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Matriz de novos empreendedores - Fundação Certi, de Florioanópolis: celeiro de inovação e empreendedorismo

2005. Ano 2 . Edição 15 - 1/10/2005

A Fundação Certi, de Florianópolis, atingiu a maioridade aos 21 anos e funcionou como articuladora de empresários, cientistas e poder público para gerar uma das melhores experiências brasileiras de fomento ao empreendedorismo e de estímulo à inovação em tecnologia e negócios

Ottoni Fernandes Jr

A Fundação Certi, de Florianópolis, é um bom exemplo de que é possível criar uma ponte entre as empresas e o talento e a pesquisa da universidade para gerar inovação e uma safra de novos empreendedores. Ela faz pesquisa na área de tecnologia e abriga uma das mais bem-sucedidas incubadoras de novas empresas tecnológicas existentes no Brasil. O nome da entidade já revela seu objetivo - Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras. Foi criada em outubro de 1984 dentro de um laboratório da escola de Engenharia da Universidade de Santa Catarina (UFSC), quando Florianópolis era mais conhecida pelas boas praias para a prática de surfe. A fundação ajudou a transformar a capital catarinense em referência na área de desenvolvimento de software, automação bancária e eletrônica.

A proposta da entidade é posicionar-se como organização líder em pesquisa e desenvolvimento na área de "economia da experiência", no ambiente de inovação, sistemas mecatrônicos, metrologia e garantia da qualidade. E tem sido bem-sucedida, conforme o testemunho de Ronald Dauscha, presidente da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), para a qual a Certi "não é apenas uma instituição de pesquisa e um centro de estudos estratégicos, mas também chancela a viabilidade mercadológica de projetos inovadores aos quais é chamada a dar consultoria". De fato, quando aparece alguém com uma boa idéia no campo da tecnologia, o primeiro filtro é aplicado no Centro de Inovação em Negócios da fundação, que avalia a consistência mercadológica e tecnológica do produto ou projeto. O trabalho de consultoria da Certi levou seus especialistas a várias partes do país, inclusive à Amazônia. Dauscha lembra que a Certi ajudou a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) a planejar e a implantar o pólo tecnológico de Manaus. Segundo Dauscha, a Siemens, da qual é diretor de Gestão de Tecnologia, é uma cliente satisfeita com os serviços prestados pela Certi.

Para contrariar ditados populares, como "santo de casa não faz milagre" ou "casa de ferreiro, espeto de pau", a Certi, embora tenha a maioria de seus clientes fora de Santa Catarina, fez muito pela cidade e pelo estado onde está implantada. Ajudou a definir e a pavimentar o caminho que fez de Florianópolis uma referência nacional em tecnologia da informação e comunicação. Deu um empurrão para que fossem criadas a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), em abril de 1986, e a Incubadora Empresarial e Tecnológica, em outubro de 1986. Foi o berço para que surgissem muitas das 26 empresas fabricantes de equipamentos eletrônicos e as 110 de desenvolvimento de software que hoje funcionam na cidade de 365 mil habitantes, considerada uma das que oferece a melhor qualidade de vida no Brasil.

O grande responsável pelo sucesso da Fundação Certi é o engenheiro Carlos Alberto Schneider, seu atual diretor-superintendente e seu grande animador. Depois de se formar em Engenharia Mecânica pela UFSC, ele passou cinco anos em Aachen, na Alemanha, fazendo doutorado. Ao voltar, em 1979, já estava contratado para dar aula na faculdade na qual estudou e foi trabalhar no laboratório de metrologia, onde passou a ter muito contato com empresas catarinenses. "O curso de Engenharia foi criado em 1965, já ligado às demandas da indústria local, sendo que o estágio em empresas era obrigatório", lembra Schneider, que não era estranho ao ambiente industrial, pois sua família era proprietária de uma fábrica de bombas hidráulicas em Blumenau. Ele foi o idealizador da fundação, que se materializou graças ao apoio de 16 empresas catarinenses que bancaram um investimento de 400 mil dólares ao longo de dois anos. Não foi necessário investir em instalações, pois a Certi ficou abrigada no laboratório de metrologia da faculdade de Engenharia. "No dia seguinte da fundação, contratamos dez engenheiros e passamos a dar consultoria às empresas", conta Schneider. O primeiro cliente foi a Metal Leve, fábrica de auto-peças de São Paulo, interessada nos sistemas de controle de qualidade da Certi. Em seguida, a fábrica de geladeiras Cônsul, de Santa Catarina, bateu à porta da fundação para que testasse os motores que equipavam seus produtos.

A maioria dos clientes, no entanto, vinha de fora de Florianópolis e, para corrigir o rumo, o conselho de curadores da Certi deu, em 1986, a orientação para que a fundação trabalhasse com empresas da cidade. "Nas eleições de 1985, todos os candidatos a prefeito falavam em geração de emprego e a Certi passou a bater na tecla de que era preciso dar força às empresas de informática", diz Schneider. O discurso chegou até o governador do estado e, assim, a Certi acabou contratada pela Secretaria de Indústria e Comércio para montar a primeira incubadora, que foi instalada num prédio que estava embargado pela prefeitura, devido a irregularidades, a 2 quilômetros do campus da UFSC. Foi preciso muita saliva para conseguir a autorização de funcionamento, mas, em contrapartida, o proprietário cobrou um aluguel barato. A incubadora funciona até hoje, no mesmo edifício, com o nome de Midi Tecnológico, ligada ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Santa Catarina e operada pela Acate. "Demos prioridade às empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicações, da área de mecânica fina", conta Schneider, "e lançamos a pedra fundamental do atual pólo tecnológico de Florianópolis."

 

Amostra Atualmente, o faturamento das cerca de 290 empresas de base tecnológica de Florianópolis já deve superar o de hotelaria e turismo, de acordo com Alexandre d'Avila da Cunha, presidente da Acate, com base em uma amostra levantada com os 88 associados da entidade. Uma delas é a Cebra, presidida por Cunha, que nasceu na Incubadora Empresarial e Tecnológica, onde ficou de 1990 a 1994, e deve faturar cerca de 6,5 milhões de reais neste ano com produtos para o setor de automação bancária. Outra iniciativa da Certi que ajudou a definir a vocação tecnológica da capital do estado foi planejar o ParqTec Alfa, em parceria com o governo do estado, para abrigar a nova safra de empresas geradas na primeira incubadora ou que fossem atraídas pelo potencial da cidade. A idéia surgiu em 1986, mas a inauguração só ocorreu em maio de 1993. Atualmente, o parque Alfa, instalado no início da estrada que vai de Florianópolis em direção ao norte da ilha, abriga 59 empresas de base tecnológica, 12 outras de serviços, que, no conjunto, faturam 145 milhões de reais por ano, onde trabalham 1,8 mil pessoas, das quais 1,2 mil com curso superior.

Também funciona no parque a segunda incubadora de Florianópolis, o Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), gerido pela Fundação Certi, criado em agosto de 1995. As 38 empresas em operação na incubadora faturam 40 milhões de reais anualmente, sendo que 29 foram criadas por empresários formados na UFSC. Não é fácil ser aceito no Celta, pois o processo de seleção é rigoroso. Segundo Tony Chierighini, gerente da incubadora, já foram entregues até hoje 900 planos de negócios, dos quais 450 passaram pelo primeiro filtro, mas apenas 83 foram aprovados para serem incubados. A taxa de mortalidade das empresas é baixa, pois apenas sete empresas encerraram suas atividades. O rigor do processo de seleção é uma das explicações para essa taxa de sucesso, mas também é importante o treinamento em gestão, marketing e outras disciplinas que o Celta oferece por meio do Sebrae-SC, como explica o empresário Everton Gubert, sócio da Agriness, que desenvolveu um bem-sucedido software para o agribusiness. "Aprendemos a fazer planejamento de médio e longo prazo". Em setembro, a Agriness foi eleita a melhor empresa incubada de 2005 e mereceu o prêmio da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) - que reúne as incubadoras existentes no Brasil -, no qual concorreram 43 empresas.

A direção do Celta dá um prazo de no máximo quatro anos para que as empresas fiquem abrigadas em suas instalações, mas admite algumas exceções, avaliadas pontualmente. O objetivo é abrir espaço para novos empreendimentos e colocar as empresas na rota da expansão. No entanto, é comum que muitos empresários prefiram permanecer na incubadora, onde desfrutam, além de infra-estrutura e treinamento, de um ambiente sinérgico, no qual podem trocar experiências e criar uma interação que é extremamente importante, porque é movida pelo conhecimento, como explica José Eduardo Azevedo Fiates, presidente da Anprotec. A exemplo do que foi feito pela Certi, é essencial acoplar a incubadora a um parque tecnológico, para que as empresas possam se instalar depois que saírem do ambiente protegido, afirma. Para ele, a primeira condição para uma incubadora ser bem-sucedida não é a infra-estrutura, mas sim a existência de empreendedores.

No caso específico de Florianópolis, o parque Alfa ficou pequeno e já não é capaz de abrigar as empresas que se graduam (isto é, saem do ambiente protegido) nas duas incubadoras da cidade, informa Cunha, da Acate, e o poder público municipal não colocou em sua lista de prioridades a criação de outros parques tecnológicos. Coube à Certi, em conjunto com a Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (Codesc), do governo estadual, dar o pontapé inicial para remover esse gargalo. Há cinco anos começaram a planejar o lançamento do Sapiens Parque, a ser instalado num terreno de 4,5 milhões de metros quadrados na praia de Canasvieiras, no norte da ilha, onde funcionou uma colônia penal agrícola até a década de 80. O projeto é mais amplo, pois, além de um condomínio para empresas de base tecnológica, prevê um centro de convenções e instalações para atividades turísticas, de serviços e educacionais. "Estamos negociando com o hospital Sarah Kubitschek, de Brasília, para que instalem uma unidade no Sapiens Parque", informa Leandro Carioni, da Fundação Certi, gerente executivo do projeto. A meta é ambiciosa, pois envolverá 1,5 bilhão de reais em investimentos a serem captados no setor privado, mas as promessas são grandes, pois o planejamento feito pela Certi prevê que em dez anos o Sapiens Parque criará 30 mil empregos, com uma receita anual de 1,3 bilhão de reais. Para Cunha, da Acate, a proposta é importante para mudar, de uma vez, a vocação regional da ilha, ainda muito dependente do turismo de verão, nos meses de janeiro e fevereiro, quando a população chega a dobrar. Em setembro, foi superado o primeiro obstáculo para a criação do Sapiens Parque, quando o empreendimento recebeu a licença ambiental prévia para seguir em frente.

Potencial Uma das empresas que surgiu na incubadora do Celta é a Audaces, que produz software para a automatização do processo industrial no setor de confecção e vestuário. Ela faturou 4 milhões de reais no ano passado. Sua história é representativa da proposta que levou à criação da Fundação Certi. O sócio e principal executivo, Cláudio Grando, que fez Ciência da Computação na UFSC, conhecia o funcionamento das pequenas empresas do pólo têxtil e de confecção de Blumenau. Identificou uma oportunidade de negócios, criou a Audaces em janeiro de 1992 e entrou na incubadora Celta em 1997. Atualmente, tem 52 funcionários, é líder na América do Sul e procura um sócio para vender seu software na China. Grando, que acabou de voltar de Xangai, onde participou da segunda mais importante feira internacional do setor têxtil e de confecção, reclama da falta de ajuda governamental para abrir espaço num mercado de enorme potencial, como o chinês, pois não recebeu nenhum apoio de nosso corpo diplomático. "Em outros países é diferente, pois já fui procurado por diplomatas da França e da Grã-Bretanha em nome de empresas de software interessadas que as representássemos no Brasil. Ainda não temos a cultura de exportação de software e precisamos percorrer um caminho solitário para vender no exterior", relata (leia "O difícil caminho para o mundo").

A Audaces teve de sair do Celta em junho último, até porque seus funcionários não cabiam nos 200 metros quadrados que alugavam. Grando sabe que não tinha alternativa, mas reconhece que vai sentir falta do ambiente de fomento existente na incubadora e da troca permanente de experiência que impulsiona as empresas tecnológicas. Mas não quis ficar longe e, depois de procurar durante dois anos um local para instalar a empresa, acabou comprando um prédio com 1.000 metros quadrados de área útil bem em frente ao parque Alfa, do outro lado da rodovia.

Além do ambiente, do treinamento, da infra-estrutura, incubadoras como a do Celta ajudam as empresas a conseguir financiamento para alavancar seus negócios. Maurício Ibarra Dobes, sócio e principal executivo da Suntech, que ficou abrigada na incubadora da Certi de 1997 a 2001, conseguiu levantar dois financiamentos com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com o apoio do Celta, que foram vitais para a expansão de suas atividades. A Suntech, que fornece software para operadoras de telefonia celular, deverá faturar 7 milhões de reais em 2005 e já faz planos de abrir capital nas bolsas de valores em 2010. Planejar com o pé no chão, atento às necessidades do mercado, mas sem deixar de olhar para a frente, foi a orientação que a Fundação Certi seguiu, desde que foi fundada - um roteiro que seu criador, o engenheiro Schneider, não cansa de pregar.

Fundação Centros de Referência
em Tecnologias Inovadoras (Certi)

Criação
outubro de 1984

Caráter
instituição independente e sem fins lucrativos,
de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com foco na inovação em
negócios, produtos e serviços no segmento de tecnologia da informação

Funcionários
175, sendo 71 com nível superior

Desempenho
faturou 12,7 milhões de reais com estudos, projetos e serviços.
Atendeu 609 empresas em 2004: 241 em Santa Catarina
(37,4% do total), 122 em São Paulo (20% do total) e 90
no Paraná (14,8% do total)

Parceiros
Universidade Estadual de Santa Catarina, Companhia de Desenvolvimento
do Estado de Santa Catarina, Prefeitura Municipal de Florianópolis,
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério
da Ciência e Tecnologia, Federação das Indústrias de Santa Catarina,
Serviço Nacional da Indústria (Senai), Associação Brasileira da
Indústria Elétrica e Eletrônica, e empresas privadas

Centro Empresarial para Laboração
de Tecnologias Avançadas (Celta)
Incubadora de empresas ligada à Fundação Certi

Criação
agosto de 1995

Empresas incubadas
38, que faturaram 40 milhões de reais em 2004

Empresas graduadas
29, que faturaram 670 milhões em 2004

Postos de trabalho
94 empresários, 7 empresárias e 684 funcionários

 

A empresa de desenvolvimento de software Agriness Gerenciamento de Agroempresas está abrigada na incubadora Celta, de Florianópolis. Apesar de criada em 2001, é muito conhecida entre os granjeiros catarinenses do setor de suinocultura porque desenvolveu um software que ajuda a controlar e a aumentar a produtividade de suas granjas, do nascimento ao abate dos animais. A pequena empresa está abrigada na incubadora Celta desde outubro de 2001, mas revela ousadia, pois pretende conseguir metade de seu faturamento no exterior em 2007. A empresa já tem clientes na Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai, Portugal e França e não fará esse roteiro internacional desacompanhada, pois a empresa francesa de genética suína Pen Ar Lan atuará como parceira e cicerone. É uma das líderes européias no fornecimento de animais de alto desempenho para os suinocultores. Seus dirigentes brasileiros conheceram o software da Agriness por meio de granjeiros que usam o produto. Foi o famoso boca a boca. "Traduzimos nosso software para o francês porque a Pen Ar Lan quer oferecê-lo na França", conta Everton Gubert, sócio e fundador da Agriness, antiga Anitec. E a empresa francesa já está produzindo uma versão em polonês, interessada nesse mercado em que a suinocultura moderna está em expansão depois da integração do país à União Européia.

Também não é novidade para Gubert e seus sócios fazer parceria com grandes empresas. Em janeiro de 2004 fecharam um acordo com a Sadia para instalar o Anitec S2, de gerenciamento da produção em 300 granjas de produtores de carne suína associados até o final de 2006. A implantação já foi feita em 180 granjas e existe a possibilidade de estender o projeto para os outros 700 fornecedores da Sadia. Outra grande produtora de alimentos de origem animal, a Seara já instalou o Anitec S2 em 138 de suas 600 granjas. Essas alianças alavancaram o faturamento da empresa, que deve chegar a 1,5 milhão de reais em 2005. Parece pouco, mas será o triplo do que venderam no ano passado. Os planos para 2006 já estão desenhados e será marcado pelo ingresso no mercado internacional, avisa Gubert.

A trajetória da Agriness é um bom exemplo das sinergias construídas pela Fundação Certi, que envolveu universidade, empresas, entidades de classes e entidades governamentais. E comprova que vale a pena conhecer de perto a realidade dos clientes. Gubert se formou em Ciência da Computação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1999 e começou a desenvolver projetos de informática para empresas de conhecidos. "Acabaram os amigos e eu não tinha um produto de prateleira. Tive meu primeiro contato com um suinocultor quando fui visitar minha cidade natal, Xanxerê, no oeste catarinense, onde fui procurar oportunidades de negócio." E ele achou. Ao visitar uma granja conheceu um software norte-americano, o Pigchamp, que não tinha interface gráfica e rodava no sistema operacional DOS. Percebeu que o programa era voltado para as necessidades do veterinário, e não do granjeiro. Também detectou o potencial de mercado, pois Santa Catarina é o maior produtor de carne suína do Brasil, com 45% do total.

O caminho para o sucesso exigiu muita dedicação de Gubert e de seus sócios. Em primeiro lugar, era preciso conhecer o processo de produção dos suinocultores e a realidade dos diversos tipos de granjeiros, quase sempre pequenos produtores. "Passei 54 dias na propriedade de um granjeiro amigo, dormi no chão do escritório, mas fiz uma pós-graduação em suinocultura." Gubert também percebeu que não seria tarefa fácil desenvolver o software, que rodaria com o sistema operacional Windows. Foi preciso encontrar um sócio, que ficou com metade dos direitos autorais e custeou o desenvolvimento e o lançamento do software SuinoSys, de gerenciamento de granjas suínas, em abril de 2001. Na ocasião, ainda não tinham uma empresa, e todo o desenvolvimento foi feito num quarto do apartamento da mãe de Gubert. Registraram a companhia e decidiram disputar uma vaga na incubadora Celta. "Tivemos de fazer um plano de negócios e fomos aceitos em outubro de 2001", narra Gubert.
Pronto, já tinham uma sede de 30 metros quadrados, acesso rápido para a Internet, telefones, luz, água, serviço de limpeza. Além de infra-estrutura, recorda Gubert, receberam treinamento em gestão de negócios, vendas, recursos humanos e controle de qualidade, pois o Celta tem uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Santa Catarina. O Celta também ajudou Gubert e seus sócios a conseguir, em maio de 2003, um financiamento, a fundo perdido, de 189 mil reais com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, o que lhes deu fôlego para lançar em maio de 2003 o Anitec S2, versão mais avançada do pioneiro SuinoSis.

Daqui a pouco a Agriness vai ter de pensar em nova pousada, pois o espaço de 120 metros quadrados que agora utiliza na incubadora Celta começa a ficar pequeno para sua equipe de 15 pessoas, que inclui Gubert e seus quatro sócios. Além disso, o Celta estimula que as empresas saiam da incubadora depois de quatro anos como "hóspede", período que vence neste mês.

Pouca gente sabe, mas a Suntech, empresa que foi criada na incubadora Celta, de Florianópolis, está ganhando dinheiro com a corrupção, ou melhor, com a luta contra a corrupção e contra o crime em geral. Ela desenvolveu um software para gestão das interceptações legais de ligações feitas de telefones móveis celulares que é líder no mercado brasileiro, utilizado por 90% das operadoras que adotaram a tecnologia GSM, como Claro, Oi e Tim. É outro bom exemplo de como o conhecimento da necessidade do mercado e a capacidade de inovar tecnologicamente empurram empreendedores para o pódio do sucesso empresarial.

 

O percurso começou em 1993, quando Maurício Ibarra Dobes, sócio e principal executivo da Suntech, terminou o curso de graduação em Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), já sonhando em montar uma empresa de desenvolvimento de software. Ainda não tinha escolhido com precisão a área em que ia trabalhar, depois de concluir o mestrado em Engenharia Biomédica na UFSC. Sabia que deveria ser em inteligência artificial, voltada para medicina ou para telecomunicações. A lâmpada acendeu e Ibarra detectou uma oportunidade de negócios no setor de telecomunicações. A privatização do setor abriu uma janela de oportunidades para empreendedores, pois as novas empresas, livres das amarras da estatização, investiam em tecnologia e disputavam ferozmente o mercado consumidor.

O número de usuários de telefonia móvel crescia e a empresa precisava gerenciar o tráfego, medir a qualidade das conexões e todo o aparato tecnológico e de marketing para atender às demandas de um público exigente. "O nicho estava descoberto, pois os programas existentes ainda rodavam plataformas complexas. Decidimos lançar uma alternativa baseada no sistema operacional Windows, mais fácil de operar", recorda Ibarra. A Suntech foi fundada em junho de 1996 e em março do ano seguinte passou no "vestibular" e foi aceita no Celta. Ibarra já tinha experiência com empresas incubadas, pois quando era estagiário do Certi, enquanto cursava a faculdade, teve contato com as primeiras que se abrigaram na Incubadora Empresarial e Tecnológica, que surgiu em 1986 e era gerenciada pela fundação.
O software de gerenciamento de redes e análise de desempenho foi bem-aceito pelas operadoras e assim Ibarra passou a conhecer a realidade dessas empresas e percebeu outra oportunidade, a gestão dos pedidos feitos pela Justiça brasileira para interceptação legal de ligações por celulares. "Como a Justiça brasileira é pulverizada, as operadoras recebiam milhares de pedidos de interceptação por meio de diversos escritórios ou sucursais", diz Ibarra. E depois, confirmada a legalidade do pedido, o que exigia longos percursos até o departamento jurídico das operadoras, era preciso fazer a interceptação e gerar os relatórios para a Justiça. "Criamos o sistema Vigia, que automatiza todo o processo. Os pedidos entram por um único lugar, são encaminhados para o departamento jurídico e, se aprovados, comandam a interceptação, entregue sob a forma de voz e texto."

Atualmente, o Vigia responde por 60% do faturamento da Suntech, que deve chegar a 7 milhões de reais em 2005, com crescimento de 80% sobre o ano anterior. Tentam agora colocá-lo no mercado externo e o negociam com empresas da Argentina, Colômbia e México. Para 2006, informa Ibarra, a meta é faturar 10 milhões de reais, 30% dos quais no exterior. Mas a empresa não dorme em cima do sucesso e já lançou outros produtos, como o programa que permite a localização da posição geográfica de um telefone móvel, que, por exemplo, muitos pais adotam para saber onde estão seus filhos. Ibarra e seus sócios também estão de olho no mercado de ligação telefônica celular através da Internet (voiceIP).

Os recursos para bancar a primeira fase de desenvolvimento de produtos vieram de dois financiamentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), de 40 mil reais em 1998 e de 200 mil reais em 2002, feitos com apoio da Fundação Certi. Além disso, Ibarra e seus três sócios fundadores foram buscar um sócio capitalista e bateram na porta do Fundo de Investimento em Empresas Emergentes de Santa Catarina (Fiee-SC), montado por fundos de pensão e administrado pela Fator Administradora de Recursos, que hoje possui 19% do capital da Suntech, enquanto a Fundação Certi tem 1,5% e o restante se divide entre os quatro sócios. A Suntech saiu da incubadora em 2001, mas continua perto da universidade, pois a sede está no bairro de Trindade, ao lado da entrada do campus da UFSC. Atualmente, a empresa conta com 38 funcionários, dos quais 30 têm nível superior e incluem cinco estagiários, alunos de Engenharia e Ciência da Computação. Pode ser que a Suntech esteja funcionando, também, como matriz de novos empreendedores.

 
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