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Maria João Rodrigues: - Inovar é preciso

2004. Ano 1 . Edição 2 - 1/9/2004

Para manter ou melhorar as condições de trabalho temos de construir novos fatores competitivos ligados à qualidade e à inovação

por Ottoni Fernandes Jr., de Brasília*

mariajoao

A União Européia tem uma meta ambiciosa para 2010: dobrar o investimento em pesquisa e desenvolvimento para que ele alcance valor correspondente a 3% do Produto Interno Bruto. Em 2000 os países da União Européia firmaram um pacto, que foi denominado Estratégia de Lisboa, estabelecendo metas para 2010. Eles concluíram que para garantir o salto na inovação tecnológica é preciso dirigir o dinheiro para os setores de maior competitividade e criar um sistema de inovação que envolva governo, universidades, empresas e setor financeiro.

A experiência européia pode ser útil para o Brasil. A economista portuguesa Maria João Rodrigues, professora do Instituto Superior de Ciência do Trabalho e da Empresa da Universidade de Lisboa, participou do grupo inicial de implementação da Estratégia de Lisboa e falou sobre o assunto a Desafios do Desenvolvimento em Brasília, onde fez uma apresentação para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.

Desafios - Uma política de inovação tem de ser uma política de governo ou uma política de Estado?
Rodrigues - Deve ser uma política de Estado, porque implica em mudanças estruturais e requer muito tempo para produzir resultados. Mas a ação governamental é essencial. A experiência dos países que alcançaram sucesso na Europa mostra que a coordenação entre ministérios diferentes é vital para o sucesso de uma política de inovação. Envolve ministérios como os da Indústria, de Ciência e Tecnologia, de Educação, de Fazenda e de Planejamento. Por vezes até mesmo do ministério do Emprego, porque a inovação implica numa mobilidade diferente no mercado de trabalho, mas essa mobilidade tem de se dar com segurança de emprego, para que os trabalhadores se empenhem mais facilmente no processo de inovação. No quadro atual de globalização, de abertura das economias e de empresas extremamente competitivas internacionalmente, somente aumentando a competitividade será possível criar novos e melhores empregos.

Desafios - Como conciliar inovação tecnológica com geração de empregos?
Rodrigues - Não defendemos uma competitividade baseada em baixos salários ou na degradação das condições de trabalho. É preciso manter ou melhorar as condições de trabalho. Para que isso aconteça, temos de construir novos fatores competitivos ligados à qualidade e à inovação em suas várias dimensões. Não só a inovação tecnológica do processo, mas a que resulte em novos produtos e novos serviços. A inovação do processo é evidentemente muito importante para se aumentar a produtividade, mas tende a suprimir empregos. Por isso é preciso que ela resulte em novos produtos e novos serviços, assim tende a criar mais e melhores empregos.

Desafios - A senhora quer dizer que a inovação tem de envolver desde a concepção do produto até o processo de comercialização?
Rodrigues - Claro. Temos de ter em mente para que mercado e para que clientes produzimos. Imaginar um produto ou serviço que corresponda às necessidades desse mercado, e em função disso redesenhar todo o circuito produtivo. Isso é exigido não só da produção, mas também dos que concebem e desenham um produto. Especialmente porque está provado que a maior parte do valor agregado de um bem está no seu design, no sentido amplo do termo.

Desafios - Focalizar esforços, pesquisa e desenvolvimento, é condição para que um país ganhe espaço para seus produtos de exportação na economia globalizada?
Rodrigues - Por um lado é necessário reforçar a base científica de uma maneira geral, para que se possa participar das grandes redes internacionais de progresso científico. Por outro lado é preciso que se faça uma aposta focalizada naquelas áreas produtivas onde o país pode ter mais vantagens competitivas. É muito importante combinar esses dois movimentos. A aposta brasileira nos arranjos produtivos locais (clusters) é correta, porque eles reúnem empresas, universidades, institutos de pesquisa e instituições financeiras especializadas. Essa combinação resulta numa rede de inovação que ajuda a construir vantagens competitivas.

Desafios - Países como a China estão ganhando mercado internacional graças à mão-de-obra barata e não à inovação. Como a União Européia pensa enfrentar essa concorrência?
Rodrigues - Esse quadro está mudando. Continua baseado em mão-de-obra barata, mas já começa a mostrar competência tecnológica adquirida inicialmente graças a investimentos estrangeiros. Os chineses já estão encontrando soluções próprias e originais resultantes de inovação. A Europa tem de caminhar na direção de novas áreas de especialização, que sejam mais sofisticadas e que tenham competência científica e tecnológica mais avançada.

Desafios - Os Estados Unidos sempre investiram em pesquisa e desenvolvimento, especialmente em ciência pura. Como é esse processo na Europa?
Rodrigues - A experiência mostra que para haver boa pesquisa aplicada é preciso haver uma boa base de pesquisa fundamental. É necessário colocar as universidades em condições de participar dos grandes circuitos de conhecimento internacional. Mas, por outro lado, é preciso um grande esforço na pesquisa aplicada para construir vantagens competitivas e por isso muitas vezes é necessário focalizar as áreas em que o país possa apostar com vantagens.

Desafios - Qual o papel das universidades como formadoras de recursos humanos para o processo de inovação tecnológica?
Rodrigues - A busca da excelência tecnológica exige grandes investimentos nas áreas de pós-graduação e doutoramento, com programas especializados de alto nível, com capacidade prospectiva para antecipar tendências. Mas além dos recursos humanos avançados é preciso aumentar o nível geral de educação da população. Porque é muito difícil sustentar um processo de inovação e desenvolvimento sem que a população toda melhore sua qualificação e suba na escala do processo educativo. Para termos empresas inovadoras, temos de ter trabalhadores preparados para assimilar rapidamente novas tecnologias, novas orientações do processo produtivo. Temos portanto de cuidar da educação básica. É fundamental que o sistema de educação e formação esteja preparado para ajudar as pessoas a evoluir ao longo de sua carreira profissional. Sem esse esforço de educação há um grande risco de se criarem ilhas inovadoras, sem que a maior parte da população acompanhe o processo e sem que a inovação resulte em maior riqueza e desenvolvimento.

Desafios - Por que a senhora propõe a criação de um sistema nacional de inovação?
Rodrigues - Um país pode ter todos os componentes do processo de inovação sem que eles funcionem como um sistema. Os países bem-sucedidos no processo de inovação foram aqueles que organizaram um sistema envolvendo empresas, universidades, institutos de pesquisa e o sistema financeiro. Esses são os quatro componentes básicos de um sistema de inovação. Muitas vezes um país tem empresas que inovam, tem também universidades, institutos de pesquisa, instituições financeiras, mas eles não trabalham em conjunto. É necessário desenvolver a pesquisa em consórcio, reunindo universidades e empresas em torno de um objetivo comum, para resolver os problemas produtivos das empresas. É preciso ainda criar incentivos para que as empresas contratem, ainda que temporariamente, pesquisadores das universidades. Rapidamente elas descobrirão que essas pessoas dinamizam o processo de inovação.

Desafios - É necessário conceder benefícios fiscais para que as empresas entrem na rota da inovação?
Rodrigues - Isso é muito usado na Europa. Mas os incentivos têm de ser específicos para as empresas que demonstrem que estão investindo com sucesso na inovação, com resultados econômicos e aumento da competitividade.

Desafios - Qual o papel da administração pública no processo de inovação?
Rodrigues - A administração pública precisa ser modernizada para fornecer serviços de maior qualidade para os cidadãos. Todo o processo interno de trabalho tem de ser aprimorado. Um bom exemplo disso são os balcões de atendimento para novas empresas, que estão em desenvolvimento em toda a Europa. A meta é reduzir ao máximo o tempo necessário para se criar uma empresa. Na Grécia, por exemplo, é preciso apenas 24 horas. Para conseguir esse resultado todos os serviços que estão por trás dos bastidores têm de ser reorganizados. E para que isso aconteça tem de haver um projeto concreto de modernização da administração pública que facilite a criação de empresas. A administração pública tem de ser gerida por objetivos.

Desafios - Para incentivar o processo de inovação é necessária uma política industrial?
Rodrigues - A política industrial é necessária e todos os países desenvolvidos já tiveram uma, mesmo que digam que não. Existe um novo conceito de política industrial, que é mais horizontal. Implica em criar condições propícias para a inovação e apostar nas empresas inovadoras, onde quer que elas se encontrem. Em algumas circunstâncias, pode se justificar que o país escolha alguns setores para um esforço especial, não para proteger ou favorecer e sim porque são setores com capacidade multiplicadora. Parece-me que é isso que o Brasil está fazendo.

Desafios - A União Européia está promovendo uma agressiva campanha pela inovação tecnológica, com metas para o ano de 2010. Quais são os resultados já conquistados?
Rodrigues - No ano 2000 a União Européia adotou uma agenda para tornar-se mais competitiva, mais inovadora e capaz de criar mais e melhores empregos e manter a coesão social. Não é fácil conciliar competitividade, emprego e coesão social. Chegamos à conclusão de que a solução é partir para uma política de inovação muito ambiciosa.

Desafios - Como está Portugal hoje?
Rodrigues - Temos clusters nas áreas de turismo, de automóveis, de tecnologia de informação, no setor têxtil e também em biotecnologia.

Desafios - E a Europa?
Rodrigues - Na Finlândia é bem conhecido o caso da Nokia. A Irlanda conseguiu acelerar o crescimento econômico estimulando arranjos produtivos locais, pois eles são catalisadores da inovação. Mas os clusters só funcionam se houver infra-estrutura de base, por exemplo em transporte, e infra-estruturas avançadas, em telecomunicações e acesso à banda larga, bem como fontes de financiamento do capital de risco. Os recursos humanos são outra condição fundamental para o sucesso das empresas inovadoras, com engenheiros ligados às novas tecnologias e pessoal de produção de nível médio com boa formação.

Desafios - Em que áreas a Irlanda tem vantagens competitivas?
Rodrigues - Tecnologia de informação, eletrônica, indústria automobilística, serviços financeiros. O país também começa a fazer alguma coisa em biotecnologia.

Desafios - Que outros países europeus foram bem-sucedidos neste esforço de ganhar competitividade internacional através da investimentos focalizados?
Rodrigues - A Holanda já tem uma longa tradição de política de inovação que se traduz exatamente por garantir as duas condições de desenvolvimento a que eu estava me referindo: tem uma política muito ambiciosa de formação de recursos humanos na área tecnológica e de gestão, e também tem uma política sistemática de apoio aos clusters, aos arranjos produtivos.

Desafios - Quais são as metas e prazos da União Européia, para o processo de inovação?
Rodrigues - Bem, uma das metas mais ambiciosas tem a ver com aumentar a proporção de investimento em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB. Nossa meta é atingir 3% do PIB em 2010.

Desafios - Em quanto está hoje?
Rodrigues - Atualmente, está em torno de 1,6% ou 1,9% do PIB. Nos Estados Unidos está acima disso, em torno de 2,2% do PIB.

Desafios - E de onde virão os recursos para se chegar a 3% do PIB?
Rodrigues - Virão de três fontes diferentes. Do orçamento da União Européia, mas também do Banco Europeu de investimentos e dos orçamentos dos governos nacionais, que estão empenhados em fazer um esforço adicional de mobilização de recursos para pesquisa e desenvolvimento. Virão ainda das próprias empresas, pois é fundamental que elas aumentem seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento. É bom lembrar que as empresas não investem pela pureza da pesquisa, mas para reforçar sua competitividade.

* Participaram as editoras-assistentes Clarissa Furtado e Lia Vasconcelos

 
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