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Livros e publicações

2009 . Ano 6 . Edição 48 - 10/03/2009

rd48sec07img02Antropologia
Mércio Pereira Gomes
Editora Contexto - 237 páginas - R$ 35

 

 

 

 

  

A antropologia esclarecida

Paulo César de Araújo

"Antropologia é uma palavra iluminante" - eis como inicia seu livro o antropólogo e ex-presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, derramando, ao longo de 10 capítulos, o sentimento de que a Antropologia é alguma coisa especial no mundo do conhecimento do homem. Mércio, que é professor de Antropologia da Universidade Federal Fluminense e autor de diversos livros sobre índios e meio ambiente, considera que, além de ser uma ciência social, na medida em que se baseia na empiria para propor hipóteses e testar teorias, a Antropologia, também, faz parte da linhagem da filosofia, na medida em que trata da cultura, da discursividade, da inefabilidade do conhecimento, da criatividade, do diálogo entre os homens e da intencionalidade da vida.

Antropologia é um livro que chama a atenção, em primeiro lugar, pela qualidade do texto que se faz compreensível tanto para estudiosos quanto para leigos. Impressiona também pela abrangência de questões sociais e filosóficas que o autor considera como matéria da Antropologia. O livro cobre temas que vão desde as conexões da reflexão antropológica com as ideias iluministas, passando pelo evolucionismo cultural, de inspiração darwiniana e marxista, reconhecendo a força da descoberta do inconsciente coletivo, a afirmação do primado da cultura sobre a natureza, até chegar aos temas atuais e pós-modernos, como a incerteza do conhecimento do Outro, a dissolução do estruturalismo, o hiper-relativismo cultural e a responsabilidade ética da Antropologia.

Por outro lado, Antropologia segue um roteiro mais ou menos tradicional do que se constitui a Antropologia como disciplina acadêmica. Cabe a essa disciplina o estudo tanto da cultura, da sociedade, do parentesco, de rituais e simbolismo, matérias tradicionais da Antropologia Social, quanto da evolução e dispersão do homem na Terra, pela Antropologia Biológica, do desenvolvimento das sociedades, pela Arqueologia, e especialmente, do estudo da variedade das línguas, suas especificidades e sua unicidade na capacidade das sociedades e culturas pensarem por meios próprios e também por noções universais.

Na década de 80, lembro-me, e até recentemente, a Antropologia se colocava no Brasil como a encarregada de dar sentido aos temas marginais à sociedade dominante: índios, mulheres (no início do feminismo), racismo, favelas, minorias as mais diversas. A Antropologia continua a tratar desses temas, mas avançou sobre temas antes atribuídos à Sociologia e à Ciência Politica, e até à Filosofia. A influência de autores como Foucault, Deleuze e Derrida evidenciase nos textos mais escalafobéticos da Antropologia pós-moderna, especialmente aqueles que vêm do pós-modernismo praticado nos Estados Unidos e que emula alguns autores brasileiros.

O livro de Mércio trata esses velhos temas não como assuntos marginais à sociedade brasileira, e sim, em muitos casos, como questões fundantes do Brasil e da nossa nacionalidade. Essa é uma diferença essencial de atitude intelectual, ética e política em relação a outros autores.

Ao final de um livro que cobre todo o espectro da Antropologia, desde estudos de parentesco até as contribuições da Antropologia Política, Econômica, Urbana, da Religião e dos Mitos, Mércio propõe repensar a Antropologia por um novo viés teórico, que ele chama de "hiperdialético", algo que, aparentemente, ele já vem discutindo em suas aulas na UFF e que promete desenvolver em todas as suas possibilidades em futuro próximo. Não dá para analisar o que é hiperdialético em tão curta resenha. Cabe ao leitor descobri-lo e no transcurso apreciar esse livro, digamos, também iluminante.

rd48sec07img03The Return of Depression Economics
Paul Krugman
Editora W. W. Norton - 224 páginas - R$ 64,64

 

 

 

 

 


A economia da depressão revisitada

Em seu discurso de abertura do encontro anual da Associação Americana de Economia em 2003, Robert Lucas, ganhador do Nobel de Economia de 1995, ressaltava, que, enquanto a macroeconomia nasceu como uma resposta à grande depressão dos anos 30, o problema central de prevenção de tais catástrofes econômicas tinha sido resolvido. Lucas afirmava que a macroeconomia moderna desenvolvera mecanismos sofisticados de política fiscal e monetária para minimizar os efeitos do ciclo econômico de negócios (business cycle). A idéia é que o ciclo já estaria tão suavizado, que esforços adicionais trariam apenas ganhos irrisórios de bem-estar. Portanto, os esforços da ciência deveriam ser direcionados a temas mais relevantes, como o crescimento.

Tais argumentos são contrapostos pelo recente livro publicado pelo economista, também ganhador de Nobel Paul Krugman, The Return of Depression Economics. Em linguagem descontraída, Krugman apresenta uma série de episódios da história econômica mundial recente, que têm em comum quedas acentuadas da produção, falências generalizadas, e o desaparecimento de centenas de milhares de postos de trabalho. São episódios como a crise Tequila do México em 1995, a estagnação japonesa dos anos noventa, o crash dos Tigres Asiáticos de 1997, e, sobretudo, a crise atual originada no mercado imobiliário dos Estados Unidos.

Apesar de terem surgido de contextos distintos, em economias bastante diversas, essas crises têm alguns pontos em comum. Primeiramente, todas elas foram crises inicialmente financeiras, mas que se alastraram com efeitos devastadores sobre a economia real. Segundo, todas as crises vieram acompanhadas de reversões brutais de expectativas dos agentes econômicos. Essas mudanças repentinas de humores não teriam grandes consequências se as economias estivessem assentadas em "equilíbrios bons". Num equilíbrio bom, quando o pessimismo toma conta dos agentes, os pessimistas perdem dinheiro, e o pessimismo é rapidamente revertido. Ocorre que em todos esses episódios recentes, as economias estavam assentadas em "equilíbrios ruins", sujeitos a bolhas especulativas. Por uma casualidade qualquer, os agentes tornam-se pessimistas, passando a acreditar que o pior vai acontecer.

Tome-se por exemplo as crises latinoamericanas . O recurso usado por essas economias para dominar a herança de fortes hiperinflações foi, via de regra, a adoção de políticas de câmbio fixo. Como as inflações têm forte componente inercial, durante algum tempo após a adoção da paridade cambial os preços domésticos continuaram aumentando numa velocidade superior à dos preços em dólares. O resultado foi uma apreciação do câmbio real. Os equilíbrios ruins germinaram com a ajuda de dois fertilizantes: o câmbio fixo, e a moeda domestica sobrevalorizada. O círculo vicioso das profecias autorealizáveis acontecia da seguinte forma: por uma casualidade qualquer um investidor americano, digamos, na bolsa mexicana, passa a achar que o câmbio peso-dolar é irreal, e que o peso deve valer menos. Então ele retira imediatamente suas aplicações em pesos e, por via das dúvidas, as transforma em dólares. O peso então é desvalorizado. Assim, a expectativa pessimista, que pode ter surgido sem necessariamente estar embasada em fundamentos econômicos, torna-se real. No caso mexicano, os efeitos foram catastróficos: queda de 7% no PIB, e de 15% na produção industrial de 1995.

Na crise de crédito que teve como epicentro os mercados imobiliários Norte- Americanos, os problemas surgiram no período em que Alan Greenspan era presidente do FED, o banco central americano. Por um lado, as taxas de juros permaneceram muito baixas por muito tempo, gerando uma corrida por ativos imobiliários, e como consequência, uma valorização vertiginosa desses ativos. A falta de regulamentação mais rigorosa permitia a concessão de crédito sem que o comprador da casa comprovasse a capacidade de honrar o empréstimo (as subprime loans).

Para o emprestador não importava muito o alto risco do empréstimo, porque ele era revendido a instituições financeiras que o somavam a outros empréstimos, e, por fim, dividiam o bolo de empréstimos hipotecários em ativos conhecidos como CDO's (Collateralized Debt Obligations). Esses ativos lastreados em hipotecas eram então revendidos a investidores. Os CDO's funcionavam da seguinte forma: quem tivesse comprado os papéis lastreados em hipotecas mais cedo recebia os pagamentos primeiro. Quem tivesse ativos com menor senioridade, somente recebia os dividendos após o primeiro grupo ter sido pago. Essa engenharia financeira contribuiu para a formação do círculo vicioso. No momento em que mudaram-se os humores, e formou-se a expectativa de que os CDO's de menor senioridade sofreriam perdas acentuadas, houve uma corrida de vendas, e o preço desses ativos despencou. Quem os detinha perdeu tudo, num processo de profecia autorealizável. As perdas foram se acumulando em cascata, levando ao colapso do que Krugman denomina sistema bancário das sombras. Esse sistema bancário das sombras escapava da regulamentação tradicional imposta pelo FED sobre os bancos comerciais, que freava a tomada de riscos excessivos.

 
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