2009 . Ano 6 . Edição 49 - 06/04/2009
Por Pedro Henrique Barreto, de Brasília
Fundado em 1967, o Movimento de Organização Comunitária de Feira de Santana (BA) foi premiado pelo governo federal pelo projeto Mãos que Trabalham, que conseguiu gerar emprego e renda em três municípios da região. Artesanato é um dos carros-chefe da iniciativa
Os braços tão acostumados ao trabalho doméstico e às tarefas de plantio, colheita e produção agora se erguem para levantar a recompensa. O projeto baiano Mãos que Trabalham foi premiado pelo governo federal como uma das melhores práticas que contribuem para que o País alcance os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
A entrega do prêmio aconteceu no Palácio do Planalto, em Brasília. O Mãos que Trabalham concorreu com mais de 1.100 práticas, que foram avaliadas segundo critérios como caráter inovador, referência para outras ações, perspectiva de continuidade, participação da comunidade e qualidade dos serviços prestados. O Prêmio ODM foi lançado em 2004 e, em sua última edição, foi entregue a 12 iniciativas da sociedade civil e a oito de prefeituras.
O Mãos que Trabalham faz parte do Movimento de Organização Comunitária (MOC), que existe desde 1967 e é sediado em Feira de Santana (BA).
O projeto nasceu em 2006 a partir de uma pesquisa que diagnosticou um dos principais desafios das mulheres da região: encontrar alternativas para a geração de renda. Por uma seleção pública da Petrobras, os idealizadores conseguiram patrocínio para iniciar a organização e capacitação das mulheres em grupos produtivos, distribuídos em três regiões da Bahia: Portal do Sertão, Território do Sisal e Bacia do Jacuípe.
Ao todo, foram estruturados 25 grupos, com cerca de 300 produtoras, em dez municípios. Eles contaram com o apoio do MOC, do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Semiárido Baiano e da Rede de Produtoras da Bahia. "Os eixos de trabalho envolveram oficinas de capacitação para produção, gestão e comercialização. Crescemos pouco a pouco e hoje vemos a importância desse trabalho para as comunidades locais", conta Lorena Cruz, que foi uma das coordenadoras do Mãos que Trabalham e é técnica do MOC há sete anos.
DIREITOS Paralelamente, as mulheres também participaram de encontros de formação política. "Foi passo significante para a atuação em fóruns, conselhos e espaços de discussão. Assim, podemos lutar melhor por nossos direitos e fazer com que políticas públicas sejam criadas para o semiárido baiano", explica Lorena.
No município de Santaluz, comunidade de Miranda, a pouco mais de 250 km de Salvador, a vida nunca foi fácil. Assim como na maioria dos pequenos municípios brasileiros, dificuldades de emprego e renda acompanham a rotina diária da maioria dos habitantes. Mas a integração e a confiança trazidas pelo Mãos que Trabalham começaram a mudar essa realidade para um grupo de mulheres.
Em agosto de 2004, nascia o Mulheres de Fibra. Eram apenas cinco integrantes, que utilizavam a fibra do sisal da região para fabricar artesanato, como bolsas e tapetes. Elas encontravam obstáculos para melhorar e comercializar a produção. A partir do apoio do Mãos que Trabalham, o grupo se fortaleceu, cresceu e fez deslanchar o trabalho.
O artesanato hoje é vendido não só no município, mas também em feiras estaduais, nacionais e até no exterior. Em 2008, chegou até um evento no Chile. Já são 20 mulheres, que diversificaram a produção: desde 2007, atuam também com culinária e agricultura agroecológica. Vendem produtos como bolo e sequilho para a Conab, responsável pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal.
O Mulheres de Fibra tem uma sede própria, com cozinha equipada e quintal para plantio. "Levantamos a nossa autoestima, aumentamos nossa renda e conseguimos visibilidade para o município. É um projeto fantástico, que mudou a nossa vida", afirma Valmira Lopes de Souza, participante e uma das coordenadoras do grupo. Ela também é secretária da Rede de Produtoras da Bahia, que hoje conta com 50 empreendimentos. Recentemente, este e outros grupos criaram o Fórum de Mulheres do Semiárido Baiano. A proposta é discutir com setores municipais, estaduais e federais a captação de recursos para o desenvolvimento da região.
Com a interrupção do apoio da Petrobras, o Mãos que Trabalham chegou ao fim. O Mulheres de Fibra, no entanto, é a prova de que iniciativas como essa podem significar um recomeço na vida de brasileiros como Valmira. "Continuaremos nosso trabalho, com certeza, com garra e determinação. Cada uma nós tem tido a chance de realizar sonhos e projetos e isso comprova que, com apoio e integração, podemos vencer."
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