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O triste fim do pingüim de geladeira - Parceria entre a Embraco e a UFSC comemora 24 anos de sucesso

2006. Ano 3 . Edição 26 - 1/9/2006

A parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina e a Empresa Brasileira de Compressores (Embraco) completa 24 anos como um exemplo de sucesso do trabalho conjunto entre a academia e a iniciativa privada. A próxima novidade a ser lançada por eles, o microcompressor, promete aposentar a geladeira e substituí-la por gavetas e armários refrigerados

Por Manoel Schlindwein, de Florianópolis

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 Imagine esta cena: logo cedo o jovem senta à mesa, abre uma gaveta e se serve de fatias de queijo, salame, uma rodela de tomate e maionese. Pouco tempo depois, sua mãe aparece na cozinha preocupada com o almoço. Ela abre um pequeno compartimento e lá escolhe qual a pedida para o cardápio do dia: carne, peixes ou aves. Horas mais tarde, o chefe da família procura cubos de gelo no canto do armário para refrescar-se com uma bebida diante da televisão. E a geladeira? O pesado e barulhento eletrodoméstico está com os dias contados. Parece coisa de ficção científica? Que nada! A miniaturização dos compressores, que são a alma das geladeiras e dos demais refrigeradores, vai transformar a cena em realidade antes do que se imaginava.

 

 

Os números da parceria UFSC-Embraco
Financiamento
- 45% Empresa Brasileira de Compressores S/A (Embraco)
- 38% Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia
- 8, 5% Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação
- 8, 5% Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (Feesc), vinculada à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Estrutura
- 15 laboratórios reunidos no Pólo, Laboratórios de Pesquisa em Refrigeração e Termofísica
- A construção do Pólo custou 3, 5 milhões de reais, financiados pelos quatro participantes da parceria

Recursos humanos
- 80 pessoas trabalham no Pólo, dos quais quatro são professores da UFSC, 58 são alunos pesquisadores e bolsistas, e os demais são funcionários
- 40% dos empregados da Embraco na área de pesquisa e desenvolvimento são ex-alunos da UFSC
 

É do sul do país, mais especificamente de um conjunto de laboratórios instalados na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e patrocinados pela Empresa Brasileira de Compressores (Embraco), que estão saindo os primeiros ensaios da novidade que deve modificar os lares do mundo inteiro. Imagine o entusiasmo de decoradores e arquitetos ao trabalhar no projeto de uma cozinha desprovida de geladeira. Compartimentos e gavetas refrigerados farão parte de armários e prateleiras. Mas as transformações não ficarão apenas no ambiente culinário. Empresas de alta tecnologia, como a Intel, que mantém parceria com a Embraco, estão esperando pelo microcompressor para reduzir o tamanho e aumentar a velocidade dos computadores portáteis. Atualmente, eles não são menores porque o risco de pegar fogo devido à proximidade dos componentes é muito alto. Com o minúsculo compressor será possível manter a baixa temperatura.

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 O novo prédio, com 2, 5 mil metros quadrados de construção, custou 3, 5 milhões de reais e abriga 15 laboratórios

O primeiro passo para esse avanço já foi dado. No começo do ano, a principal conferência internacional sobre o tema, a Itherm 2006, realizada em San Diego, na Califórnia, divulgou as primeiras informações sobre um microcompressor desenvolvido pela Embraco. Para ter uma idéia do que isso representa para o setor, basta dizer que os equipamentos presentes em todas as geladeiras têm, em média, o tamanho de uma bola de vôlei - e o novo deve ser um pouco maior do que uma pilha pequena.

O conhecimento desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina permitiu que a Embraco fabricasse o primeiro compressor com tecnologia 100% brasileira

  

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 Agricultor planta mudas num corredor de Mata Atlântica.

Estabilidade O pequeno notável é apenas o mais recente sucesso de um casamento que já dura 24 anos entre a UFSC e a Embraco. Essa é a mais longa união entre iniciativa privada e academia que se tem notícia no país. A história começou em meados da década de 1980, quando a empresa procurou a universidade visando obter maior desenvolvimento tecnológico. O conhecimento adquirido propiciou a fabricação do primeiro compressor da Embraco com tecnologia 100% nacional. Foram cinco anos de intenso trabalho para substituir o modelo dinamarquês. Dali Deparem diante, os estudos realizados em conjunto geraram a orientação de 65 dissertações de mestrado e quinze teses de doutorado, a publicação de 287 trabalhos completos em anais de congressos e 48 artigos em periódicos indexados.

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Conhecimento Os objetivos de empresa e universidade são bem diferentes, mas a combinação geralmente leva a grandes resultados. " O que a gente faz é colocar uma 'embreagem', um modo de ligá-los", diz o diretor corporativo de tecnologia da Embraco, Roberto Holthausen Campos. De tempos em tempos, gerentes e professores reúnem-se e discutem quais programas podem desenvolver em conjunto. Isso ajuda a equilibrar a dinâmica das relações. De um lado, a universidade trabalha em pesquisa básica e, de outro, a indústria "converte"o resultado em conhecimento aplicado e depois o transforma em produtos avançados, com diferencial tecnológico. "Imagine o ciclo de vida de um dado conhecimento. A universidade nos suporta bem na fase inicial, quando se procura entender os fenômenos. É uma escada longa, e se constrói um degrau a cada dia", explica o diretor Campos. É um processo que vale a pena para a empresa porque as pesquisas uma hora vão parar na linha de produção de novos compressores. Vale para a universidade porque o aporte de capital permite contato com tecnologia de ponta. Vale para os estudantes porque são beneficiados com o conhecimento, elevando sua capacitação, além de muitos conseguirem um estágio e ingressarem no mercado de trabalho. E, finalmente, vale para nós, consumidores, porque os estudos permitem avanços que trarão mais conforto para nossa vida. 

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Para aumentar ainda mais a produtividade da parceria, foi inaugurado em maio deste ano o Pólo, Laboratórios de Pesquisa em Refrigeração e Termofísica, no Departamento de Engenharia Mecânica do campus da UFSC, em Florianópolis. As instalações abrigam 15 laboratórios que recebem diariamente pesquisadores, professores e alunos de todos os cantos do país e do mundo. São quase oitenta pessoas trabalhando no prédio erguido especialmente para o Pólo. "Buscamos tornar a UFSC um centro de excelência mundial, inovador e formador de profissionais altamente capacitados. Não conheço no mundo outro centro de pesquisa tão avançado quanto esse. E não estamos falando apenas de máquinas e equipamentos, estamos falando de qualidade e de pessoal", avalia o professor Jader Barbosa Junior, integrante do Pólo. A construção dos 2, 5 mil metros quadrados do Pólo consumiu 3, 5 milhões de reais e contou com o apoio de agências governamentais de fomento à pesquisa e pós-graduação, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e da Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (Feesc).

As novas instalações foram inauguradas em maio passado. São quinze laboratórios de pesquisa em refrigeração e termofísica construídos dentro do campus

Energia Além da miniaturização, outro desafio que os técnicos enfrentam é como diminuir o consumo de energia dos compressores. Pouca gente sabe, mas o refrigerador responde por quase um terço de toda a energia elétrica consumida em uma residência. O número impressiona e os cientistas sabem disso - não custa lembrar que o Brasil abriga quase 50 milhões de geladeiras. A situação já foi pior, uma vez que, do final da década de 1980 para cá, houve uma redução no gasto de energia de cerca de 60%. Mas é preciso fazer ainda mais. Os passos, às vezes lentos, são dados dentro de laboratórios com nomes estranhos, tais como laboratório de escoamentos multifásicos, de evaporadores ou de trocadores de calor. Mas todo esforço compensa porque os resultados surtem efeito em larga escala. Imagine a economia que a redução de 1% no consumo energético dos compressores pode trazer.

A trinca dos principais desafios para o futuro dos compressores se fecha com a poluição - no caso, na busca da sua redução. Os gases empregados pela indústria, chamados fluidos refrigerantes halogenados (os famosos CFC, HCFC e HFC), contribuem grandemente para o efeito estufa e, conseqüentemente, para o aquecimento global. Para ter uma idéia, um grama de R134a (fluido a base de CFC) é 1, 3 mil vezes mais nocivo, do ponto de vista de aquecimento do planeta, do que um grama de dióxido de carbono, o CO2 (considerando- se um período de cem anos). Por isso, pesquisadores se dedicam a desenvolver um novo modelo que funcione à base de CO2. Aqui há um detalhe a observar. Um sistema de refrigeração pode contribuir para o efeito estufa de duas formas, lembra Campos. "A primeira delas é o que chamamos de efeito direto, que está relacionado com o vazamento de gás. O segundo, que chamamos de efeito indireto, está ligado ao alto consumo de energia. "Na maioria das aplicações, lembra o diretor, o efeito direto tem um peso de 5% ante 95% do efeito indireto. Portanto, ambientalmente falando, é tão importante substituir o R134a pelo CO2 quanto reduzir a quantidade de energia usada. Felizmente, ambos os objetivos estão sendo alcançados.

melhorespraticas9_52Cerca de 80 pessoas trabalham nos laboratórios da Embraco dentro da Universidade Federal de Santa Catarina

Campos lembra que na sétima edição da conferência IIR Gustav Lorentzen sobre Fluidos Naturais, que ocorreu em Trondheim, na Noruega, em maio deste ano, pôde- se "observar que a tecnologia CO2 é viável, e que a Embraco é referência e líder também em compressores para CO2". Já em junho de 2004 o grupo Refrigerants Naturally, formado por Coca-Cola, Unilever e McDonalds, fez um anúncio público no qual se dizia comprometido com um futuro livre de HFC. Vários foram os desdobramentos dessa decisão e atualmente fabricantes de sistemas em diferentes pontos da Europa e da Ásia estão testando e obtendo bons resultados com amostras de compressores à base de CO2, completa o diretor.

A Embraco destina 3% de seu faturamento ao desenvolvimento tecnológico, e cerca de 40% dos funcionários dessa área são ex-alunos da Universidade Federal de Santa Catarina

Os Estados Unidos são os maiores emissores de gases poluentes na atmosfera, especialmente de clorofluorcarbono (CFC). Como metade das geladeiras norte-americanas opera com compressores da Embraco, a solução para essa desconfortável posição pode vir no segundo bimestre do ano que vem, quando a empresa deverá lançar uma linha com compressores à base de CO2.

Resultados Os óculos não disfarçam o olhar atento. De olho na tela do computador, o estudante Lucas Abdala, formando do curso de Engenharia Mecânica da UFSC, explica de outro ângulo as vantagens da parceria. "É o primeiro contato que a maioria dos alunos vai ter com o mercado de trabalho. Sem dúvida, oportunidades como essa abrem muitas portas", diz, sem desviar a atenção do trabalho, que bate na casa das vinte horas semanais. O rapaz sabe do que está falando. Há cerca de um ano, conseguiu um estágio na fábrica da Renault, em Paris, na França. "Não são todos que têm vocação para a pesquisa, muitos saem daqui e vão direto para as empresas. O que a gente percebe é que há espaço para quem deseja continuar na pós-graduação", dá a dica. O recado ilustra bem porque os benefícios de uma parceria como essa não ficam limitados aos interesses dos envolvidos. Os alunos podem tanto se dedicar à pesquisa em outras instituições de ensino como até mesmo montar o próprio negócio.

melhorespraticas10_52As pesquisas, realizadas em conjunto, geraram a orientação de 65 dissertações de mestrado e 15 de doutorado

A liderança da Embraco no setor explica por que não é de hoje que ela se preocupa com pesquisa e desenvolvimento (P&D). Afinal, investe cerca de 3% do faturamento líquido anual na área, o que resulta na atividade de 400 profissionais espalhados por 37 laboratórios ao redor do mundo. A formação de mão-de-obra especializada não é das mais simples, e cerca de 40% dos funcionários de P&D da Embraco passaram pelas salas de aula da UFSC. Os professores do Pólo exibem com orgulho a parede onde há uma espécie de hall da fama na qual estão afixadas as placas que celebram os títulos de mestres e doutores de alunos do Pólo. É a prova irrefutável do trabalho que segue ininterrupto desde 1982. "Hoje, desenvolvemos parte de um conhecimento que nem sequer existe na literatura. Estamos na vanguarda", lembra o professor do departamento de Engenharia Mecânica da UFSC, César J. Deschamps.

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Não se sabe bem ao certo quando as idéias futuristas vão saltar da imaginação para a realidade, mas muita coisa nova já está a caminho. Os microcompressores permitem o que se chama de modularização do frio, ou seja, será possível "levá-lo"para onde quiser com uma facilidade nunca antes vista. Um dia pacientes com problemas de circulação no pescoço vão aposentar as incômodas bolsas de gelo, esportistas poderão ter sua água gelada durante longas caminhadas - as possibilidades são enormes. Só uma coisa que não pára de atiçar a imaginação de cientistas e consumidores não deve surgir tão cedo:o microondas ao contrário. Joaquim Manoel Gonçalves, pesquisador do Pólo, não faz rodeios ao falar da dificuldade em construí-lo. "A gente avança aqui e ali todos os dias, mas não é o caso. Seria preciso uma verdadeira revolução, a descoberta de um fenômeno novo, para construir algo do gênero. "Hoje, uma geladeira convencional leva cerca de dez minutos para produzir gelo - o que, convenhamos, é quase um milagre em terras tropicais como as nossas. Realizar a façanha em poucos segundos é um sonho que quem sabe um dia possa sair do papel. O que não faltam são cabeças dedicadas a isso.

 
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