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Um piano pela estrada - Músico leva sua arte refinada pelos caminhos poeirentos dos confins do país

2007 . Ano 4 . Edição 35 - 10/9/2007

Jorge Luiz de Souza, de São Paulo

Ele bem poderia continuar morando na Europa, tocando apenas nas salas de melhor acústica e usufruindo o grande sucesso internacional de vendas que conheceu quando ainda era muito jovem, após gravar toda a obra pianística do compositor polonês Frédéric Chopin. Mas, aos 67 anos, o pianista clássico Arthur Moreira Lima passa a maior parte do seu tempo viajando pelas empoeiradas estradas do interior do país com seu comboio que inclui dois enormes caminhões, um deles servindo como palco. O maestro desafia a má conservação da malha rodoviária levando um piano Steinway & Sons com cauda de 2 metros e 11 centímetros, um instrumento perfeito e com tamanho adequado para os salões de concerto de menor porte. "É um piano grande, muito bem amplificado, responde bem", assegura ele. E leva outro piano Steinway & Sons de reserva (já aconteceu de o instrumento titular não resistir aos sacolejos do caminhão) e mais um pequeno para estudar - ele faz questão de se exercitar todos os dias."Tenho que estar em forma.Quando se fica mais velho é mais importante ter que ficar movimentando os dedos."

João Pedro Borges, violonista clássico e popular, que tocou com o pianista no dia 8 de setembro deste ano, em São Luis, Maranhão, diz que tudo aquilo que o compositor Heitor Villa-Lobos recolheu da musicalidade do povo brasileiro em suas viagens de pesquisa sobre os cantos populares e indígenas, o maestro Arthur Moreira Lima está devolvendo agora. Já são mais de 200 cidades,número completado no dia 14 de setembro, em Alcântara, no Maranhão, e serão 205 ao encerrar o circuito deste ano dia 30 de setembro, no Rio de Janeiro.

Com medo de estar exagerando, o maestro calcula que nesses cinco anos com o caminhão-palco pode ter tocado para 1 milhão de pessoas. Mas não é exagero.Vários concertos atraíram mais de 10 mil pessoas, e já houve casos de reunir quase a população inteira de uma cidade, pelo poder de atração sobre municípios vizinhos."Meu projeto musical está voltado para o espetáculo, para o social, para o público.A gente passa alguns meses viajando e o resto preparando a próxima viagem. Nesse ínterim eu dou um concerto aqui, outro acolá, mas eu vivo em função desse negócio aqui no Brasil. A minha vida é isto agora. Estou focado nisto", afirma.

INSPIRAÇÃO Um projeto desse tipo só teve precedente com o cantor popular Luiz Gonzaga, que nos anos 1950 viajava pelo interior com um caminhão que, sem adaptação nenhuma, era usado como palco.Moreira Lima conta que a idéia de construir um palco móvel para apresentações em cidades do interior surgiu quando ele era subsecretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, na gestão Leonel Brizola, com Darcy Ribeiro como titular da secretaria."Eu era encarregado do interior e planejei uma série de concertos com apoio das prefeituras.Via aqueles palco que se montam e desmontam, que são muito feios e também pouco práticos, além de custar muito dinheiro para as prefeituras, utilizar muita mão-de-obra, dois dias para montar, e depois do show ficam lá dois ou três para desmontar. Eu queria uma coisa mais dinâmica."

Resolveu comprar um caminhão com dinheiro do próprio bolso e mandou instalar um baú adaptado para funcionar como palco."Comprei logo o melhor que havia, um Scania,porque tem suspensão a ar, e aí o piano sofre muito menos",diz.O veículo ficou pronto em setembro de 2001 "e só fui botar o pé na estrada para valer,no primeiro circuito, pelo rio São Francisco, em 2003. Fiquei dois anos parado, eu pagando o seguro, e só toquei em três ou quatro concertos,do tipo concerto número zero.O público gostou,mas eu tinha que encontrar patrocínio,e aí tive algumas dificuldades", conta o músico.

O problema era encontrar o formato certo para o projeto."Eu fui vendo que,para dar certo, tem que ter um circuito, tem que ter um tema,até para atrair patrocinadores. No início, cheguei a pensar que podia ficar à disposição, fazer um anúncio e quem quisesse um concerto que chamasse o caminhão. Depois vi que não era assim. Tem que saber vender a idéia. Eu custei a entender", reconhece. "O caminhão-baú ficou muito bom, mas do ponto de vista estético faltava muita coisa, eu tive que mandar decorar", acrescenta, explicando que até hoje faz constantes aprimoramentos no seu equipamento móvel.

BEIRA-RIO O primeiro ano do projeto, em 2003,se chamou "São Francisco - Um Rio de Música", e foram visitadas 12 cidades que margeiam o rio São Francisco. No ano seguinte, ele utilizou o caminhãopalco para várias excursões curtas: São Paulo - 450 Anos;Companhia Telefônica do Brasil Central (CTBC) - 50 anos;Embratel 21; e Light - 100 Anos, esta já em 2005. No restante de 2005 e no decorrer de 2006, o maestro fez seu segundo grande circuito, que se chamou "Um Piano pela Estrada - Nos Caminhos da Fronteira" e alcançou 35 cidades localizadas ao longo dos limites terrestres do país, do Chuí (RS) a Xapuri (AC).

Este ano, são 57 cidades, visitadas desde o início de maio até o final de setembro - um roteiro tão longo que precisou ser dividido em três etapas e, além disso,abrir brechas para rápidas fugas do pianista, para apresentações como a do dia 7 de setembro, ao ar livre, em Brasília, nas festividades pelos 185 anos de independência do Brasil, com o Concerto n° 1 para piano e orquestra de P. I. Tchaikovsky, com Moreira Lima como solista, acompanhado da Orquestra Sinfônica Nacional da Universidade Federal Fluminense (OSN/UFF).

Desta vez, o projeto se chama "Um Piano pela Estrada - Nos Caminhos de JK". São 21 cidades do Maranhão,dez de Minas Gerais,dez cidades-satélites do Distrito Federal, seis de Goiás, seis de Tocantins, três do Pará e o encerramento no Rio de Janeiro. Vai continuar" "Ah,sim,claro!", responde prontamente."No ano que vem,vamos descer pelo Nordeste, ainda há cidades do Tocantins em que não fomos, há muitos lugares de Minas Gerais que ainda falta fazer, quero voltar a Goiás,percorrer o Sul..."

POLIVALÊNCIA O segundo caminhão é um Volvo, comprado em 2004, e leva equipamentos de som equivalentes aos de um trio elétrico, luzes e um telão."Antigamente, eu tinha um caminhão pequeno de apoio, mas ele não acompanhava direito e atrasava o comboio. Chegamos a fazer até dois concertos no mesmo dia em cidades diferentes, e as estradas nem sempre são boas", diz o maestro.Os técnicos de som e luz acompanham todo o roteiro. "São pessoas dedicadas, cada um faz um pouco de tudo", elogia o maestro. E realmente todos acumulam funções. Por exemplo, Carlos Gustavo Kersten é um exímio afinador de piano,que,em cada cidade que chegam, deixa o instrumento montado e afinado em uma hora, mas é também o fotógrafo oficial do projeto (são deles as fotografias que ilustram esta reportagem).

E sobre seu companheiro nº 1 de viagem, o maestro fala com especial carinho. "Esse instrumento que eu estou usando aqui foi meu primeiro piano de grande qualidade, que comprei em 1971, quando ia me mudar de Moscou para Viena.Foi o piano em que estudei durante muitos anos,quando eu morava na Europa.Felizmente, hoje eu tenho uma porção de pianos, e desde o ano passado ele passou a ser o titular do caminhão.Agora ele está realmente cumprindo uma função nobre."

O comboio do maestro é composto por um caminhão-teatro Scania, ano 2001, versão 260 94, com o baú adaptado para teatro móvel pela empresa Carroçarias Argi,de Jaraguá do Sul (SC),que se transforma em palco em apenas uma hora,com 45m2 de área de cena; um caminhão de apoio Volvo, ano 2004, versão VM 23 240, para transporte de três pianos, equipamentos de som, luz e telão; um micro ônibus Renault Master para transporte de parte da equipe; uma van Renault Master para carga; um veículo de passeio Renault, para transporte do artista.

INTERNACIONALIZAÇÃO Moreira Lima é carioca, torcedor fanático do Fluminense Futebol Clube e alcançou a fama internacional em 1965,ao ganhar o segundo lugar no 7º Concurso Chopin, em Varsóvia, na Polônia, e ser aplaudido durante 20 minutos. Estudava piano desde os 6 anos de idade, e aos 8 já se apresentava na Associação Brasileira de Imprensa. Com 9 anos, fez seu primeiro concerto profissional, no Teatro da Paz,em Belém do Pará, e ganhou o concurso para jovens solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira.Voltou a ganhar esse concurso dois anos depois. Foi aluno da professora Lúcia Branco,que tinha na mesma época outro aluno que ficou famoso:Antonio Carlos Jobim.

Foi estudar por três anos com Marguerite Long em Paris, em 1959, e em 1963 ganhou uma bolsa para o Conservatório Tchaikovsky, em Moscou, onde estudou por cinco anos,mas ficou mais três na cidade, fazendo pós-graduação e sendo assistente de cátedra de Rodolf Kehrer.Moreira Lima laureou-se também no Concurso de Leeds,na Inglaterra,e no Concurso Tchaikovsky, em Moscou. Foi o intérprete na primeira audição mundial do Concerto nº 1 de Heitor Villa-Lobos no Japão, Rússia, Áustria e Alemanha, e o gravou com a Orquestra da Rádio de Moscou.Desde então, tem feito turnês em todos os continentes e lotando salas de concertos do mundo.

Moreira Lima já gravou nos Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, Japão, Suíça, Bulgária e Polônia. No repertório: J. S. Bach,L.van Beethoven e W.Mozart (as sonatas), Chopin (integral da obra para piano e orquestra com a Filarmônica de Sofia, todos os noturnos,Polonaises, valsas,prelúdios e scherzi). Gravou ainda uma antologia da obra pianística de Villa-Lobos (em três volumes),de Radamés Gnattali e de P. I. Tchaikovsky, assim como os grandes concertos para piano e orquestra (S. Rachmaninov,Tchaikovsky e Mozart) com grandes formações sinfônicas européias, como as orquestras da Rádio da Polônia,da Rádio de Moscou e de Câmara de Moscou.

Conseguiu importantes prêmios internacionais e tornou-se um dos campeões de venda de música erudita no Japão. E o álbum "Chopin Favourites", gravado para a Nippon Columbia, continua até hoje um dos mais vendidos da gravadora japonesa.

Voltando para o Brasil depois de quase 20 anos na Europa, tornou-se o maior vendedor de música instrumental no país ao reviver a obra de Ernesto Nazareth,com um álbum incluído na lista das melhores gravações do ano pela Stereo Review Magazine, dos Estados Unidos. Seu disco reunindo as "Valsas de Esquina", de Francisco Mignone, é considerado um clássico.A crítica especializada o elogiou dizendo que ele deu uma nova dimensão às valsas, e o próprio Mignone afirmou ter apreciado na interpretação de Moreira Lima a contribuição pessoal do intérprete.

Nos anos 1980,nova experiência heterodoxa. O álbum "ConSertão" e uma série de apresentações por todo o país num quarteto formado com o cantor e violeiro Elomar, o saxofonista Paulo Moura e o violonista Heraldo do Monte.Gravou também com o cantor seresteiro Nelson Gonçalves.Foi também dele a primeira gravação de Brazílio Itiberê,o mais importante autor nascido no Paraná e que, até 1955, permanecia praticamente inédito e desconhecido.Em 1996,apresentou onze álbuns com peças dos principais compositores brasileiros, incluindo um registro histórico: ele tocando sob regência de Radamés Gnattali.Por seu trabalho discográfico no Brasil, recebeu por duas vezes consecutivas o Prêmio Sharp (em 1989 e 1990).

Em 1997,começou a dedicar-se à gravação das transcrições para piano que ele mesmo fez das obras do compositor argentino Astor Piazzolla.Lançado internacionalmentepelo selo Olympia em 1999,o álbum foi considerado na França como "Disco do Mês" pela revista Répertoire,e,na Suíça,pela revista Tipptopp.A revista Gramophone,na Inglaterra, escreveu que Moreira Lima "captou magicamente a fantasia e grandiosidade da música", e a BBC Music Magazine publicou que ele " é um marcante e eloqüente campeão de Piazzolla.Este CD certamente irá converter os céticos".

NA MANGUEIRA Num curto texto biográfico sobre Moreira Lima, o jornalista Eric Nepomuceno escreveu que "com a mesma concentração,o mesmo empenho e o mesmo preparo com que se apresentou no Lincoln Center,de Nova York,apresentouse na garagem de ônibus da favela da Rocinha,no Rio de Janeiro.Ele é capaz de armar o mesmo repertório, indo de Chopin a Pixinguinha, em qualquer palco do mundo, não importa se o público está pagando dezenas de dólares ou assistindo de graça. Tanto vale a gravata do Municipal como o bermudão da Rocinha. Pode ser um teatro elegante de Recife, pode ser a quadra da Escola de Samba Mangueira. Trata-se, para ele, de respeitar o público sempre com idêntica reverência".

Diz ainda o jornalista que "ele já se apresentou com as filarmônicas de Leningrado, Moscou e Varsóvia, com as sinfônicas de Viena,Berlim e Praga.Já tocou sob a regência de Jesus Lopes-Cobos,Mariss Jansons,Vladimir Fedosseyev e Sir Charles Groves.Teve sua gravação das obras completas de Chopin considerada pela crítica norte-americana como "o mais importante registro pianístico do ano".O crítico Dominic Gill,do Financial Times de Londres, considerado um dos mais rigorosos da Europa, escreveu que "Moreira Lima sabe tudo sobre o piano romântico,fazendo seu instrumento falar".Já passou por tudo isso e por muito mais.Guarda,porém, com especial carinho a lembrança da revista suíça que afirma que ele era "o Pelé do piano".

Entre as orquestras e os regentes famosos com quem já se apresentou, estão as filarmônicas de Leningrado, Moscou e Varsóvia, as sinfônicas de Berlim,Viena, Praga,BBC de Londres,National da França, sob a direção de Kurt Sanderling,KiriIl Kondrashin, Mariss Jansons, Serge Baudo, Jesus Lopez-Cobos, Sir Charles Groves,Vladimir Fedosseyev,Rudolf Barshai, entre outros.A revista Caras lançou em 1998 e 1999 uma coletânea de 41 CDs na qual Moreira Lima interpreta de J. S. Bach a Bela Bartok, incluindo compositores brasileiros como Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Nazareth.No total, mais de cem compositores europeus,americanos e brasileiros,clássicos e populares.

 
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