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Olhar estrangeiro

2006. Ano 3 . Edição 18 - 1/01/2006

Luiz Henrique P. Soares

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 O Brasil Visto por Dentro
Vinod Thomas
José Olympio Editora, 2005, 203p., R$ 37,50

O olhar do estrangeiro sobre a nossa realidade sempre nos fascina. Do relato de Pero Vaz de Caminha sobre as vicissitudes e os encantos aqui descobertos às pinturas de Debret e Eckout e às análises de Lévi-Strauss, Skidmore e tantos outros que buscaram registrar e compreender as nossas particularidades. A todos acolhemos e reconhecemos, seja por curiosidade, provincianismo, seja porque alguns desses "viajantes" nos apresentam, junto com o mosaico, às vezes, difícil de compor quando se é parte da realidade retratada, sua pró-pria visão de mundo.

O caso desse registro, quase um caderno de campo, que o ex-diretor do Banco Mundial no Brasil de 2003 a 2005 nos apresenta, seria, apenas por essa condição, relevante para quem pensa sobre este nosso intrincado e fascinante país. De origem indiana, Thomas não esconde seu amor pelo Brasil. Organiza esse relato através do fio condutor que decorre de sua formação: intelectual, obtida em Chicago, e de alto funcionário de uma das principais instituições multilaterais, profundamente envolvida com o financiamento de nosso desenvolvimento. Delas decorre sua idéia de desenvolvimento, muito associada ao conceito de produtividade, a que o autor dedica atenção especial. Trata-se de buscar os meios para extrair o melhor aproveitamento de nossos recursos para um crescimento econômico sustentado e maior justiça social. Thomas caracteriza os principais problemas da agenda de nosso desenvolvimento e sugere caminhos para superar as barreiras existentes ao pleno aproveitamento de nossas potencialidades.

O registro de suas impressões mais pessoais, vivências, "causos" e revelações, ouvidas de governadores, ministros e outras figuras de destaque no cenário nacional, permeia o roteiro de suas recomendações. Estas podem parecer ao leitor brasileiro de uma simplicidade que beira a ingenuidade. Mas Thomas, sem dúvida, sabe do que fala: necessidade de prosseguir nos ajustes macroeconômicos e nas reformas microeconômicas que vêm sendo perseguidas. Em especial, o aprofundamento da reforma da Previdência; a melhora da qualidade nos gastos públicos, sobretudo nos casos de educação e saúde; a integração de esforços que nossa estrutura federativa demanda; o incremento da participação; a redução da pobreza. Atenção especial é dada à biodiversidade e aos recursos naturais - Amazônia, por certo, mas também cerrados, mata atlântica e até a desprezada caatinga nordestina.

Não é fortuita, no subtítulo deste O Brasil Visto por Dentro - Desenvolvimento em uma Terra de Contrastes, a remissão à obra seminal de Roger Bastide, um dos primeiros a fazer da nossa desigualdade objeto de preocupação e estudo. Fascinado pelas inúmeras potencialidades desta terra, Vinod Thomas chega, em seu estilo polido, às raias da inconformidade com as profundas desigualdades brasileiras. Ou, poderia se dizer, com nossa incapacidade de construir um modelo de desenvolvimento mais justo com tantas vantagens naturais e humanas.

 
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