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Remédio para tudo - Com acesso ao patrimônio genético nacional, a Extracta investe num novo antibiótico

2007 . Ano 4 . Edição 33 - 10/4/2007

Por Gustavo de Paula, do Rio de Janeiro, RJ

 

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O Brasil é dono da maior biodiversidade do planeta. Dos quase 2 milhões de espécies catalogadas pela ciência, estima-se que 15% habitem o território brasileiro. Pesquisadores acreditam também que 70% das plantas existentes no mundo podem ser encontradas aqui. O número de espécies com sementes no país gira em torno de 60 mil, o equivalente a 22% do total já descoberto pelo homem. Até pouco tempo atrás, no entanto, o Brasil ainda não havia encontrado uma maneira de agregar valor a seu riquíssimo patrimônio genético, transformando- o em instrumento concreto para o desenvolvimento econômico e social, sem prejuízo para o meio ambiente. Nossa gigantesca biodiversidade estava sob o risco de transformar-se num troféu guardado na estante. Mas a ousadia de uma pequena empresa carioca vem mudando os rumos da biotecnologia nacional e abrindo caminho para a produção de fármacos baseados na natureza brasileira.

Fundada em 1998, por um grupo de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Extracta Moléculas Naturais foi a primeira empresa privada a obter uma licença especial do Ministério do Meio Ambiente para acessar o patrimônio genético brasileiro e constituir uma coleção comercial de amostras da biodiversidade do país. A autorização do Conselho de Patrimônio Genético (CGEN) foi concedida em junho de 2004. A trajetória de pioneirismo da empresa, porém, começou cinco anos antes. Em 1999, a Extracta conseguiu firmar com a então Glaxo Wellcome um contrato de 3, 2 milhões de dólares, na época o maior acordo de terceirização tecnológica ao sul da Linha do Equador. O interesse da multinacional era fazer com que um grande número de elementos naturais extraídos da flora brasileira fosse testado contra alvos biológicos específicos, possibilitando a identificação de novas drogas. Cabe lembrar que a Medida Provisória (MP) 2. 186, que instituiu o CGEN e regulamentou o acesso e a utilização do patrimônio genético, foi editada apenas em agosto de 2001.

Passados três anos da assinatura do contrato, a Extracta havia isolado dez compostos puros para a Glaxo. A multinacional, no entanto, não quis exercer a opção contratual de licença exclusiva para comercialização. O acordo foi encerrado em 2003. "Nós determinamos sete inibidores de elastase, uma enzima cujo distúrbio é responsável por doenças pulmonares crônicas, e três produtos antibióticos contra infecções hospitalares de Staphylococcus aureus resistente à meticilina. Durante o trabalho, porém, ocorreu a fusão com a Smith Kline, e a Glaxo mudou sua política de desenvolvimento científico, direcionando o foco para a engenharia genética. Com isso, a multinacional decidiu não prosseguir com o projeto e assinou um destrato nos doando todos os resultados", conta Antonio Paes de Carvalho, presidente da Extracta.


Para realizar os novos estudos na Amazônia, a Extracta terá de ampliar a parceria com a UFPA, em Belém, onde já construiu uma central de extração semelhante à do Rio

Substâncias Os resultados a que se refere o cientista são os dez compostos puros já mencionados, 14 adicionais, além de 10. 608 extratos alcoólicos e 29. 847 frações, totalizando 40. 479 substâncias prontas para serem testadas contra qualquer alvo biológico. É a maior e mais detalhadamente registrada coleção de produtos naturais da América Latina. Mantido em segredo industrial, esse material compõe o banco de biodiversidade química, que é a alma da empresa.

A existência física desse banco se traduz na câmara fria. É nela que as substâncias ficam armazenadas a menos de 30º C. "O acordo com a Glaxo foi fundamental para a estruturação da companhia. Só o maquinário de última geração que utilizamos custa 1, 5 milhão de dólares. Para ter idéia, nós montamos a primeira instalação industrial brasileira capacitada a executar as tecnologias de triagem biológica de alta velocidade. Sem falar que, para operar plenamente, a empresa precisa empregar de trinta a quarenta profissionais finamente treinados, desde doutores e mestres até técnicos de nível médio, com salários que oscilam entre 2 mil e 10 mil reais. "Acima de tudo, o contrato permitiu a constituição da base para o desenvolvimento dos nossos produtos de entrada no mercado. Atualmente, nosso capital gira em torno de 9 milhões de reais. Triplicamos o capital inicial", afirma Carvalho, que também é fundador da Associação Brasileira das Empresas de Biotecnologia (Abrabi).

Antibiótico Criada para atender às grandes indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais, a Extracta aposta hoje na produção de um antibiótico para infecções de pele. "Estamos investindo dinheiro da empresa para levar o produto até a fase de testes clínicos e comprovar sua eficácia. Assim, conseguiremos vender a licença à indústria farmacêutica, que ficará responsável pelo investimento final. A expectativa é que o medicamento chegue às prateleiras das farmácias em dois ou três anos. Acredito que podemos fazer um antibiótico mais barato e melhor do que os existentes hoje no mercado", diz o presidente da Extracta.

Com o medicamento, a estratégia da empresa é abrir caminho para o desenvolvimento de antibióticos contra infecções hospitalares. Por trás dos três compostos puros isolados contra o Staphylococcus aureus, estão 49 plantas antibióticas. Desse grupo, a Extracta identificou quinze com nível de atividade biológica muito próximo à vancomicina, uma substância pura trabalhada há anos pela indústria farmacêutica e bastante utilizada no tratamento de infecções hospitalares. A empresa acredita que essas plantas são ótimas candidatas a fitoterápicos, para a venda no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.

As perspectivas são muito boas. A Extracta está prestes a assinar um contrato intermediário de 250 mil dólares com uma empresa nacional, cujo nome não pôde ser revelado, que vai financiar a implantação de um grande banco de biodiversidade química no Pará. O projeto prevê o georeferenciamento de toda a bacia amazônica. O objetivo é entender sua dinâmica, analisando desde a queda das chuvas e as mudanças de temperatura até a vazão dos rios e o impacto disso tudo nas florestas ao redor. A previsão é que, após oito meses de trabalho, as duas empresas assinem um contrato maior, de 2 milhões de dólares. "O segundo contrato nos permitirá prosseguir com o trabalho de bioprospecção, o que resultará em definir que certas plantas têm muita utilidade no tratamento de determinadas doenças e que precisam ser cultivadas localmente. Vamos aproveitar esse cultivo para produzir extratos, uma atividade muito mais avançada do que derrubar árvores. As comunidades que receberem esse aporte de tecnologia vão vender o produto para uma cadeia de agregação de valor industrial até os grandes mercados, possibilitando o retorno de benefícios. Nós queremos que, junto com os produtos, sejam aproveitados os intelectos humanos escondidos no meio da floresta. No desenvolvimento local, o que importa não é só o fluxo de ida e volta de recursos financeiros e materiais, mas de gente. É preciso abrir oportunidades", explica Carvalho.

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 Câmara fria onde fica o maior banco de produtos naturais da América Latina (ao alto, à esquerda). António Paes de Carvalho, presidente da Extracta (ao alto, à direita). Laboratório da empresa, com equipamentos de triagem biológica de alta velocidade (acima)

Quase metade das cem drogas mais vendidas no mundo foi criada com base em compostos naturais. E cerca de 30% dos medicamentos, também 

Ampliação Para realizar os novos estudos na Amazônia, a Extracta terá de ampliar a parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Durante o contrato com a Glaxo, a empresa carioca construiu uma central de extração no campus da UFPA, nos moldes da que mantinha no Rio de Janeiro. "Nós montamos e equipamos o prédio, transferimos a tecnologia e sustentamos a equipe básica, formada por quatro cientistas e seis técnicos, todos eles contratados. "Na época, o gasto girou em torno de 600 mil reais. "Para eles, foi um grande avanço. Antes do nosso investimento, o departamento de química da universidade contava com 17 doutores, mas enfrentava sérias dificuldades para manter suas pesquisas. A estrutura que existia para a produção de extratos era 1 metro quadrado de bancada, onde se fazia apenas algo amostral para ensinar aos alunos. Diante do grande desperdício de capacidade intelectual, nós nos propusemos a doar a estrutura necessária para a realização de um trabalho em escala industrial, atendendo ao contrato com a Glaxo. Assim, eles também poderiam absorver esse conhecimento e dar melhor formação a seus alunos", lembra Carvalho.

Transferência Nessa nova etapa de trabalho da Extracta, a equipe da UFPA receberá uma câmara fria e novos equipamentos. É possível que parte importante do maquinário da empresa no Rio seja levada ao Pará, possibilitando a transferência da tecnologia avançada de robotização. "Será ótimo poder retomar as atividades. A parceria com a Extracta foi fundamental em termos de instalações físicas, treinamento de pessoal e transferência de tecnologia. É extremamente positivo para a universidade trocar idéias e experiências com o setor produtivo. Essa relação beneficia muito a realização de pesquisas. Sem falar que nós ousamos realizar um trabalho que ninguém fazia. Isso chamou muito a atenção da comunidade científica e trouxe grande visibilidade para nós", afirma o doutor em química orgânica Alberto Cardoso Arruda, coordenador da Central de Extração do Departamento de Química da UFPA.

A Extracta está às voltas também com o projeto de construção da nova sede. No ano passado, a companhia decidiu reorganizar os negócios e vender seus 700 metros quadrados de laboratórios químicos e biológicos instalados no Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro, que fica dentro do campus da UFRJ na Ilha do Fundão. "Nós vamos construir um prédio refinado, com cerca de 1. 000 metros quadrados de laboratórios e outros 1. 000 de instalações acessórias, como a central de extração. Teremos cerca de trinta funcionários fixos, mas com estrutura para abrigar até cem profissionais. A nova sede deverá custar não menos do que 400 mil dólares, além de 2 milhões de dólares em equipamentos. Estamos falando em 2, 4 milhões de investimento de sócios. Não podemos fazer isso por conta própria, pois não sabemos a velocidade com que os contratos vão entrar depois disso", conta o presidente da empresa. A composição de parceiros ainda está sendo feita, e existe a possibilidade de a Extracta deixar a Ilha do Fundão para ser remontada em Jacarepaguá, onde há um número apreciável de indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais.

melhorespraticas3_544Exemplar de bromeliácea, planta que se mostrou ativa contra vários mecanismos de doenças (acima). Coletor da Extracta pesando amostras de vegetação extraída da mata (ao centro). Técnico prepara amostra para controle de qualidade dos extratos.

PotencialO potencial da Extracta é enorme. Basta lembrar que quase metade das cem drogas mais vendidas no mundo foi criada com base em compostos naturais. E que cerca de 30% dos medicamentos têm como princípio ativo elementos retirados da natureza. Isso porque apenas 5% da flora mundial já foi analisada para identificar seu valor farmacológico potencial. No Brasil, a ciência conhece menos de 1, 5 mil espécies vegetais bioativas. Não por acaso, a Extracta observou que só 10% das plantas utilizadas na produção dos 680 extratos ativos estudados por ela eram conhecidas como medicamentosas.

Mas a empresa não precisou realizar estudos em laboratório para constatar que a biodiversidade brasileira ainda esconde muitos segredos. Para executar o contrato com a Glaxo, a Extracta teve de realizar a coleta de espécies vegetais. Ao todo, foram realizadas 195 expedições em seis estados: Rio de janeiro (100), Pará (58), Minas Gerais (10), Espírito Santo (2), São Paulo (2) e Paraná (1). As equipes lideradas por ecologistas, botânicos e engenheiros florestais percorreram cerca de 10 mil quilômetros quadrados de Mata Atlântica e Floresta Amazônica. Exemplares de mais de 5 mil espécies de plantas foram coletados para análise. "Nós deparamos com diversas espécies que nunca haviam sido identificadas ou das quais não existiam registros nos dois biomas que exploramos", afirma Carvalho.

O biólogo e ecologista Flávio de Brito Pereira, que liderou 57 expedições da Extracta na Mata Atlântica, lamenta que só restem hoje cerca de 7% da área original da floresta. "É impressionante a riqueza da em composto s n a t u rais. E cerca de 30% dos medicamentos, também Mata Atlântica. Só no Rio de Janeiro, eu achei três espécies novas sem procurar muito. A experiência que mais me marcou, no entanto, foi uma expedição que fizemos a São Pedro dos Ferros, em Minas Gerais, durante a primavera. Lembro que a equipe coletou mais de quinhentas amostras de plantas, quando a média é vinte amostras", conta ele.

Surpresas As expedições, porém, não revelaram apenas boas surpresas para a Extracta. A empresa constatou que 70% das propriedades de Mata Atlântica e 95% dos terrenos na Amazônia não têm propriedade documental estabelecida. Esse quadro impõe dificuldades ao trabalho de bioprospecção no Brasil. O CGEN só concede a licença a essa atividade mediante a apresentação de contrato de repartição de benefícios com o proprietário, que precisa possuir o título da propriedade ou a certidão de posse mansa e pacífica. É necessário apresentar também um documento de anuência prévia testemunhando que aquele que preservou o patrimônio genético foi devidamente esclarecido a respeito do contrato e seus objetivos.

O diretor de patrimônio genético do Ministério do Meio Ambiente, Eduardo Vélez, admite a necessidade de mudanças na MP 2. 186. "Nós somos testemunha das dificuldades enfrentadas pela Extracta, uma empresa cujo pioneirismo tem de ser destacado. Mas estamos trabalhando para tornar a legislação mais ágil. Já apresentamos à Casa Civil um projeto de lei abolindo o sistema contratual. Hoje, o grande problema é que toda a cadeia do processo tem de se regularizar, quando o que interessa para nós é só o início e o fim, ou seja, o patrimônio genético brasileiro e o produto comercial", afirma Vélez.

A proposta do Ministério do Meio Ambiente é criar um fundo federal para financiar a realização de pesquisas e a conservação do patrimônio genético. A instituição acessaria um sistema eletrônico e cadastraria o produto e o fim pretendido. A licença seria automática, e a empresa teria apenas que informar o andamento do processo. Não haveria mais a necessidade de firmar contrato com os proprietários de terra. O dinheiro do fundo viria da tributação sobre os lucros gerados com a patente de um produto. "Além do projeto de lei, estamos propondo uma medida provisória, que já deveria ter sido publicada, para excluir as instituições da obrigação de ter de apresentar todos os contratos de repartição de benefícios. A empresa só teria de apresentar o contrato caso a atividade de bioprospecção resultasse num produto comercial. Dessa forma, bastaria a anuência do proprietário. Temos de criar condições para a promoção da biotecnologia e do uso sustentável da biodiversidade. Não podemos exportar só frutas", conclui Vélez.

Mas, para melhorar o nível de inovação da nossa indústria e conseqüentemente das nossas exportações, é preciso que um número maior de empreendedores confie no potencial brasileiro, explore o campo à frente e volte com a recompensa do pioneirismo.

 
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