê que a demanda externa este ano deve continuar negativa, com as importações crescendo num ritmo ainda mais acelerado que o do ano passado, enquanto o aumento das exportações será mais lento. Segundo a Carta, o crescimento real do PIB em 2007, que foi de 5,4%, representa a combinação entre uma variação positiva de 6,8% da demanda interna e negativa de 1,4% da demanda externa.

Em 2007, a expansão das vendas para o exterior foi de 6,6%, ante 20,7% das importações. Segundo o pesquisador Marcelo Nonnenberg, um dos coordenadores do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, que elabora a Carta de Conjuntura, a previsão para este ano é de um crescimento de 24,1% nas importações, em boa parte devido à compra de máquinas e equipamentos, ante 5% de crescimento nas exportações."Esse crescimento das importações é bom. Estamos importando mais máquinas e equipamentos. É sinal de que o setor produtivo está investindo."

Para o economista Ernani Torres, do BNDES, a aceleração das importações não representa perigo para o país. Ele explica que não há uma tendência explosiva nesse crescimento. "As importações têm sido de boa qualidade. Estão permitindo desafogar a oferta doméstica. Acho que nesse momento as importações estão favorecendo a indústria doméstica. É natural que quando um país comece a crescer mais rapidamente, as importações também aumentem mais que as exportações", avalia Torres.

Segundo o economista do BNDES, o déficit em transações correntes, que ainda não chega a preocupar, também é fruto do aumento das remessas de lucro para o exterior por parte das empresas multinacionais. Ele também diz que não há nada de errado com isso, mas está analisando o comportamento de algumas empresas que estão remetendo mais do que investem, num momento de economia aquecida no Brasil.

Para Torres, "não há um processo de desindustrialização em curso. Isso só está acontecendo com algumas empresas em setores localizados. Acho que algumas estão apostando na valorização do real e aplicam na nossa moeda. De qualquer maneira, é um dado curioso", comenta, acrescentando que também é um defensor de saldo positivo para transações correntes.

CRISE AMERICANA Quanto à recessão americana, Marcelo Nonnenberg diz que "o que interessa é o emprego. Se está diminuindo, para mim já é recessão". A questão, diz Nonnenberg, é saber qual será o tamanho da recessão americana e qual será a sua duração. "Há três meses, eu achava que seria curta. Hoje, o quadro está mais negro. Poderemos ter os Estados Unidos crescendo perto de zero por um ou dois anos. Normalmente, as crises provocadas pelo setor imobiliário duram três anos. Como já temos mais ou menos um ano e meio de crise lá, poderemos ter mais 18 meses com o PIB americano crescendo muito próximo de zero", detalha o pesquisador.

Segundo Nonnenberg, o cálculo da faixa de crescimento do PIB brasileiro da última Carta de Conjuntura, de 4,2% a 5,2%, levou em consideração um crescimento de 0,5% nos Estados Unidos este ano. Mas, se a taxa for ainda menor, diz, o efeito sobre o crescimento da economia brasileira não será grande. "Se a recessão for muito prolongada, poderá afetar o preço das commodities, o que teria impacto na nossa balança comercial. Ela também pode afetar o investimento e reduzir um pouco o ritmo de crescimento em outros países como a China. Este ano, de acordo com a previsão feita pelo Banco Mundial, a China vai crescer 9,5%, ante 11% em 2007. Essa redução, segundo o Banco Mundial, tem relação com o desaquecimento da economia americana", diz.

O pesquisador do Ipea Miguel Bruno, que também é um dos coordenadores da Carta de Conjuntura, diz que ainda é cedo para analisar com mais profundidade quais serão os efeitos da crise americana sobre a economia brasileira, embora ele acredite que não serão necessariamente catastróficos. Ele relembra que em 1936, quando o mundo se recuperava do crash de 1929 e a economia americana ainda passava por momentos muito difíceis, o Brasil já voltava a crescer.

"Essas crises não têm efeitos iguais para todo mundo. Cada país responderá de uma maneira, dependendo muito da sua especificidade. Em 1929, o governo americano demorou muito para atuar, e quando o fez foi muito conservador. O Brasil tem a vantagem de ser uma das maiores economias do mundo. Pode se voltar para dentro e continuar crescendo. Acredito que isto vai acontecer, tanto que a nossa previsão para o crescimento da taxa de investimento é uma faixa que vai de 12,4% a 14,1%. São números muito bons", afirma.

Segundo a Carta de Conjuntura, o número de empregos com carteira assinada cresceu 5,2% no ano passado, e 7,9% em janeiro deste ano, na comparação com janeiro de 2007. Além disso, a taxa de desemprego de 7,4% em 2007 foi a menor da nova série da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A renda dos trabalhadores, que teve alta de 4% e 3,2% em 2006 e 2007, respectivamente, manteve o ritmo no início deste ano e cresceu 3,4% em janeiro, ainda segundo a Carta de Conjuntura. Com mais gente trabalhando e ganhando mais, o crédito ultrapassou o equivalente a 34% do PIB, podendo chegar a 40% no final do ano, fortemente impulsionado pelo consumo das famílias. O aquecimento da demanda interna motivou o setor produtivo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) elevou-se em 13,4%, levando a taxa de investimento para 17,6% do PIB.

 
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