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Campo minado - Produção de alimentos cairá com aumento da temperatura

2009 . Ano 6 . Edição 52 - 05/07/2009

Por Rubens Santos, de Goiânia

Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste serão as mais prejudicadas com aumento da temperatura


Estudo sobre o aquecimento global estima um impacto negativo entre 0,8% e 3,7% na produção agrícola brasileira para o período entre 2040 e 2069. O impacto será consideravelmente maior e mais severo entre os anos 2070 e 2099, quando a produção será reduzida em até 26% em conseqüência da elevação da temperatura e da redução das precipitações por causa do aquecimento.

As evidências constam do estudo Assessing the impact of climate change on the brazilian agricultural sector, de José Feres, Eustáquio Reis e Juliana Speranza, técnicos do Ipea. A pesquisa também conclui que os efeitos negativos do aquecimento global e o fenômeno climático produzirão danos tanto em termos de produtividade agrícola quanto de valorização da terra. Outras consequências são o comprometimento da agricultura familiar, gerando sérias sequelas sociais, e movimentos migratórios da zona rural para as grandes cidades.

"Entre as severas consequências examinadas prevê-se a queda no rendimento de algumas culturas, o que resultará num expressivo impacto negativo no desenvolvimento econômico, podendo aumentar a pobreza e reduzir a capacidade das famílias de investir num futuro melhor", afirma o pesquisador José Feres. "Num contexto semelhante, e avaliando os impactos econômicos das mudanças climáticas sobre as atividades na agricultura, é de fundamental importância a formulação de políticas públicas que visem mitigar seus efeitos", disse.

Na pesquisa, Feres, Reis e Speranza empregam modelos climatológicos de médio (2040-2069) e longo prazos (2070-2099), e de temperatura de ano a ano (1970 e 1995). E concluem que as áreas de produção de soja são as mais vulneráveis ao impacto negativo, que poderá comprometer o setor agrícola. Mas o estudo também aponta que algumas regiões sairão ganhando com as mudanças climáticas. A região Sul, por exemplo, com solo fértil e temperatura amena, terá ganho em rentabilidade. Já a região Sudeste tende a apresentar um resultado neutro. "As consequências provocadas pelas mudanças climáticas indicam que as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste serão as mais afetadas, enquanto as regiões Sul e Sudeste seriam as mais beneficiadas", afirma José Feres.

Olho no Futuro - "Pesquisas como essa, que avalia os impactos das mudanças climáticas sobre a produtividade agrícola, são muito importantes para o futuro do País", avalia a pesquisadora Emilia Hamada, da Embrapa Meio Ambiente, técnica da área de sensoriamento e geoprocessamento em Jaguariúna, interior de São Paulo. "Contribui como alerta, como subsídio para políticas públicas e estímulo às pesquisas sobre culturas mais resistentes, e novas variedades, que muitas vezes demandam 10 anos de estudos", afirmou.

O maior prejuízo para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste também resultará do desmatamento intenso nessas regiões devido à expansão das plantações de soja e da pecuária. Pesquisa da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, indica que a plantação de soja na região Norte é mais agressiva ao meio ambiente do que a pecuária intensiva. Houve, segundo a pesquisa, redução de 15,7% nas chuvas devido à substituição de uma área de floresta por uma plantação de soja no município de Paragominas, no Interior do Pará.

Liderados pelo professor Marcos Heil Costa, do Departamento de Engenharia Agrícola do Centro de Ciências Agrárias da UFV, os pesquisadores também constataram que a troca da plantação de soja por pastagens provocou queda da precipitação pluviométrica de 3,9%, ou cerca de quatro vezes menos do que a soja. "O desmatamento da floresta ocorre, nos últimos 20 anos, para formação de pastagens, mas as plantações de soja também estão em crescimento na região", diz Marcos Heil Costa. Segundo ele, entre 2000 e 2005 as áreas ocupadas pela soja cresceram 15%.

O pesquisador Paulo Moutinho, coordenador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), afirma que há relação entre o desmatamento na região e os preços das commodities agrícolas: a expectativa de lucro leva ao aumento da destruição de florestas. Porém, ocorre uma redução nas taxas de desmatamento quando há combinação entre campanhas de esclarecimento contra o desmate e fiscalização intensa. "O que temos de fazer como sociedade é escolhermos o futuro que queremos para a região Norte e cobrar ações como a criação de Unidades de Conservação", afirma Moutinho.

Exemplo - Enquanto aumenta a devastação nas diversas regiões do País, a prefeita de Alta Floresta, no Mato Grosso, garante: "Aqui não tem desmatadores", diz Maria Isaura Dias Alfonso. "Já reduzimos em 93% as queimadas e os desmatamentos estão proibidos". Ela conta que nos anos 1980 colonos foram atraídos para a região de Alta Floresta pela oferta de terra: o governo dava o título de posse mediante o compromisso de desmatamento de pelo menos 50% da área. O resultado foi um imenso desmatamento e Alta Floresta entrou para a lista dos 43 municípios que mais derrubam árvores no País.

Exemplo - Enquanto aumenta a devastação nas diversas regiões do País, a prefeita de Alta Floresta, no Mato Grosso, garante: "Aqui não tem desmatadores", diz Maria Isaura Dias Alfonso. "Já reduzimos em 93% as queimadas e os desmatamentos estão proibidos". Ela conta que nos anos 1980 colonos foram atraídos para a região de Alta Floresta pela oferta de terra: o governo dava o título de posse mediante o compromisso de desmatamento de pelo menos 50% da área. O resultado foi um imenso desmatamento e Alta Floresta entrou para a lista dos 43 municípios que mais derrubam árvores no País.

Desertificação - Na região Centro-Oeste, a monocultura e a ocupação intensiva do solo estão resultando em desertificação da região sudoeste de Goiás, a mais fértil do estado. O fenômeno é mais visível na área entre as cidades de Jataí, Rio Verde, Serranópolis e Palestina, de acordo com pesquisa do Instituto do Trópico Subúmido (ITS) da Universidade Católica de Goiás (UCG).

É na região sudoeste que Goiás produz grande quantidade de grãos, como soja e milho, e concentra a maior parte dos investimentos em agroindústria do estado. Com o processo de grandes monoculturas e a retirada do capeamento vulcânico (terra roxa) a partir da década de 70, está aflorando na região o deserto de Botucatu. Subterrâneo, o chamado deserto de Botucatu começa na região Centro- Oeste e vai até o Uruguai. O ITS aponta dados da Organização da Nações Unidas (ONU), que indicam o crescimento do deserto a uma taxa de 10% ao ano.

Baseado em dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás (UFG), o pesquisador Nilson Clementino Ferreira garante que até 2050 a taxa de destruição do bioma do cerrado deverá saltar de 39% para 47% em números absolutos. "Porém, a abertura de áreas para pastagens e agricultura e, principalmente, o avanço da cana-de-açúcar devido à demanda pelos biocombustíveis, podem tornar a devastação ainda maior se se computar as áreas degradadas", disse Ferreira. "Neste caso, as projeções de devastação variam entre 70% e 80%".

Para o pesquisador e arqueólogo Altair Salles Barbosa, da Universidade Católica de Goiás (UCG), oriundo do Smithsonian Institution, além da agricultura comercial e do biodiesel, há outros vilões que marcam a região por uma ocupação desordenada de espaços: "Infelizmente, a falta de uma política adequada para o meio ambiente tem colocado em risco todo o patrimônio natural dessa região". "A política de desenvolvimento aplicada no cerrado, considerado a última grande fronteira para a produção de grãos, não é a mais adequada", afirma.

O processo de desertificação também tem sido observado na região Nordeste, apontada pela pesquisa de Feres, Reis e Speranza como uma das três regiões do País que saem perdendo com as mudanças climáticas. Uma área de 7.694 km2 no interior do Piauí está em erosão. O cenário de degradação foi causado pela exploração de um garimpo de diamantes, agropecuária e longos períodos de seca na região. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), mesmo assim, chove mais na região do que em outras localidades do estado, e a quantidade de fósforo é maior 20 vezes quando comparada com áreas de solos produtivas. Em tese, a terra seria fértil se não fossem as erosões.


Novas espécies para enfrentar o calor


Política industrial

Atentos às mudanças climáticas, os técnicos da Embrapa se esforçam para desenvolver novas variedades de plantas mais resistentes e que se adaptem melhor às adversidades. Leonardo Melo trabalha há cinco anos no desenvolvimento de espécies com resistência a altas temperaturas, no laboratório da instituição no município de Santo Antonio de Goiás. As plantas têm mecanismos de tolerância à seca: a raiz é mais profunda e as folhas são mais espessas. A maior dificuldade é com o feijão: "Vamos precisar de uns cinco a dez anos para obter o feijão em escala comercial", estima Leonardo Melo. Obter uma espécie resistente de feijão é fundamental para a lavoura nas regiões do semi-árido do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Os impactos do aquecimento global também são objeto de estudo na área de saúde: o médico Ulisses Confaloniere, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/ Fiocruz), coordena um grupo de pesquisa multidisciplinar para identificar eventuais vulnerabilidades da população às mudanças climáticas. O objetivo da pesquisa é dar ao Estado instrumentos para o estabelecimento de políticas públicas adequadas ao novo cenário.

"As alterações no clima estão interferindo em determinadas doenças, e o problema é que essas alterações, num ambiente já alterado e despreparado, podem causar consequências bastante radicais em uma região", diz Confaloniere. "É preciso estar atento", aconselha.

O estudo do Ipea também revela, no capítulo sobre os impactos estimados, que, devido à elevação da temperatura, as perdas na agricultura, na região Amazônica, deverão girar em torno de 35%, no médio prazo (2040 e 2069), e de 65% no longo prazo (2070 e 2099). Na região Centro-Oeste, as perdas para a produção agrícola devem ficar entre 25%, no médio prazo, e 75% no, longo prazo.

Uma das saídas para as populações mais pobres será a migração das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, as mais afetadas, para as regiões Sul e Sudeste, que, na previsão dos técnicos, são beneficiadas pelo aquecimento global.

 

 
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