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Números para todos os gostos - Já há sinais de recuperação da economia brasileira

2009 . Ano 6 . Edição 50 - 21/05/2009

Por Gilson Luiz Euzébio, de Brasília

A depender da fonte consultada, a economia brasileira poderá crescer até 2,5% em 2009 ou sofrer queda neste mesmo percentual. Mercado financeiro é o mais pessimista. Empresários apostam na eficácia das medidas anticíclicas. Governo revê projeções, mas afasta a possibilidade de redução do PIB. Ipea recomenda cautela

A economia brasileira crescerá, neste ano, ou terá queda? Há previsões para todos os gostos, algumas bem catastróficas. Depois de muitos estudos, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projetou, para 2009, um crescimento entre 1,5% e 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê, em seu relatório Panorama Econômico Global, divulgado em abril, queda de 1,3%. Menos pessimista em relação ao FMI, o mercado financeiro estima a queda em 0,49%, de acordo com o boletim Focus, publicado pelo Banco Central (BC) na terceira semana de abril. Já o governo reduziu sua previsão para 2%, depois de apostar, por vários meses, que seria possível crescer 4%.

A projeção do Ipea, contida na Carta de Conjuntura de março, leva em conta o impacto das medidas que o governo vem adotando. Como a continuidade do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), a alteração e redução do Imposto de Renda, as reduções setoriais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o aumento do salário mínimo e a redução da meta de superávit primário de 3,8% para 2,5% do PIB. "O programa habitacional também vai ser muito relevante", afirma Renaut Michel Barreto e Silva, assessor da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Ipea. Ele prevê que os sinais devem ser sentidos já neste segundo trimestre.

Mais importante é que, além das medidas já adotadas, o governo deixou claro que vai continuar agindo para assegurar o crescimento da economia e o emprego, da mesma forma que todos os países vêm fazendo. Na Lei de Diretrizes Orçamentárias foi fixada a meta de superávit primário em 3,3% para 2010. A redução do superávit, assim como da taxa básica de juros, aumenta a margem para gastos e investimentos, fundamentais para manter a atividade econômica. Com todas essas medidas, o governo não aceita falar em recessão. No dia 23 de abril, em visita a Porto Alegre, a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, reagiu à previsão do FMI.

"O Fundo Monetário Internacional não tem o mesmo nível de informação que tinha antes", disse, referindo-se ao período em que o Brasil dependia de empréstimos da instituição e estava sujeito a monitoramento. Além de reafirmar o compromisso com o crescimento, a ministra afirmou que "não há razão para ter respeito religioso" pelo FMI ou por qualquer outra instituição. É o caso da agência de avaliação de risco Standard & Poor's, que projeta queda de 1% do PIB do Brasil. Em sua página na Internet, registra que a atividade econômica brasileira "foi significativamente afetada pela instabilidade na economia global" e tece uma série de comentários sobre a gestão responsável das contas públicas. Entretanto, organizações como esta, tão rigorosas com os países em desenvolvimento, não foram capazes de prever a crise nos Estados Unidos.

INCERTEZA "Fazer previsão já é difícil em época de normalidade", pondera Salvador Werneck Viana, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea. "Hoje se tem um grau de incerteza muito grande sobre essas estimativas. Do final do ano para cá, as previsões vão se ajustando aos números que vão saindo com os do quarto trimestre do ano passado, que foi o pior", explica Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Comércio Exterior (Funcex). Em alguns casos, são ajustes sempre para pior sem que haja algum fato concreto que os justifiquem. O mercado financeiro, por exemplo, a cada semana reduz sua previsão de crescimento, mas o setor produtivo acredita em melhora no desempenho das empresas neste ano. Dados do Sensor Econômico de abril - pesquisa do Ipea com 115 entidades empresariais e de trabalhadores representando mais de 80% do PIB - revelam que empresas e trabalhadores acreditam num crescimento próximo a zero.

"O quadro deste primeiro trimestre é melhor do que o do quarto trimestre. Os dados disponíveis demonstram que não estamos repetindo o que ocorreu no último trimestre do ano passado", afirmou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, durante a divulgação da pesquisa, que revelou uma pequena redução na apreensão do setor produtivo nacional, em contraste com o setor financeiro. "O setor financeiro tem uma visão mais negativa, enquanto economia real acredita num crescimento", comentou.

Para Salvador Werneck Viana, as projeções do mercado financeiro tendem a prever a repetição do que já aconteceu: "São previsões dos operadores de mercado. Qual o grau de aderência ao setor produtivo? Eles fazem previsão olhando para trás". Os modelos de projeção do FMI sofrem do mesmo mal: "Tendem a reproduzir o passado", afirma Fernando Ribeiro. O Fundo Monetário, segundo ele, trabalha com a hipótese de que o País não vai se recuperar da queda do quarto trimestre de 2008, quando "há elementos que mostram alguma recuperação". Diante do alto grau de dispersão das projeções, comenta ele, a maioria das pessoas tende a trabalhar com um número intermediário.

Às projeções feitas por instituições internacionais com a credibilidade abalada, como o FMI, somam-se as das agências de classificação de risco. Ricardo Amorim, assessor técnico da presidência do Ipea, alerta que essas previsões podem estar contaminadas pelo convívio das pessoas que as fazem com os operadores do mercado financeiro. Segundo Amorim, a regra é simples: os bancos influenciam as agências de classificação de risco e, sabendo antes da decisão, definem a direção para manter a lucratividade. A decisão de uma agência de classificação de risco pode render fortunas para alguns e prejuízos para muita gente. No mercado de capitais, por exemplo, ela pode provocar a valorização ou desvalorização de determinada ação.

SUSPEITA São essas mesmas agências que avaliam o risco dos países em desenvolvimento. "Isso é inacreditável, é indefensável sob qualquer ponto de vista científico", condena Ricardo Amorim. Para elas, o sistema bancário dos Estados Unidos era sólido e estava acima de qualquer suspeita, até o estouro da crise em setembro do ano passado, quando o mundo descobriu que os bancos trabalhavam com "ativos tóxicos" com os quais sustentavam a economia da nação. "Os próprios americanos se beneficiaram dessa corrente maluca de derivativos; conseguiram comprar imóveis, carros, casas, objetos de valor, tudo por essa ciranda financeira. É ilusão achar que os bancos são os grandes vilões", afirma Amorim.

Até agora não se sabe exatamente o tamanho do rombo causado pela especulação financeira. O FMI estimou, em abril, em mais de US$ 4 trilhões o volume de ativos tóxicos nos Estados Unidos, que já colocaram US$ 1 trilhão para combater a crise. E não há previsão de recuperação da economia mundial tão cedo. As projeções indicam a continuidade da recessão nos Estados Unidos, onde o PIB deve encolher 4% neste ano. Na mesma situação estão os países europeus, com previsão de queda de 4,1%, a Rússia (-4,5%) e o Japão (-4,7%). Salvam-se apenas China e Índia, que devem crescer em torno de 6%, e o Brasil, se confirmada a estimativa do governo e do Ipea.

Na Carta de Conjuntura de março, o Ipea descartou qualquer hipótese de crescimento negativo neste ano. No primeiro trimestre, a economia brasileira começou a dar os primeiros sinais de reação. São números ainda tímidos, porém bem melhores do que os de dezembro. Se isso configura uma tendência, com o início do processo de recuperação da economia, ainda é uma incógnita. João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, ressalta que alguns números indicam "uma ligeira e tênue melhora em relação ao quarto trimestre do ano passado".

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, foram criados 34,8 mil empregos em março, embora a taxa de desemprego pesquisada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE) tenha subido de 8,5% para 9%, de fevereiro para março. Pelos números do Caged, que trabalha com números de demissões e admissões efetivamente ocorridas, em fevereiro houve uma pequena melhora, com 9 mil novos empregos, número que ganha relevância se comparado com dezembro, quando foram fechados 650 mil postos de trabalho. "A concentração das demissões em dezembro indica que as empresas se anteciparam no ajuste à crise e reagiram de forma até exagerada", diz Marcio Wohlers, diretor de Estudos Setoriais do Ipea. Além disso, o empresariado já vinha se preparando para reduzir a produção por causa do aumento da taxa básica de juros, a partir de abril. Somada a crise com a política de juros altos do Banco Central, o resultado foi uma queda de 3,6% no PIB do último trimestre de 2009.

DESEMPENHO "A reação negativa dos agentes econômicos talvez tenha sido mais forte do que o necessário", comenta Wohlers. A indústria automotiva, por exemplo, registrou um dos melhores desempenhos da história nos primeiros meses de 2009, com vendas em alta devido à redução do IPI. A produção de março foi 34% superior à de fevereiro, de acordo com a Federação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O volume de emissão de licenciamento também subiu 36%.

Na Carta de Conjuntura, o Ipea registrou a recuperação das vendas do comércio varejista em geral em janeiro. No primeiro bimestre, as vendas aumentaram 4,9%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Além disso, o Banco Central informou a retomada da concessão de crédito à pessoas físicas a partir de janeiro, depois da forte retração no último trimestre do ano passado.

Os dados permitem levantar a hipótese de que o pior da crise foi no final de 2008 e que o Brasil está em trajetória de recuperação, comenta Sicsú. Segundo Renault Michel, a redução do IPI foi determinante no aumento das vendas de automóveis, tanto que o governo ampliou o benefício a outros segmentos, como o de eletrodomésticos e de material de construção.

"O governo adotou medidas muito corretas no enfrentamento da crise. Num prazo muito curto, ele reforçou os programas sociais e está lidando corretamente também nos investimentos", comenta Milko Madijascic, assessor da presidência do Ipea. Entretanto, o pessimismo ainda persiste, conforme revelou o Sensor Econômico de abril. "Os dados de março configuram uma estabilidade em relação à perspectiva do setor produtivo para a economia em geral do Brasil em 2009. Temos um quadro de adversidades ainda", avaliou Marcio Pochmann.

Segundo Pochmann, embora tenha melhorado a expectativa para as empresas e para os componentes macroeconômicos, ainda não há percepção de melhora nos indicadores sociais. "Estamos trabalhando para este ano com piora do desemprego, aumento da pobreza e da desigualdade de renda no País", afirmou. Essa é a expectativa do setor produtivo, que pode ser alterada com medidas do governo. O Sensor é um instrumento de definição de políticas públicas, explica Ricardo Amorim. "O importante é saber como os empresários pensam e fazem políticas econômicas para mudar o cenário", afirma. "Quando a expectativa estiver muito ruim, todos esforços serão feitos para revertê-la, e quando há euforia, serão feitos esforços para evitar problema, de forma que a previsão nunca se realizará", diz.

MERCADO INTERNO Desde o início da crise, o governo tem conduzido a política fiscal para amenizar os impactos sobre a economia brasileira. Com as principais economias mundiais em recessão, a saída é fortalecer o mercado interno. "Políticas fiscais expansionistas estão sendo tentadas em todo mundo", ressalta pesquisador Cláudio Hamilton dos Santos. "O gasto é necessário e tem que aumentar", afirma Sicsú. Assim, o governo mantém a atividade econômica, gera emprego, arrecada impostos e mantém o déficit sob controle. Ensina ele: "Crescimento gera equilíbrio orçamentário e recessão gera déficit".

O fundamental, para Sicsú, é recuperar a economia, e não ficar preso à visão fiscalista que leva ao aprofundamento da crise. A União abriu mão de receitas para reduzir preços e estimular o consumo, mesmo contando com menos arrecadação por causa da retração da atividade econômica. Pode haver aumento da dívida pública, mas há folga para isso. "A dívida líquida do setor público caiu muito no ano passado e abre espaço para a política fiscal", diz Santos. Ele calcula que numa hipótese pessimista de crescimento zero da economia, redução dos juros gradativamente a 10% e redução do superávit primário a 2%, a dívida líquida subiria de 37% do PIB para 38%. "Mesmo nesse cenário pessimista, a dívida não voltaria ao patamar de junho do ano passado", comenta. Em 2003, era 52% do PIB.

Além disso, a redução da taxa de juros pelo Banco Central reduz a pressão sobre a dívida pública, permite o aumento dos investimentos públicos e pode criar condições para o retorno do investimento do setor privado. "As decisões de investimento estarão intimamente associadas ao desenrolar da crise mundial e às expectativas sobre o desempenho da demanda interna", prevê a Carta de Conjuntura. No documento, o Ipea ressalta que a política monetária tem condições de tornar o ambiente econômico mais propício aos investimentos, principalmente quando a economia der os primeiros sinais de recuperação. Em março, João Sicsú divulgou nota técnica informando que o Brasil poderia economizar R$ 30 bilhões neste ano, se o Banco Central reduzisse a taxa básica de juros em 5,75 pontos percentuais até outubro. A redução dos juros foi adotada por quase todos os países, desde o início da crise. Só o Brasil aumentou os juros.

O corte nos juros, segundo ele, é a medida mais adequada para compensar a perda de receitas devido à crise. Se o governo optar por reduzir despesas sociais, investimentos e gastos correntes, irá reduzir a demanda e dificultar a retomada do crescimento econômico. Em abril do ano passado, quando o Banco Central iniciou a série de aumentos dos juros, o Ipea divulgou nota alertando que a decisão estava equivocada, lembra Salvador Werneck Viana, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea. A política de juros altos agravou os efeitos da crise.

REDEFINIÇÃO O cenário de crise impõe agora a redefinição da política econômica, com foco no crescimento, distribuição de renda em substituição ao modelo baseado em metas de inflação. "O regime de metas é inadequado para o País", afirma Salvador Werneck, que participa da elaboração de livro com propostas para o desenvolvimento brasileiro. O regime de metas de inflação, explica, leva o Banco Central a aumentar os juros diante de qualquer pressão inflacionária.

"O Banco Central tem que fazer mais do que controlar a inflação. Ele tem que olhar para a atividade econômica. O regime de metas de inflação me parece simplista demais", critica Cláudio Hamilton. Nos Estados Unidos, os dirigentes do Federal Reserve (o banco central americano) mantêm constante diálogo com a sociedade para explicar suas decisões. Márcio Wohlers destaca que a política de juros altos alimenta a especulação financeira, desestimula o investimento e a produção e serve para manter o câmbio valorizado.

Na hora que a economia voltar a crescer, mantida a tradição de juros altos, o câmbio voltará a se apreciar, com reflexos negativos no balanço de pagamentos, desestímulo às exportações e tornando os produtos importados mais baratos. Por isso, defende Salvador Werneck, é preciso uma nova política econômica que combine controle da inflação com crescimento, geração de emprego e distribuição de renda. "É preciso a redução drástica dos juros para evitar a trajetória do câmbio valorizado que retira a competitividade das exportações", alerta Sicsú. Os instrumentos para conter o câmbio são a taxa de juros e a tributação sobre mercado de capitais. Juros baixos significam a alteração da política econômica, baseada em metas de inflação, que vigora há 10 anos.

"O regime de metas de inflação ainda não mostrou que é totalmente eficaz para controlar a inflação nem para favorecer o crescimento", afirma Sicsú. Segundo ele, é hora de experimentar outros mecanismos de controlar a inflação sem prejudicar o crescimento econômico. No ano passado, exemplifica, a cotação do petróleo disparou no mercado internacional, mas o Brasil neutralizou o impacto do aumento de preços reduzindo a Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (CIDE). Ele cita como exemplo também a decisão do governo de ampliar a oferta de crédito agrícola para aumentar a produção e contrapor-se aos aumentos dos preços no mercado internacional. É preciso usar "um remédio para cada doença", evitando que um problema localizado contamine toda a economia.

Com a política de juros, pondera ele, não há como delimitar o raio de ação e o crescimento da economia sai prejudicado e nem sempre a medida é eficaz. No ano passado, o Banco Central aumentou os juros quando o IPCA teve uma alta por causa dos alimentos. E não houve redução de preços.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defendeu a política de juros adotada pela autoridade monetária, em palestra em abril na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp): "É importante garantir juros mais baixos no futuro, de modo que isso permita um crescimento sustentável e sem os desequilíbrios do passado". Ele argumentou ainda que as taxas foram reduzidas e que estão hoje no menor nível da história. Segundo ele, é a primeira vez que o Brasil usa a política monetária como medida anticíclica. Antes, qualquer sinal de turbulência era motivo para o Brasil aumentar a taxa de juros.


Mercado financeiro continua pessimista

Bancos, financeiras, corretoras e outras instituições com larga tradição na elaboração de projeções econômicas perderam o rumo diante do enorme poder devastador da crise mundial. "Nossos modelos econométricos ficaram muito debilitados", admite Arthur Carvalho Filho, economistachefe da Ativa Corretora. "Tivemos uma quebra estrutural", comenta Ana Cristina da Costa, economista-chefe da Bradesco Asset Management. Até setembro do ano passado, todos os indicadores sinalizavam para um bom desempenho da economia brasileira de 2008. E de repente tudo mudou.

Essas instituições, que até setembro elaboravam projeções para um mundo em crescimento, tiveram que inverter totalmente os sinais para compor cenários de recessão, com todas as suas consequências, como queda do emprego, de produção e vendas. "O processo de contração da economia mundial no quarto trimestre caracterizou o que chamamos de 'quebra estrutural' dos modelos", explica José Mauro Delella, economista-chefe da Itaú Asset Management.

Adaptações de modelos e novas metodologias de cálculo foram insuficientes para que as projeções voltassem a apontar o rumo para a economia brasileira. A Ativa Corretora, por exemplo, incorporou, no final do ano passado, uma nova ferramenta na elaboração de suas projeções, mas o desafio de fazer previsões no meio de uma crise continua. Diante da enorme dificuldade de fazer previsões, a BNY Mellon ARX passou a trabalhar com períodos mais curtos e a refazer as previsões com maior frequência.

Com o estouro da crise em setembro de 2008, nos Estados Unidos, a MCM Consultores viu desmoronar também grande volume de projeções. Meses de trabalho estavam perdidos. "Nossos modelos não previam um colapso de crédito", diz Antônio Madeira, coordenador da área de mercado financeiro da MCM. "Foi um ano muito rico e desafiador para nós. Mostrou que é importante estar com a cabeça aberta para aceitar quebra de paradigmas", afirma Alexandre Povoa, diretor e economistachefe da Modal Asset Management.

Para Patrick Carvalho, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), os modelos econométricos não são eficazes para projeções em época de crise. A importância desses cálculos, segundo ele, está na indicação de tendências. Mas as estimativas disponíveis até o meio de abril não indicavam nem mesmo uma tendência: enquanto o governo trabalha com projeção de crescimento de 2% do produto interno bruto (PIB) para este ano, o Banco Cooperativo Sicredi prevê apenas 0,5%. Já o BNY Mellon ARX e a Ativa Corretora preveem queda de 1%. A Modal Asset Management acha que o PIB vai cair um pouco mais, 1,5%.

Na estimativa da Ativa corretora, a taxa básica de juros deve chegar ao fim de 2009 em 9,25% ao ano, quando o dólar estará valendo R$ 2,30, a inflação do ano será de 4% pelo IPCA. O superávit comercial será de US$ 12,5 bilhões e a dívida líquida do setor público ficará em 37% do PIB. As previsões do Banco Safra são de que a taxa básica de juros cairá para 8,76% no final deste ano, com o dólar cotado a R$ 2,30, uma inflação anual de 4,3% pelo IPCA e crescimento zero do PIB.

Diversos fatores, segundo os economistas, dificultam o trabalho de elaboração das projeções. Se a economia mundial começar a se recuperar, por exemplo, haverá impacto positivo sobre a produção do Brasil. Mas, por enquanto, só há sinais de piora da economia internacional. Ou seja, os dados estão em constante alteração. Outro fator considerável é que a economia brasileira, e de outros países também, são impactadas pelas sucessivas medidas governamentais.

Mesmo com todas as incertezas, há sinais de que a fase do pânico foi superada. "O pior já passou", afirma Arthur Carvalho Filho. Mas Ana Cristina da Costa, da Bradesco Asset Management, a situação ainda poder piorar, porque os efeitos de algumas variáveis, como o mercado de trabalho, demoram a aparecer. A economia está a caminho da depressão. Em compensação, há uma reação muito agressiva do governo, pondera José Mauro Delella, que prefere esperar para ver se a ação do governo será suficiente para recolocar a economia nos trilhos. Ele destaca, entretanto, que parte do mercado e dos empresários está mais otimista nos últimos meses, acreditando na capacidade do governo para superar a crise. Talvez até porque o pessimismo do final do ano tenha sido exagerado.

Na avaliação da MCM Consultores, "a economia brasileira já chegou ao fundo do poço, e agora inicia uma lenta retomada", afirma o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega. O Brasil, com a economia equilibrada, tem condições de reduzir juros e aumentar os gastos públicos. Mas a Modal Asset Management trabalha com a perspectiva de piora da economia nos Estados Unidos, que só será resolvida com a estatização dos bancos, um processo traumático com repercussão nas demais economias. (G. L. E.)


Estatização e os bancos

Por Gilson Luiz Euzébio e Marina Nery - de Brasília e do Rio

A crise financeira internacional jogou no lixo ideologias e tabus: até mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma das mais conservadoras instituições mundiais, já aconselha a estatização temporária de bancos como medida necessária à recuperação da economia. A revista Desafios em reunião do Conselho de Orientação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ipea ouviu a opinião de parte de seus integrantes. "Eu acho que a solução correta seria o governo (dos Estados Unidos) assumir o controle do sistema bancário americano, inclusive devolver depois e não socializar em caráter permanente", disse o exministro João Paulo dos Reis Velloso, exministro do Planejamento.

A Suécia, afirma, fez um processo semelhante: controlou os bancos e depois liberou. "O Obama (Barack Obama, presidente do Estados Unidos) só não faz isso dada a resistência que há da opinião pública americana, que é muito neoliberal, tem uma visão muito de mercado". Para o ex-ministro, a intervenção se justifica porque é uma crise de origem financeira, e o governo está injetando dinheiro nas instituições.

Os bancos não sairão dessa crise sem ajuda dos cofres públicos, acredita Walter Barelli, ex-ministro do Trabalho, que ressalta: "A estatização até pelas pessoas liberais é considerada que deve acontecer, mesmo que por pouco tempo, para que se coloque ordem ao sistema". Não se trata, porém, de estatização pura e simples. O processo deve envolver a redefinição do papel do sistema financeiro na economia: "É um setor que precisa ser repensado", afirma Barelli. "A crise, mostrou ao mundo que banqueiro não pensa no desenvolvimento e no bem estar da população", acrescentou.

NOVO SISTEMA A estatização dos bancos nos Estados Unidos, mesmo que temporária, é necessária à reconstrução de um novo sistema financeiro. "O que se tem de fazer, em muitos casos, é tomar participações nos bancos para assumir o comando desses bancos, enquanto se constrói os alicerces de um novo sistema financeiro", sugere o economista Wilson Cano. Os bancos só devem ser devolvidos aos seus donos com a imposição de condições pelo governo. Ele lembra que o economista Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia em 2008) já alertou que o pacote de ajuda aos bancos, lançado pelo governo dos Estados Unidos, não exige contrapartida dos bancos, o que dificulta a solução do problema.

"A causa de tudo isso é o quê? Um sistema financeiro nos EUA, que podia fazer o que queria. Então deu no que deu", lembra Cano. É necessário, ressalta, criar um novo arcabouço para o sistema financeiro, e as decisões do governo norte-americano não indicam "evolução no sentido de melhor regulamentação", para chegar pelo menos ao nível do Brasil. Dércio Garcia Munhoz, expresidente do Conselho Federal de Economia e professor da Universidade de Brasília, diz que os Estados Unidos estão equivocados ao achar que vão resolver o problema colocando dinheiro nos bancos. "Acho que há uma difi culdade brutal dos EUA em formular uma política macroeconômica. Eles não trabalham com a economia real. É como no Brasil: emprego e produção não têm valor nenhum". O modelo americano de ganhar dinheiro com especulação, lembra Munhoz, infl uenciou a formação nas universidades de todo o mundo, inclusive do Brasil.

A especulação faz parte da história do capitalismo, que alterna períodos de forte desregulamentação do mercado financeiro com crises e regulamentação. O crescimento econômico começa pelo setor produtivo e pouco a pouco caminha para o setor financeiro até gerar uma crise, explica Ricardo Amorim, assessor técnico da presidência do (Ipea). "Depois da crise de 1929 e da Segunda Guerra, tivemos forte regulação. O sistema de Bretton Woods tinha forte regulação e permitiu aos países ir além regulando mercados financeiros e o setor produtivo", conta. No início da década de 1970, o sistema de regulamentação começa a desabar e os países perdem força política para impor regras ao mercado. Era o começo da globalização, que só chegou aos países em desenvolvimento na década de 1990.

Com a crise atual, prevê Renault Michel Barreto e Silva, virá uma nova fase de regulação: "A dimensão financeira vai ter que aceitar a regulação com novos instrumentos e instituições". O reordenamento da economia mundial, vai levar à reformulação de organismos internacionais, como FMI, Banco Mundial, e talvez à criação de novas instituições. Milko Matijasic, assessor da presidência do Ipea, acha que as instituições internacionais e a própria burocracia dos governos ainda não absorveram a mudança de postura dos chefes de estado.

"As respostas burocráticas tem sido pautadas pela mentalidade dos anos 90 e da virada do milênio. São muito insuficientes para lidar com os Desafios", afirma. Até agora, diz ele, "temos uma série de protocolos de intenção", que dependem da formulação política para se concretizar. Na reunião do G20, no início de abril, por exemplo, os países se posicionaram contra o protecionismo e aumentaram os recursos do FMI para auxiliar países mais pobres. Até agora, destaca Matijasic, as instituições multilaterais "não têm demonstrado boa capacidade de coordenação do debate internacional nem de enxergar os problemas como eles são na atualidade".

"Quando chega na hora H, estão preocupados com inflação, com gasto público. Isso é da década passada. É o mesmo discurso. O problema hoje não é inflação, é defl ação", diz o assessor do Ipea. "A deflação é terrível", porque ela paralisa a economia: ninguém compra porque sabe que o preço vai baixar no dia seguinte. Outro equívoco, ressalta ele, é a manutenção de juros altos para combater a inflação, como faz o Brasil, quando o mundo está preocupado com deflação: você tira dinheiro de toda população para transferir a um grupo da elite".


Novos indicadores

Diante da diversidade de previsões, o Ipea vem implantando uma série de novos indicadores econômicos, sociais e ambientais com o objetivo de proporcionar uma leitura mais condizente da realidade brasileira. Para isso, o Instituto trabalha com diversas bases de dados, como as do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Receita Federal do Brasil. Os indicadores, construídos a partir de diversas fontes de dados, fundamentam as projeções do Ipea sobre o desempenho da economia nacional. A previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em 2009, entre 1,5% e 2,5%, feita pelo Ipea, resulta da análise de uma base ampla de dados, inclusive o Sensor Econômico, feito a partir de pesquisa com 115 entidades representativas dos empresários e dos empregados.

Às estimativas de crescimento do PIB, o Ipea agregou, além do Sensor Econômico, um novo indicador para medir a qualidade do desenvolvimento, o IQD. Na edição de abril, com a análise dos dados de fevereiro, o IQD apontava que a qualidade do desenvolvimento continuou instável, embora haja indicadores positivos sobre a economia neste início de ano. Isso porque o baque dos últimos meses do ano passado influenciou negativamente o desenvolvimento do País. Entretanto, a qualidade do desenvolvimento brasileiro já vinha piorando desde os primeiros meses de 2008. O Índice de Qualidade do Desenvolvimento (IQD) avalia o crescimento econômico, a inserção externa, a distribuição dos frutos do progresso e a preservação do meio ambiente. Ele é formado por três subíndices: índice de qualidade do crescimento, índice de qualidade da inserção externa, e índice de qualidade do bem-estar.

Em fevereiro, o IQD ficou em 224 pontos, numa escala de zero a 500, na qual 500 pontos é o número ótimo. O resultado de fevereiro é praticamente o mesmo de janeiro, mas 28,7% abaixo do de fevereiro de 2008. Houve piora no Índice de Qualidade do Crescimento, que caiu de 222,8 pontos para 209,2 pontos, de janeiro para fevereiro. De acordo com o indicador, a folha real de salários na indústria caiu 2% em relação a janeiro, mas aumentou 1,9% em comparação com fevereiro do ano passado. Esses dados indicam, segundo o Ipea, que o ajuste mais forte no mercado já foi feito. Além disso, houve melhora de 2,9% na expectativa dos empresários.

Já o Índice de Qualidade da Inserção Externa caiu de 182,4 pontos, em janeiro, para 175,7 pontos, em fevereiro. Pesaram na deterioração do indicador a redução de US$ 1,22 bilhão nas reservas internacionais no primeiro bimestre, as remessas líquidas de US$ 1,8 bilhão ao exterior e à piora dos termos de trocas. Em compensação, o Índice de Qualidade do Bem-Estar ficou em 305,6 pontos, o mesmo de dezembro. Segundo o Ipea, a discreta melhora nos primeiros meses de 2009 resulta da queda no índice de desigualdade social e do aumento das pessoas ocupadas no mercado de trabalho.

Além do conjunto de novos indicadores econômicos, o Ipea está preparando ainda novos produtos para medir o grau de satisfação e as expectativas das famílias em diversas áreas. O Índice de Expectativa Econômica das Famílias vai aferir o ânimo dos brasileiros em relação a emprego, renda, crédito e endividamento. Trabalho semelhante foi elaborado, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, para medir o impacto do Programa Bolsa Família na vida das pessoas. Com o Indicador de Percepção Social, outro índice em preparação, o Ipea vai medir o grau de satisfação das famílias com os serviços e políticas públicas.

Ainda na área social, o Ipea criou o Índice de Desenvolvimento da Economia da Cultura, em cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Esse índice vai mapear o consumo e a oferta de serviços culturais no País. Trata-se de um importante indicador de desenvolvimento, já que os gastos com cultura variam de acordo com a renda da população.

 
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