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Jomo Kwane Sundaram: - Receita asiática: proteger para exportar

2005. Ano 2 . Edição 9 - 1/4/2005

O economista malaio diz que a liberalização serve mais às corporações do que aos países pobres. E recomenda precauções para garantir o crescimento.

Por Maysa Provedello, de Brasília

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O economista malaio Jomo Kwane Sundaram visitou o Brasil em março numa de suas primeiras viagens oficiais como assistente da secretaria-geral para o desenvolvimento econômico do Departamento de Relações Econômicas e Sociais das Nações Unidas. Encontrou-se com autoridades, economistas e pesquisadores de outras áreas para contar um pouco de sua experiência como especialista em questões econômicas da Ásia. Em todas as reuniões, bem como na entrevista que concedeu a Desafios, ele evitou fazer analogias com a economia brasileira. No entanto, como ao bom entendedor meia palavra basta, sua mensagem é útil para que se compreenda o que ocorre no Brasil e o que deveria ser feito para garantir maior crescimento e desenvolvimento no país.

Desafios - Suas pesquisas sobre a economia da Ásia são completadas por investigações acerca dos efeitos econômicos da globalização. Qual é o seu diagnóstico da economia global nos últimos 20 anos?
Sundaram - Temos de lembrar que a globalização já tem pelo menos dois séculos. Durante a maior parte desse período, até meados do século XX, a desigualdade entre ricos e pobres esteve em ascensão no mundo. A situação mudou depois da Segunda Guerra Mundial. Portanto, de forma simplificada, posso afirmar que foi o imperialismo, e não a globalização, a causa do aumento da pobreza em determinadas regiões. Analisadas numa perspectiva histórica, elas foram exploradas de maneira questionável. As pesquisas realizadas até agora, em várias frentes, apontam que o processo de industrialização dos anos 60 e 70 resultou na redução da desigualdade dentro dos países. A questão é que, no período mais recente, ela voltou a crescer. Na esfera internacional, a tendência não é muito clara. Os estudos são destorcidos pelos resultados positivos obtidos pela Índia e pela China, com suas imensas populações. Mas acredito que, se não considerarmos esses dois países, a desigualdade entre nações ricas e pobres também vem crescendo.

Desafios - A liberalização econômica e política, então, não foi tão benéfica como prometia?
Sundaram - A globalização tem significados diferentes para pessoas diferentes. É como conta uma tradicional história indiana: vários cegos precisam tocar num elefante e dizer do que se trata. Um passa a mão em sua perna e diz que é uma árvore. Outro apalpa a orelha e diz que é um grande leque... Se olharmos para alguns fenômenos especificamente econômicos da globalização, temos de analisar inúmeros aspectos, como a liberalização do comércio, que é diversa da liberalização financeira. Esses fenômenos foram distorcidos em relação à perspectiva que se tinha no início do processo de abertura. Embora oficialmente os mercados estejam livres, nunca existiram tantas regras como hoje. Foi implantado globalmente um novo modelo de governança, com pouca flexibilidade e criatividade, amarrado às condicionantes dos acordos firmados com o Fundo Monetário Internacional e outros organismos multilaterais de investimento. Há outras limitações igualmente poderosas, como a do respeito aos direitos de propriedade intelectual, que nunca foi tão valorizada como nos últimos 20 anos. Isso além das normas da Organização Mundial do Comércio. Então, a liberalização promovida pela globalização é, no mínimo, relativa.

Desafios - Mas houve liberalização de fluxos de capitais e abertura de mercados, entre outras.
Sundaram - É indiscutível que esses mecanismos da globalização serviram aos interesses das grandes corporações, pelo menos no que se refere à regulação e à liberalização. E são essas mesmas corporações que resistem à liberalização agrícola. E utilizam outras formas para a proteção de seus mercados desenvolvidos. As evidências de vários estudos mostram que os preços dos produtos primários de regiões tropicais, portanto menos desenvolvidas, caíram, enquanto os dos produtos chamados temperados, de países desenvolvidos, como o algodão, subiram. Isso não é obra do acaso.

Desafios - O processo de liberalização, seja financeira, seja comercial, não foi correto? O senhor acredita que teria sido melhor se não houvesse abertura?
Sundaram - Os mercados precisavam ser abertos, é claro. Mas o que percebemos agora é que todos os países que se industrializaram de forma sustentável o fizeram com forte protecionismo na fase inicial. Desde a Inglaterra, na Revolução Industrial. Os países do sul asiático, como Malásia e Taiwan, desenvolveram uma indústria poderosa em termos qualitativos, mas não em termos quantitativos. Dependeram muito de investimentos externos e de mão-de-obra barata, sem construir uma política estratégica de desenvolvimento. No Sudeste Asiático foi diferente. Há 20 anos, ninguém saberia dizer o nome de uma empresa coreana, por exemplo. Ali também, como no sul, eram fabricados produtos, como equipamentos eletrônicos, copiados de outros. Mas a política industrial da região incentivava, de várias formas, o aprimoramento da produção, de modo que hoje não são mais desconhecidos e, em muitos casos, fazem produtos melhores do que aqueles fabricados nos países dos quais copiavam. Tornaram-se líderes. São muito diferentes dos países do sul asiático, cujos produtos tiveram seus preços reduzidos. Estes se especializaram no fornecimento de artigos chamados genéricos, sem direito de propriedade, que qualquer um pode fazer.

Desafios - Existe risco para países que dão importância estratégica às exportações?
Sundaram - As pessoas costumam pensar que a diferença entre o desenvolvimento da indústria asiática e o da América Latina é que a primeira usou um modelo orientado para a exportação, enquanto a segunda adotou um modelo voltado para a substituição de importações. Isso não é verdade. O que aconteceu em alguns países da Ásia, como Japão, China e Coréia, é que houve um equilíbrio entre essas duas fórmulas. Imagine que um cidadão está interessado em produzir equipamentos eletrônicos. Ele pede ajuda ao governo para viabilizar seu projeto. A resposta do governo é que vai providenciar financiamento e proteger aquele segmento por um tempo, com uma condição: que em determinado momento o empresário passe a exportar, cumprindo metas de quantidade e prazo. O pressuposto é que, ao se comprometer com a exportação, a empresa tenha de se preparar e se tornar competitiva, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do país. Isso é um exemplo da política industrial praticada no Sudeste Asiático. É preciso lembrar que, quando falamos de políticas para a indústria, não nos referimos apenas à produção de manufaturados, mas também às áreas de serviços e de agropecuária. As intervenções governamentais são a única maneira de induzir uma industrialização que gere resultados realmente positivos.

Desafios - E quanto à liberalização financeira, ela trouxe mais benefícios do que impactos negativos?
Sundaram - Temos de pensar em dois aspectos nesse caso. Primeiro, a liberalização doméstica. Não é verdade que um sistema fechado, só por ser fechado, não contribua para o crescimento. Volto a usar a Coréia como exemplo. Durante a chamada era da repressão financeira, as taxas de poupança interna cresceram muito. O dinheiro foi destinado à implantação da política industrial. As indústrias investiam em pesquisa e infra-estrutura para crescer no longo prazo. O caso da Coréia mostra que é simplista dizer, como foi preconizado nos anos 90, que a abertura das finanças dos países é fundamental para o crescimento. Ocorre que o modelo coreano teve sucesso, mas é ineficiente em locais onde se cobram altas taxas de juro, pois elas tornam impraticável o pagamento de empréstimos.

Desafios - E no caso das finanças internacionais?
Sundaram - Havia três promessas principais embutidas na liberalização das finanças em nível global. A primeira, de que o dinheiro iria migrar de regiões ricas para países pobres. A segunda, de que o custo dos financiamentos externos cairia. Por fim, de que a volatilidade desapareceria ou seria expressivamente reduzida. Essas três expectativas não se concretizaram. A idéia disseminada era que, onde fosse implantada, a liberalização promoveria o crescimento. Mas o que vemos é justamente o inverso: o crescimento é que vem servindo aos interesses financeiros liberalizados.

Um acadêmico em ação

Jomo Kwane Sundaram ocupa um dos postos mais cobiçados da Organização das Nações Unidas (ONU). Sua função é enriquecer os estudos e os documentos econômicos e sociais elaborados pelas Nações Unidas valendo-se dos conhecimentos adquiridos desde sua graduação em Economia pela Universidade da Malásia. O posto que ele ocupa foi criado recentemente, e a indicação de seu nome demonstra a preocupação dos dirigentes da ONU com os efeitos da globalização. A especialidade de Sundaram é a economia dos países asiáticos. Suas conclusões, de maneira geral, contrariam os paradigmas neoliberais impostos por organismos como o Fundo Monetário Internacional aos países em desenvolvimento durante os anos 90. Servem, assim, como ferramentas alternativas para a análise de outros países.


Com uma fala calma e pausada, ele conta que ainda está se acostumando ao corre-corre da função que assumiu, cujas obrigações incluem uma vasta agenda, inclusive os inúmeros encontros que manteve com autoridades brasileiras durante a visita oficial ao país no mês passado.


Sundaram foi investido em seu novo posto em janeiro. Antes, teve de tomar uma difícil decisão: abandonar a vida acadêmica - bastante rica, por sinal. Autor de mais de 50 livros, além de 35 trabalhos de pesquisa, fundou em 2001 o portal eletrônico de análises sociais e econômicas International Development Economics Associates (Ideas) - www.ideas.org, site que conta com a participação de uma rede de pesquisadores de várias partes do planeta.

 
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