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Joseph Stiglitz: - Nova agenda de cooperação

2005. Ano 2 . Edição 14 - 1/9/2005

Joseph Stiglitz é um superstar da economia. Prêmio Nobel em 2001, é professor na Universidade de Columbia, em Nova York.Mas boa parte de seu tempo é dedicada a falar a respeito dos riscos da globalização econômica, em palestras, conferências e reuniões ao redor do mundo em companhia dos mais diversos tipos de celebridade, que ocupam desde os tradicionais meios acadêmicos até os agitados celeiros artísticos.“Não sou contra esse movimento,mas ele precisa ser administrado”, costuma repetir.No início de agosto, ele esteve no Brasil para participar de um seminário do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul, realizado no Rio de Janeiro, e falou com exclusividade a Desafios sobre o atual cenário econômico e sobre a cooperação entre os países em desenvolvimento no chamado diálogo Sul-Sul.

Maysa Provedello

Desafios - O Consenso de Washington forneceu um roteiro liberal para as economias de países em desenvolvimento, o que incluía privatizações e rigor fiscal. O senhor acha que ele serviu para melhorar a vida nesses países?
Stiglitz - O Consenso de Washington já nasceu cheio de erros, e não sou apenas eu quem diz isso. Costumo destacar três pontos principais em relação a essa questão. O primeiro é a importância da eqüidade para o desenvolvimento, completamente ignorada quando foi elaborado o Consenso de Washington - ela não é sequer citada. O segundo é a relevância do emprego, fundamental para promover a igualdade e para atribuir poder às pessoas, mas desconsiderado no Consenso de Washington. Por fim, também é primordial pensar cada vez mais no papel do Estado. Eu não acredito que os governos devam cuidar de tudo, mas também rejeito totalmente a idéia de que o Estado não precisa fazer nada. É o que costumam chamar de terceira via. Uma das críticas ao consenso é o fato de ter subestimado o papel do Estado. Hoje, percebemos que o consenso, que nasceu como uma solução, não se mostrou uma condição necessária ou suficiente para o sucesso do desenvolvimento.

Desafios - Seria, então, o caso de o Estado ser mais atuante na regulação da economia?
Stiglitz - É o caso de termos a regulação na medida certa, aquela necessária para promover a competição, a governança corporativa e muitos outros aspectos importantes que favoreçam um ambiente positivo para o desenvolvimento. Mas é claro que existem áreas que não necessitam de mais regulação, e aí é melhor não tê-la.

Desafios - De que forma os países em desenvolvimento podem cooperar e criar uma agenda comum de crescimento?
Stiglitz - É bom lembrar que a antiga agenda de desenvolvimento, praticada até agora, não é necessariamente favorável aos países do hemisfério norte, mas sim aos interesses específicos de algumas pessoas daquela região. Por exemplo, são apenas alguns cidadãos americanos que se beneficiam do protecionismo oferecido pelo governo aos 25 mil produtores de algodão, e não toda a população do país. Isso se repete em todo o mundo. A agenda dominante de comércio não deixa todos os países participarem de forma igualitária do jogo, traz melhorias apenas para uma pequena parcela de cidadãos, tanto do norte quanto do sul. A Cooperação Sul-Sul pode reforçar um redesenho dessas relações e uma nova geopolítica.

Desafios - Como os países em desenvolvimento podem atuar em conjunto?
Stiglitz - De várias formas. Uma delas diz respeito ao intercâmbio de informações. Existe um espaço muito rico para a troca de experiências entre os países desse eixo. Por exemplo, é preciso que sejam conhecidas algumas das medidas que a Índia vem tomando nos últimos anos, com sucesso, para criar empregos. São iniciativas interessantes. Também é um país que consegue criar ações específicas para levar o mercado financeiro a servir todas as partes do país, o que não acontecia antes. Assim como a Índia, cada nação tem suas lições a repassar, e todos têm o que aprender. Há um enorme valor nesse tipo de troca de informações. E não se trata apenas de discutir os exemplos bem-sucedidos, mas também as falhas, de forma a aprender com o conjunto de lições.

Desafios - Algo como redesenhar a geopolítica existente hoje?
Stiglitz - Exatamente, essas discussões globais devem servir para redesenhar a geopolítica. No caso do comércio e dos direitos de propriedade, por exemplo, os países podem se juntar e dizer: "É dessa maneira que pensamos que a comunidade global deve seguir". Com novos debates, será possível ir mudando o formato do modelo de globalização. Os países também podem criar formas efetivas de cooperação entre si, tanto no campo do comércio como no das finanças. Um tipo de iniciativa que pode ser pensada nesse sentido é a criação de reservas monetárias nas moedas comuns dessas nações, com menos dólares em caixa. E ainda a criação de uma espécie de pool de reservas, um fundo comum, que possa ser sacado em caso de emergência.

Desafios - No caso brasileiro, qual a possibilidade de sucesso ao se combinar uma política de déficit nominal reduzido, a médio prazo, com a política monetária?
Stiglitz - Parte do problema no Brasil é que a política monetária praticada resultou em taxas de juro muito elevadas e em alta dívida fiscal. Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tinham uma grande dívida também, porque tiveram de emprestar muito dinheiro para autofinanciamento. Mas o Banco Central optou por manter as taxas de juro baixas, em parte para limitar os gastos que seriam feitos para pagar o serviço dessa dívida. Esse tipo de pensamento não parece estar muito em voga hoje em dia. Então, o que as taxas de juro causam hoje é um problema orçamentário muito difícil para o Brasil, pois existe um custo altíssimo para pagar o serviço da dívida. Há várias saídas para essa situação. Um exemplo seria captar recursos de depósitos diretos, em vez de emitir títulos. Outra coisa que pode ser feita é forçar a queda, é o governo dizer que vai colocar dinheiro somente nos bancos que reduzirem seus spreads.

Desafios - No mês passado, houve um intenso debate no Brasil sobre a proposta de inscrever na Constituição que a meta do governo deve ser, dentro de algum tempo, zerar seu déficit, sendo capaz inclusive de pagar os juros da dívida pública. Qual sua avaliação a respeito desse tipo de medida?
Stiglitz - Eu entendo bem a preocupação que os elevados déficits causam quando duram muito tempo, principalmente porque geram problemas para as gerações futuras, e que economistas e governantes busquem soluções como essa, mas é bom lembrar que podem não funcionar como planejado. É só olhar para a União Européia e verificar o descontentamento com a regra fixada pelo Tratado de Maastricht, que impede os países-membros de apresentar déficit superior a 3%. A maior parte das pessoas por lá acredita que é um grande erro. Para tentar resolver a questão, buscam redefinir o conceito de déficit. Portanto, eu acredito que fixar metas rígidas de déficit nominal em Constituição é um erro grave. Eu lutei muito nos Estados Unidos contra esse tipo de pensamento, contra um limite constitucional. A ironia é que os principais proponentes da idéia de um limite eram os republicanos, que hoje em dia são os grandes responsáveis pela situação deficitária do país. Existem outras saídas mais inteligentes para resolver o problema orçamentário.

Desafios - O senhor acredita ser necessário e possível que os países em desenvolvimento façam controle de ingresso e saída de capitais nos dias de hoje e no futuro?
Stiglitz - Existem casos em que esse tipo de mecanismo funcionou muito bem, como no Chile, que controlou o fluxo, e na Malásia, que cuidava da saída de capitais. Mas nunca devemos esquecer dois itens muito importantes, mesmo quando não há problemas de fluxo de capitais: entradas de capitais de curto prazo não provocam o crescimento econômico rápido. Não dá para construir fábricas com o dinheiro que entra num dia e sai no outro. O segundo ponto é que o fluxo de capital de curto prazo pode contribuir enormemente para a instabilidade econômica. Muitos economistas argumentam que só é possível atrair investimentos estrangeiros quando existe um mercado de capitais aberto, inclusive no caso do curto prazo. Mas está errada essa afirmação. A China tem controle de entrada de capitais e atrai muito mais investimento direto estrangeiro do que qualquer outro país em desenvolvimento.


Sem medo de polemizar

Curiosamente, na mesma cidade de Gary, no estado de Indiana, nos Estados Unidos, onde nasceu Joseph Stiglitz em 1943, também nasceu outro prêmio Nobel de Economia, Paul Samuelson, agraciado em 1970. Segundo o próprio Stiglitz, o fato de Gary ser uma cidade com população de maioria negra, ter seu passado ligado ao setor de mineração e haver sofrido com o processo de desindustrialização exerceu influência direta em suas escolhas futuras pelas pesquisas ligadas ao impacto do crescimento econômico, da desigualdade e das falhas de mercado.

Stiglitz percorreu um caminho acadêmico dos mais nobres. Concluiu doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e, em 1970, tornou-se professor titular na Universidade de Yale. Também atuou como professor e pesquisador em Oxford e Cambridge, na Inglaterra, e Princeton, Stanford e Columbia, nos Estados Unidos - na última dá aulas até hoje. Seus estudos econômicos gravitam por diversos campos, entre eles finanças públicas, crescimento, teorias sobre mercados e eficiências das economias capitalistas, distribuição de renda e economia da informação.

Além de trabalhar na academia, Stiglitz exerceu várias funções como consultor econômico. Entre os anos de 1993 e 1997 ocupou o posto de chefe do conselho de assessores econômicos do governo Bill Clinton, na Presidência dos Estados Unidos. A partir de 1997, assumiu a cadeira de economista-chefe do Banco Mundial, de onde saiu em 2000, depois de criticar publicamente as políticas adotadas tanto pelo próprio banco quanto pelo Fundo Monetário Internacional. Ele discordava dos modelos neoliberais impostos aos países em desenvolvimento, que não consideravam prioritários os aspectos humanos.
No final do ano, deve lançar mais um livro, chamado Administrando a Globalização, no qual apresentará propostas para uma agenda global mínima pró-desenvolvimento com foco na eqüidade e em um novo desenho da geopolítica atual.

 
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