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Mundo - Fóruns social e econômico na mesma direção

2009 . Ano 6 . Edição 49 - 06/04/2009

Por Márcio Falcão, de Brasília

Reunidos a milhares de quilômetros de distância, os participantes dos fóruns Social Mundial e Econômico Mundial concordaram em um ponto: é preciso o desenvolvimento de ações efetivas para o combate à corrupção, em especial na área financeira. Exemplo brasileiro foi elogiado. O grande problema é que há muita gente poderosa interessada em evitar as mudanças. Aquecimento global ganha novos adeptos

Convergência nunca será a palavra a definir dois dos eventos internacionais que evidenciam as faces da sociedade capitalista atual. Os fóruns Social Mundial, realizado este ano no Brasil, e o Econômico Mundial, na Suíça, apresentaram nesta versão, no entanto, pelo menos um ponto em comum - ainda que sob diferentes perspectivas: o combate à corrupção.

No Fórum Econômico Mundial, em Davos, os participantes, liderados por multinacionais e entidades como a Transparência Internacional e o Banco Mundial, lançaram a ideia de criar uma espécie de laboratório de estratégias de combate à corrupção. O Brasil seria o alvo preferencial para proliferar as experiências, não só pela tradição de terreno fértil para práticas ilícitas, mas principalmente pelas recentes medidas adotadas para coibir a lavagem de dinheiro. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mais que dobrou de 2007 para 2008 o número de rastreamento em operações financeiras suspeitas. O sistema que permite cruzar dados para análise de atividades ligadas à lavagem de dinheiro credenciaria o País a capitanear a campanha de combate à corrupção nos próximos anos, segundo os debates em Davos.

Longe da Europa, no Fórum Social Mundial, realizado em Belém, no Pará, a iniciativa foi propor a criação da Rede Mundial de Combate à Corrupção. A troca de experiências será feita entre organizações não-governamentais de seis países: Brasil, México, Quênia, Índia, França e Itália. O fator mobilizador seria a maior participação da sociedade civil organizada. O monitoramento constante do Estado não garantiria o fim das práticas de corrupção, mas aumentaria a qualidade dos agentes públicos e da intervenção política no controle de mercado, segundo as teses discutidas em Belém.

DESCONEXOS Os debates dos dois eventos, porém, não mostraram conexão entre si. Segundo o técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Cooperação e Desenvolvimento (Dicod) do Ipea, Emilio Chernavsky, até faz sentido a preocupação com o combate à corrupção na roda de debates dos dois fóruns, justamente com a crise econômica levantando a necessidade de impedir avanços de paraísos fiscais, mas nada que resulte em ações concretas ou cooperação entre os grupos que se reuniram em dois continentes. "O momento de crise é uma oportunidade de mexer na estrutura atual de combate à corrupção, mas a corrente não vai ser quebrada automaticamente com as intenções surgidas nas rodadas de Davos ou Belém. Há o interesse de conter a invasão de capital ilícito, mas outras forças ainda estão por trás da manutenção dos esquemas ilegais", avalia.

Doutorando em Economia pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Chernavsky afirma que o viés do Fórum Econômico Mundial foi mesmo o redesenho do mundo pós-crise. E lembrou que o evento ocorreu diante de um panorama econômico em rápida deterioração e com a percepção generalizada de que o mundo se encontra na pior recessão global desde os anos 1930. "A crise internacional esteve no centro dos debates, mas não resultou do encontro uma avaliação clara das causas ou da profundidade dos efeitos da crise nem tampouco foram definidas respostas conjuntas a ela", define.

Se um outro mundo é possível, nem Davos, nem Belém mostraram concretamente. Resultados foram buscados nas discussões, debates e assembléias realizados, mas a tônica dos líderes na Suíça evitou uma caça às bruxas ao culpado pela crise internacional. Durante os debates, com o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciando um crescimento global de 0,5%, o mais baixo desde 1945, a principal preocupação demonstrada pelos participantes era de quanto tempo durará a crise e quais serão as suas consequências sociais e políticas.

MERCADO Para alguns analistas, a confiança absoluta na desregulamentação do mercado e a generalizada indiferença com relação aos sinais de alerta emitidos por alguns poucos analistas econômicos - estigmatizados por seu suposto catastrofismo - são os principais motivos para os protagonistas de Davos deixarem de apontar o verdadeiro estopim da crise. Em contrapartida, os participantes da reunião no coração da Amazônia brasileira sabiam de onde vinha o responsável pela turbulência financeira: das políticas adotadas pelos integrantes do Fórum Econômico Mundial em Davos.

A nona edição do Fórum Social Mundial - de volta ao Brasil após três anos - tentou se descolar da coincidência com a data de Davos, mas foi contaminado pela crise. No começo dos debates, o tom era de que possíveis soluções nasceriam a partir de Belém. O menosprezo aos temas propostos pelo Fórum Econômico Mundial, no entanto, não frutificou em idéias concretas sobre um novo modelo de gestão das Nações.

A falta de um documento final do encontro social evidenciou ainda mais a ausência de soluções para os problemas discutidos. O mestrando em Ciência Política da Universidade de Brasília, Paulo Eduardo Milan, 27 anos, saiu das tendas de atividades desnorteado em relação aos rumos propostos. "As idéias não sintetizadas em ações possíveis deixaram no ar o cheiro de contradição, de discussões vagas sobre um futuro incerto. A crise econômica ou o desprezo por Davos não fomentaram ações concretas de um grupo que rebate a tese do atual sistema capitalista."

FLORESTA A localização do evento este ano foi, contudo, determinante para o teor dos debates. A capital do Estado do Pará, na Amazônia, trouxe o som dos povos indígenas e da floresta. A inspiração ficou clara nas respostas de que o futuro tem como base a preservação do meio ambiente acima do desenvolvimento econômico. Um novo sistema, uma alternativa ao capitalismo. Idéias não sintetizadas unindo o respeito aos ecossistemas às redes solidárias de sustentabilidade.

Vozes essas que constituíram o mais próximo do que se pode chamar de segundo ponto de convergência entre os dois fóruns distintos. A visão de integrar nas soluções pós-crise o desafio de preservar o meio ambiente foi novidade no Fórum Econômico Mundial.

O técnico Emilio Chernavsky desconfia que o debate sobre os outros problemas globais, com ênfase nas mudanças climáticas, possa ser apenas retórica dos países desenvolvidos, mas ainda assim não desqualifica o ineditismo da preocupação ambiental. "Lideranças públicas e privadas de países como Inglaterra e Dinamarca levantaram o desafio de controle do aquecimento global e do desequilíbrio ecológico, com apoio não formal dos Estados Unidos na figura do ex-vice-presidente democrata Al Gore. Resta saber o quanto isso tem de retórico, mas é um debate que não acontecia nas edições anteriores em Davos".

O principal alvo dessa iniciativa será a reunião do G-20 dos países industrializados, marcada para abril, em Londres, que acontecerá em meio à crescente crise econômica global. De qualquer forma, o eco dos debates de Davos, eloquente ou não, se fez ouvir em Belém, com os integrantes do Fórum Social pressionando por uma drástica mudança na balança política mundial e medidas urgentes para interromper as alterações climáticas.

No ar úmido e quente do norte do Brasil, o que se respirou foi a pretensão de passos de gigantes, na definição de um dos fundadores do Fórum Social. O sociólogo Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) repetiu o lema de outro mundo possível e necessário e ao final do encontro teve de ouvir que a curto ou médio prazo "é necessária uma radicalização da imaginação por um mundo melhor". Ainda assim, avalia, há planos e metas a serem seguidos. As assembleias dos povos indígenas contra a mercantilização são citadas como exemplo das várias propostas que frutificaram durante os seis dias do evento. Na opinião de outros participantes do Fórum Social, o problema de Davos e da crise econômica mundial estava no fato de que a política de enfrentamento para as turbulências era produzida pelos criadores da instabilidade.

MUDANÇA Outra constatação de Grzybowski é a de que agora é Davos quem deve fazer a contraposição ao Fórum Social Mundial. A mudança de data seria mais um ingrediente do descolamento entre os dois grupos. Socialização e neoliberalismo, que antes já demarcavam claramente os territórios dos dois eventos, hoje ainda se constituem diferenças, mas em contornos mais suaves em cada lado de militantes. O clima confiante no sistema de consumo já não era tão entusiasmado na Suíça e na Amazônia também faltou animação para a radicalização dos movimentos antiglobalização.

O Fórum Econômico amenizou a defesa do atual modelo de economia de mercado em favor da cooperação e coordenação internacional que ajudem a impedir futuras crises, incluindo maior participação de governos no encontro. Na percepção de Emilio Chernavsky, o Estado veio à tona para contrabalançar a confiança abalada dos mercados financeiros. "Apesar de não ser totalmente explícito em função da ideologia que norteia a preparação do Fórum Econômico, aplaude-se a intervenção estatal e a coordenação intergovernamental. Existe uma chamada genérica para a formulação de políticas públicas contra a crise e para a construção ou reformulação de instituições".

A sintonia dos dois fóruns também ficou clara em discursos dos participantes. Em Davos, o Fórum ocorreu sem a presença de algumas figuras importantes de governos, das finanças e de corporações privadas. Mesmo assim, durante os cinco dias de debates estiveram presentes 40 chefes de Estado, 15 ministros de Finanças, 20 presidentes de bancos centrais e dezenas de dirigentes empresariais e de organizações não-governamentais. Especialistas alertam, no entanto, que dificilmente pode-se dizer que esse relativo esvaziamento constitui uma tendência que se manterá no futuro. Por lá, os dirigentes chineses, japoneses e russos, e até os europeus, arriscaram críticas à derrocada econômica americana e defenderam um multilateralismo econômico. A chanceler alemã Ângela Merkel, chegou a recomendar a criação de um conselho de segurança para a economia mundial.

CRÍTICAS Belém também manteve críticas aos Estados Unidos e foi o palco para questionamentos e ataques de presidentes latino-americanos que fizeram questão de marcar presença. Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez; da Bolívia, Evo Morales; do Equador, Rafael Correa, e do Paraguai, Fernando Lugo, mostraram entrosamento com o Fórum Social.

O presidente equatoriano, economista, foi mais audaz e sustentou que a resposta para a crise seria o socialismo, com o controle popular de organismos econômicos, políticos e sociais, amparados por um Estado comprometido em tornar-se um canal descentralizado para a participação democrática.

Com discurso duro, Lula transformou suas palavras em artilharia contra medidas protecionistas americanas para tentar recuperar a economia. O presidente afirmou que a solução e as principais ações de combate à crise financeira estavam no comportamento dos países ricos. "Eu li que o presidente [dos Estados Unidos, Barack] Obama tomou uma decisão de que os novos investimentos deles devem usar só aço das siderúrgicas americanas. Se isso for verdade, é um equívoco. O protecionismo nesse momento vai agravar a crise, não resolvê-la. É importante que os países ricos não esqueçam nunca que foram eles que inventaram essa história de que o comércio poderia fluir livremente pelo mundo. Não é justo que agora, que eles entraram em crise, esqueçam o discurso do livre comércio e passem a ser os protecionistas que nos acusavam de ser", criticou.

Lula disse ainda que os países ricos estão perdidos diante da instabilidade financeira mundial, além de reforçar que acredita na movimentação das grandes potências econômicas do mundo para recuperar a economia e "não permitir que os países pobres paguem por uma crise que não criaram". Além de criticar o protecionismo, defendeu medidas para a regulamentação do mercado futuro e do sistema financeiro como caminhos para superar a crise.

Longe de Davos, a integração latinoamericana soou como uma das principais forças para superar as turbulências e direcionar o caminho de retorno à estabilidade e tranquilidade de mercado. O otimismo, no entanto, teve que ser reformulado diante das incertezas que o outro lado do mundo inspira, fazendo com que também os debatedores de Davos reduzissem a autoconfiança como celeiro de respostas anticrise. O choque de realidade atingiu os dois fóruns, com expectativas de novos rumos para as edições futuras.

 
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