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Livros e Publicações

2010 . Ano 7 . Edição 59 - 29/03/2010

O embate pioneiro entre liberais e desenvolvimentistas

Ipea lança dois volumes sobre a controvérsia entre Eugenio Gudin e Roberto Simonsen nos anos 1940. Atualizada e renovada, a polêmica persiste até os dias atuais

O Ipea está lançando dois livros sobre um dos debates fundamentais da História Econômica brasileira. São eles Desenvolvimento, o debate pioneiro de 1944-1945, com ensaios e comentários de Aloísio Teixeira, Gilberto Maringoni e Denise Gentil e A controvérsia do planejamento na economia brasileira, de Roberto Simonsen e Eugenio Gudin. Este último estava esgotado, após duas edições do próprio Ipea, no final dos anos 1970. Os volumes dão conta da troca de idéias acontecida na Comissão de Planejamento Econômico no final do primeiro governo de Getulio Vargas (1930-1945). De um lado estava o industrial Simonsen (1889-1948) e de outro o liberal Gudin (1886-1986). O órgão, criado em 1944, era vinculado ao Conselho de Segurança Nacional.

Simonsen vinha de uma trajetória vitoriosa na indústria paulista. Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria, ele era o principal quadro intelectual da burguesia brasileira, autor de extensa obra. Gudin, por sua vez, era engenheiro por formação e firmava-se como a principal voz da ortodoxia liberal no país, além de ser o principal responsável pela implantação dos cursos de Economia no Brasil.

TURBULÊNCIAS O ambiente político e econômico era balizado externamente por várias turbulências. O mundo emergia de uma profunda depressão que atingiu o centro do sistema capitalista e de duas guerras mundiais devastadoras (1914-1918 e 1939-1945). Um novo quadro geopolítico se firmava, com a incontestável supremacia dos Estados Unidos.
Internamente, o país vivia seu segundo ciclo industrializante, centrado na produção de bens de consumo leves, e no início de um longo ciclo de investimentos estatais em infraestrutura.

O debate - constituído por dois longos textos de cada autor - tornou-se paradigmático das grandes tendências econômicas que se enfrentam desde os primórdios da industrialização brasileira, a desenvolvimentista e a liberal. Na pauta estava a necessidade ou não de o País recorrer ao planejamento para aprofundar a industrialização.

Os documentos de Simonsen tratam de seu tema recorrente: o estabelecimento de um projeto de desenvolvimento consistente. No texto inicial, o industrial afirmava:

"Impõe-se (...) a planificação da economia brasileira em moldes capazes de proporcionar os meios adequados para satisfazer as necessidades essenciais de nossas populações e prover o país de uma estruturação econômica e social, forte e estável, fornecendo à nação os recursos indispensáveis à sua segurança e sua colocação em lugar condigno, na esfera internacional".

Defensor enfático do papel do Estado na economia, Simonsen ia além. Para ele "não se pode conceber a idéia de nação sem a idéia do protecionismo".

Gudin deplorava tais formulações. Para ele, o Estado não deveria subsidiar indústrias "ineficientes". Em seus escritos, atacou o oponente pesadamente:

"O conselheiro Roberto Simonsen filia-se (...) à corrente dos que veem no "plano" a salvação de todos os problemas econômicos, espécie de palavra mágica que a tudo resolve, mística de planificação que nos legaram o fracassado New Deal americano, as economias corporativas da Itália e de Portugal e os planos quinquenais da Rússia. Não compartilho dessa fé".

Para Gudin, a economia brasileira tinha uma vocação agrícola. O economista valia-se da teoria das vantagens comparativas, de David Ricardo (1772-1823), para subsidiar sua argumentação. Seu domínio da terminologia econômica era superior ao de Simonsen. Tecnicamente, seus documentos aparentam ser mais rigorosos, sempre levando-se em conta a precariedade da base de dados sobre a economia brasileira disponível na época.

QUEM GANHOU? É difícil medir quem ganhou o debate. Se a métrica utilizada for o domínio do vocabulário técnico em economia, aparentemente Eugenio Gudin levou a melhor. Mas em perspectiva histórica e no terreno político, Roberto Simonsen tinha mais razão.

Em 1947, o valor da produção industrial brasileira ultrapassou, pela primeira vez na história, o valor da produção agrícola. O planejamento e o intervencionismo passavam a ser, paulatinamente, as tônicas adotadas por diversos países na reconstrução de economias arrasadas pela Guerra.

Em 1948, ano da morte de Simonsen, surgia a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), vinculada à ONU. Dirigida inicialmente pelo economista argentino Raúl Prebisch e tendo como um de seus principais integrantes o brasileiro Celso Furtado, o órgão avançou nos debates e pesquisas sobre as chamadas relações centro-periferia no mundo capitalista, sobre as relações desiguais de troca e na constatação de que o subdesenvolvimento não era um estágio do desenvolvimento, mas um estado do capitalismo maduro, construído na divisão internacional do trabalho. Para superá-lo, seria necessária a fundamental atuação do Estado como planejador de longo curso. Por outras vias, a Cepal chegava a constatações semelhantes às de Roberto Simonsen.

Nos anos seguintes, Gudin mostrou-se coerente. Como Ministro da Fazenda (1954-1955), caracterizou-se como defensor da estabilidade da moeda, do combate à inflação como estratégia de política econômica e da redução da interferência estatal na economia. Foi contra a criação da Petrobrás e um firme apoiador do golpe de Estado em 1964.

O debate sobre o desenvolvimento desdobrou-se e se atualizou nas décadas seguintes. Nos anos 1980, novas vertentes, fora do âmbito das classes dominantes, se incorporaram ao debate. Elas eram sustentadas socialmente por demandas populares e movimentos sociais, que buscavam distribuir e socializar os frutos do desenvolvimento. As idéias de Gudin, por sua vez, ganharam força na década seguinte, com a supremacia do neoliberalismo no país.

A história é longa. Mas seu ponto fundamental está no debate de sete décadas atrás. Por isso os livros do Ipea sobre o tema chegam em excelente hora.

Livros


O desenvolvimento e o liberalismo

 

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Os dois livros contidos nesta caixa trazem os detalhes de um dos mais importantes debates econômicos ocorridos no Brasil do século XX. Trata-se da polêmica empreendida, no âmbito do primeiro governo Getulio Vargas em 1944-1945, entre duas correntes de pensamento: o desenvolvimentismo e o liberalismo. A primeira era personalizada por Roberto Simonsen (1889-1948) e a segunda ganhou voz através de Eugenio Gudin (1886-1986).

O mundo acabara de sair de graves turbulências: a crise de 1929 e duas guerras mundiais. O impacto fora tão avassalador, que redefinira, no plano internacional, as relações políticas e econômicas entre as nações. Novos organismos multilaterais foram criados, como a Organização das Nações Unidas (ONU), o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial. No interior de cada país, alteraram-se também as relações entre Estado, sociedade e economia.

É no calor dessa hora que Simonsen e Gudin apresentam seus argumentos sobre o futuro do Brasil. A importância política, econômica e histórica daquele confronto é por vezes subestimado. Estavam presentes ali as raízes de um contencioso que perdura até os dias de hoje, acrescido de várias nuances surgidas através dos tempos.

Com a publicação destes volumes, o Ipea busca contribuir para o exame da história econômica do país, com os olhos colocados na construção de um projeto de desenvolvimento sustentável, soberano e socialmente justo.


João Sicsú
Diretor de Estudos Macroeconômicos - Ipea


Roberto Simonsen X Eugenio Gudin

A controvérsia do planejamento na economia brasileira João Paulo dos Reis Velloso

João Paulo dos reis Velloso

Atualidade do tema para o país e para as empresas

O tema do planejamento estratégico, seis décadas e meia após a controvérsia Roberto Simonsen X Eugênio Gudin, ainda é de grande atualidade.

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 O tema do planejamento estratégico, seis décadas e meia após a controvérsia Roberto Simonsen X Eugênio Gudin, ainda é de grande atualidade.

Na verdade, havia uma dupla controvérsia - planejamento/industrialização. Basta lembrar que o Governo FHC nunca se definiu em favor de uma política industrial. Era a dúvida hamletiana, que se prolongou até o final do segundo mandato.

Por outro lado, a necessidade do planejamento estratégico é hoje reconhecida pelas melhores empresas brasileiras.

E o governo Lula criou uma Secretaria de Assuntos Estratégicos, que no momento está voltada para o tema "Brasil, 2022", ou seja, uma visão de como estará o país na altura do bicentenário da Independência.

Então, devemos recordar que a controvérsia havida em 1944/ 1945 era, na verdade, dupla: planificação da economia brasileira - a face explícita. Mas, por trás, uma discussão, implícita, sobre o que realmente caracterizava o modelo brasileiro de desenvolvimento - ou seja, qual era o seu motor. E isso coloca em destaque o papel da industrialização.

O prof. Gudin abordou o assunto, diretamente, num artigo com o título "Industrialização panacéia"1. "A industrialização per se não assegura de forma alguma um aumento da renda real per capita... Mas se a industrialização se processa com mão de obra que se tornou supérflua no setor agrícola (grifo nosso), por melhoria de sua produtividade, e se ela dispõe da capacidade técnica e administrativa para uma produção eficiente, não há dúvida de que ela representa um excelente elemento de reforço estrutural da economia e dos países de produção primária".

 


O contexto: questões básicas a responder

É importante trazer à tona o contexto histórico em que se situava a controvérsia, se realmente queremos entendê-la.

Para isso, cremos necessário dar resposta a três questões básicas:

Por que o Brasil não foi um país retardatário à Revolução Industrial no Século XIX, como os Estados Unidos, e só o foi no século XX, a partir da década de 30?

Como o Brasil reagiu à Grande Depressão dos anos 1930, que destruiu o nosso modelo agroexportador?

Por que o Estado brasileiro, na altura de 1944, estava tão envolvido na temática planejamento/ industrialização?

Por que o Brasil não foi um retardatário à Revolução Industrial no século XIX, como os Estados Unidos?

A questão destaca a importância das opções, no desenvolvimento dos países, permitindo analisar o problema dos retardatários à Revolução Industrial Inglesa de 1780 (latecomers).

A opção dos Estados Unidos, realizada no fim do Século XVIII, foi por integrar-se desde logo à Revolução Industrial, através de maiores relações comerciais e financeiras com a Inglaterra. Tal opção se apoiava num modelo de desenvolvimento baseado em dois pilares - a industrialização e a agricultura, lembrando tratar-se de país rico em recursos naturais, como o Brasil.

A ênfase na industrialização, como é sabido, nasceu da iniciativa do Secretário da Fazenda, Alexander Hamilton, com seu Report on Manufactures, de 1791, à base do argumento da "indústria nascente". E a sua viabilização veio com o Tariff Act de 1816".

A opção brasileira foi feita na altura da Independência: reafirmação do modelo de agricultura de exportação à base da escravidão, em grandes propriedades. Opção, aliás, reafirmada em 1850, pelo Conselho de Estado, que assessorava o Imperador

Nessas condições, ao longo do Século XIX, os surtos de industrialização que tivemos foram de apoio à agricultura de exportação.

Reação do Brasil à Grande Depressão

(Oportunidade criada)

A Grande Depressão, de 1929, teve um efeito devastador sobre nossa balança comercial e nosso modelo de desenvolvimento, ainda baseado na agroexportação: o café representava cerca de 70% de nossas exportações.

Sem saber, sequer, da existência de Keynes, o Brasil fez uma opção keynesiana: procurou manter a renda do setor café, de enorme importância para a preservação do crescimento - até que outro modelo surgisse. Como é sabido, comprava-se café para queimar.

O novo modelo foi emergindo através da mudança de preços relativos, as elevações de tarifas de exportações (em favor da indústria) e os controles cambiais.

Resultado: o produto industrial voltou a crescer em 1931. E o PIB, em 1932. De 1932 a 1939, a taxa média de crescimento da indústria foi de 10%.

Enquanto isso, nos EUA, o PIB em 1939 ainda não havia voltado ao nível de 1929.


O Estado brasileiro e a temática planejamento/ industrialização

O governo americano queria contar com o apoio brasileiro para o esforço de guerra. E, por isso, enviou ao Brasil a Missão Cooke, em 1942. O relatório da Missão (feito conjuntamente com técnicos brasileiros) ressaltava a necessidade de melhoria da infraestrutura econômica do país, de suas indústrias de base e, em geral, da industrialização.

Citando: "A industrialização do país, sábia e cientificamente conduzida, com um melhor aproveitamento de seus recursos naturais, é o meio que a Missão aponta para alcançar o progresso desejado por todos". (grifo nosso).

Isso vinha a calhar para a orientação que o governo Vargas estava procurando seguir, de criação dos mecanismos capazes de estruturar a política de desenvolvimento, inclusive com montagem de vários "substitutos históricos", para suprir a carência de pré-condições. Como observou Gerschenkron, as pré-condições acabam se tornando pós-condições.

Sem embargo, estamos falando de governo Vargas e, portanto, de ambiguidades - as duas faces de Janus.

De um lado, o Dasp (Departamento Administrativo do Serviço Público) procurava estabelecer no país, um Estado weberiano - moderno e impessoal (exemplo: exigência de concursos públicos) - e criava importantes empresas estatais (CSN, CVRD, Álcalis), além de instituições como o Conselho Federal de Comércio Exterior, "que pode ser considerado o precursor dos colegiados de Política Econômica no Brasil".

Era a metamorfose do Estado, referida no conhecido livro de Sônia Draibe.

Mas, de outro lado, havia a cooptação, pelo Estado, das instituições de representação empresarial e sindical - o sistema corporativo de sindicatos, federações e confederações.

Foi nesse clima que o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, sob a liderança do poderoso Ministro Marcondes Filho, iniciou as discussões sobre Planejamento, inicialmente no Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (CNPIC). Discussão depois continuada na Comissão de Planejamento Econômico (CPE), esta um órgão do Conselho de Segurança Nacional.


A controvérsia: pontos básicos


Primeiro round - Simonsen: a planificação como forma de mobilização econômica do país


A motivação do parecer apresentado por Roberto Simonsen (agosto/1944) ao CNPIC foi: a evolução econômica do País já permite esperar que o fortalecimento de nossa economia ocorra naturalmente?

Para responder a essa colocação, Simonsen parte do relatório da Missão Cooke (segundo semestre de 1942), que diz estar o Brasil "como nação industrial, ainda na adolescência", embora com grande potencial.

A Missão destaca as deficiências do país em energia elétrica e a falta de petróleo e carvão, aspectos da infraestrutura. Salienta ainda nosso atraso na indústria metalúrgica (aço, principalmente) e nas indústrias químicas.

Por outro lado, Simonsen assinala: "É impressionante a estagnação que se observa em muitas das atividades primárias, principalmente em relação à agricultura da alimentação." (grifo nosso).

Para sanar tantas e tão grandes deficiências, propõe ele "lançar mão de novos métodos, utilizando-nos, em gigantesco esforço, de uma verdadeira mobilização nacional..."

Tal mobilização seria obtida como? Resposta: "Impõe-se, assim, a planificação da economia brasileira em moldes capazes de proporcionar os meios adequados para satisfazer as necessidades essenciais de nossas populações, e prover o país de uma estrutura econômica e social forte e estável..."

E complementa: "A parte nucleal de um programa dessa natureza... tem que ser constituída pela industrialização. Essa industrialização não se separa, porém, da intensificação e do aperfeiçoamento da nossa produção agrícola, a que ela está visceralmente vinculada". (grifo nosso).

Em seguida, Simonsen indaga: "Até que ponto seria exercido o intervencionismo do Estado na concretização dos planos?"

Resposta: "O grau de Intervencionismo do Estado deveria ser estudado com as várias entidades de classe, para que, dentro do preceito constitucional, fosse utilizada, ao máximo, a iniciativa privada e não se prejudicassem as atividades já em funcionamento no país, com a instalação de novas iniciativas concorrentes".

E a conclusão: "Dadas todas essas circunstâncias, é aconselhável a planificação de uma nova estruturação econômica, de forma a serem criadas, dentro de determinado período, a Produtividade e as riquezas necessárias para alcançarmos uma suficiente renda nacional. (grifo nosso).


 


Segundo round - Gudin: produtividade e não plano

Ao dar parecer (março/1945) na Comissão de Planejamento Econômico (CPE), sobre o Relatório de Simonsen a respeito dos rumos da Política de Desenvolvimento no Brasil, o Prof. Eugênio Gudin colocou sua posição nos seguintes termos:

I - "a mística da planificação é, portanto, uma derivada genética da experiência fracassada e abandonada do new deal americano (roosevelt), das ditaduras italiana e alemã, que levaram o mundo à catástrofe, e dos planos quinquenais da rússia, que nenhuma aplicação pode ter a outros países."
Curiosamente, diz Gudin: "O sucesso dos Planos Quinquenais na Rússia é indiscutível. O progresso do aparelhamento econômico do país em tão curto prazo ultrapassou o ritmo do que se fizera em qualquer outro país do mundo, inclusive os Estados Unidos".

II - Prioridade do Brasil deve ser Agricultura.
"Para nós, brasileiros, basta que olhemos para a Argentina".
Por quê? "Tudo está na Produtividade"... "Precisamos é de aumentar nossa Produtividade Agrícola, em vez de menosprezar a única atividade econômica em que demonstramos capacidade para produzir vantajosamente, isto é, capacidade para Exportar. (grifo nosso).
E se continuarmos a expandir Indústrias que só podem viver sob a proteção de "pesadas" Tarifas Aduaneiras e do Câmbio Cadente, continuaremos a ser um País de pobreza, ao lado do rico país que é a Argentina".
Em seguida vem a curiosa observação: "Não se pode dizer que a natureza tenha sido especialmente generosa para conosco em suas dádivas de terras férteis e planas".

III - Os princípios propostos por Gudin:
1. "Uma vez atingido o "Emprego total", novos empreendimentos farão subir os preços, mas não farão crescer a Produção.
2. "Para uma situação de Inflação e de Emprego total (como a atual), o remédio é estancar a Inflação e não o de tentar aumentar a Produção."
3. "Por que se impõe a necessidade de moderar as "obras novas."2

IV - A bandeira que precisamos levantar no Brasil não é a de "um plano" e sim a da Produtividade, não só na Indústria, mas em todas as Atividades Econômicas".
Em suma, o Plano de Gudin era a Produtividade.

V - O Cenário - "Economia Liberal", baseada em:
1. "Ao engenho e à capacidade da Iniciativa Privada, amparada e fomentada pelo Estado, cabe promover o bem-estar econômico e a melhoria do padrão de vida do povo brasileiro."
2. "Ao Estado cabe cooperar com a Iniciativa Privada, através de medidas legislativas e administrativas, que permitam e facilitem a livre expansão de seus empreendimentos."
3. "Recomenda-se, portanto, que o Governo promova o retorno gradativo ao campo da Iniciativa Privada dos empreendimentos industriais do Estado. E que, também gradativamente, à medida que se for normalizando a situação econômica nacional e internacional, suprima o controle ora exercido sobre vários setores da Economia privada pelos respectivos Institutos".

 


Terceiro round - Simonsen: planejamento e iniciativa privada


Diante do Parecer do Prof. Gudin, Roberto Simonsen também no âmbito da Comissão de Planejamento Econômico (junho/45), apresentou sua resposta, em que destacamos:
"O Estado Liberal vem planejando de há muito e progressivamente".
"O Planejamento Econômico é uma técnica e não uma forma de Governo. Não exclui os empreendimentos particulares.
Pelo contrário. Cria um ambiente de segurança de tal ordem que facilita o melhor e mais eficiente aproveitamento da Iniciativa Privada, que está intimamente ligada ao conceito de Propriedade."
Refere-se Simonsen, em seguida à realização do Congresso Brasileiro da Indústria e da Conferência das Classes produtoras de Teresópolis, para concluir:
"Nos objetivos básicos da Conferência de Teresópolis estão mencionados, por ordem de importância, o combate ao pauperismo (pobreza), o aumento da Renda Nacional, o desenvolvimento das nossas forças econômicas, a implantação da Democracia Econômica e a obtenção da Justiça Social - objetivos que devem ser alcançados com indispensável rapidez, através de um largo Planejamento."


 


Último round - Gudin: o que é privativo do estado planejar

Tomando conhecimento da réplica de Simonsen, Gudin, em carta à Comissão de Planejamento (agosto de 1945), diz que sua crítica a "certos tópicos" do primitivo Relatório do Dr. Simonsen "decorre, não de qualquer prevenção pessoal, longe disso, e sim de minha radical divergência com S. Sa. sobre a matéria em debate". Para tornar claro o ponto básico das divergências, assinala:
"É, a meu ver, função privativa do Estado planejar: a Saúde e a Educação; a Moeda, o Crédito, as Finanças Públicas, o Regime Tributário; as Obras Públicas; os Serviços de Utilidade Pública, com execução por Concessão ou Delegação, especialmente os de Transportes, Comunicações e Energia Elétrica; a Política de Fomento à Produção Industrial, Agrícola e Mineira; a Defesa e a Segurança nacionais; a Organização do Serviço Público Civil; a Imigração, a Legislação e o Seguro Sociais; as medidas de Proteção ao Solo, de Fiscalização de Gêneros Alimentícios, de combate aos abusos do Capitalismo, etc., etc". (grifos nossos).
"Tudo em suma, que é necessário fazer e que não cabe à Iniciativa Privada".
E acrescenta:
"Ampare o Estado as Indústrias merecedoras de Proteção, incentive a formação de novas Indústrias pela concessão de favores, indo até à garantia de Juros ou à Subvenção - mas não participe diretamente dos empreendimentos industriais".


CONCLUSÃO A suma das sumas, como diria Dom Casmurro, é que, pensando bem, as divergências não eram tão grandes.

Guardadas as diferenças de época, os dois estavam preconizando, como constou, pouco depois, de Constituição de 1946, e como consta da Constituição de 1988, a ação supletiva do Estado em matéria econômica:

"Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado, só será permitida quando necessária aos imperativos da Segurança Nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definido em Lei."

Então, por que a controvérsia sobre o Planejamento?

Creio que a resposta está na citação feita há pouco: os dois gladiadores eram radicais. Então, na expressão de Gudin, não se falava em divergência. Dizia-se "Divergência Radical". É como em certos casamentos: incompatibilidade de temperamentos, manifesta em vários Congressos de que participaram.

Uma última questão: Planejamento - de que estamos falando?

Na minha colocação, estamos falando, principalmente, de Visão Estratégica, no País e nas empresas.

Salvador de Madariaga, o conhecido liberal espanhol, nos anos 70, escreveu um paper famoso, com o título Planning for Freedom ("Planejando para a Liberdade"). Essencialmente, sua ideia era que o Planejamento fosse o instrumento para impulsionar as forças criativas da Sociedade.


Revista Tempo do Mundo

A revista Tempo do Mundo, nova publicação do Ipea de circulação nacional e internacional, foi idealizada para registrar quadrimestralmente debates sobre o desenvolvimento em suas vertentes ambiental, econômica e social. A originalidade está no foco chamado sul-sul, enfatizando a temática da economia política, revertendo a lógica de comunicação e de troca de idéias que passar preferencialmente. por países centrais ou pelas instituições multilaterais que eles patrocinam ou abrigam. Para dimensionar esse esforço, a apresentação da temática central dos artigos apresentados no primeiro número é significativa e reveladora.

Heiner Flassbeck e La Marca analisam a ortodoxia de mercados abertos para identificar as forças que moldam os padrões de integração, seus custos e seus benefícios. François Merrien estudou as negociações entre EU - União Européia e o Grupo de Países da África-Caribe-Pacífico, revelando como se é imposta a legitimação da UE e como se deu a construção do discurso crítico. Robert Guttmann retomou as três grandes crises econômicas do passado recente identificando padrões, de modo a caracterizar melhor a atual crise.
 

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Ignacy Sachs focalizou as condições ecológicas, estruturais e institucionais necessárias para que o Brasil lidere a cooperação Sul - Sul, ampliando a sua biocapacidade. Cai Fang, Du Yang e Wang Meiyan colocam o foco sobre a China, questionando a potencialidade de manutenção do milagre econômico. Emir Sader apresenta a defasagem entre economia e política na história do socialismo no século XX e suas consequências. Vladmir Popov observa casos de desenvolvimento das economias em transição traçando as principais para o sucesso nesses países.

O Ipea deu um passo importante e revelador ao contribuir para disseminar reflexões sobre o desenvolvimento cujo eixo é a economia política. Se o esforço for bem sucedido, especialistas de toda a parte poderão contar com um material rico e que permita promover o desenvolvimento através de políticas públicas mais esclarecidas e adaptadas às condições intrínsecas a cada sociedade, refutando os dogmas fora de lugar que tanto sofrimento causaram às populações desses países nas últimas décadas via imposição de receituários francamente incompatíveis com as reais necessidades.

 
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