2009 . Ano 7 . Edição 56 - 10/12/2009
Estudo do Ipea aponta que Olimpíada melhorou a infraestrutura urbana e aumentou o PIB e o emprego nas localidades onde foram realizados os jogos. Brasil também espera resultados
Márcio de Morais e Gilson Luiz Euzébio - de Brasília
Os exemplos de Barcelona 1992 (Espanha), Sydney 2000 (Austrália) e Pequim 2008 (China) comprovam: jogos olímpicos produzem resultados muito positivos para o país que os patrocinam, principalmente para as cidades onde são realizados. A expectativa para o Brasil é mais favorável ainda, porque o País vai sediar dois dos maiores eventos esportivos internacionais nos próximos anos, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016. A realização da Copa exigirá investimento em transportes (portos e aeroportos), mobilidade urbana (metrôs, trens, corredores), hotelaria, turismo e em pessoal de atendimento e recepção nas 12 cidades-sedes, movimentando toda a economia local. O ritmo de investimento terá que ser mantido no Rio de Janeiro, que vai sediar a Olimpíada. A previsão chega a R$ 30 bilhões. O estudo Leitura econômica dos Jogos Olímpicos: financiamento, organização e resultados, de Marcelo Proni, Lucas Araújo e Ricardo Amorim, pesquisadores do , mostra que o investimento em eventos esportivos trouxe bons resultados para as cidades analisadas.
"A imagem de pujança econômica (de Barcelona) seria hoje improvável sem os jogos (de 1992)", observam os pesquisadores. Barcelona saiu da depressão na década de 1980 para o boom econômico depois do evento.
Os investimentos para os Jogos Olímpicos de 1992 promoveram uma "transformação urbana" na cidade: aumento de 15% nos projetos rodoviários e de 17% no sistema de tratamento de esgoto, em comparação com 1989. De acordo com o estudo do , os efeitos positivos começaram com a escolha da cidade pelo Comitê Olímpico Internacional: "a taxa de desemprego, que até então vinha aumentando, começou a cair. Entre outubro de 1986 e julho de 1992, a taxa geral de desemprego em Barcelona caiu de 18,4% para 9,6% (contra 15,5% no resto da Espanha)." Nesse período, o número de contratos de trabalho aumentou 2,5 vezes. Os resultados em Sydney também foram animadores: aumento de US$ 1,4 bilhão do PIB na região e de US$ 0,3 bilhão do PIB nacional e crescimento do emprego, no período de preparação do evento. O mesmo se repetiu em Pequim: "O evento grandioso trouxe para a cidade de Pequim uma série de benefícios econômicos e deu impulso à preservação do meio ambiente, confirmando o legado que os Jogos Olímpicos têm deixado em suas últimas edições. Provavelmente, terá daqui por diante uma influência positiva no desenvolvimento econômico chinês, em especial em setores como mídia, televisão, internet, telefonia móvel, energia 'limpa' e material esportivo", destaca o estudo, acrescentando que a Olimpíada, além do impressionante espetáculo, também gera negócios e impactos econômicos.
Os técnicos analisaram números e resultados das três mais bem-sucedidas Olimpíadas já realizadas, e concluíram que marketing grandioso e novas instalações esportivas apenas contribuem para o sucesso do maior evento esportivo mundial. "Investir na cidade e região, e não no evento, é algo que deve ser colocado como prioridade na hora de formular uma proposta de candidatura. Antes dos estádios, ginásios, piscinas, alojamentos, é importante pensar na questão das facilidades de transporte e comunicação, na questão ambiental e na segurança e conforto dos turistas e atletas", conclui a pesquisa.
O estudo identificou que um grande desafio é manter, depois dos eventos, o nível de atividade econômica dos anos de preparação. No caso do Brasil, os investimentos começam com os preparativos para a Copa do Mundo de futebol, que será realizada dois anos antes. "Um país conseguir sediar dois dos maiores eventos esportivos do mundo é uma grande conquista. O Brasil está de parabéns", afirma Bolívar Pêgo, coordenador de Desenvolvimento Urbano da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea.
A questão é aproveitar a oportunidade para criar um novo perfil socioeconômico para as próximas gerações de brasileiros. Projeções do governo apontam que os impactos econômicos produzidos pela concentração de quase R$ 30 bilhões em inversões no ápice do calendário esportivo da próxima década - a Olimpíada - terão se multiplicado por quatro vezes em 2027, gerando mais de R$ 100 bilhões em riquezas no País. É com esse objetivo que o Palácio do Planalto estabeleceu a programação de investimentos da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, seguindo o compromisso com o Comitê Olímpico Internacional (COI).
"A decisão de direcionar grandes recursos para uma cidade pode significar, no entanto, a privação de muitas outras e alimentar desigualdades regionais", alerta o estudo do Ipea. "O mínimo que se espera é que as decisões do poder público sejam tomadas de forma racional e democrática; as políticas sejam legitimadas pela sociedade organizada; e os orçamentos sejam plenamente transparentes", sugere.
O fato é que o simples anúncio da realização dos eventos no Brasil gerou expectativas positivas no setor privado, que já trabalhava antes com um cenário de crescimento econômico a taxas significativas nos próximos anos. Logo depois da escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) fez uma pesquisa com 318 indústrias e metade delas respondeu que serão afetadas positivamente, mesmo que indiretamente. De acordo com Guilherme Mercês, chefe da assessoria econômica da Firjan, 25% das empresas preveem aumento de investimentos nos próximos anos por causa da Olimpíada. O percentual pode aumentar, diz ele, porque na época 31% das indústrias ainda não tinham avaliado o impacto do evento.
"A organização da Copa e dos Jogos Olímpicos coloca definitivamente o Brasil na rota dos negócios internacionais", avalia Ralph Lima Terra, vice-presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). Os eventos vão exigir investimentos em novas instalações esportivas, transporte, telecomunicações, energia elétrica, segurança, saúde, hotelaria e turismo. "É certamente um grande desafio, mas uma oportunidade única de o País atrair bilhões em investimentos para o setor de infraestrutura, gerar negócios, emprego e renda", acrescenta.
Na avaliação da Abdib, a Copa e a Olimpíada vão representar um novo salto de investimentos em infraestrutura no País. "Há muitos investimentos que precisam ser feitos de qualquer jeito, e a Copa do Mundo vai acelerar a tomada de decisões nesse sentido. Em 2008, por exemplo, o setor de infraestrutura recebeu R$ 106,8 bilhões em investimentos, contra R$ 74,8 bilhões em 2005 e R$ 55,8 bilhões em 2003. A expectativa é que em 2009, apesar da crise econômica mundial, o valor seja aproximado. Mas estimamos que em cinco anos o País possa atingir um nível de investimentos de R$ 160 bilhões por ano na infraestrutura, impulsionado por projetos relacionados a transporte, energia e pré-sal, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos", informa Terra. Segundo ele, um estudo encomendado pelo governo estima que os investimentos de US$ 14,4 bilhões no Rio de Janeiro para a Olimpíada gerará US$ 51,1 bilhões em movimentação econômica em diversos setores, 120 mil empregos por ano no período de preparação e realização dos jogos e 130 mil empregos na fase posterior. "Se feito com responsabilidade, o País vai dar alguns saltos", confirma Pêgo.
Embora não haja dúvida quanto às oportunidades que serão geradas pelos eventos, o tempo está correndo e o Brasil tem que se apressar, alerta Leonardo Vasconcelos, bolsista do Ipea. A cada dia o prazo fica mais curto e o País nem definiu a organização para a gestão da Copa. "A Copa não é um mero evento-teste para a Olimpíada", alerta. Além das inúmeras exigências para a realização de obras, como as questões ambientais e a fiscalização do Tribunal de Contas da União, o governo tem ainda um novo complicador: a oposição reduziu, na votação do projeto de lei orçamentária de 2010, a destinação específica de recursos para a preparação da Copa. Agora, a bancada de cada estado terá que lutar no Congresso para recompor o orçamento originalmente previsto pelo Executivo para o evento. Isso pode levar ao adiamento de obras, alerta Pêgo.
PAC da Copa - Reuniões entre governo federal, estados e municípios, realizadas no decorrer de 2009, resultaram na definição de princípios, políticas e projetos de obras, e também no nascimento do "PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Copa". O planejamento e a execução da nova versão do programa federal adotam um princípio: aquilo que é bom para a Copa será duplamente benéfico, dois anos mais tarde, para a realização dos Jogos Olímpicos.
Os gestores dos dois eventos precisam trabalhar de forma integrada para evitar sobreposição ou duplicidade de ações, ressalta Bolívar Pêgo. A reforma do Maracanã, por exemplo, tem que ser pensada para atender a Copa e os Jogos Olímpicos: "Não dá para fazer outra reforma para a Olimpíada". O estádio passou por uma ampla reforma para o Pan, em 2007.
O PAC da Copa baseia-se no Protocolo do Pacto Federativo, em que a matriz das responsabilidades de cada um toma forma absoluta de compromisso inalienável. Mas União, estados e municípios têm uma boa razão para isso: os estudos oficiais indicam que um benefício direto da Olimpíada será a arrecadação adicional equivalente a 97% do total dos investimentos no evento (mais de R$ 28 bilhões), que vão rechear os cofres federais, estaduais e das 12 prefeituras envolvidas.
A Matriz das Responsabilidades define, conforme aprovado pelo Grupo Interministerial da Copa, governos estaduais e prefeituras, que a União se responsabilizará pelos terminais de passageiros de portos e aeroportos; os municípios e estados, pelos projetos de urbanização e obras de mobilidade urbana; enquanto a iniciativa privada cuidará da hotelaria e construção, reforma ou ampliação de estádios.
No gabinete da Casa Civil concentra-se o quartel general da Copa. Uma auxiliar da ministra Dilma Rousseff, a subchefe de Articulação e Monitoramento, Mirian Belchior, é, desde março, a autoridade máxima do comando da operação do maior evento do futebol mundial. Mas as estruturas administrativas para gerenciamento e realização dos eventos nem foram definidas. O Comitê Copa 2014, por exemplo, tem um tempo exíguo já que terá que assegurar todas as condições exigidas pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) para a realização da Copa das Confederações em 2013, uma espécie de teste para o evento do ano seguinte, lembra Pêgo. Infraestrutura, logística, segurança e transportes têm que estar adequados.
O cronograma de execução de obras, no valor estimado de R$ 11,5 bilhões, estabelecido pela Fifa, é rigoroso: a reforma de estádios terá início em março próximo. Na preparação da Olimpíada deve ser investido um montante de R$ 23,2 bilhões. Para a completa estruturação do evento ainda falta criar a Autoridade Pública Olímpica (APO), entidade que, por lei, vai centralizar e executar todas as ações estabelecidas nas negociações entre governo brasileiro e o Comitê Olímpico Internacional (COI), quando da definição da cidade-sede. "Tanto o comitê quanto a APO - esta com sobrevida de quatro anos após os Jogos, para fechar as contas e elaborar o legado - só serão constituídos em março", informa o secretário de Alto Rendimento do Ministério dos Esportes, Ricardo Leyser.
A APO reunirá todo o conjunto de responsabilidades administrativas, jurídicas e legais do Estado brasileiro para a realização dos Jogos Olímpicos. Seus dirigentes serão indicados pelo governo federal. Por isso, o detalhamento de todas as ações só será feito após a constituição integral dos comitês e da APO. Juntas, essas estruturas temporárias terão de cumprir e acompanhar uma diuturna rotina de preparação de portos e aeroportos, viabilizar a mobilidade e deslocamento de pessoas nas cidades escolhidas para sediar jogos, recuperar estádios de futebol e centros olímpicos, além de garantir uma rede hoteleira adequada aos eventos, com a respectiva estrutura turística para atender visitantes de todo mundo.
Tudo isso sob critérios ambientais e de sustentabilidade firmados em fóruns internacionais. "As responsabilidades ambientais da Olimpíada são compromissos formais assumidos pela Cidade do Rio", observa Rui César, secretário Especial da Copa 2014 e Olimpíada 2016, da Prefeitura do Rio. A estrutura administrativoburocrática foi herdada dos Jogos Pan-Americanos, realizados em 2007.
O Ministério dos Esportes concluiu, com base em estudos da Fundação Instituto de Administração (FIA), que serão gastos R$ 28,8 bilhões, entre Comitê Organizador e Infraestrutura. Tal soma deverá gerar uma movimentação econômica de R$ 102,2 bilhões ao final de 2027, dez anos após o encerramento da Rio 2016. As estimativas se baseiam numa cotação média do dólar a R$ 2,00 no período. Os estudos indicam que os investimentos na Olimpíada vão gerar retorno de mais de quatro vezes no decorrer de uma década.
Pan ? O investimento para a realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio, teve um retorno de 2,8 vezes, garante Leyser. Entretanto, a organização do evento ainda responde a diversas acusações, como a de ter gerado "elefantes brancos" ou equipamentos hoje subutilizados - desperdício de dinheiro público. "O maior e melhor legado do Pan é a vitória do Rio 2016, fartamente comprovado nos dossiês expedidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), através da sua Comissão de Avaliação e nas falas do presidente Jacques Rogge", concorda César.
Para Leyser, o que causa tanta polêmica sobre o Pan foi a revisão dos investimentos depois de aprovado o plano inicial, que elevou os gastos em três vezes o previsto. Mas, graças a isso, garante, o Brasil vai sediar os Jogos de 2016. "Essa afirmação é falsa", contesta Pêgo. O Brasil saiu vitorioso por causa de sua imagem, e não porque gastou mais do que deveria no Pan. "Gastou mais porque é ineficiente, por projetos mal elaborados". Se fosse levado em conta a questão da eficiência, eficácia e gestão dos recursos públicos, o Brasil perderia, acrescenta Vasconcelos.
Leyser argumenta que o custo subiu porque houve alteração nos projeto. O estádio de provas olímpicas, por exemplo, era para 10 mil pessoas inicialmente. Depois passou para 45 mil. "Naquela ocasião se decidiu aumentar o nível de investimentos e serviços para provarmos que tínhamos condições de fazer a Olimpíada", defende o secretário. "Cerca de 95% de tudo que foi questionado sobre o Pan já está aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU)", tranquiliza-se.
Recepção - A sinergia entre toda a organização de megaeventos, como Copa e Jogos Olímpicos, se materializa na disponibilização de enormes estruturas de recepção, transporte e deslocamento para atletas, imprensa, turistas e um exército de colaboradores. A partir daí acontece todo o resto. O Ministério dos Esportes estima que serão 40 mil atletas e jornalistas internacionais; outros 70 mil colaboradores voluntários serão convocados para atuar no Rio e nas três outras cidades onde haverá jogos de futebol (São Paulo, Brasília e Belo Horizonte).
"Ninguém se lembra, mas o impacto disso tudo atinge toda a cadeia produtiva, seja na indústria, petróleo e outros combustíveis, roupas, calçados e uniformes, alimentação e muita logística", destaca Leyser. Só o fornecimento de alimentação para todos os que vão trabalhar na Olimpíada já é uma enorme operação", considera, ao relembrar as 500 mil refeições que eram servidas diariamente no Pan.
Na escolha da cidade, o Rio venceu Madri por 62 votos a 32. "Londres, que realiza a Olimpíada que antecede a do Brasil, ganhou de Madri por apenas três votos", compara, mensurando o prestígio brasileiro refletido no resultado da eleição pelos membros do COI. Foi obtido, segundo ele, graças à estabilidade política (fortalecimento das instituições democráticas) e econômica (moeda robusta e políticas monetárias eficientes, especialmente na superação da crise econômica). Outro fator determinante: o fato de o Comitê não ter mais como justificar o incômodo ineditismo dos Jogos em um país sul-americano.
Apesar do problema orçamentário, prefeituras, governos estaduais e federal se ajustam para não faltar recursos materiais e humanos e movimentar o imenso cronograma de obras da Copa e dos Jogos. Nada pode dar errado. Para isso, as experiências anteriores com realizadores de jogos olímpicos e copas são rigorosamente estudadas e os países mais bem-sucedidos consultados. Assim foi para a elaboração da proposta olímpica pela cidade do Rio de Janeiro.
"As cidades que nos inspiraram são Barcelona (Espanha, 1992), Sydney (Austrália, 2000) e Londres (Inglaterra, 2012), pois Pequim (China, 2008) não dá para copiar", constata Leyser. E ele explica o porquê:
"Barcelona e Sydney conseguiram obter o máximo na indústria do turismo; Barcelona, o máximo em melhoria e legado urbano, e Sydney realizou a melhor operação esportiva, enquanto Londres se prepara para 2012 como reflexo de tudo isso", diz, justificando os modelos e padrões a serem observados pelo Brasil. Mas o mundo olímpico tem também exemplos que evita repetir: Atenas (2004, Grécia) não conseguiu entregar todas as obras contratadas para o evento e deixou o país com a imagem internacional manchada. E Atlanta (1996, Estados Unidos) viveu uma pane no sistema de tecnologia da informação durante os Jogos, o que prejudicou a realização de provas e hoje é considerado um dos piores momentos da história olímpica moderna.
Mãos à obra - Nas cidades portuárias, o governo propõe remodelagem de terminais marítimos de passageiros, para facilitar o acesso do turista que pretende se locomover por barcos, iates e transatlânticos. Para os aeroportos, a Infraero submeteu ao Palácio do Planalto proposta que contempla obras de ampliação de terminais de carga e de passageiros. E o plano de concessões dos aeroportos, sob estudo e análise no Ministério da Defesa há dois anos, terá de se adequar ao cronograma dos eventos esportivos, especialmente a Copa, por ser mais próxima e ter menor prazo para execução.
Um ministério, o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), tem a função de estimular a atração de investimentos, tarefa facilitada pelo grande interesse de investidores em diversas áreas de negócios, especialmente nas de segurança, construção civil, hotelaria, embarcações e instalações portuárias, além de equipamentos, segundo o coordenador geral da Diretoria de Investimentos do Ministério, Eduardo de Brito Celino. Segundo ele, alguns países já demonstraram interesse em vender serviços e suas empresas indicaram que querem se instalar no Brasil, principalmente por meio de joint ventures.
"Trabalhar em parceria é o procedimento mais comum nessa situação, pois dá mais confiança ao investidor estrangeiro por saber que o parceiro conhece o mercado", relata. De acordo com ele, avaliações internacionais sobre risco apontam o Brasil como destino seguro, rentável, estável para novos investimentos e consideram os eventos da Copa do Mundo e Olimpíada do Rio como oportunidades estratégicas até mesmo para antecipálos. A Inglaterra, por sediar os Jogos Olímpicos que precedem os brasileiros, já demonstrou, de acordo com Celino, forte interesse em aproveitar oportunidades como as da hotelaria.
A Alemanha se antecipou aos demais países e manifestou, já na visita que seu presidente, Horst Köhler, fez ao Brasil, em março, sua disposição em investir aqui, aproveitando as oportunidades dos megaeventos. Na comitiva, ele trouxe especialistas em negócios internacionais para apresentar projetos para a Copa e Olimpíada, principalmente nos segmentos de segurança, arquitetura, geração de energia alternativa.
Mobilidade e hospedagem - Celino admite que o governo tem preocupações com o transporte público e que há um gargalo a ser solucionado pelo setor hoteleiro. Sugere, inclusive, a adoção de medida já testada e aprovada em outros países: o uso de navios para complementar a falta de quartos de hotel, por exemplo, no Rio de Janeiro. "A grande vantagem é que essa solução não gera excesso de capacidade à rede hoteleira nacional", observa ele, preocupado em evitar desperdício e o surgimento de "elefantes brancos" improdutivos no pós-eventos.
"O Brasil tem que aproveitar esses grandes eventos internacinais para recuperar as áreas centrais degradadas das cidadades para a população, como foi feito em Barcelona, com a Olimpíada, e em Lisboa, com a Expo", reforça Maria da Piedade Morais, coordenadora de estudos setoriais urbanos do Ipea. A questão, segundo ela, é que o País já perdeu outras oportunidades. Os investimentos para a realização do Pan, por exemplo, poderiam ter servido para recuperar a abandonada região central do Rio, com a construção da Vila Olímpica e do Centro de Imprensa na região portuária, mas foram construídos na isolada Barra da Tijuca. O projeto das Olímpiadas repete o mesmo erro do Pan, com os investimentos em infraestrutura esportiva e de transporte beneficiando novamente a Barra da Tijuca e negligenciando o centro, a zona norte e os subúrbios". Para Piedade, o centro de imprensa e a Vila Olímpica deveriam ficar na zona central da cidade, o metrô deveria incorporar os trens suburbanos e chegar até a rodoviária, por exemplo. Outros investimentos públicos também deveriam beneficiar a zona central da cidade, atualmente esvaziada e abandonada, com a recuperação de casarões históricos para a locação social e investimentos em equipamentos esportivos e infraestrutura que ficassem como um legado para a população da cidade. "O mesmo argumento vale para a infrestrutura que deverá ser construída para a Copa," diz Piedade. "Tenho dúvida se esses eventos vão trazer melhorias para as cidades e para a população".
O resultado pode até ser negativo para a população: para atender ao padrão Fifa, as cidades- sede planejam retirar complexos esportivos como piscinas e quadras poliesportivas para ampliar áreas de estacionamento, afirma George da Guia, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O padrão Fifa para ser atendido exige ações como a retirada de pistas de atletismo, com vistas a tornar o espectador mais próximo do campo. Tal ação elimina o caráter multiuso característico dos estádios brasileiros tem. Em Salvador, segundo o arquiteto, a comunidade soteropolitana vai perder um centro esportivo com quadras, pista de atletismo e parque aquático. Em Brasília, diversas pistas de prática de bicicross, que é um esporte olímpico, foram eliminadas para dar lugar a estacionamentos. Muitos investimentos só terão utilidade durante a Copa: as cidades que vão sediar os jogos planejam instalar infra-estrutura de mobilidade, como é o caso dos veículos leves sobre trilhos (VLT), em sua maioria com foco na conexão entre o aeroporto e os estádios, muitos deles situados em regiões fora do centro da cidade. Em muitos casos será possível ir do aeroporto ao estádio sem nem mesmo passar pelas áreas históricas e ou centrais das cidades.
Para Sérgio Magalhães, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-secretário municipal de Habitação do Rio, todos os estudos mostram que os eventos esportivos são vantajosos para os países que os promovem. Entretanto, é preciso aproveitar a oportunidade para reverter os benefícios para a cidade e a população. Ele defende a revisão dos projetos para concentrar os investimentos nas áreas centrais das cidades. No caso do Rio, ressalta ele, o ideal é aproveitar a área portuária e central, e não a Barra da Tijuca.
Atenção aos aeroportos, serviços e segurança
O Brasil dispõe de recursos humanos, financeiros e tecnológicos para ter grande sucesso na realização dos eventos. "Se tiver maturidade para fazer a gestão de tudo, vai crescer em todas as áreas envolvidas", prevê Bolívar Pêgo. E aconselha: "É hora de mostrar essa maturidade. Tudo está favorável".
O técnico do Ipea destaca quatro pontos que merecem especial atenção dos organizadores, por serem definitivos não só para a funcionalidade, qualidade e bemestar das multidões que devem invadir o País, como também para o cidadão local: modernização dos aeroportos e serviços aeroportuários; preparação do brasileiro para o contato direto com estrangeiros; organização de força de segurança centralizada em um único comando, com participação de todas as instituições de segurança pública, seja municipal ou estadual, em parceria com forças as armadas; e, atenção com a eficiência do gasto público.
Com uma frase, Pêgo sintetiza sua preocupação: "Não realizar a Copa, a Olimpíada, é grave; mas realizar, sem alcançar níveis de exigência adequados ao público, é ainda mais grave". O fato de ganhar os dois eventos é, segundo ele, sinal de que o Brasil está com credibilidade. Por isso, acredita que fragilizar essa imagem pode ser um retrocesso inestimável para a manutenção do ciclo virtuoso de avanços conquistados pela sociedade brasileira nos últimos anos e uma falha incompatível com a décima economia do mundo.
Por isso, defende ele, a preparação desse eventos exige um ação articulada entre governos, órgãos de controle e ambientais, Congresso Nacional e o setor privado, de forma a dar agilidade ao processo de investimento e de realização de obras de infraestrutura.
Por isso, defende ele, a preparação desse eventos exige um ação articulada entre governos, órgãos de controle e ambientais, Congresso Nacional e o setor privado, de forma a dar agilidade ao processo de investimento e de realização de obras de infraestrutura.
Já os investimentos em segurança vão precisar, segundo o economista, de um comando central e sinergia total entre polícias e forças armadas, essas últimas com foco maior em aeroportos e fronteiras, para conter a entrada de armas e drogas.
Para que os investimentos possam perdurar para as gerações futuras e se elimine a criação de "elefantes brancos" como herança dos eventos, Pêgo propõe a elaboração de planejamento rigoroso e projetos integralmente justificáveis, que garantam a eficiência de cada centavo dos gastos públicos. É preciso evitar a repetição dos erros cometidos no Pan: além dos gastos terem ficado muito acima do previsto, o evento trouxe pouco resultado para a população e ainda deixou obras com elevada ociosidade. Um estádio construído com dinheiro público, lembra Leonardo Vasconcelos, foi cedido a um clube privado.
Bolivar Pêgo ressalta que a amarração entre custo e benefício também permitirá ao sistema de fiscalização e auditagem de recursos do Tesouro melhores condições de identificar ralos da corrupção e o desvio de dinheiro. Desta vez, os órgãos de controle já estão se mobilizando para acompanhar o emprego dos recursos públicos: o Congresso Nacional, a Controladoria Geral da União e outras instituições ja criaram grupos específicos para fiscalizar os gastos.
|