2008 . Ano 5 . Edição 42 - 15/04/2008

Mulheres
Gravidez e violência conjugal
Corina Mendes, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, entrevistou 85 mulheres no Centro Integrado de Atendimento à Mulher (Ciam), com o objetivo de avaliar as implicações da violência conjugal em suas vidas reprodutivas. Constatou que muitas dessas vítimas da violência doméstica optaram pela gravidez com a expectativa de que o filho consolidasse a família, garantindo maior segurança conjugal. Em alguns casos houve mudança temporária no comportamento do marido, mas, de modo geral, a gravidez não só alterou as práticas violentas como também fez com que algumas mulheres experimentassem sentimento de vulnerabilidade ainda mais intensos - o agressor passou a se dirigir a dois focos: à mulher e à própria gravidez. As conclusões estão na tese de doutorado Vozes do silêncio: estudo etnográfico sobre violência conjugal e fertilidade feminina, defendida no Instituto Fernandes Figueira, unidade da Fiocruz.

Cidades
São Paulo controla ação dos governantes
A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, em fevereiro, o projeto de emenda à Lei Orgânica do Município que obriga o prefeito a divulgar um plano de governo detalhado em até 90 dias após assumir o cargo e a prestar contas à população a cada seis meses. O projeto de lei 008, de 2007, foi aprovado, em segunda votação, por 54 votos (a Câmara paulistana tem um total de 55 vereadores). Por se tratar de emenda à Lei Orgânica, o projeto não precisou passar por aprovação do prefeito Gilberto Kassab. O texto original, elaborado pelo advogado Pedro Lomar, recebeu duas emendas. A primeira excluiu o artigo que obrigava o atual prefeito a apresentar o Programa de Metas relativo ao período restante de sua gestão, e a segunda acrescentou ao texto a obrigatoriedade de o Plano de Metas estar adaptado ao orçamento previsto no Plano Plurianual, aprovado pela Câmara para um período de quatro anos, conforme prevê a Constituição federal.

Astronomia
Plutão: a polêmica continua
Desde que foi descoberto, em 1930, pelo norteamericano Clyde Tombaugh, Plutão foi considerado o nono e mais remoto planeta do sistema solar. Em 2006, por decisão da 26ª assembléia geral da União Astronômica Internacional (UAI), em Praga, República Tcheca, foi reclassificado como "planeta anão"e o sistema solar ficou com oito planetas. A decisão, no entanto, foi polêmica e continua a levantar debates calorosos. Mark Sykes, diretor do Instituto de Ciência Planetária dos Estados Unidos, discorda veementemente do rebaixamento. Em artigo na edição de 28 de março da revista Science, diz que a reclassificação dá a "impressão infeliz de que a ciência é feita por meio de votos em uma sala de conferência". O assunto promete esquentar ainda mais. Em agosto, será tema de uma reunião com a presença de astrônomos, professores e estudantes na Universidade
John Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos.

Ambiente
Novo sistema de monitoramento
Espacial Alemão (DLR), em Munique, Alemanha, firmaram acordo para dar continuidade aos trabalhos de desenvolvimento do sistema Mapsar. Trata-se de um projeto conjunto entre as duas instituições para o desenvolvimento de um sistema de monitoramento ambiental por meio de um satélite com imageador radar. O acrônimo Mapsar corresponde a Multi Application Purpose SAR, em que SAR significa Radar de Abertura Sintética. A nova etapa, denominada fase B, compreende o projeto detalhado do sistema, incluindo a configuração do satélite a ser produzido, do segmento solo e do segmento de aplicações (usuários). A fase B terá duração total de um ano e meio. O satélite de cerca de 500 quilos utilizará como módulo de serviço a Plataforma Multimissão, desenvolvida pelo Inpe. Cabem à Alemanha a concepção do instrumento radar e a análise de órbita.

Saúde pública
Doenças crônicas superam as infecciosas
Na primeira metade do século passado, os brasileiros adoeciam e morriam mais por doenças infecciosas e parasitárias, como malária, sarampo e poliomielite. A partir da década de 1960, a tendência epidemiológica se inverteu e a maior parte da população começou a padecer de doenças crônicas não-transmissíveis. As conclusões são de uma pesquisa feita no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco. O trabalho fez um resgate histórico das mortes em todas as capitais brasileiras de 1950 a 2000, com exploração documental e bibliográfica junto ao Ministério da Saúde e ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diz o trabalho que na década de 1930 mais de 45% dos óbitos no Brasil foram causados por doencas infecciosas e parasitárias, enquanto as doenças do aparelho circulatório representaram 10% dos óbitos. Na década de 1980, essa participação caiu para 11% no primeiro grupo de doenças e subiu para 32% no segundo grupo.

Emprego
Radiografia do mercado de trabalho
Uma pesquisa com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vai mostrar como funciona o mercado de trabalho para jovens em cinco comunidades carentes do Rio de Janeiro: Rocinha, Queimados, Vila Aliança, Alemão e Caju. Foram consultados 590 estabelecimentos, de pet shops a padarias, que empregam 272 jovens entre 15 e 24 anos, cerca de 46% do total de empregados, tanto formais como informais. Dados preliminares da pesquisa indicam que as funções
que mais absorvem jovens são as chamadas ocupações não manuais de rotina, como vendedores, demonstradores, caixas e auxiliares de escritório. As ocupações técnicas e artísticas, além do serviço militar, também absorvem uma parcela significativa. Os resultados finais serão divulgados em agosto.

Ebola
Teste de vacina em seres humanos
Pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá afirmaram ter feito testes bem-sucedidos de vacinas contra ebola em primatas e planejam agora iniciar experimentação em humanos. Os resultados do estudo foram apresentados durante a 162ª reunião anual da Society for General Microbiology do Reino Unido em Edimburgo Escócia, em março. Os cientistas empregaram diversas técnicas de recombinação de DNA, o que possibilitou o estímulo de resposta celular e a produção de modelos de vacina que afirmam ser eficientes em macacos. O grupo pretende iniciar testes em humanos de uma das vacinas, que já passou por testes clínicos em 2006.

Direitos civis
Exclusão burocrática no sertão
Pesquisa feita na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) revela como a exclusão burocrática impede o acesso a direitos básicos entre agricultores do sertão de Pernambuco. O estudo, publicado na Revista Estudos Feministas, encontrou mulheres que não conseguem matricular-se em escola, registrar ou até mesmo enterrar o próprio filho. A ausência de documentos civis e trabalhistas tem um recorte de gênero, idade, raça, etnia e localização geopolítica e afeta principalmente a população pobre, os miseráveis, os indigentes e as mulheres. A situação das mulheres na zona rural é ainda pior do que nas grandes cidades, onde a ausência de documentos alcança crianças, adolescentes e adultos que moram nas ruas, migrantes e sem-teto, moradores de palafitas, casebres, barracos ou desabrigados que vivem em precárias condições de vida. Essa condição é mais adversa se comparada aos homens, que adquirem os documentos civis mais cedo porque o alistamento militar é obrigatório aos 18 anos.