resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
Vida melhor na Floresta - Mamiruá, reserva de excelência na Amazônia

2004. Ano 1 . Edição 1 - 1/8/2004

Em Mamirauá, no interior do Amazonas, cientistas envolvem a comunidade, fazem pesquisas sobre manejo sustentável dos recursos naturais e viram referência internacional

Marcello Antunes

noticias-3-ImagemNoticia

 

Bem no interior do Amazonas, no mundo da água e da selva, existe um centro de pesquisas que virou referência mundial. É o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Ali, um grupo de 60 pesquisadores, em estreito convívio com seis mil habitantes de 72 comunidades, criou um núcleo de excelência em manejo de recursos naturais que serve como modelo de exploração sustentável para países como Tanzânia, Peru, Argentina, Colômbia e Guiana Francesa. No ano passado, a Unesco reconheceu Mamirauá como sítio do Patrimônio Natural da Humanidade. São demonstrações bastante positivas. "O Brasil está muito adiantado nessa área", diz Helder Queiroz, biólogo especializado em mamíferos, que é diretor técnico científico do Instituto.

Mamirauá é a maior área de floresta inundada e preservada do planeta. Seu território, de 11 mil quilômetros quadrados, fica submerso entre os meses de dezembro e julho.Depois,a vazante é abrupta. Em 45 dias o nível das águas diminui 12 metros, ou seja, uma média de 25 centímetros por dia. Então surgem cerca de três mil lagos coalhados de peixes.A natureza é extremamente generosa em Mamirauá, mas até pouco tempo atrás a população da região vivia na pobreza. O que os pesquisadores conseguiram construir nos últimos anos é um exemplo do que se pode fazer em outras áreas do Brasil e do mundo para melhorar as condições de vida da população sem, no entanto, deteriorar o meio ambiente. Na maior reserva alagada do mundo, alia-se a conservação da natureza ao desenvolvimento humano.

Grande parte dos resultados deve-se ao fato de que o projeto integrou a comunidade da região não só como mão-deobra: também aproveitou seus conhecimentos. Foram os moradores, por exemplo, que ensinaram os cientistas a calcular o tamanho (e em conseqüência a idade) do pirarucu, além da quantidade de peixes existente em determinada lagoa. Como? Simplesmente observando.

O pirarucu,que já fez parte da lista das espécies sob risco de extinção,precisa subir à tona para respirar em intervalos de tempo regulares. É o maior peixe de água doce do mundo e chega a pesar 200 quilos. Com um pouco de paciência é possível planejar a pesca de forma a retirar apenas os peixes de bom porte que já procriaram. "Os pescadores conseguem até identificar o sexo dos peixes", diz Evandro César Tavares, engenheiro de pesca formado pela Universidade Federal do Amazonas que acompanha o projeto de manejo em Mamirauá.

A atenção dada à sabedoria popular fez com que as pessoas se sentissem valorizadas. Suas vidas melhoraram não só por isso.O Instituto emprega cerca de 100 trabalhadores da região, o que significa mais renda. Também se preocupou em corrigir algumas práticas do dia-a-dia que colocavam em risco a saúde da população local. Depois da constatação de que a água era utilizada de maneira descuidada, e que essa era uma das causas da mortalidade infantil, foi criado um sistema de coleta e filtragem de água. O resultado: em 1999 morriam o equivalente a 86 crianças por mil nascidas vivas. Em 2003 a taxa caiu para 23 por mil.

Outros indicadores demonstram que houve um salto qualitativo na vida dos envolvidos com o projeto. As mulheres, que tinham em média oito filhos, hoje têm três. A alimentação, à base de mandioca, arroz, feijão e peixe, começa a se diversificar. Há hortas comunitárias, 208 famílias participam do programa de agricultura familiar e outras tantas já tomaram empréstimo do Programa do Microcrédito para iniciar a criação de galinhas para consumo e comercialização. Os técnicos e cientistas que trabalham em Mamirauá oferecem aos interessados cursos de capacitação para a criação de aves, produção de ração, preparo de mudas e produção de farinha.

O código florestal brasileiro de 1965 definiu que as florestas da Amazônia só poderiam ser utilizadas por meio de planos de manejo, um conjunto de técnicas empregadas para explorar racionalmente os recursos naturais de forma a assegurar a produção contínua, ao longo dos anos.

Foi para executar essa empreitada - o manejo equilibrado da área de reserva - que o Ministério da Ciência e Tecnologia firmou um contrato de gestão com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).O Instituto foi qualificado como Organização Social em 7 de julho de 1999, por decreto presidencial, e passou a administrar as reservas de desenvolvimento sustentável Mamirauá e Amanã, que ocupam uma área de 34 mil quilômetros quadrados na região do médio Solimões, no coração da Amazônia. Ao lado das reservas encontra-se o Parque Nacional do Jaú. O conjunto forma o maior corredor ecológico do planeta. É uma região magnífica, de natureza exuberante, um tesouro que pode ser aproveitado para o benefício das pessoas e deve ser conservado.

Resultados com poucos recursos - Além do financiamento que obtém com o governo, o projeto capta recursos de empresas e organizações internacionais. Seu patrimônio contabiliza 27 casas flutuantes, 45 lanchas voadeiras, quatro barcos com motores de centro, inúmeras canoas e quatro carros na sede, que fica em Tefé, distante cerca de 600 quilômetros de Manaus.Em 2004 o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) repassará 2,8 milhões de reais para o Instituto. Da Fundação Gordon Moore (Worldlife Conservation Society), norte-americana, virá 1,2 milhão de reais. E a Esso Petróleo do Brasil investirá 200 mil reais em projetos de educação ambiental. O estatuto de organização social dá flexibilidade ao IDSM para buscar financiadores privados, ao mesmo em que assina anualmente um contrato com o MCT, definindo suas obrigações, para conseguir os recursos públicos.

O dinheiro é aplicado em várias frentes.Há o projeto de manejo da pesca, que inclui o planejamento da extração de pirarucu das lagoas que se formam depois da época das cheias. Em cinco anos o número de pescadores que aderiram ao sistema multiplicou seis vezes. Pesca-se mais e o preço subiu.As espécies também se beneficiaram. A população de pirarucus cresceu 64% nesse período, porque acabou a pesca predatória e somente os pescadores das comunidades têm autorização para pescar.

Outra face do trabalho do Instituto é o manejo florestal comunitário. Entre 1993 e 1995 os pesquisadores fizeram monitoramentos anuais das características biológicas das espécies, dos locais de extração, da origem dos cortadores das árvores e dos compradores, dos preços e dos sistemas de pagamento. Atualmente, 13 comunidades definem, juntamente com os cientistas, as espécies de árvores que serão extraídas da floresta. Em cada uma delas a área foi dividida em 25 espaços, explorados um a cada ano. Dessa forma garante-se um ciclo de renovação de 25 anos e os próprios moradores impedem o corte ilegal.

Há uma terceira frente de atuação. É o Ecoturismo. A Pousada Uacari, de propriedade do Instituto, tem instalações flutuantes. Está localizada no maior bloco de floresta conservada da Amazônia, com acomodações confortáveis e integradas ao meio ambiente. Suas suítes utilizam energia solar e a ventilação é natural. Fica numa curva do rio, o que facilita a observação da fauna - um conforto raro no ambiente amazônico. Emprega gente do lugar para o atendimento a mil turistas por ano - o limite máximo de visitantes estabelecido pelos administradores. E já foi tema de um documentário feito pela emissora de TV inglesa BBC.No ano passado distribuiu às comunidades envolvidas um lucro de 36 mil reais.

A proposta do pessoal que administra o projeto é utilizar mão-de-obra local, mas também garantir que as pessoas não abandonem suas atividades de origem, tornando-se excessivamente dependentes do turismo para sua sobrevivência. Dessa forma, o trabalho é feito num sistema de rodízio. Edileuza da Silva, de 32 anos, por exemplo, trabalha como cozinheira na Pousada de terça a sábado. Nos outros dias,dedica-se a cuidar dos filhos e de sua plantação de mandioca. Também preside a Associação das Mulheres de Vila Alencar, que fica na reserva de Mamirauá.

Quem trabalha na pousada gosta do que faz. Olavita Vieira Brasil, governanta, cultiva até uma amizade inusitada enquanto cumpre o expediente.É a babá oficial de Leo, um jacaré com mais de três metros de comprimento que responde a seu chamado todos os dias, no horário das refeições. O bicho tem se refastelado com os aperitivos servidos por Olavita. Tanto que ela já está repensando sua rotina. "O Leo está ficando preguiçoso", diz. Nem é preciso dizer que os turistas adoram a Pousada Uacari.

Outras frentes envolvem a atividade dos cientistas e pesquisadores do Instituto. O Programa Qualidade de Vida é coordenado por Edila Arnaud Ferreira Moura, socióloga da Universidade Federal do Pará e está estruturado em cinco linhas de ação: educação ambiental, educação para a ciência, saúde comunitária, tecnologia e comunicação. Além de explorar de maneira sustentável os recursos naturais, a comunidade produz artesanato, que é vendido na Pousada.


Tudo isso nasceu em 1983 quando o paraense Márcio José Ayres, biólogo e professor da Universidade de Brasília, foi para a reserva desenvolver uma tese de doutorado sobre o macaco uacari branco, endêmico na região. Ele ficou por lá. O começo foi difícil, um barco, doado pelo pai de Ayres, servia como moradia e condução. Solicitou ao governo do Estado do Amazonas, em 1985, a criação de uma área de proteção para o uacari, que estava ameaçado de extinção, e conseguiu o que queria. Com o tempo, vários pesquisadores associaram-se ao projeto. Em maio de 1999 foi criado o Instituto com o objetivo de dar continuidade aos trabalhos de implementação que já vinham sendo realizados pelo Projeto Mamirauá.

Ayres faleceu no ano passado, vítima de câncer. Seu trabalho, embora pouco conhecido dos brasileiros de maneira geral, alcançou o reconhecimento internacional.

No Brasil, o projeto do IDSM também já conseguiu algum aplauso. Recebeu o prêmio Frederico Menezes, da Embrapa, e o prêmio Superecologia, da Editora Abril. Recentemente, seu projeto de Ecoturismo foi definido como o melhor destino de viagem pelo Conde Nest Ecotourism Travel Award  e   Smithsonian Magazine recebeu o prêmio Turismo Sustentável da Smithsonian Magazine.

Experiências como a do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá demonstram que o Brasil tem plenas condições de explorar a Amazônia, melhorando a qualidade de vida da população local, preservando a beleza e a riqueza naturais para as gerações futuras.

 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334