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União de dois gigantes - Nova parceria com a Federação da Rússia pode levar o Brasil ao topo da tecnologia de defesa

2008 . Ano 5 . Edição 43 - 17/05/2008

Por Ricardo Wegrzynovski, de Brasília

Oficialmente, são 180 anos de parcerias comerciais. Desta vez, porém, os governos do Brasil e da Rússia intensificam esforços para estabelecer programas de cooperação aeroespacial. Desenvolvimento de aviões de caça de última geração e de armamentos como lançadores de foguetes estão entre os principais itens da parceria que está sendo negociada.

O documento de cooperação, assinado em abril deste ano, visa à troca de experiências em tecnologia de defesa e de políticas de desenvolvimento. Para o Brasil, essa parceria significa saltar da atual fabricação de aeronaves civis para o domínio de alta tecnologia de guerra e a capacidade de produzir aviões de caça que passam imperceptíveis diante de radares, com deslocamento intercontinental em velocidade supersônica.

O primeiro-ministro Vladimir Putin, em declaração exclusiva para a revista Desafios do Desenvolvimento, enviada por meio da embaixada de seu país em Brasília, afirma que "a Federação da Rússia vai ativamente intensificar a cooperação de vários planos com o Brasil, nosso parceiro mais importante na América do Sul. Com satisfação nós notamos a dinâmica positiva das relações bilaterais. Hoje é muito importante se concentrar no lado prático da nossa cooperação e principalmente estimular os investimentos recíprocos em cooperação na esfera da high technology, como aviação espacial e também cooperação militar técnica".

A nova fase dos projetos de cooperação começou em fevereiro, quando o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, estiveram em Moscou. Apenas dois meses após, em Brasília, no dia 15 de abril, brasileiros e representantes do governo russo, liderados pelo secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, Valentin Alekseevitch Sobolev, assinaram um memorando de entendimento.

DESENVOLVIMENTO O documento cria o Grupo de Trabalho Conjunto Brasileiro- Russo, cujo objetivo é a parceria e o diálogo sobre as questões de segurança, e especifica que visam à união para a manutenção da "paz e estabilidade". Os dois países, gigantes em termos geográficos, são postos lado a lado com intuito de "fortalecer o pluralismo de poder e a multipolaridade no mundo, tanto em defesa quanto em desenvolvimento", afirma Mangabeira Unger.

Um dos pontos defendidos por Mangabeira na reunião em Brasília é a transferência de tecnologia. Segundo o documento de cooperação, serão compartilhados a tecnologia de ponta em defesa, os conhecimentos científicos e o desenvolvimento de ensino nessas áreas e em atividades de hidreletricidade, biocombustíveis, agricultura e saúde. O memorando de entendimento também cita a cooperação na área humanitária.

A Federação da Rússia vem tentando ampliar seu leque de clientes no comércio exterior. Porém, de acordo com o ministro Mangabeira Unger, não se trata, neste caso, de relação comercial. "Estamos muito menos interessados na compra de produtos e serviços acabados, mas sim em parcerias que fortaleçam de maneira duradoura as nossas capacitações tecnológicas autônomas", diz o ministro brasileiro.

DEFESA Fontes envolvidas na negociação consideram que o ponto mais interessante é o desenvolvimento de um avião de caça de última geração. Além disso, dentro do tema "promoção do desenvolvimento e da produção de tecnologias de defesa", que consta do documento conjunto, os dois países vão compartilhar o uso de submarinos, veículos lançadores de foguetes, satélites, sistemas de mapeamento eletrônico e tecnologia de guiamento remoto e de segurança de informação.

O memorando de entendimento também cita a "cooperação em combate contra desafios à segurança". O interlocutor russo, o engenheiro com patente de general Alekseevitch Sobolev, de 61 anos, que assinou o documento ao lado de Mangabeira, tem muito a colaborar nesse sentido. Além do cargo de secretário do Conselho de Segurança, tem ampla experiência em estudos de guerra. Sua formação acadêmica foi nos tempos do comunismo.

Concluiu em 1974 o curso da Escola Superior do Comitê da Segurança Estatal da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), hoje Academia do Serviço Federal da Segurança da Federação da Rússia. Dedica-se a guerras e estratégias militares no Serviço Federal desde os 25 anos de idade e foi também vice-diretor do Serviço Federal da Contra-Espionagem nos anos 1990.

ARMAS Entre os presentes à assinatura do acordo estava Alexei Garin, negociador de armamentos da estatal russa Rosoboronexport. A empresa vende tanques de guerra, helicópteros de combate, radares, explosivos, sistemas aéreos não-tripulados como mísseis, bombas, torpedos, simuladores de vôo e serviços de engenharia aérea. Garin atua no departamento comercial da embaixada da Federação da Rússia em Brasília e atende a toda a América Latina.

Segundo o ministro Mangabeira Unger, a parceria visa ao desenvolvimento de um avião de caça de quinta geração. Com a declaração do ministro, especialistas supõem tratar-se do caça PAK-FA T-50, projeto em que a Federação da Rússia trabalha há dez anos, em parceria com a Índia, com previsão para os primeiros testes de vôo daqui a dois anos. O memorando assinado pelos dois governos, porém, não trata especificamente sobre quais modelos de armas ou aviões de guerra serão desenvolvidos.

O projeto do avião de guerra russo contém aprimoramentos com relação ao aparelho mais moderno da atualidade, o caça F-22 Raptor, fabricado pelos Estados Unidos. Um deles é o alcance de velocidade supersônica usando a metade da força dos motores, principalmente nas manobras, e supercruzeiros, como são chamadas as viagens-ataques intercontinentais, com economia de combustível.

ESPAÇO Na tecnologia espacial, há uma grande convergência de interesses entre o Brasil e a Federação da Rússia. Em áreas como monitoramento da defesa territorial, a soma dos conhecimentos de brasileiros e russos pode significar a independência tecnológica para o Brasil.

Segundo o presidente interino e diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB), Himilcon Carvalho, o Brasil é dependente principalmente em satélites. Ele cita também que parte dos sistemas de comunicação, como, por exemplo, telefonia e internet, passa por máquinas estrangeiras.

"Na área de telecomunicações, principalmente governamental, militar ou meteorológica, entre outras, nos baseamos principalmente em satélites comerciais, que hoje no Brasil estão com multinacionais ou estrangeiras", diz. Segundo Carvalho, a parceria com a Federação da Rússia trará chances para o Brasil desenvolver sistemas independentes.

Porém, a tecnologia é cara e o desenvolvimento é para poucos, alerta. "É muito difícil hoje que um país, exceto os Estados Unidos, consiga fazer tudo sozinho na área espacial. E, mesmo na Europa, os países tiveram que se unir. Hoje, eles tentam se juntar com outros continentes, como a África", acrescenta.

Entre os pontos em que o país falha, na visão dele, é na falta de sistemas de ponta para monitoramento do território. É nesse setor que o diretor da AEB espera aprender com a parceria entre os dois países. "Outras aquisições que estão na pauta envolvem a área de localização e navegação. Um exemplo é o sistema russo chamado Glonass, que equivale ao GPS e ao sistema europeu Galileo, isso principalmente na área de defesa."

Ele diz que essas tecnologias "parecem coisa de cinema", mas já são amplamente utilizadas, por exemplo, na fiscalização de fronteiras, como a dos Estados Unidos com o México. "Há sistemas no campo de luz visível ou na faixa infravermelha que permitem enxergar à noite ou em outras situações. Por exemplo, câmeras de infravermelho servem para ver lançamentos de mísseis. Monitoramos a terra e, cada vez que alguém lança um míssel, conseguimos detectar. Dependendo da situação, podemos saber até qual país está testando foguetes ou acabou de lançar um. Então, podemos desenvolver essas tecnologias tanto para a ciência como para a defesa", afirma Carvalho.

Segundo o presidente interino da AEB, esse tipo de equipamento poderia ser usado para administrar o agronegócio e mesmo levar teleducação para municípios distantes dos grandes centros. Ele explica que esses trabalhos são feitos com o uso de tecnologias que para o Brasil ainda parecem distantes, mas que, com o desenvolvimento de tecnologias próprias de comunicação, será possível estar mais presente nesses lugares.

"Um posto de saúde afastado poderá enviar uma radiografia para um centro em Brasília ou em São Paulo, por exemplo, para fazer a análise e devolver ao médico do local", diz Carvalho. Daí, segundo ele, surge outra expectativa das parcerias. "Os russos têm esse tipo de tecnologia. Não só eles, obviamente. Há países como a Índia que já estão bastante avançados nisso e podem nos auxiliar, tanto na parte do desenvolvimento tecnológico como também nas aplicações dos satélites que já estão desenvolvidos lá e podem ser desenvolvidos aqui também", acrescenta o dirigente da AEB.

Nossas parcerias internacionais vêm ganhando fôlego com outros países, como é o caso da China. "Afinal, fazemos parte do grupo chamado Bric, que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, países que estão cada vez mais se fortalecendo como um bloco de desenvolvimento tecnológico." diz. "Com um pouco mais de cooperação, nós poderíamos produzir sistemas muito mais sofisticados. É isso que nós estamos querendo", conta.

O ex-presidente da AEB Sergio Gaudenzi, falando sobre prospecção e monitoramento, com relação ao meio ambiente citou algumas áreas beneficiadas: "O Brasil passa a ter papel determinante na definição e implementação de políticas públicas em áreas como agricultura, energia, ocupação da terra, recursos hídricos, expansão urbana e nos impactos ambientais decorrentes das mudanças climáticas", diz em declarações fornecidas pela AEB. "Tais tecnologias têm sido desenvolvidas no país com um grande e integrado esforço, incluindo ações que envolvem parcerias e cooperações com outros países para a superação dos desafios científicos da era das comunicações e do sensoriamento por satélites", diz Gaudenzi.

"O Brasil já tem um caminho com a Rússia que vem desde os tempos da União Soviética. Logo depois do acidente em 2003 [referindo-se à explosão do veículo lançador de satélites brasileiro, na base de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 técnicos brasileiros], eles participaram ativamente dos grupos de trabalho formados para averiguar as causas. Temos vários brasileiros fazendo especialização, mestrado, doutorado, em áreas de interesse lá na Rússia. Então, já existe grande movimentação entre os dois países nessa área", diz Carvalho.

 
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