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O difícil caminho para o mundo - Estudo do Ipea mostra desafios enfrentados por companhias brasileiras de software

2005. Ano 2 . Edição 15 - 1/10/2005

A falta de financiamento para as empresas e de pessoal qualificado cria dificuldades para o setor brasileiro de software atingir a meta proposta pelo governo federal de exportar 2 bilhões de dólares em 2007

Lia Vasconcelos

A indústria de software desempenha hoje um papel central no cenário de convergência das tecnologias da informação e comunicação, pois contribui para a inovação nas mais variadas áreas, da medicina à gestão empresarial. A importância do setor e seu rápido crescimento ficam evidentes nas estatísticas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE): o mercado mundial de software passou de 90 bilhões de dólares em 1997 para cerca de 300 bilhões de dólares em 2001 e deve chegar a 900 bilhões em 2008. No Brasil não é diferente e o governo federal elegeu esse segmento como uma das opções estratégicas da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), ao lado de fármacos e medicamentos, semicondutores e bens de capital.

O mercado interno brasileiro de software já é o sétimo do mundo, com vendas anuais de 7,7 bilhões de dólares, e rivaliza em tamanho com o da Índia e o da China. A participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) triplicou entre 1999 e 2001, chegando a 0,71%. Apesar desse vigor, as exportações ainda engatinham: embora as estatísticas sejam pouco confiáveis, estima-se que o Brasil exporte anualmente de 100 milhões a 350 milhões de dólares. O objetivo do governo federal é ampliar as vendas externas para 2 bilhões de dólares em 2007. A meta é ambiciosa e o tempo é curto. O setor precisa superar obstáculos para ganhar envergadura no exterior, pois falta crédito para as empresas, poucas têm o nível de certificação necessário e o país começa a sofrer com a escassez de profissionais qualificados. O diagnóstico está no estudo "Desafios para a indústria de software", de Luis Claudio Kubota, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Não faltam competência e bons produtos para o setor brasileiro de software se fazer mais presente no exterior. O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), o Imposto de Renda e o internet banking são freqüentemente citados como bons exemplos do potencial brasileiro. A pesquisa "Desvendando a economia do conhecimento na Índia, China e Brasil: uma visão de três indústrias de software", do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), avaliou 57 empresas instaladas no Brasil entre maio e outubro de 2002. A conclusão é promissora, pois os profissionais brasileiros são definidos como criativos, as empresas revelam flexibilidade e capacidade de inovação, sem falar na agressiva presença de mercado de alguns produtos, que permitem ao Brasil apostar em soluções voltadas para os setores financeiro e governamental para conquistar o mercado internacional.

É fundamental, entretanto, que o país faça um trabalho pesado de marketing para colar sua imagem ao setor de tecnologia. O Brasil ainda é visto no exterior como exportador de commodities agrícolas, minerais e produtos industrializados de menor conteúdo tecnológico, como calçados e suco de laranja. Tal percepção inibe as vendas lá fora, pois o sucesso de uma empresa em conquistar o mercado externo depende da imagem que o país e a indústria projetam, além, é claro, das vantagens relativas de preços. "Como o mercado interno de software sempre foi muito bom, o país não se preocupou em exportar e agora percebe que o trabalho vai ser árduo para mudar essa realidade", afirma Jorge Sukarie, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). Para Ricardo Saur, diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom), o país, de fato, não tem nenhuma reputação na área. "Mas poderia ser pior: o Brasil poderia ter uma imagem ruim. Não é o caso. Os compradores internacionais simplesmente não conhecem os detalhes do que fazemos", diz. A Brasscom foi criada para posicionar o Brasil no mercado global como um importante gerador e fornecedor de tecnologia de software.

Marca A empresa de consultoria ATKearney foi contratada pelo governo e pela Brasscom para levantar as oportunidades do software brasileiro no mercado internacional e constatou que uma das prioridades é reforçar a marca no exterior. O grande problema é que as empresas brasileiras do setor não têm uma cultura internacionalizada, opina Renata Sanches, gestora de projetos de exportação de tecnologia da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Silvio Meira, presidente do conselho de administração do Porto Digital do Recife, concorda com essa avaliação. "As empresas brasileiras não entendem o mercado internacional de software e as cadeias de valor nele existentes. Para alavancar as exportações, o país precisa conhecer bem o mercado externo, além de promover sua marca", afirma. Kubota, do Ipea, acredita "que é ilusão pensar que alcançaremos o desempenho exportador indiano no curto prazo".

O modelo de negócios adotado também é determinante para o sucesso de uma empresa no mercado internacional. O caminho escolhido pela Datasul, uma das companhias brasileiras que conseguiu se colocar lá fora, foi franquear empresas no exterior para vender seus produtos. A empresa foi fundada em 1978 e ganhou ossatura na incubadora da Fundação Certi de Florianópolis . Conta, atualmente, com 2,5 mil funcionários e se especializou na oferta de soluções para gestão e relacionamento empresarial. A empresa tem operações internacionais nos Estados Unidos, Canadá, México, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai, responsáveis por 4% do total do faturamento da companhia, que atingiu 281 milhões de reais em 2004. "Optamos pelas franquias nos outros países, pois percebemos que profissionais locais fazem toda a diferença. Para eles, não existem barreiras lingüísticas nem culturais. Esse sistema tem funcionado bem", diz Jorge Steffens, diretor-superintendente da Datasul. Ele conta que as experiências anteriores de destacar brasileiros para fechar as vendas no exterior não funcionaram.

 

Presença Não é apenas a imagem do setor brasileiro de software que inibe as exportações. Os clientes em potencial exigem que os produtores de software exibam certificados que atestem a qualidade das empresas exportadoras, como o Capability Maturity Model (CMM). Apenas 55 empresas brasileiras possuem certificado do padrão CMM ou superior, como o Capability Maturity Model Integration (CMMI). "A falta de certificação é um fator inibidor para que o país conquiste novos clientes. A presença de produtos brasileiros no exterior fica comprometida", avalia Jaylton Moura Ferreira, gerente executivo de operações e tecnologia do Instituto de Pesquisas Eldorado, organização civil sem fins lucrativos prestadora de serviços na área de telecomunicações, que em setembro deste ano conquistou a certificação CMMI nível 3. "Temos agora mais maturidade no nosso processo de desenvolvimento e tenho certeza de que ganharemos mais visibilidade", acredita. O certificado CMM foi criado nos anos 90 nos Estados Unidos e nada mais é do que um conjunto de práticas que proporcionam à empresa um guia para organizar o processo de criação do software em cinco níveis de maturidade. Atesta um padrão de qualidade mundialmente adotado para classificar as empresas, mas o custo para alcançar esse grau de certificação fica próximo de 250 mil reais e os empreendedores demoram cerca de 45 meses para obtê-lo.

Formação As companhias brasileiras de software terão de superar outra barreira para vender seus produtos no exterior, pois começam a faltar profissionais altamente qualificados, problema que tende a se agravar à medida que a indústria se volta para o mercado externo, encontra oportunidades de novos negócios e, portanto, se aquece. "Todo software tem como base a matemática. Precisamos de mais matemáticos. É por isso que os indianos são mais competitivos. Precisamos ter mais centros de excelência no país e mandar mais gente estudar fora, para que essas pessoas criem redes de contatos. Boa formação é fundamental para reduzir a taxa de mortalidade das empresas", diz João De Negri, diretor de Estudos Setoriais do Ipea. As projeções indicam que em 2010 haverá um déficit de 250 mil docentes de matemática, física, química e biologia nas escolas públicas de ensino médio brasileiras. A péssima colocação dos estudantes brasileiros em avaliações internacionais de proficiência em matemática, como a realizada em 2004 pela OCDE, também não contribui para melhorar a imagem do país no aspecto tecnológico. Entre as 40 nações avaliadas em 2004, os estudantes brasileiros ficaram em último lugar, enquanto os finlandeses ocuparam a liderança.

Para superar essas limitações, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) colocou, no topo de sua lista de prioridades, o incentivo à certificação de empresas brasileiras de software e a formação de pessoal qualificado para trabalhar no setor. "A Índia forma 70 mil pessoas anualmente em áreas afins de software, enquanto o Brasil forma 10 mil. O idioma também é uma vantagem para os indianos. Não temos uma massa de programadores e não temos gente suficiente que fale inglês", avalia Marcelo Lopes, secretário de política de informática do MCT. Meira, do Porto Digital, estima que sejam necessários de 40 milhões a 50 milhões de reais de investimentos anuais em formação profissional durante os próximos cinco a dez anos para superar o déficit de pessoal qualificado. "Se esse investimento começar a ser feito neste ano, o Brasil só conseguirá exportar 1 bilhão de dólares anuais de software a partir de 2009", calcula.

Recursos O MCT ainda não conta com esse volume de dinheiro, mas tem um projeto de formação e qualificação de recursos humanos para a área de software, ainda sem data para lançamento, que prevê investimentos da ordem de 40 milhões de reais por ano. O programa envolve desde cursos de inglês até mestrado e doutorado na área. A idéia não é só formar pessoal, mas atualizar aqueles que estão no mercado e treiná-los com as novas ferramentas que aparecem quase que diariamente. Para viabilizar o projeto, serão desembolsados 15 milhões de reais do Fundo Setorial de Informática. O programa contará ainda com recursos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Serviço Social da Indústria (Sesi), da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e do Serviço Social do Comércio (Sesc). Além disso, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, incluiu na revisão do Plano Plurianual (PPA 2004-2007) uma ação de formação de recursos humanos para apoiar as prioridades da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. "Estamos identificando as maiores demandas e nossa intenção é apostar no mestrado profissional. Mas só isso não é suficiente, já que o doutorado é a base para o processo de inovação", diz Jorge Guimarães, presidente da Capes.
De acordo com o estudo de Kubota, atuam no Brasil 10.063 empresas desenvolvedoras de software, das quais 9.573 empregam até 19 pessoas. No total, essas empresas mobilizam uma força de trabalho de 84.795 pessoas. Esse universo corporativo de pequeno porte sofre de um problema comum: a dificuldade de conseguir crédito no mercado financeiro ou com o governo por não ter como oferecer garantias reais. "É um grande desafio fazer com que o dinheiro chegue às empresas menores, que constituem a maior fatia do mercado", afirma Sukarie, da Abes. Para Giancarlo Stefanuto, coordenador de planejamento e estudos da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), que reúne cerca de 1.000 empresas espalhadas pelo país, o financiamento é de fato um gargalo a ser superado. "Há uma dificuldade de lidar com a indústria de software, cujas características são bastante específicas. Não há garantias reais, as garantias são as idéias", lembra Stefanuto.

 

Prosoft Para tentar remover esse tipo de entrave, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reformulou o Programa para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Serviços Correlatos (Prosoft), que agora funciona em três frentes. A primeira é o Prosoft Comercialização, que financia as companhias que querem comprar software e serviços correlatos desenvolvidos no Brasil. A segunda é o Prosoft Empresa, que oferece financiamentos para firmas de qualquer tamanho, para a realização de investimentos e planos de negócios. As empresas candidatas não precisam dar garantias reais para financiamentos de até 6 milhões de reais. E, finalmente, a terceira linha, o Prosoft Exportação, apóia financeiramente quem estiver se preparando para exportar. "A reformulação foi conseqüência de um aprendizado. Antes era um programa experimental voltado para pequenas e médias empresas. Agora que já temos mais experiência no setor, formulamos um programa para atender às necessidades de toda a indústria", explica Regina Gutierrez, gerente de estudos setoriais para a indústria de software do BNDES. "Acredito que o novo Prosoft irá se configurar uma alternativa muito boa de financiamento para as pequenas empresas", afirma Mario Salerno, diretor de desenvolvimento industrial da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) também planeja criar um programa, cujo nome provisório é Inovasoft, que teria, numa primeira rodada, cerca de 60 milhões de reais para oferecer exclusivamente ao setor de software. "Essa nova linha será voltada para empresas que buscam crescimento baseado num plano de negócios e que queiram exportar", afirma Alexandre Cabral, analista de projetos na área de tecnologia da informação da Finep. A empresa teria dois anos de carência e quatro anos para a amortização da dívida. O Inovasoft também não exigirá garantias reais. A estimativa é que sejam apoiados cerca de 60 projetos da ordem, cada um, de 500 mil reais. Essas mudanças fazem parte de um longo caminho a ser percorrido para que o Brasil realize seu potencial como exportador de software.

O Brasil ainda é visto no exterior como um exportador de commodities e produtos industrializados de menor conteúdo tecnológico, o que limita a exportação de software

Será necessário investir cerca de 50 milhões de reais anuais em formação profissional para garantir a oferta de pessoal qualificado

Competição para valer

Ao tentar se fazer mais presente no exterior, o Brasil certamente vai esbarrar em alguns gigantes que há muito ocupam espaço considerável no mercado internacional de software, principalmente os Estados Unidos, sede das maiores companhias de informática do mundo. As empresas nacionais também terão de se defrontar com três países emergentes que têm se destacado no mundo da tecnologia da informação e comunicação: Índia, Israel e Irlanda. Relatório do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) aponta que a Índia é forte na prestação de serviços, a Irlanda na tradução e na adaptação do software à realidade tributária de cada país e Israel por investir muito em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil não tem uma imagem definida no mercado. Embora as estratégias de internacionalização tenham sido diversas, esses países buscaram nichos de atuação bastante específicos.

A índia se aproveitou da queda no custo de telecomunicações internacionais para entrar no mercado de terceirização de serviços de tecnologia da informação, no qual já fatura cerca de 8 bilhões de dólares anuais e tem planos de alcançar 50 bilhões de dólares em 2008. As empresas da República da Irlanda produzem software de baixa complexidade, mas estão ganhando cada vez mais reconhecimento nos mercados internacionais e construindo parcerias estratégicas com empresas norte-americanas. Já o setor de tecnologia da informação israelense, que cresceu 4,5 vezes durante os anos 90, se caracteriza pela existência de um grande contingente de pessoal altamente qualificado, o que permitiu que o país investisse em pesquisa e desenvolvimento, principalmente na área de segurança da informação.

Esta é a última reportagem de uma série de seis sobre temas que serão discutidos na 3.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que será realizada em novembro, em Brasília. Informações sobre a CNCTI estão disponíveis na Internet no endereço www.desafios.org.br/conferencia

 
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