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O tempo do BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China crescem mais que a média mundial e atraem investimentos externos

2010 . Ano 7 . Edição 60 - 28/05/2010

Mercado interno em expansão, investimentos externos crescentes, e a busca por uma nova governança global colocam Brasil, Rússia, Índia e China em evidência no cenário internacional

Bruno De Vizia e Gilberto Costa - de Brasília

Há trinta anos não se imaginava a mudança geopolítica e econômica que a ascendência dos países que compõe o grupo denominado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) provocaria no cenário internacional. O Brasil vivenciava fortemente a estagnação econômica que levou os anos de 1980 a serem conhecidos como "a década perdida", a Rússia ainda vivia sob um regime comunista, a Índia engatinhava em sua busca pelo comércio externo, e a China iniciava reformas para abrir seu imenso mercado consumidor às empresas capitalistas.

Três décadas depois estes países lideram a retomada do crescimento econômico global após uma severa crise, entre 2008 e 2009, ter abalado as estruturas financeiras dos países mais desenvolvidos. Para consolidar este novo posicionamento e importância no cenário mundial, os países do BRIC (acrônimo criado pelo economista chefe do banco Goldman Sachs, Jim O´Neill, em 2001) se articularam buscando formas de aumentar sua participação nos rumos econômicos do planeta, bem como uma maior inserção na política internacional, seja por meio de uma participação mais relevante em organismos multilaterais, seja reforçando entre si posicionamentos e parcerias comerciais e tecnológicas.

Neste sentido, realizaram em 2009, na Rússia, a primeira cúpula dos BRIC, encontro cujo ponto central foi a busca de uma maior representatividade dos países emergentes no processo decisório no campo das relações internacionais. Um ano depois, o Brasil sediou a II Reunião de Cúpula dos países que formam o BRIC, ocorrida no Palácio do Itamaraty em Brasília, no dia 15 de abril, na qual o presidente Luís Inácio Lula da Silva recebeu seus colegas Hu Jintao (China) e Dmitri Medvedev (Rússia) e o primeiro-ministro Manmohan Singh, da Índia. Em paralelo, o Ipea promoveu, entre os dias 14 e 15 de abril, um encontro entre representantes de alguns dos principais centros de estudo econômicos da Rússia, China e Índia, para discutir o papel dos BRIC na transformação global pós-crise.

REPRESENTAVIDADE GLOBAL A busca por uma maior cooperação no cenário político internacional reflete o crescimento que estes países obtiveram nos últimos anos, especialmente no âmbito econômico. De acordo com dados do Banco Mundial, em 1990 os países do BRIC representavam 8% Produto Interno Bruto (PIB) mundial, e em 2006 passaram a representar 12% da economia global. O comércio internacional é uma das dimensões na qual a importância dos BRIC aumentou visivelmente. No mesmo intervalo de tempo, o peso destes países no comércio mundial passou de 3,9% para 10,6%, excetuando-se deste total a Rússia, cujos dados de 1990 não estão disponíveis.

Apesar do expressivo crescimento da corrente global entre 1996 e 2008, que praticamente dobrou nesses 12 anos, Brasil, Rússia, Índia e China expandiram suas exportações a taxas ainda mais elevadas (ver gráfico 1) e reforçaram a sua importância no mercado mundial.

Segundo destacou Renato Baumann, representante da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) no Brasil, o desempenho recente destas economias e seus indicadores macroeconômicos auxiliaram na mudança de perspectiva em relação às suas potencialidades de crescimento. Sobretudo porque, em comum, estas economias apresentam grandes mercados internos que "aumentam as possibilidades para que possam obter 'exportações viabilizadas pelo crescimento', em vez de um 'crescimento liderado pelas exportações'", o que lhes confere um espaço maior de participação nas relações internacionais, argumentou o pesquisador no texto O comércio entre os países do BRIC, divulgado durante o evento em Brasília. Alguns estudos chegam a apontar que os nos próximos 50 anos o BRIC poderá superar o G-6 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália) como principal força propulsora da economia global.

INVESTIMENTOS DIRETOS EXTERNOS Parte do crescimento destes países se explica pelos investimentos diretos externos (IDE) feitos em suas economias, e por suas economias. A Unctad, órgão das Nações Unidas para o comércio e desenvolvimento, estima que em 2009 o fluxo total de IDE tenha alcançado US$ 1,4 trilhão, após pico de US$ 1,97 trilhão em 2007, e US$ 1,69 trilhão em 2008 (ver gráfico 2). O órgão da ONU projeta que a partir de 2011 os fluxos de IDE se recuperem consistentemente, com boa parte deste fluxo sendo gerada e absorvida pelos BRIC.

Radhika Kapoor, do Conselho Indiano para Pesquisa em Relações Econômicas Internacionais (ICRIER, na sigla em inglês), destacou, durante o evento do Ipea em Brasília, que apesar do declínio em volume global de IDE nos últimos anos, a quantidade destes recursos que foi absorvida pelos países em desenvolvimento apresentou crescimento de 17% em 2009, em relação ao ano anterior. "A participação das economias em desenvolvimento no fluxo global de IDE subiu de 31% em 2007 para 43% em 2008, mudando o cenário de investimentos", afirmou a pesquisadora indiana.

Dentre os países do BRIC, o Brasil é o mais internacionalizado, com o maior estoque de IDE em relação ao seu PIB (18%), seguido pela Rússia (13%), Índia (10%) e China (9%). Entretanto, considerando os investimentos feitos em outros países, o Brasil fica em segundo lugar. O estoque de investimento no exterior corresponde a 10% do PIB brasileiro, enquanto na Rússia este porcentual alcança 12% (ver tabela 1).

Apesar de apresentarem perspectiva de recepção e aplicação crescentes destes investimentos, a forma como estes recursos são utilizados varia de acordo com as especificidades econômicas de cada país. Luciana Acioly, coordenadora de Estudos de Relações Econômicas Internacionais do Ipea, citou o exemplo da Rússia, que aproveitando-se do ciclo de valorização das commodities minerais na década de 2000, acumulou um elevado nível de divisas (mais de US$ 439 bilhões ao final de 2009), tornando-se assim a maior fonte de IDE dentre os BRIC.

O IDE russo concentra-se nos setores de petróleo e gás, mineração, siderurgia e telefonia móvel, detalhou Luciana, acrescentando que cerca de 30% do estoque de IDE russos estão localizados na Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que reúne países que faziam parte da URSS, com a União Europeia concentrando mais de 40%. "A Rússia não possui políticas específicas de apoio à internacionalização de suas empresas, tais como incentivos fiscais, financiamentos e seguro contra risco político, mas apesar desta inexistência de políticas específicas, é clara a influência do Estado sob o processo de internacionalização das empresas", ressalta.

Já Svetlana Glinkina, do Instituto de Economia da Academia de Ciências da Rússia salientou que metade dos investimentos totais da Rússia em 2009 foi IDE. A pesquisadora reconhece que o papel do Estado russo no setor de óleo e gás é muito grande, e que "mudar esta situação hoje é muito difícil, porque as companhias estão lucrando muito com o alto preço do petróleo". Svetlana avaliou que a melhor maneira de a Rússia a superar sua dependência da exportação de commodities minerais é aproveitar as grandes reservas em moeda estrangeira e "aplicá-las para organizar créditos específicos para nossas empresas, melhorando sua eficiência e o próprio sistema russo".

ÍNDIA E CHINA Em termos de IDE, Índia e China estão em posições distintas dentro do BRIC. A China é o país que mais recebe investimentos externos direto dentro do bloco (US$ 108 bilhões em 2008, sendo o terceiro país que mais recebeu IDE no mundo), enquanto no mesmo ano a Índia recebeu US$ 42 bilhões, a Rússia recepcionou US$ 70 bilhões, e o Brasil US$ 45 bilhões.

A Índia, apesar do menor volume de recursos recebidos, apresentou avanço considerável nos seus investimentos externos. Os investimentos feitos por empresas indianas no exterior cresceram de menos de 1% dos investimentos originados em países em desenvolvimento no ano 2000 para 6% em 2008, movimento marcado pelas empresas indianas adquirindo e se fundindo com empresas estrangeiras. Muitas vezes, adquirindo ativos no exterior em volume superior ao seu próprio patrimônio líquido, com ênfase na compra de empresas em países desenvolvidos. As maiores negociações foram: em 2007, a compra da britânica Corus Steel pela indiana Tata Steel no montante de US$ 12 bilhões, a compra das operações africanas da empresa de telefonia móvel do Kuwait, Zain Telecom, pela indiana Bharti Airtel por US$ 10,7 bilhões, a compra da norte-americana Novelis pela Hindalco, na área de alumínio, também em 2007, por US$ 6 bilhões, e a emblemática compra da britânica Jaguar-Land Rover pela Tata Motors, em 2008, pelo montante de US$ 2,5 bilhões.

Estas fusões e aquisições, no entanto, estão altamente concentradas no setor automotivo e em Tecnologia da Informação (TI). Segundo Radhika, isso se dá porque tradicionalmente os países desenvolveram primeiro seu setor primário, em seguida o secundário e por último o terciário. "Na Índia desenvolvemos primeiro o setor primário, mas pulamos o estágio de expandir o setor secundário, e avançamos muito o setor terciário. Agora temos que elaborar políticas para auxiliar o desenvolvimento do setor manufatureiro, até por uma questão de geração de empregos para a mão de obra menos qualificada", avalia a pesquisadora do ICRIER.

Para Radhika, o IDE deve auxiliar precisamente no fortalecimento do setor manufatureiro indiano, para evitar a manutenção do que ela chama de "círculo vicioso", no qual o setor de serviços, por ser mais desenvolvido, atrai mais trabalhadores qualificados, que por sua vez o alavancam ainda mais. Ela explica que historicamente houve uma mudança, iniciada na presente década, do perfil de investimentos externos na Índia: "quando a economia indiana se abriu em 1991 o primeiro setor que a ser explorado foi o de manufatura, que recebeu mais IDE. O setor de serviços só se abriu em 1997. Entretanto, entre 2000 e 2005 o IDE para o setor de serviços dobrou, gerando esta disparidade".

A China, por sua vez, apresenta números superlativos em termos de investimento externo. Com taxas médias de crescimento em torno de 10% ao ano nos últimos anos, o gigante asiático atingiu a posição de um dos principais polos mundiais de atração de investimentos, passando a exercer influência em todos os mercados globais. "Juntamente com o rápido do comércio exterior e a maior absorção de tecnologia e recursos de grandes empresas estrangeiras, a China se destacou por aprofundar o processo de internacionalização das suas principais corporações", frisa Luciana Acioly.

"Os fluxos de investimento direto chinês no mundo multiplicaram-se por mais 60 vezes entre 1990 e 2008, segundo os dados da Unctad. Quando o país iniciou seu processo de abertura econômica em 1979, esses investimentos saíram de um valor próximo a zero para atingir US$ 830 milhões em 1990 e, posteriormente, US$ 52,1 bilhões em 2008", destaca a pesquisadora do Ipea.

O investimento direto chinês no mundo concentrou-se majoritariamente no setor de serviços, seguido pelo setor primário. Dados de estoque de IDE de 2008 mostraram que os serviços relacionados a negócios responderam por 30% do total, o setor financeiro por 20%, enquanto que as atividades do setor primário contabilizaram 13%, sendo que quase a totalidade desses recursos foi aplicada nas atividades mineradoras (ver gráfico 4).

As características do processo de internacionalização da China "responderam à estratégia e ao conjunto de políticas determinadas pelo governo a fim de controlar o timing e dispersão setorial e espacial de saída dos investimentos", explica Luciana. (ver tabela 1) Até o final da década de 1990 os investimentos chineses no exterior eram fortemente restringidos pela State Administration of Forein Exchange (SAFE), e, na década seguinte, essas restrições foram sendo gradualmente reduzidas.

Atualmente a China procura balancear esta forte participação no comércio internacional com maior peso político em órgãos multilaterais. Neste sentido, Liu Youfa, vice-presidente do Instituto Chinês de Estudos Internacionais, destacou que um dos objetivos do país, juntamente com os demais que conformam o BRIC, é "transformar poder econômico em influência geopolítica". Youfa ressaltou a importância do bloco em números: segundo ele, os países do BRIC respondem por 42% da população global, 40% da superfície terrestre, 75% das reservas internacionais em dólar ou títulos lastreados nesta moeda, além de 14% do PIB mundial, sendo responsáveis por metade do crescimento anual deste último. Ele cita que os países do bloco têm desafios comuns a enfrentar, e dá especial destaque a "uma reforma do sistema político e econômico mundial e a formação de uma nova ordem global".

NOVO PADRÃO MONETÁRIO Parte dos esforços para a reforma do sistema econômico passa pela alteração do padrão monetário internacional. Com a confiança no dólar arranhada após a crise financeira internacional, os países do BRIC esboçam sinais de que é preciso buscar alternativas para a dependência do dólar, para salvaguardar suas reservas em eventual desvalorização e para uso nas transações monetárias do comércio internacional entre Brasil, Rússia, Índia e China.

Desde antes da primeira cúpula dos países do BRIC, ocorrida em junho do ano passado em Ecaterimburgo (Rússia), se aventa possibilidades tais como compor as reservas internacionais com os bônus emitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), e como firmar acordos de trocas cambiais (swap) para a cesta de moedas do BRIC.

A discussão de mudança do padrão dólar nas reservas internacionais e nas transações comerciais foi debatida durante o evento do Ipea, paralelo à reunião de cúpula do BRIC. "Não é descartado que isso possa ocorrer", assinalou na ocasião Márcio Pochmann, presidente do Ipea. Ele lembrou que a mudança do padrão libra-ouro para o padrão dólar levou 30 anos, mas afirmou que "não é desprezível a possibilidade de comércio não feito mais com o padrão do dólar". Pochmann salientou que o Brasil já vem testando com outros países a possibilidade de intercambiar com moedas nacionais, e citou as transações entre Brasil e Argentina feitas desde 2009 em real e peso.

A questão do padrão monetário é especialmente delicada para a China que possui mais de US$ 1 trilhão em reservas internacionais. "O país com a moeda de referência tem que ter mais espírito de responsabilidade", disse durante o evento o vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Li Yang, em referência velada aos Estados Unidos.

Além da responsabilidade monetária, o chinês aponta para a hegemonia na governança global. "Após a crise financeira reconhece-se que o sistema monetário internacional não só está impotente para lidar com a crise mas, o que é pior, serve para aguçar e espalhar a crise financeira", criticou. Yang reconhece, no entanto, que a reforma monetária internacional é uma tarefa de longo prazo, e que o papel dos países do BRIC é limitado, pois a mudança depende de toda a comunidade internacional.

Yang disse diplomaticamente que a China "observa com interesse" a diversificação das reservas internacionais e as trocas comerciais com as próprias divisas dos países.

Vladimir Davydov, diretor do Instituto da América Latina da Academia de Ciências Russa, se revelou mais cético com as possibilidades de mudança do padrão monetário. Ele identifica em diferentes zonas geográficas, como na Europa com o Euro, alguma "busca de solução", mas pergunta se "há vontade política e possibilidade técnica para realizar as mudanças?". Sua resposta é que "não", mesmo estando o atual sistema monetário sob dúvidas.

Para André Vieira, técnico em planejamento da Diretoria de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dicod), "não existe no curto prazo a menor perspectiva de extinção do dólar norte-americano como padrão de troca

A estrutura internacional está montada sob a hegemonia norte-americana", ponderou. O economista aponta que o principal interessado na troca do padrão monetário é a China, por razões de hegemonia econômica e política. "A moeda é uma construção social. A sociedade se vê no seu equivalente geral, mas limitada nacionalmente. A única moeda que extrapolou isso foi o dólar norte-americano", explica. Segundo Vieira, o esforço de um país que quer transformar-se em hegemônico passa por transformar a sua moeda, um papel simbólico de troca, em uma moeda "universalmente conhecida. É uma coisa de longo prazo que interessa ao país que hoje se lança como desafiante do futuro", conclui.

Uma nova liderança
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O desejo de uma nova governança tem sido sistematicamente afirmado nos fóruns diplomáticos e nas reuniões dos líderes políticos internacionais. Em recente declaração conjunta, após a II Cúpula do BRIC em Brasília, os chefes de governo dos quatro países ratificam a demanda de que o G-20 (grupo das principais economias mundiais e mais os países emergentes), do qual participam, se torne o principal fórum de coordenação econômica e cooperação internacional. Os países do BRIC também querem maior equilíbrio na composição técnica e no poder de voto no Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Além do G-20 e da reforma das chamadas "instituições da Conferência de Bretton Woods", os chefes de governo do BRIC manifestaram apoio às pretensões brasileira e indiana de assentos permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). Segundo o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Antonio Patriota disse à Desafios do Desenvolvimento, "há um consenso que as aspirações indiana e brasileira à participações mais ativas no Conselho de Segurança são legítimas e merecem apoio".

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A demanda por uma maior participação do Brasil e demais países em desenvolvimento em uma nova governança global tem sido tônica da atuação do Itamaraty nos últimos anos. Para o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, embaixador e ex-secretáriogeral do MRE, "é importante afirmar de forma democrática, não agressiva e não hegemônica os interesses das nossas sociedades".

Apesar do consenso entre os quatro países sobre a necessidade de renovação, as reformas nos organismos internacionais podem demorar. Para Vladimir Davydov, diretor do Instituto da América Latina da Academia de Ciências Russa, "o sistema de governança mundial tem a sua inércia. Além da vontade política necessitamos de capacidade técnica para resolver os problemas".

 

Perspectivas Sul-Sul na revista Tempo do Mundo
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Revista do Ipea traz um novo olhar para as relações entre países do hemisfério Sul, e recupera a tradição do debate plural

No ciclo econômico recente, os países em desenvolvimento têm apresentado sistematicamente taxas de crescimento superiores às dos países desenvolvidos e da própria economia mundial. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), no período 2003-2008, a taxa de crescimento média da economia global alcançou 5,3% ao ano, e a dos países avançados, 2,8% ao ano, enquanto a dos países em desenvolvimento alcançou 8,6% ao ano.

Para 2010, o FMI projeta uma recuperação mais rápida das economias em desenvolvimento, que apresentariam uma taxa de crescimento de 6,3%, enquanto os países desenvolvidos teriam uma expansão de apenas 2,3%.

Esse maior dinamismo das economias em desenvolvimento abre a possibilidade do fortalecimento de diferentes vínculos entre estes países: no comércio internacional, na cooperação científica e tecnológica, no combate aos efeitos das mudanças climáticas, na luta contra a fome e a pobreza etc.

Esta nova geopolítica que se desenha direciona a publicação quadrimestral do Ipea, a revista Tempo do Mundo, lançada em português e inglês em março deste ano, em São Paulo. A capa da revista já evidencia essa nova correlação de forças, com um mapa-múndi de cabeça para baixo, mostrando os países do hemisfério Sul no hemisfério Norte.

O nome da revista é uma homenagem ao historiador francês Fernand Braudel (1902- 1985), um dos pensadores mais importantes do século XX e um dos fundadores da Universidade de São Paulo (USP). Braudel cunhou o termo "Tempo do Mundo" no terceiro volume da sua obra "Civilização Material, Economia e Capitalismo", um dos seus textos fundamentais. O trabalho recolhe as reflexões do autor sobre a vida material e econômica entre os séculos XV e XVIII no Mediterrâneo, expondo o desenvolvimento da economia de mercado e o capitalismo, através de termos como Jogos de Troca e As Estruturas do Cotidiano. Em O Tempo do Mundo, Braudel faz uma síntese histórica da dinâmica do capitalismo.

Para Milko Matijascic, assessor chefe da presidência do Ipea, a homenagem a Braudel traduz a essência da revista, que busca pensar no longo prazo, com embasamento histórico. Milko espera recuperar com a revista Tempo do Mundo uma velha tradição de debate transdisciplinar.

A ênfase na temática do desenvolvimento, a partir de uma perspectiva Sul-Sul, propõe o debate de experiências bem sucedidas em cada um dos países que integram este eixo - no campo energético, na produção de alimentos, nos sistemas de proteção social, na educação.

BRASIL NO SUL-SUL O Brasil tem ainda uma contribuição muito pequena no pensamento da economia política, em comparação com a importância que o país vem tomando no mundo. "Precisávamos criar um veículo de pesquisa brasileira em que intelectuais possam levar suas idéias ao mundo e em que pesquisadores internacionais possam trazer suas idéias para o Brasil", explica Matijascic, citando o surgimento da revista.

Já para Marcos Antônio Cintra, diretor adjunto de cooperação técnica e políticas internacionais do Ipea, e um dos organizadores da revista, "há sinais evidentes da liderança do Brasil em diferentes negociações internacionais". Ele cita o exemplo das negociações realizadas no âmbito do Sistema Global de Preferências Comerciais (SGPC) entre países em desenvolvimento, denominada Rodada São Paulo.

Essa rodada tem como objetivo promover o comércio internacional e aprofundar os mecanismos de cooperação entre os países em desenvolvimento. Em dezembro de 2009, 22 países em desenvolvimento aprovaram as modalidades básicas de acesso a mercados para produtos agrícolas e industriais. O documento acordado teve como base a proposta brasileira.

Para Cintra, os benefícios desse acordo para o comércio exterior e para rd60not03img02 as relações Sul-Sul podem ser enormes. "Esses países respondem por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 15% do comércio internacional. O consumo doméstico nesses países tem apresentado altas taxas de crescimento, acompanhando o acentuado dinamismo das estruturas produtivas", diz o diretor do Ipea.

Nestes países, a formação de novas classes médias está em pleno andamento, e pode apresentar uma trajetória relativamente longa de crescimento, uma vez que mais de 2,6 bilhões de pessoas habitam esses territórios, correspondendo a aproximadamente 38% da população mundial, cita Cintra.

 

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Verônica Goyzueta - de São Paulo

 
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