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Livros e publicações

2008 . Ano 5 . Edição 41 - 16/03/2008

rd41sec03img01Geografia é Destino?: Lições da América Latina
John Luke Gallup, Alejandro Gaviria e Eduardo Lora
Editora Unesp, 2007 - 176 páginas - R$ 34,00

 

 

 

 



Determinismo geográfico (no bom sentido da palavra...)


Paulo Roberto de Almeida

No início da segunda metade do século XX, a construção de uma teoria do desenvolvimento, a partir de uma reflexão própria aos países em desenvolvimento, teve de desmentir velhos preconceitos raciais, determinismos climáticos e geográficos ou "desvios" culturais e religiosos. A "ética calvinista"e o "espírito do capitalismo", isto é, o progresso e a prosperidade, pareciam estar irremediavelmente encarnados em povos nórdicos, anglo-saxões, restando-nos as agruras do subdesenvolvimento, tão inevitável quanto geográfica e culturalmente "determinado". Depois que asiáticos passaram a perna nos "norteatlânticos" em matéria de taxas de crescimento - aliás, nos próprios latino-americanos, desmentindo Gunnar Myrdal e seu equivocado Asian Drama -, o mundo começou a olhar com mais atenção outras variáveis do processo de desenvolvimento, que não apenas coordenadas geográficas e atavismos culturais.

No entanto, geography matters, como lembra David Landes, na abertura desta obra,que é, ao mesmo tempo, uma reflexão teórica e um estudo de caso, focado na América Latina. Jared Diamond, também citado ao início, já tinha notado as imensas barreiras físicas que impediram as Américas - a América do Sul em particular - de participar dos intercâmbios de espécies animais e vegetais que, nas regiões setentrionais, disseminaram técnicas e procedimentos que transformaram para melhor a vida dos povos da imensa Eurásia.Comparando os níveis de desenvolvimento dos diversos países da região, e suas características geográficas, os autores examinam, sucessivamente, os problemas físicos e as respostas que podem ser dadas às desvantagens de uma geografia mais inclemente.

A América Latina é a mais fragmentada região do mundo, com grande número de ecozonas distintas, ao mesmo tempo que sua fragmentação etnolingüística é bem menor, mas importante em países como Bolívia,Guatemala ou Peru. A nova Constituição da Bolívia, por exemplo, reconhece como oficiais, além do castelhano, outras 36 línguas indígenas: de dar inveja à União Européia! A independência do Haiti não foi feita de vitórias militares, mas de derrotas por malária e febre amarela. O ambiente tropical também torna penoso o trabalho humano, como ilustrado pelo canal do Panamá. Enfim, não faltam evidências de alta mortalidade e de baixa renda per capita nas faixas de latitude próximas ao Equador.

Mas, como indicam os autores, não há, propriamente, condicionantes ou determinismos, porém "canais de transmissão" das especificidades geográficas nas atividades econômicas e humanas. Esses canais são a produtividade da terra, a presença de doenças endêmicas, a ocorrência de desastres naturais e o acesso aos mercados, ou seja, a localização dos agentes econômicos.O estudo em nível regional, isto é, interno aos países,permite isolar fatores institucionais e culturais dos determinantes especificamente geográficos. Os dois primeiros capítulos olham para o passado dos países latinoamericanos e a influência da geografia nos níveis de desenvolvimento de países e regiões. O terceiro capítulo olha para a frente, buscando determinar o que poderia ser feito. Algumas barreiras ou obstáculos de infra-estrutura podem estar acima da capacidade de países pobres superá-los, e eles são pobres em grande medida por esses fatores. Os autores relacionam, em todo caso, as diferentes medidas de políticas regionais, as estratégias de descentralização e a aplicação da ciência e tecnologia aos casos mais difíceis.

A produtividade da terra e as condições de saúde,por exemplo,podem ser alteradas por meio de avanços tecnológicos, como a conquista do cerrado provou no caso do Brasil. Mas as epidemias reincidentes de dengue demonstram quão frágeis podem ser esses ganhos, na ausência de políticas públicas eficazes no controle dos vetores. Desastres naturais requerem obras de maior porte e deslocamentos de populações, que podem estar fora do alcance de determinados governos. O mesmo pode ser aplicado à infra-estrutura de acesso aos mercados,mas o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do qual fazem parte os autores,está aí para isso mesmo. No entanto, institutos públicos de pesquisa de toda a região podem ter menos recursos do que a Monsanto, por exemplo. Em suma, a geografia não é uma fatalidade, mas o esforço para a decolagem a partir dos trópicos é sempre mais custoso e o empurrão inicial tem de ser maior.

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Encontro em Ouro Preto
Geraldo Holanda Cavalcanti
Editora Record, 2007 - 192 páginas - R$ 30,00

 

 

 

 

 
Contos fantásticos, mas assustadoramente normais

Paulo Roberto de Almeida

A maior surpresa destes "contos fantásticos" do escritor, poeta, tradutor laureado e diplomata Geraldo Holanda Cavalcanti é a de que eles são, efetivamente, fantásticos, em qualquer sentido que se dê a esta palavra. Mas, ao mesmo tempo, eles são... assustadoramente normais.

Com isso quero dizer que os contos se situam naquela zona do irreal, ou do surreal, que povoa nossas mentes, sem deixar, um único segundo, o chão de terra batida que nos liga à existência cotidiana mais banal do mundo.Ou seja,o fantástico aqui não se prende a fenômenos paranormais, a seres de outro mundo, a dimensões inexplicáveis da realidade, ou à intervenção de algum poder externo que atuaria independentemente da vontade dos personagens, como se vê habitualmente na chamada "literatura fantástica". Aqui não: estamos em face de personagens e de situações absolutamente normais, no sentido mais corriqueiro da palavra, pessoas e casos que poderiam freqüentar nosso escritório de trabalho, eventos que poderiam estar se desenvolvendo nas esquinas do nosso bairro, "coisas", por vezes prosaicas, que poderiam ocorrer em nossas próprias vidas. Pessoas, enfim, que poderiam ser nós mesmos. É a isso que me refiro quando classifico estes "contos fantásticos" de "assustadoramente normais".

A rigor, o único "intruso externo" que poderia aproximar um dos contos do termo fantástico na acepção mais freqüente dessa expressão seria a misteriosa força, inexplicável, que impede o personagem de O violinista, detentor de um excelente violino húngaro,de tocar a Tzigane de Ravel. Neste caso, o violino, não o violinista, mereceria seu enquadramento na categoria de "fantástico". De resto, todas as demais situações inverossímeis, inexplicáveis, surpreendentes, enfim, fantásticas, que povoam estes contos são absolutamente corriqueiras, até banais, na vida de cada um de nós, mas o resultado é sempre uma surpresa, sem que se consiga, no começo de cada conto, prever o seu final. Tentei várias vezes "adivinhar" o que viria a ocorrer com o personagem de cada conto, que geralmente é o próprio narrador, sem sucesso, porém: o final é sempre uma total surpresa, e nisso também reside o caráter fantástico destes excelentes contos de Geraldo Holanda Cavalcanti.

Esse caráter surpreendente dos contos "semifantásticos" do poeta e ensaísta consagrado faz com que seja difícil largar um conto uma vez iniciada a sua leitura. A chave talvez esteja,precisamente,no fato de que o personagem, salvo uma ou outra exceção, nunca é alguém externo, mas é sempre o próprio narrador, isto é, nós mesmos, à condição de nos identificarmos com ele: um cidadão normal, de idade média, trabalhador, viajante, jornalista, homem de família ou de situação indefinida, mas em todo caso perfeitamente encontrável na nossa vida diária. Nisso Geraldo Holanda Cavalcanti preenche integralmente os requisitos da literatura fantástica tal como explicitados por Tzvetan Todorov, que ele coloca em destaque na abertura de sua coleção de contos: o leitor é obrigado a considerar o mundo dos personagens como um mundo de criaturas vivas, ele se identifica com um dos personagens, geralmente o narrador, e ele recusa uma interpretação poética ou alegórica do texto.

Assim, cada uma das situações vividas pelos diversos personagens dos 18 contos aqui selecionados é, aparentemente, banal, corriqueira e surpreendentemente fantástica. Em vários casos, tudo pode ter ocorrido apenas na mente do personagem principal, povoada de "fantasmas" que podem ter efetivamente existido e interagido consigo e com todas as demais pessoas; em outros casos, os "fatos" ocorreram com outros personagens, e o narrador é um mero espectador do inexplicável, situação essa que se situa, entretanto, inteiramente dentro do domínio do plausível e do possível.

Contos verdadeiramente fantásticos, acredite, caro leitor, não são aqueles que nos enviam a uma dimensão surreal, geralmente assustadora ou "aterrorizante",de uma existência qualquer, eventualmente a nossa própria. Eles são tão mais cativantes quanto despertam em nós a sensação de que aquilo poderia estar ocorrendo com nós mesmos, numa dessas situações corriqueiras da vida. E o mais atraente na escrita de Geraldo Holanda Cavalcanti é a fluidez do texto, a palavra atraente e certeira, mesmo quando ela transmite toda a ambigüidade de uma situação, e suas palavras geralmente o fazem, transmitindo essa situação de "desconforto" e de "incerteza" com o que pode vir a ocorrer com o personagem principal, nisso atiçando nossa curiosidade para que logo cheguemos ao final do conto. Eles se lêem, assim, rapidamente, mas a impressão que nos fica é permanente:"caramba!, é verdade, como é que isso pôde ocorrer?".

Com tudo isso fica a sensação de "quero mais". A vontade que dá, ao encerrar o livro, é a de pedir ao autor que continue a nos enfeitiçar com os seus, novos, contos fantásticos, assustadoramente normais...

 
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