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2005. Ano 2 . Edição 17 - 1/12/2005 Luiz Henrique Proença Soares Em seu primeiro trabalho publicado no Brasil, Carlos Lopes compartilha conosco uma instigante reflexão sobre o nosso tempo e sobre os intrincados caminhos a serem percorridos pelas nações na busca da felicidade para seus povos. Seu texto é denso, elegante e direto. Sentem-se nele as marcas de uma sofisticada formação acadêmica - que o levou, há quase 25 anos, a investigar as condições do subdesenvolvimento de sua Guiné-Bissau e o descompasso entre as estruturas locais e a visão dos desenvolvidos. Fica igualmente claro o seu compromisso com a busca de melhores condições de vida para a imensa maioria de pobres que habita o nosso planeta. O texto se beneficia ainda do olhar privilegiado de quem tem vivido com intensidade a rica experiência como alto funcionário do sistema Nações Unidas - Lopes acaba de deixar o posto de Representante Residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil para assumir o de principal assessor do Secretário-Geral da ONU (veja a entrevista com ele publicada em Desafios n.º 16). O resultado desse percurso intelectual e de vida é um relato técnico e objetivo dos aspectos centrais do funcionamento dos organismos internacionais dedicados à promoção do desenvolvimento, e uma crítica profunda de alguns dos principais pressupostos e posturas dessas instituições. Apesar disso e da contundência com que ele nos mostra as dimensões das desigualdades no mundo contemporâneo, o que fica no leitor está longe do desânimo e da desesperança. Ao contrário, ao organizar esse relato com base no trinômio conhecimento-desenvolvimento-liberdade, Lopes sugere os caminhos a serem trilhados para os países pobres e emergentes construírem estratégias para o seu desenvolvimento sustentável. E aborda as mudanças que os países ricos deveriam adotar para a construção de um mundo mais justo. O conhecimento é aqui apresentado e amplamente discutido como desenvolvimento de capacidades nos níveis individual, institucional e social, conceito central na literatura sobre desenvolvimento e fortemente associado às atividades de assistência técnica internacional. O desenvolvimento não é apenas tratado como a busca por melhores condições materiais de vida, mas como pré-condição necessária para que se respeite a diversidade de culturas, opiniões e escolhas, isso sim capaz de levar à felicidade. O autor discute alguns termos do “novo vocabulário da assistência internacional” - atribuição de poder, responsabilização, apropriação, transparência, participação e outros -, assim como o papel das Estratégias para a Redução da Pobreza, adotadas em 1999 pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Como não poderia deixar de ser, demonstra a relevância dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, de que é um importante animador, na luta contra a pobreza. Ao tratar dos desafios atuais, Carlos Lopes nos apresenta uma interessante discussão sobre a “fuga de cérebros” dos países menos desenvolvidos e lista mecanismos para reverter esse processo. E ressalta a importância específica do desenvolvimento de capacidades nos países pobres e em desenvolvimento para a negociação dos acordos de comércio internacional, como forma de explorar todas as potencialidades permitidas pelas regras da matéria. Lopes incorpora a lógica e os interesses dos países doadores das instituições internacionais, mas tem sempre como perspectiva a dos chamados países recebedores - sem, entretanto, deixar de problematizar essa condição e o papel de suas elites. Questiona também a atuação e os interesses dos chamados “profissionais da indústria do desenvolvimento”. A estes - e mais ainda aos que não querem se deixar lograr por eles - interessa, sobretudo, a leitura dessa inestimável contribuição para a superação das desigualdades no mundo. |