2004. Ano 1 . Edição 5 - 1/12/2004
Marcelo Piancastelli
Brilhantemente escrito, o livro de Lester Thurow apresenta a globalização como sendo "uma Torre de Babel econômica, com estrutura capitalista e crescimento baseado em novas tecnologias, cuja marca registrada é a instabilidade latente acompanhada por crescentes desigualdades entre o mundo desenvolvido e o em desenvolvimento".
A globalização é uma resultante da evolução da economia e da sociedade americana. São inúmeras as assertivas do tipo "o resto do mundo não pode impedir os Estados Unidos de fazer aquilo que realmente querem fazer ou forçá-los a fazer qualquer coisa que não queiram". "A América não pode ser controlada, mas pode ser engajada." "Construir uma economia global é uma das maneiras de engajar os Estados Unidos."
Os desequilíbrios econômico e militar entre os EUA, a Europa e o Japão são frutos de decisões tomadas pela Europa e pelo Japão. O Japão não é um participante do jogo geopolítico global. A Europa decidiu não alocar seus recursos em atividades militares, mas investir na integração européia. Assim, a visão americana será central no formato que a globalização vier a tomar. Apenas com a participação dos demais países, o uso arbitrário do poder americano poderá ser limitado. Aqueles que embarcarem poderão ser recompensados, aqueles que não o fizerem serão deixados para trás.
Embarcar significa assumir riscos, conviver com a instabilidade, com o imprevisível, ajustar-se sempre, buscar a inovação tecnológica como alavanca para o desenvolvimento e reconhecer que inovações são suscetíveis de fracassos. A recompensa, no entanto, não é automática. Pode depender da sorte!
Persistem, no entanto, limitações e ameaças à globalização. Os crescentes déficits orçamentários e de comércio americanos; as violações dos direitos de propriedade intelectual em escala mundial, a estagnação da economia japonesa, a participação de um maior número de países em desenvolvimento e a reforma do Banco Mundial e do FMI. Vamos nos ater a estas duas últimas considerações. Aos países em desenvolvimento cabe trabalhar para elevar a produtividade de suas economias e reorganizar-se socialmente em busca de sistema educacional mais adequado. Cada país deve aprender a conviver com as instabilidades da globalização. Com medidas adequadas será possível acelerar o processo de desenvolvimento econômico. A ajuda externa deve ser oferecida àqueles que apresentarem a necessária organização social e econômica. Em contrapartida, os países desenvolvidos devem abolir seus subsídios agrícolas em troca da abertura de mercado nos setores serviços, tecnologia avançada e serviços industriais. Tudo isto, exposto de maneira elegante, num inglês irretocável, soa um tanto irreal ou como sonata de Schubert, a critério do leitor.
O autor conclui afirmando que todas as sociedades bem-sucedidas souberam quando mudar. Aqueles que derem o salto inicial podem até perder, mas aqueles que não mudam perderão sempre. A sorte pode favorecer os audaciosos!
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