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Evando Mirra - Podemos fazer melhor

2005. Ano 2 . Edição 17 - 1/12/2005

Ganhamos mais desenvoltura na geração de conhecimento do que na transformação desse processo em bens e serviços

Lia Vasconcelos

O Brasil tem mostrado uma notável capacidade criativa e inovadora.
Também vamos encontrar esses traços no empreendimento científico e tecnológico

Um dos principais responsáveis pela organização da III Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação diz que o desenvolvimento tecnológico brasileiro depende essencialmente do envolvimento e da exigência de toda a sociedade. Para Evando Mirra, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, a inovação não tem campos privilegiados e circula com a mesma desenvoltura desde a cozinha até o laboratório, basta ser convidada.

Um homem de muitos talentos
Engenheiro mecânico e elétrico de formação, o mineiro Evando Mirra de Paula Silva é dono de duas habilidades que poucas vezes se encontram numa só pessoa: talento para a ciência e para a administração. Essa rara combinação foi o que permitiu que ele fosse eleito membro da Academia Brasileira de Ciências, na categoria Ciências da Engenharia, no mesmo momento em que trabalhava arduamente à frente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) para organizar a III Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, ocorrida no mês passado, em Brasília. Professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mirra já correu o mundo. Fez doutorado na Universidade de Paris, aperfeiçoamento na Universidade George Washington, nos Estados Unidos, e esteve nas Universidades de Tóquio, Japão, Berkeley, Estados Unidos, e Compiègne, França, como pesquisador visitante.

Em 1986, a carreira de Mirra tomou outro rumo ao tornar-se pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UFMG. A gestão em ciência e tecnologia começou, então, a ocupar grande parte de seu tempo. Participou da montagem de diversos programas nacionais de cooperação universidade-empresa, da implantação de estratégias de avaliação de pesquisa e de iniciativas como a criação do Programa Institucional de Iniciação Científica (Pibic). Entre 1999 e 2001, foi presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), onde coordenou a criação da Plataforma Lattes, principal fonte de registros de ciência e tecnologia do país, com cerca de 447 mil currículos e 20 mil grupos de pesquisa cadastrados. Em 2001, aceitou o desafio de montar uma nova instituição, o CGEE, do qual foi presidente até novembro deste ano. Incansável, parte agora para novas aventuras ao assumir a direção de inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

Desafios - Muitos dizem que o grande problema do Brasil é não conseguir transformar criatividade em dinheiro. Qual o caminho para superar essa dificuldade?
Evando Mirra -
A inovação é essencialmente uma questão de sociedade, de compreensão e de envolvimento globais. O foco, naturalmente, é na empresa, mas ela não acontece se o conjunto de atores da sociedade não participar e não exigir que isso aconteça. É verdade que no caso brasileiro ganhamos mais desenvoltura na geração de conhecimento do que na transformação desse processo em bens e serviços. Porém, a industrialização do país fez com que construíssemos um parque que é ao mesmo tempo amplo, diversificado, competente e, em alguns dos domínios, de qualidade mundial. Conjugando isso com o fato de que possuímos hoje recursos humanos do mais alto nível, treinados em pesquisa e desenvolvimento, temos, obviamente, dois dos ingredientes essenciais. Agora, eles precisam operar num movimento de sociedade, que é um movimento mais amplo, que envolve a própria dimensão do exercício da cidadania.

 

Desafios - O Brasil é um país inovador?
Evando Mirra -
O Brasil tem mostrado uma notável capacidade criativa e inovadora. A própria cultura brasileira é original, distinta, se elabora dentro de padrões às vezes surpreendentes e com resultados que marcam a identidade. Também vamos encontrar traços disso no empreendimento científico e tecnológico. O aspecto que eu gosto de enfatizar é a competência de pesquisa existente no Brasil, porque ela tem uma configuração distinta de qualquer outro país em desenvolvimento. Temos o perfil de competência científica e tecnológica dos países avançados. Nossas possibilidades são amplas, nós podemos sonhar com muita coisa. Porém, enfrentamos dificuldades no que diz respeito especificamente à mobilização dessa competência. O portfólio do país tem essa contradição de que o espaço e as vias de inovação estão em número relativamente pequeno, distribuídas de forma isolada, mas cada uma delas é extraordinariamente bem-sucedida.

Desafios - A que experiências o senhor se refere especificamente?
Evando Mirra -
Muitos casos são conhecidos. Um exemplo clássico é que o Brasil está hoje na vanguarda da produção de tecnologia para extração de petróleo em águas profundas. É difícil subestimar a dificuldade técnica dessa atividade, o que só faz com que o sucesso brasileiro seja ainda mais extraordinário. Abaixo de 300 metros de profundidade, o corpo humano não resiste à pressão da água, portanto, não é possível trabalhar com mergulhadores, tem de usar robótica submarina. O Brasil já trabalha a mais de 2 mil metros de profundidade. Quer dizer que nós exercitamos a robótica submarina em condições absolutamente difíceis e sofisticadas. As plataformas submarinas são sustentadas por um número grande de âncoras, normalmente 16. Acontece que a partir de 800 metros de profundidade o peso das correntes de aço das âncoras se torna superior ao peso das plataformas. O Brasil desenvolveu para esse caso uma solução engenhosa, com cabos de fio plástico de alta resistência. Para conseguir isso foi preciso fazer arranjos institucionais e alianças estratégicas. Nós também conhecemos o caso da Embraer, que coloca o país em posição competitiva e vantajosa no plano internacional. Casos como a Bematech, que criou um segmento para impressoras de supermercado e gerou no plano internacional uma presença forte. O caso da WEG também é extraordinário, porque uma empresa de fundo de quintal de Santa Catarina se tornou uma das maiores empresas do mundo, implantada em mais de 50 países. No fundo, o que me parece essencial é que, num número significativo de espaços, o país já deu provas de que é capaz de ter uma mentalidade inovadora.

Desafios - Mas o que falta para que essa mentalidade predomine em outros setores?
Evando Mirra -
Falta que a vontade de inovar contamine a sociedade como um todo. Essa questão é essencial porque a postura da inovação não se limita a segmentos de alta tecnologia, é uma questão global. Ela opera em todo o espectro da produção porque é essencialmente uma questão de atitude. Ela consiste simplesmente em dizer que nós não estamos produzindo ainda da melhor maneira, que aquilo pode ser feito de outra forma, que pode ser feito um pouco melhor, e isso obviamente não tem limitação de objetos de trabalho ou de setor econômico.

Desafios - O senhor tem exemplos?
Evando Mirra -
O pão de queijo era, até um tempo atrás, algo de experimentação doméstica, mas, quando aconteceu no Brasil aquele boom do congelado, surgiu a idéia de fazer uma massa de pão de queijo que pudesse ser congelada e, portanto, vendida em distâncias maiores. Houve, contudo, uma decepção. Ao reaquecer, a massa congelada não tinha boa consistência e perdia o gosto. Longe de desencorajar os envolvidos, o contratempo os levou a procurar a universidade. Inicialmente, foram os grupos de tecnologia de alimentos, especialmente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Lá detectaram que o problema era que o fermento usado na massa não resistia a altas temperaturas. Isso transportou a questão para o campo da biotecnologia, e o problema foi resolvido com uma articulação entre algumas universidades e centros tecnológicos. Essa estratégia de conhecimento gerou uma nova indústria baseada principalmente em congelados. Atualmente, centenas de empresas fazem parte da Associação Nacional dos Produtores de Pão de Queijo. Essas empresas têm os mais variados portes. Isso gerou uma pauta de exportação. Hoje, quase duas dezenas de países são nossos clientes. Um exemplo singelo como esse mostra como a agregação de valor pode transformar uma atividade simples numa geradora de riqueza, de divisas e de mudanças culturais. Essa é uma dimensão comum: a agregação de valor no processo de produção se traduz numa vida mais rica em todos os aspectos.

Desafios - A Lei de Inovação e a Medida Provisória nº 255, apelidada de MP do Bem, recentemente aprovadas, ajudam nesse movimento?
Evando Mirra -
A Lei de Inovação permite, apóia, promove e legitima uma série de práticas que já existiam no país e eram apenas toleradas. Além disso, ela define questões delicadas de relação do público e privado e isso envolve movimento de capital e circulação de pessoal. A lei explicita e incentiva as possibilidades de que todo investimento público se reverta em bens e serviços. Do ponto de vista prático, a Lei de Inovação fornece, em primeiro lugar, um contexto cultural mais favorável e acolhedor. Não é pouca coisa. Porém, a existência por si só de mecanismos não garante que eles sejam amplamente utilizados. A resposta espontânea usual é que um número reduzido de empresas que já têm desenvoltura para operar esses mecanismos, mesmo em condições menos acolhedoras, fará parte daquele grupo que imediatamente será mais capaz de fazer uso disso. Se nós ficarmos restritos a esse grupo, é muito pouco. Isso não muda a natureza do problema. Para que a natureza do problema mude será necessário envolver novos atores no processo. Esses novos atores são, em primeiro lugar, o vasto universo das micro, pequenas e médias empresas. É aí que a Lei de Inovação poderá ser mais eficaz. Estão sendo criados novos instrumentos para que os mecanismos de subvenção e promoção previstos na MP 255, bem como as iniciativas previstas na Lei de Inovação, sejam instrumentalizados. O primeiro deles foi o Portal da Inovação, lançado recentemente pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que pilotou, promoveu e financiou o processo, e o fez, sabiamente, em articulação com grande número de setores, tanto do ambiente privado como do público. Já foi desde o início um projeto concebido dentro dessa lógica essencial que é a lógica do mutirão, que é a lógica de que não há nenhum setor, nenhum subsistema, nenhum segmento capaz de esgotar a capacidade de mobilização. O portal é um instrumento poderoso porque permite mapear de forma inédita a distribuição de competência mobilizada no país e como se manifestam as demandas e as oportunidades. Eu vejo nesses novos instrumentos uma possibilidade efetiva de começar a negociar novos contratos entre esses atores que representem esperança, e que se possa envolver gradualmente um número mais significativo de atores. É preciso dizer também que nenhuma dessas conquistas se faz de uma vez por todas e com um salto muito grande. Tanto a Lei de Inovação como a MP 255 são avanços que balizam o terreno, mas obviamente são alguns passos tímidos de uma longa caminhada que temos de fazer.

Desafios - Como a ciência, tecnologia e inovação (CT&I) podem ser usadas para a inclusão social?
Evando Mirra -
O exemplo do pão de queijo nos mostra um pouco qual é o vetor, qual a tendência e como se faz. Esse é um exemplo que mostra que é possível mobilizar o conhecimento existente, o conhecimento tácito da população. No caso, há uma cultura do pão de queijo, elaborada ancestralmente, rodada em muitas cozinhas, que encontra um conhecimento existente no ambiente acadêmico. Mas o mais interessante é o conhecimento novo gerado disso, porque no fundo o grande diferencial dos países avançados não está na capacidade de acesso ao conhecimento existente, mas na eficácia das estratégias de aprendizado e na capacidade de gerar conhecimento novo nessa interação. É esse movimento de aprendizado coletivo e de geração de novos produtos e recursos, que é essencial, que faz as coisas mudarem. A questão se joga na dimensão de que segmentos crescentes da população, se apropriem dos instrumentos de conhecimento e das estratégias de aprendizado. A verdadeira inclusão é essa que permite que, de um universo modesto e familiar, como é esse do pão de queijo, a universos mais sofisticados, como é o de telecomunicações, um número maior de pessoas se aproprie desse conhecimento de tal forma que se beneficie desse processo e se capacite para inventar outras coisas, e adquira mais poder diante da vida.

 

Desafios - Qual o balanço que o senhor faz da III Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação?
Evando Mirra -
Na minha opinião, a conferência foi um enorme sucesso. Sobretudo do ponto de vista do envolvimento dos diferentes segmentos mais imediatamente relacionados com a questão da pesquisa. A primeira conferência foi essencialmente da academia. A segunda, há quatro anos, fez um enorme esforço de mobilização dos setores políticos e empresariais. Não há medida comum para comparar o que se passou agora, foi muito melhor. Nesta conferência houve mais de 2,2 mil inscritos que participaram efetivamente, contribuindo com apresentações, nos debates ou nos compromissos que foram firmados. Houve 8 mil pessoas que acompanharam pela Internet, um número extraordinário para uma primeira experiência desse tipo. Isso representa uma manifestação muito estimulante de maturidade do processo de discussão. Além disso, se examinarmos setorialmente, coisas extraordinárias se passaram. Por exemplo, na conferência anterior, a participação das empresas foi trabalhada, elas reagiram bem ao convite, foram convencidos a se envolver. Desta vez, não foi preciso fazer nenhum esforço de convencimento e, ao mesmo tempo, a participação se fez com uma contribuição substantivamente maior, já que o setor empresarial foi longamente preparado por câmaras específicas. De modo que a posição trazida pela indústria resultava de uma construção muito mais elaborada. Houve outra coisa importante no que diz respeito ao marco legal que foi a presença do Judiciário. A gente tem de caminhar muito nisso não só para que as questões essenciais das estratégias de um ambiente de ciência, tecnologia e inovação tenham um marco legal progressivamente mais adequado, mas também para que o próprio entendimento seja maior, porque não basta ter um marco, essas leis têm de ser interpretadas e vão ser aplicadas em diferentes instâncias. Logo, a presença do Judiciário teve um papel muito importante. “Conferência” vem do verbo “conferir”. Portanto, é um momento importante para aferir distintas visões sobre as grandes questões que permeiam o universo da ciência e tecnologia em sua relação com a sociedade. Nesse sentido, a conferência não apenas trata de aferir essas visões distintas, mas ela deve ter papel ativo na construção de um novo tipo de entendimento, deve contribuir para consolidar um diálogo mais amplo, uma reflexão coletiva organizada envolvendo diferentes atores do processo.

Desafios - A primeira Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação foi em 1985, a segunda em 2001 e a terceira neste ano. O que mudou nesse intervalo?
Evando Mirra -
É desejável e útil que encontros dessa natureza ganhem certa dinâmica e regularidade. A área de ciência e tecnologia é uma área que vem amadurecendo, portanto, ela demorou mais para chegar a um estágio em que essas coisas se colocassem. A primeira Conferência Nacional, em 1985, claramente se organizou em torno do processo de redemocratização do país e tentava promover o diálogo. A segunda Conferência Nacional, em 2001, já se organizou com uma definição mais clara e precisa de objetivos. O produto fundamental daquela conferência foi o Livro Verde, que, em última análise, é uma radiografia do ambiente de ciência e tecnologia existente naquele momento, elaborada dentro de uma visão compreensível pela sociedade brasileira. Houve algumas coisas muito curiosas na preparação do primeiro Livro Verde. Por exemplo, alguns setores da comunidade científica reagiram dramaticamente à leitura do livro porque ele não usa uma linguagem acadêmica. Cito isso apenas para lembrar como, de alguma forma, nesses quatro anos, em que pese todas as dificuldades vividas pelo país, houve um amadurecimento considerável nessa área. Já passa quase como natural uma postura que há quatro anos parecia algo muito estranho.

Desafios - O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, um dos responsáveis pela conferência, é uma organização social. O que isso significa na prática? Isso facilita a execução dos projetos e a própria gestão?
Evando Mirra -
Faz uma diferença imensa, e foi surpreendente para todos nós, que não tínhamos nenhuma experiência nesse assunto. Ao mesmo tempo, é um formato institucional que enfrenta imensas dificuldades, algumas delas inerentes à própria novidade do modelo, que é o fato de que sua absorção cultural exige um processo de amadurecimento. Apesar da experiência que o MCT começava a acumular e apesar da experiência internacional que foi consultada fortemente - é um modelo que já existe na Inglaterra, na França e em outros países -, ainda assim não se antecipava como essa instituição poderia ser estruturada no Brasil . Nesse sentido, quatro anos depois, nossa avaliação é muito positiva, pois o modelo de organização social mostra um potencial enorme como uma estratégia de interface público-privado, como forma de presença nas políticas públicas, como um espaço agregador de competências e articulações e no sentido finalístico. A contrapartida, o lado difícil, que exige construção, tem duas naturezas. Primeiro é que todo o aparato de auditoria e de controle foi construído para controle ou do setor privado ou do setor público. Essas instituições híbridas não têm ainda uma jurisprudência estabelecida nem há procedimentos e formatos já rodados. É uma novidade muito grande e coloca, portanto, para os próprios órgãos de controle, dificuldades novas que estão sendo trabalhadas e construídas. A segunda questão é o fato de que o modelo se fundamenta num respeito aos contratos que a cultura brasileira ainda não absorveu de todo. Portanto, como modelo é muito interessante, mas sua operação em condições culturais mais incertas faz com que você tenha sobressaltos e dificuldades que não foram antecipadas. Mas, sobretudo, é um modelo que se presta a ações inerentemente e essencialmente cooperativas. Nesses espaços, há um enorme potencial de realização, cuja capacidade nós conhecemos parcialmente.

 

Desafios - O senhor está deixando o CGEE para trabalhar na Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Qual é o balanço que o senhor faz de sua gestão?
Evando Mirra -
É um pouco difícil fazer isso de forma objetiva porque eu era presidente do CNPq e fui envolvido nesse esforço de articulação enorme vinculado à criação dos fundos setoriais e às estratégias de gestão compartilhada. Coube a mim assumir a responsabilidade pela implantação da casa, pela implantação de uma cultura nova. É uma aventura fascinante, mas ao mesmo tempo cheia de perigos. Uma estrutura nova significa gerar valores compartilhados, gerar um espaço de significação que tem de ser apropriado em conjunto, gerar um espaço de tensão criativa e criadora no plano interno e criar no plano externo um espaço de inserção no ambiente. Então, é difícil avaliar o processo. Para dizer a verdade, eu me sinto muito emocionado com o reencontro com uma coisa que me ocorreu desde o primeiro envolvimento com a administração de ciência e tecnologia, que foi quando assumi a pró-reitoria de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E é uma coisa simples: o itinerário normal dos pesquisadores, que usualmente têm grande apreço pelo universo da pesquisa, mas manifestam pouco gosto e certa rejeição por tarefas de administração. Eu não fui exceção nesse caso. Relutei em assumir essa responsabilidade, mas acabei cedendo. Meu primeiro impacto, minha primeira surpresa, maravilhado, foi encontrar um grupo de pessoas na pró-reitoria cujo sonho maior era realizar coisas realmente úteis. Era quase como um conto de fadas, como uma visão idílica. Eu encontrei uma disponibilidade, um desejo de realizar as coisas, maltratado pelas dificuldades cotidianas em que todos estamos imersos, mas uma capacidade e competência extraordinárias, e isso fez com que nossa experiência fosse muito emocionante. Eu vivi isso no CNPq e vivi nesses quatro anos no CGEE. É muito emocionante ver que tantas trajetórias, ambições e sonhos distintos podem encontrar um espaço de convergência e materialização de um entendimento comum com forte vocação pública, desejo de construção e colaboração. Eu termino esses quatro anos à frente do CGEE com uma admiração fortalecida, um sentimento de privilégio e agradecimento pela possibilidade que me foi dada.

Desafios - Existe algo que o senhor gostaria muito de ter feito e não conseguiu?
Evando Mirra -
Esses quatro anos foram anos curiosos porque quis o destino que nós convivêssemos com quatro ministros da Ciência e Tecnologia e isso significou a convivência com o desafio de atender a visões e demandas distintas. Há uma dimensão difícil nisso, porque ciência e tecnologia são claramente esforços em que a continuidade e a permanência são essenciais para que se construam visões de futuro. Portanto, tivemos e ainda temos dificuldade de estruturar as vigas mestras, os eixos mestres de competência da casa, ante a solicitações muito distintas. Há coisas que gostaríamos de ter dado seqüência, desdobramentos que não foram possíveis. O segundo aspecto menos satisfatório é o fato de que foi gerado um volume de informação e análise imenso e, embora grande parte tenha sido colocada em cena e aproveitada na formatação de políticas e ações, ainda existe um volume de informação útil e disponível muito grande que é preciso disponibilizar com mais eficácia. É um bem público que precisa trafegar como bem público.

Desafios - Se o senhor só tivesse uma “bala” para atacar os problemas que dificultam a evolução tecnológica e industrial brasileira, que alvo o senhor miraria?
Evando Mirra -
Se o diagnóstico que a gente elaborou no caminho é correto, ou seja, que uma das questões-chave reside na desarticulação do sistema, então o alvo, nesse caso, seria a construção de espaços e protocolos de entendimento, de desentendimento que também é fecundo e de cooperação. Isso é mais do que um alvo, é muito abrangente, mas eu diria que o alvo me parece ser a busca obsessiva de melhorar o entendimento dos diferentes atores institucionais e parceiros e o conhecimento recíproco dos atores.

 
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