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Livros e publicações

2007 . Ano 4 . Edição 37 - 10/11/2007

rd37sec03img01Misérias do Presente, Riquezas do Possível
André Gorz (1999) - Editora AnnaBlume, 2004, 162 páginas, R$ 36,00

  

  

  

  

 

Metamorfoses dos últimos 30 anos

José Aparecido Carlos Ribeiro

Por que nós dizemos que uma mulher "trabalha" quando ela cuida de crianças em uma creche e que ela "não trabalha" quando ela permanece em casa para cuidar de suas próprias crianças?

A questão é mais profunda do que ter ou não uma remuneração. Mesmo que esta pessoa receba uma mesada familiar ou uma transferência do Estado, ainda assim ela não será reconhecida - nem se reconhecerá - como "trabalhando". Isto porque o ponto essencial é que este trabalho realize uma função, socialmente identificada e normatizada. Tal normatização pode ser imposta a uma faxineira ou babá, mas não a alguém no exercício de cuidar da sua própria casa e família. Do mesmo modo, o tempo e a energia que gastamos em determinadas atividades poderão ser considerados trabalho ou lazer, de acordo com a sua inserção social e mercantil. Música, esporte, jardinagem, sexo, nem mesmo a espiritualidade e a religiosidade estão livres desse filtro.

No dia 24 de setembro, faleceu André Gorz, nos deixando uma instigante obra. Em seus livros, Gorz analisa as principais metamorfoses dos últimos 30 anos. Gostaria de convidá-los à leitura - densa mas acessível - de seu penúltimo livro, Misérias do Presente, Riquezas do Possível, e de sua obra imediatamente anterior, Metamorfoses da Questão Social. Seu livro O Imaterial: Conhecimento,Valor e Capital (Editora AnnaBlume, 2006, 106 páginas, R$ 25,00) teve resenha publicada em Desafios do Desenvolvimento na edição nº 10, de maio de 2005.

O acirramento da globalização e a tecnologia da informação podem ter proporcionado elevados ganhos de produtividade. Porém,à redução do tempo de trabalho - necessário ao mercado - não correspondeu um aumento do tempo livre, enquanto tempo de desenvolvimento pessoal. Apenas o tempo "inútil" daqueles a quem o trabalho é negado.

Tal desemprego e precarização do mercado de trabalho geram um aparente paradoxo: há menos trabalho para todos, mas a jornada de trabalho individual se estende. A queda nos níveis de remuneração e a maior vulnerabilidade do trabalhador o levam a se submeter a jornadas maiores e/ou mais irregulares, na tentativa de evitar grandes perdas, o que realimenta o processo geral de desemprego e precarização.

Gorz nos alerta: estamos deixando uma sociedade baseada no trabalho assalariado, sem desenvolver outra forma de sociedade para o seu lugar. A situação "normal" é cada vez menos a do trabalhador assalariado, o "blue-collar" ou "whitecollar"- que tem carreira e inserção social e planeja sua vida pessoal e familiar. Predomina o trabalhador precário,que acessa de modo instável o mercado de trabalho, estando ora empregado, ora desempregado, ou em desalento, e percorre diversas ocupações e setores, sem que alcance qualificação alguma.

"Tendo se tornado inseguro, flexível, intermitente, variável no que se refere a horários e salários, o emprego não mais integra o indivíduo a uma comunidade, não mais estrutura sua jornada diária, semanal ou anual, ou mesmo os estágios da vida, e não é mais o alicerce sobre o qual todos podem erigir seu projeto de vida ."

Tal constatação - ainda que sujeita à crítica e ao debate - impacta diretamente nas políticas de proteção social. Se o cidadão não mais necessariamente é um trabalhador típico, como garantir o seu acesso a políticas majoritariamente concebidas a partir do seu relacionamento com o mercado de trabalho - educação, qualificação, seguro-desemprego, crédito habitacional, previdência?

A tarefa é árdua: ousar construir um padrão de sociedade onde o trabalho - tal como definido na sociedade industrial - não seja mais central na vida, de modo a que os hoje marginalizados possam recuperar sua cidadania.

rd37sec03img02Nações e Nacionalismo desde 1780
Eric J. Hobsbawn (1990)
Tradução: Maria Célia Paoli - Editora Paz e Terra, 230 páginas, R$ 38,00

 

 

 

 

 

A nação como ideologia

Ricardo L. C. Amorim

As nações, em sua forma atual, parecem sempre ter estado presente na história humana. E o motivo é simples: a forma como são apresentadas confunde passado e presente, esfumando propositadamente sua origem.Mais do que isso: há uma névoa permanente cobrindo e misturando conceitos como nação, Estado, país, território e povo.Todavia, a história do século XX não deixa dúvidas quanto à gravidade e importância das nações ou de suas representações.

Essa é a problemática que preocupa o historiador britânico Eric Hobsbawn em seu livro Nações e Nacionalismo desde 1780. O autor, já bem conhecido do público brasileiro, nasceu em Alexandria (Egito), em 1917, e fez seus estudos na Europa, ligandose, desde cedo, ao pensamento de esquerda e a historiadores marxistas, como Christopher Hill, Rodney Hilton, Dorothy Thompson, Maurice Dobb e Edward P. Thompson. Seus livros, muitos já em português, trazem uma marca: a valorização da força das idéias e crenças ao mover os grupos sociais nos diferentes momentos cruciais, permeando o conjunto de fatores objetivos que compõem a história humana.

Assim, tratar do tema nação era quase obrigatório. Seus estudos mostravam que o surgimento do Estado-nação havia consolidado uma peculiar organização social: a sociedade burguesa ou capitalista. Porém, a construção e legitimação dessa nova ordem esteve envolta na idéia nebulosa e poderosa de nação, capaz de justificar carnificinas incompreensíveis na conta da razão crítica.

Para isso, já no início, o historiador destrói mitos. Depois, com capítulos mais históricos, procura evidenciar o que era e como se apresentava a nação desde de 1870 até final do século XX. Diante disso, o que diz mais exatamente Hobsbawn?

Primeiro, derruba as tradicionais definições de nação que usam a língua, a cultura, a história comum ou outro critério generalizante para unificar toda uma população. Para ele, a questão da nação está situada na interação da política, da tecnologia e da transformação social. Afinal, não seria possível falar uma língua nacional sem padronizá-la, algo ligado a uma elite educada, à educação em massa e,naturalmente, à difusão desse padrão.Assim, a nação surge como um fenômeno construído a partir do topo da sociedade e que,por isso,demanda apoio - não protagonismo - das demais camadas sociais.

O quadro ideologizado da nação tornase ainda mais claro quando das guerras da primeira metade do século XX. Ali, onde os trabalhadores aprenderam a afirmar seus direitos dentro do espaço do Estado-nação foi onde mergulharam mais obedientes no massacre mútuo da I Guerra Mundial (Hobsbawn, 1990). Os governos, além de explorar sentimentos nacionalistas já existentes e mesmo inventar tradições, obtinham maior sucesso quando a "lealdade básica não era, paradoxalmente, ao 'país', mas sim à sua versão particular de país: com um construto ideológico" (Hobsbawn, 1990: 113).

Por tudo isso, o trabalho desfaz muitos castelos de areia comuns ao pensamento social e mostra que a nação não é uma entidade originária e imutável: ela é histórica e, deste modo, pertence a um período específico. E mais, ela só se torna algo concreto quando associada a um Estado territorial, um Estado-nação.

Mas o livro também tem problemas.Primeiro é que, ao longo do percurso, infelizmente, nem sempre a leitura é cristalina para leigos em história européia. As referências a fatos e grupos são rápidas e nem sempre esclarecedoras. Um segundo senão está no quase esquecimento da América Latina, região tributária das revoluções do Velho Continente e fundamental à acumulação européia.

No entanto, o que há de fundamental no livro é a tese que o percorre de ponta a ponta. É nessa idéia que Hobsbawn se baseia para perceber os movimentos históricos vividos pelos povos e, portanto, esclarecer- nos acerca do nosso próprio mundo: "O nacionalismo vem antes das nações. As nações não formam os Estados e os nacionalismos, mas sim o oposto" (1990: 19).

 
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