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Lição de casa - O Brasil começa a tomar providências para ampliar o acesso ao livro

2005. Ano 2 . Edição 6 - 1/1/2005

O acesso ao livro e o gosto pela leitura são fatores essenciais para o crescimento econômico. O Brasil começa a tomar providências para resolver seus problemas nessa area.

Por Felipe Lindoso, de São Paulo

À guisa de exercício, imaginemos a vida de um iletrado no mundo atual. Ele não consegue tomar um ônibus sem pedir ajuda a alguém. Quando vai ao supermercado, não é capaz de escolher o produto cujos ingredientes satisfaçam as suas necessidades. Usa um produto de limpeza ou um medicamento sem saber os cuidados que deve tomar.

Ao atender um telefone, não é capaz de anotar um recado. Não está apto para o trabalho mais elementar numa empresa ou numa repartição pública, e se consegue trabalho tem dificuldade para sacar seu salário num caixa automático de banco. Nem sequer é capaz de exercer seu direito de voto com responsabilidade.

Trata-se aqui não do analfabeto, mas daquele que, conhecendo as letras e sabendo ler as palavras, não entende o significado de uma frase e não é capaz de interpretá-la e torná-la útil em seu dia-a-dia. O Brasil tem milhões de pessoas nessas condições. Em 2004, as médias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ficaram abaixo dos 50 pontos tanto na redação como o na parte objetiva, que engloba 63 questões - resultado pior do que o de 2003.

A prova foi feita por 1,04 milhão de pessoas com o ensino médio completo. A maior dificuldade: analisar informações e construir um argumento consistente sobre determinado assunto. Outro indicador significativo veio do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, em inglês), mantido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O resultado do teste aplicado em 41 países em 2003, mostrou que os estudantes brasileiros de 15 anos de idade sabem menos matemática do que os jovens da Tunísia e da Indonésia. Na área da leitura, os brasileiros não fazem nenhum progresso desde o ano 2000. São os piores da turma.

Analfabetismo funcional Um relatório sobre a situação da educação no mundo, divulgado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), situa o Brasil em 72º lugar entre 127 países. E tem mais: segundo o último Indicador de Analfabetismo Funcional, de 2003, apenas 25% da população brasileira tem capacidade de leitura plena e consegue comparar informações contidas em diferentes textos.

Os brasileiros tecnicamente alfabetizados, mas capazes de ler tão somente frases e enunciados curtos, são 37% da população, os que se limitam a localizar informações simples em uma única frase somam 30%, e 8% são totalmente analfabetos. O indicador é calculado desde 2001 pelo Instituto Paulo Montenegro, do Ibope, em parceria com a organização não-governamental Ação Educativa, por meio de uma pesquisa sobre analfabetismo funcional realizada com brasileiros de 15 a 64 anos de idade. Ao comparar os dados obtidos em 2001 e em 2003 descobre-se que a situação praticamente não sofreu alteração.

Leitores ávidos É uma realidade que precisa mudar. Nenhum país consegue dar um salto de produtividade e caminhar para a sociedade do conhecimento sem melhorar seus indicadores de alfabetização e leitura. O desafio é transformar os brasileiros em leitores ávidos e produzir mais e melhores livros. Mas há muito a ser feito. Em 1990 a população brasileira somava 147 milhões e a indústria vendeu 212,2 mil livros, o que equivale a 1,44 exemplar por pessoa.

Treze anos depois, a indústria do livro vendeu 225,8 mil exemplares, para uma população de 179 milhões, e a relação caiu para 1,42 livro por pessoa. Na comparação com países desenvolvidos, percebe-se claramente o poço em que o Brasil se encontra. Nos Estados Unidos são produzidos 11 livros per capita ao ano. Na França são sete. É claro que sempre é possível argumentar que a produção brasileira é relativamente menor porque a renda das pessoas é, também, muito inferior.

Mas o fato é que as populações de países desenvolvidos não apenas compram mais livros: elas lêem mais. Informações contidas no Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) do governo federal são taxativas. Atualmente, o índice de leitura no Brasil é de 1,8 livro por habitante por ano. Na Colômbia o índice é de 2,4 livros por habitante ao ano. Nos Estados Unidos, cinco, e na França, sete.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada em 2001 pela Câmara Brasileira da Indústria do Livro (CBL), Sindicato Nacional das Editores de Livros (Snel) e Associação Brasileira dos Editores de Livros (Abrelivros), revelou que os índices de leitura por faixa de idade crescem enquanto os jovens estão na escola. Os leitores efetivos, isto é, os que leram pelo menos um livro nos últimos três meses, chegam a 45% da população, na média nacional, mas esse índice cai para 23% na faixa etária dos 20 aos 29 anos, quando a maioria dessas pessoas já deixou o universo escolar. A pesquisa envolveu 5.503 entrevistas com pessoas com idade superior a 14 anos e com três anos de escolaridade, residentes em 46 cidades - o que corresponde a um universo estimado de 86 milhões de pessoas.

"O Estado alfabetiza milhões de alunos na escola, e ao sair muitos deles passam a engrossar o número dos analfabetos funcionais pela falta de acesso ao livro." O diagnóstico é de Galeno Amorim, coordenador do PNLL, também chamado Fome de Livro, do Ministério da Cultura. A proposta do governo federal é criar uma nova política para o livro a leitura no Brasil.

"O Plano Nacional de Leitura está se estruturando em torno de quatro eixos: a democratização do acesso ao livro e à leitura; o fomento à leitura e à formação de leitores; a valorização do livro e da leitura; e o apoio à produção e à criação." O plano nasceu para implantar bibliotecas públicas, e estava sob o guarda-chuva da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), mas logo passou para a órbita do próprio Ministério da Cultura e ampliou muito seus objetivos. Envolveu e continua envolvendo intensos debates com todos os setores ligados ao livro e à leitura.

"Quase duas mil pessoas participaram dessas reuniões. Representantes de entidades nacionais e locais, bibliotecários, escritores, editores, livreiros, pesquisadores da leitura, representantes de governos estaduais e municipais", lembra Amorim. Todo esse processo foi acompanhado também, em reuniões quinzenais, por representantes de 14 ministérios e órgãos federais, "construindo uma ação integrada como jamais foi feita pelo Estado brasileiro", complementa Amorim.

Também será criada uma Câmara Setorial, com participação do governo e da sociedade civil, com a missão de construir uma política para o livro com metas até 2022, ano do bicentenário da independência. O Fome de Livro, por sua vez, terá planejamento por três anos, começando pelo período 2005-2007. O governo tomou outras providências há muito reivindicadas pela indústria brasileira do livro:

- A Lei do Livro foi sancionada em outubro de 2003 e sua regulamentação está em tramitação no Congresso. Ela permite a criação e o desenvolvimento de uma política nacional para o livro e a leitura.

- Eliminou-se todo tipo de imposto e taxa sobre a comercialização do livro no Brasil, medida anunciada no dia 10 de novembro do ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva juntamente com os ministros da Fazenda, Antônio Palocci, Gilberto Gil, da Cultura, e Tarso Genro, da Educação. Logo após o anúncio vários editores sinalizaram com uma redução nos preços dos livros já a partir de janeiro.

Galeno Amorim estima que a desoneração deva representar uma injeção anual de 160 milhões de reais no mercado editorial e livreiro. As editoras e livrarias comprometeram-se a contribuir com 1% sobre a venda de livros para constituir o Fundo Pró-Leitura, que terá como finalidade o financiamento de ações e projetos para desenvolver a leitura. As formas de arrecadação e gestão desse fundo serão definidas por representantes do governo, do Congresso e do mercado editorial.

- No dia 21 de dezembro último o presidente assinou a sanção da lei que estabelece alíquota zero de PIS/Cofins sobre todo tipo de operação com livro no país, inclusive a importação. Na ocasião, recebeu o diploma de Amigo do Livro, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) aos que se destacam na promoção e no desenvolvimento do hábito de leitura.

Bibliotecas Essas medidas podem ajudar a reduzir o preço de venda dos livros, mas o principal canal para democratizar o acesso ao livro e à leitura é expandir a rede de bibliotecas públicas, que ainda é muito limitada e com acervo e equipamento desatualizados. Um levantamento feito pelo Instituto Ecofuturo, organização não-governamental sediada em São Paulo, aponta a existência de 14.058 bibliotecas de todos os tipos no país. Delas, apenas 356 possuem computador e mais de 2,5 mil não contam sequer com uma máquina copiadora.

A maior concentração está nos estados mais ricos: 41,1% na região Sudeste; 18,8% no Sul; 27,1% no Nordeste; 7,6% no Centro-Oeste; e 5,4% na região Norte. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 14 milhões de brasileiros vivem em municípios onde não existe uma biblioteca sequer. Para que o Brasil atinja o nível da Espanha ou da Itália, seria preciso construir 15 mil bibliotecas públicas, o que significa duplicar a rede existente. Não é impossível. Na década passada o México implantou cinco mil bibliotecas públicas. Venezuela e Colômbia realizaram feitos semelhantes.

O governo brasileiro tem um projeto nesse sentido. Pretende, em três anos, aumentar em 50% o índice de leitura no Brasil. O programa Livro Aberto, implementado pela FBN, criou mais de duas mil bibliotecas desde 1996, em parceria com municípios, além de qualificar e treinar profissionais da área, renovar acervos e promover campanhas de leitura. Outras experiências, como as bibliotecas volantes, têm sido bem-sucedidas. O Leia Brasil, um empreendimento privado financiado pela Petrobras, circula por escolas de municípios sem bibliotecas e atende mais de 300 mil alunos e 16 mil professores. Há, portanto, razão para algum otimismo.

A experiência de Ribeirão Preto, em São Paulo, comprova a importância da expansão da rede de bibliotecas públicas. No dia 17 de dezembro passado, a prefeitura inaugurou a 80ª biblioteca municipal. As instituições estão instaladas em centros culturais, museus, escolas, clubes de serviços e presídios. Em paralelo, a prefeitura organizou feiras de livros e promoveu apoio a escritores com ações coordenadas dentro do programa Ribeirão das Letras, lançado em setembro de 2001, quando existiam apenas três bibliotecas públicas no município. O resultado foi o aumento do número de exemplares lidos por habitante: de dois, no ano de 2001, para nove atualmente. O programa Ribeirão das Letras entrou em ação quando Amorim era secretário da Cultura de Ribeirão Preto.

Além de servir para fomentar a leitura, a compra de acervo para bibliotecas públicas gera encomendas para as editoras e contribui para aumentar a tiragem dos livros. No ano passado, o Ministério da Cultura não fez aquisições de livros para bibliotecas, mas essa realidade começa a mudar. Em dezembro, a FBN lançou edital para comprar dois mil títulos de livros, que servirão para equipar as 130 primeiras bibliotecas públicas a ser implantadas pelo Fome de Livros, que prevê a instalação de 1.000 unidades e a redução do custo unitário.

 

Um dos melhores exemplos do poder de propulsão das compras de bibliotecas é o que acontece nos Estados Unidos, onde existem 117 mil bibliotecas de todos os tipos. Em 2001, a indústria do livro faturou 25 bilhões de dólares e as bibliotecas responderam por 5,7 bilhões de dólares de compras, ou 22,8% do total. O conjunto de bibliotecas, segundo a Associação das Bibliotecas Americanas (ALA, da sigla em inglês), incluí, entre outras, 9.129 bibliotecas públicas, 3.527 acadêmicas e 93.861 de escolas.

Editoras Apesar de o Brasil ainda estar longe do patamar norte-americano, as compras governamentais garantem o principal filão da indústria do livro: em 2003 representaram 43% dos 222,5 mil exemplares de livros vendidos, ou 19% do faturamento total do setor, que foi de 2,4 bilhões de reais, segundo o Diagnóstico do Setor Editorial Brasileiro produzido pela CBL e pelo Snel. Mas as compras governamentais não foram suficientes para reverter o quadro de queda das vendas.

Dados preliminares de um estudo encomendado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aos economistas Fábio Sá Earp e George Koonis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), indicam que houve queda de 48% no faturamento real das editoras em oito anos. "Isso configura uma situação gravíssima. Os indicadores da economia brasileira como um todo foram muito melhores do que os das editoras", diz Earp.

A pesquisa mostra também que o Brasil gasta muito pouco com suas bibliotecas e que cada uma das 13 maiores editoras do mundo vende sozinha mais do que todas as editoras instaladas no país. "A queda do faturamento mostra a concentração das vendas em best-sellers, por um lado, e a deterioração do sistema de distribuição, com o fechamento de pequenas livrarias", diz Raul Wassermann, editor e ex-presidente da Câmara Brasileira do Livro.

Superar essa crise exige medidas de longo prazo e nesse sentido a maioria dos representantes do setor aposta no Plano Nacional do Livro e da Leitura e saúda os benefícios fiscais concedidos pelo governo federal. Earp assinala que o momento é propício tanto para que se discutam políticas de longo prazo e maneiras de fazer que a indústria editorial cresça, como para contribuir para o desenvolvimento do país com a publicação e o consumo de mais livros.

"A desoneração das contribuições deu oxigênio ao setor, que estava à beira da asfixia", assinala Carlos Augusto Lacerda, presidente da editora Nova Fronteira. Sérgio Machado, presidente da Record Editora e ex-presidente do Snel, acredita que o fundamental é "aumentar o tamanho e o poder aquisitivo da classe média, para termos um mercado de massa. Sem isso, o livro é um produto de elite".

Oswaldo Siciliano, atual presidente da CBL e dono de uma grande cadeia de livrarias e de editora, diz que "a nova regulação dos preços dependerá do comportamento do mercado, do repasse dessa redução entre editoras, distribuidoras e livrarias". Ampliar as feiras do livro, como as bienais internacionais do livro de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como levar para o interior esse tipo de iniciativa são formas que a indústria do livro encontrou para tentar frear a queda das vendas, mais forte nos anos em que a economia foi marcada por recessão e desemprego.

Democratizar o acesso à leitura, tomar medidas para fortalecer a indústria do livro e reduzir o preço de vendas permitirão atender à demanda revelada na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil: 89% dos entrevistados consideram o livro um meio eficaz de transmissão de idéias; 82% acham que é uma forma fundamental de se atualizar; 81% acreditam que é importante ler para os filhos; 78% gostam de ler livros; 62% leram ou consultaram livros no último ano; 30% leram livros nos três meses que antecederam a pesquisa; 20% compraram ao menos um livro no ano; 14% estavam lendo um livro no dia da entrevista.

E o que eles lêem? Principalmente livros religiosos, inclusive a Bíblia, histórias em quadrinhos, livros de informática, aventura, poesia, culinária e literatura juvenil. Há, portanto, espaço para que a indústria editorial ganhe mais viço. E para que os brasileiros se habilitem a operar a máquina do desenvolvimento econômico com maior competência - o que resultará em mais riqueza para todos.

 
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