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Retrato sem retoques

2005. Ano 2 . Edição 14 - 1/9/2005

Enid Rocha 

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As Meninas da Esquina
Diários de seis adolescentes que vivem do lado selvagem da vida
Eliane Trindade
Editora Record, 2005, 420 p., R$ 44,90

Compreendendo que a particularidade é reveladora da totalidade, As Meninas da Esquina, livro da jornalista Eliane Trindade, lançado recentemente pela Record, reúne os diários de seis adolescentes de 14 a 20 anos envolvidas com a prática de exploração sexual comercial. Partindo da singularidade de cada uma das narrativas, o livro mostra que o processo de vitimização familiar e social vivido por essas meninas acaba contribuindo para envolvê-las no mundo da exploração sexual, do roubo e do tráfico.

Por meio da análise das particularidades das histórias de vida escritas ou gravadas na forma de diários pelas adolescentes, é possível tecer um fio articulador que une os fragmentos das experiências contadas, formando um só tecido que contém detalhes comuns. São originárias de famílias pobres, de relações parentais precarizadas, cujo cotidiano inscreve episódios de violência doméstica, de abandono, de brigas e tensões constantes, de fome, de doença e de total desatenção da rede pública de proteção social.

O que se observa nos diários é que na trajetória para a prostituição, guardadas as especificidades das histórias corajosamente expostas no livro, encontram-se evidências de que as condições de pobreza e de desigualdade social suscitam sentimentos dolorosos de humilhação e de desamparo. Por isso é compreensível que as adolescentes identifiquem, muitas vezes, seu explorador/abusador como um "amigo", "provedor" e "protetor". É um doloroso contrato em que sua aceitação é, ao mesmo tempo, uma denúncia da própria vulnerabilidade.

"Seu Pedro tem uns 70 anos (...) Ele já é amigo meu e me dá mais grana pelo programa. Dessa vez, ele me deu R$ 150,00 (...) Com o dinheiro, comprei ainda um videogame pros meus filhos por R$ 70,00 (...) Na verdade comprei pra mim." (Vitória, 15 de outubro de 2003.) Em outro episódio, Vitória relata o que fez com os 70 reais que conseguiu após ter passado uma noite com um caminhoneiro: "Comprei cigarro, cartão de telefone, maconha e leite em pó para o meu filho, que estava acabando (...)".

Fica claro, pelos detalhes das histórias contadas, que a pobreza não é a determinante do envolvimento das meninas com a exploração sexual comercial, mas sua presença age como um elemento impulsionador. De acordo com os especialistas da área, a exploração sexual infanto-juvenil é um fenômeno social complexo que não está ligado somente à pobreza e à miséria, mas envolve as relações culturais, o imaginário, as normas e o processo civilizatório de um povo. No Brasil, um estudo recente do governo federal identificou que a exploração sexual de crianças e adolescentes é uma prática presente em 937 municípios. Desses, 298 (31,8%) estão no Nordeste; 241 (25,7%) no Sudeste; 162 (17,3%) no Sul; 127 (13,6%) no Centro-Oeste; e 109 (11,6%) na região Norte. Outro estudo denominado "Pesquisa nacional sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescentes", realizado em 2002 pela ONG Cecria, com apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA), revelou que existem no Brasil 241 rotas de tráfico para fins sexuais, sendo 131 internacionais, 78 interestaduais e 32 intermunicipais, apontando ainda que há uma conexão dessa prática com o crime organizado e as redes internacionais.

No último capítulo do livro, a autora deixa pistas para pensar sobre uma intervenção preventiva em relação às ações de abuso e exploração sexual ao destacar todos os ingredientes que se misturam no caminho que leva à exploração: herança de exclusão e abandono; miséria; apelo ao consumo dos objetos que são valorizados socialmente; e fatores culturais. Diante desse quadro, a autora faz emergir a importância das políticas públicas de educação, saúde e profissionalização, como forma de reverter a trajetória do caminho escolhido pelas meninas da esquina.

O livro As Meninas da Esquina, estruturado inteligentemente na forma de diários, expõe de forma categórica que a exploração sexual infanto-juvenil é fundamentalmente uma questão multifacetária que envolve aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e ideológicos. Nos impele a lutar para que essa questão faça parte, com prioridade, da agenda pública.

 
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