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Kofi Annan: - Mudança, para enfrentar novas ameaças

2004. Ano 1 . Edição 1 - 1/8/2004

O secretário-geral da ONU fala da renovação do organismo que completa 60 anos e diz que o Brasil faz bem em buscar alianças para ganhar força nas negociações internacionais.

Ottoni Fernandes Jr.

kofiannan

É impossível não ficar fascinado numa conversa com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan. Ele fala muito baixo, em tom monocórdio. Mas tem uma eloqüência e um carisma que dispensam maiores malabarismos para prender a atenção do interlocutor, o que pode ser explicado pela sua história: ele vem de uma família nobre de Gana e é o primeiro funcionário de carreira a assumir o principal cargo da ONU, onde trabalha desde 1962. Sua intenção é adequar o organismo, que reúne 191 países, à realidade do século XXI, e especialmente capacitar o Conselho de Segurança para enfrentar as novas ameaças à ordem mundial.

Annan falou a Desafios do Desenvolvimento em São Paulo, onde esteve para a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luiz Henrique Proença Soares, também participou da conversa.

Desafios - Qual é o objetivo das reformas que o senhor vem tentando introduzir nas Nações Unidas?
Annan - De início tentamos tornar nossos processos administrativos mais eficientes. Além disso, estamos tentando dar coerência ao trabalho dos diversos órgãos da ONU, removendo duplicidades. Também tentei incluir parlamentares, a sociedade civil e o setor privado para trabalharem em parceria com a ONU. E enfocar um pouco mais as necessidades reais das pessoas, questões relativas à pobreza. Por isso criamos os objetivos de desenvolvimento do "Milênio". Estamos muito atuantes no combate à epidemia da AIDS. Estamos preocupados com a degradação ambiental. Armas de destruição em massa eo o terrorismo estão em nossa agenda. Em novembro de 2003 criamos um novo painel, formado por 16 pessoas eminentes, que está analisando as novas ameaças e desafios à ordem mundial e quais mudanças devem ser feitas para enfrentá-los. A realidade é diferente de um país para outro. Para alguns, a pobreza é a questão mais importante no mundo. Para outros, é a AIDS ou é a degradação ambiental. Na América do Norte, dirão que são o terrorismo e as armas de destruição em massa. Tudo é terrível. Esse painel deverá abordar a expansão do Conselho de Segurança, porque a maior parte das pessoas concorda que esse organismo pode tornar-se mais representativo e democrático. Sei que se trata de uma questão de grande interesse para o Brasil também.

Desafios - Qual é o prazo de apresentação das propostas desse painel?
Annan - Irão me apresentar o relatório em dezembro próximo. E irei, com base nisso, submeter um relatório aos estados membros para que decisões sejam tomadas na Assembléia Geral do próximo ano, quando comemoraremos o 60º Aniversário das Nações Unidas. Entraremos na maturidade. Não estou dizendo que somos velhos, mas maduros aos 60 anos.

Desafios - O Brasil tem chance de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança?
Annan - Acho que dependerá das recomendações que forem apresentadas pelo painel. No entanto, dada a posição do Brasil na região e o papel que desempenha no mundo, pode ter uma chance.

Desafios - Qual a sua opinião sobre esse tema?
Annan - A decisão cabe aos estados membros.

Desafios - O Brasil adotou nos últimos anos uma posição mais ativa na área internacional e tenta aglutinar um grupo de países em desenvolvimento para negociar melhor vantagens comerciais. Esse desempenho implica certo antiamericanismo.
Annan - Não diria antiamericanismo. Sou uma dessas pessoas que sempre acreditou que os países do sul, os países em desenvolvimento, nem sempre se organizaram de forma correta para negociar. Estão sempre em desvantagem. Já entram em posição de desvantagem e se dividem ao enfrentar um grupo muito poderoso. Em cada uma dessas posições saem como perdedores. Então, ver um grupo de países se reunir, dividir seus interesses comuns, determinado a colocar e defender sua posição e seu interesse não é antiamericanismo. De fato, estão fazendo a mesma coisa que o outro lado faz. Os norte-americanos, assim como os europeus, entram na mesa de negociações para defender seus interesses. Nada mais natural do que a formação de alianças de países em desenvolvimento, como o Grupo dos 20, para defender seus interesses comuns. Por exemplo, o Brasil levou a questão do algodão para a Organização Mundial do Comércio e acabou ganhando. Esses países se reúnem para se defender, o que considero legítimo. Isso não implica ser contra um país ou grupo de países. Estão protegendo seus interesses. Do mesmo modo que o outro lado.

Desafios - Como foi recebida a decisão do governo brasileiro de participar da força de paz da ONU, de enviar tropas ao Haiti e dessa forma participar ativamente do cenário internacional? Qual é o significado disso?
Annan - Na ONU, vemos isso como um avanço muito positivo. Penso que internacionalmente seja visto da mesma forma. Já é hora de todos percebermos que não podemos permitir que países em crise vivam no nosso meio e fingir que estamos seguros. Penso que o Afeganistão é parte dessa lição. Tais estados tornam-se paraísos para certos grupos terroristas, que podem tomá-los como reféns e afetar os países vizinhos. É ofensivo. O Haiti está na região da América Latina e do Caribe. Não é vizinho ao Brasil, mas na minha opinião o governo brasileiro, o Brasil e seu povo acertaram ao fazer uma contribuição e mostrar que podemos estabilizar o Haiti e dar às pessoas a oportunidade de cada uma juntar as peças e começar a reconstruir sua vida. Não será fácil. Trata-se de uma proposta de longo prazo. Estamos realmente gratos ao Brasil. Acho que sua atuação terá um impacto muito positivo, não só nessas questões específicas, mas no que diz respeito à paz mundial.

Desafios - Qual a sua avaliação da política externa do governo Lula?
Annan - Acho que a idéia de expandir o comércio entre os países do sul, de pressionar para que algo seja feito para acabar com a desigualdade que existe na sociedade, a desigualdade que existe entre os estados e dentro dos estados, é algo que encontra ressonância em todo o mundo. A proposta brasileira de juntar os países do hemisfério Sul para negociar em conjunto a remoção das barreiras comerciais é algo que é muito positivo. Não constitui substituto para um sistema multilateral global de comércio, mas é um complemento importante e sinto-me feliz por estarmos nos movendo nesta direção.

Desafios - A globalização da economia garante automaticamente a redução da pobreza nos países menos desenvolvidos?
Annan - Às vezes, as pessoas falam da globalização como se fosse um problema. Mas é um processo que se dissemina com rapidez em todos os lugares, se movimenta mais rapidamente hoje do que no passado. O importante é definir regras do jogo que sejam justas para todos, países desenvolvidos e em desenvolvimento. Somente assim será possível assegurar que países e grupos não sejam marginalizados e fiquem fora do esquema. Um regime comercial justo deverá reverter em vantagem para todos. Mas isso também significará remover as tarifas sobre importações dos países em desenvolvimento, independentemente de como estejam disfarçadas, sejam na embalagem ou de outra forma, e também em remover as tecnicalidades que são algumas vezes utilizadas para impedir a entrada de produtos. Abrirá o comércio e fará avançar a Rodada do Uruguai. Se houver abertura para o livre comércio, a ajuda para o desenvolvimento de alguns países não será mais necessária. A abertura comercial não somente propiciará o desenvolvimento, mas criará empregos. De certo modo, por assim dizer, dará uma face humana à globalização.

Desafios - As políticas de reforma baseadas no mercado, com privatizações, câmbio flutuante, controle de inflação e ajuste fiscal, são suficientes para reduzir a pobreza nos países menos desenvolvidos?
Annan - Não, não são suficientes para reduzir a pobreza e há certos bens públicos que as forças mercadológicas não podem produzir. Assim, é preciso ter políticas que assegurem a criação de uma rede de segurança para o mais fraco e o mais pobre.

Desafios - Que tipos de políticas por exemplo?
Annan - Começaria com as políticas de saúde, educação e infra-estrutura que proverão os pobres em água potável, eletricidade e outras necessidades básicas. Isso nunca acontecerá se depender das forças mercadológicas. Os governos têm um papel e devem desempenhá-lo.

Desafios - O novo governo do Iraque conseguirá conter os insurgentes que lá existem?
Annan - Acho que deve tentar e sei que tentará. Não será uma tarefa fácil. As Forças Armadas Iraquianas foram desfeitas. As forças policiais foram desfeitas. E o funcionalismo público praticamente não existe. Para restabelecer a ordem pública, é preciso não só um sistema policial eficaz, mas também um sistema judiciário, um sistema penal. Tudo isso precisa ser construído. Espero que agora, com a soberania nas mãos dos iraquianos, eles tomem para si a responsabilidade da ordem pública. Isso dissuadirá alguns insurgentes de continuar a lutar. No entanto, há aqueles que persistirão em lutar até o dia em que não haja mais nenhuma tropa em seu território. A segurança é o ponto principal para o progresso futuro e para que o iraquiano médio, homem ou mulher, possa tocar a vida, é a chave para as eleições que serão realizadas em janeiro, bem como para a reconstrução do país. A chave para atrair investimentos. Sem segurança o Iraque enfrentará um sério problema e será extremamente difícil que a ONU retorne ao país e reinicie seu trabalho.

Desafios - Uma força multinacional sob a bandeira das Nações Unidas seria capaz de lidar com os insurgentes iraquianos, uma vez que há resistência à presença das tropas norteamericanas?
Annan - Não creio que isso seja uma opção para a ONU. Não dispomos da capacidade para fazer isso. Existem hoje 160 mil soldados no Iraque. A última resolução que o Conselho de Segurança aprovou foi para aquelas forças ficarem no Iraque até que um novo governo decida que não mais deseja sua permanência. Creio ser essa a única opção.
 

 
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