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Uma legião de microempreendedores no Nordeste

2008 . Ano 5 . Edição 41 - 16/03/2008

Com o aval dos próprios tomadores de empréstimos,operações de pequeno porte, sem burocracia, e toda a tramitação até a liberação do dinheiro em apenas sete dias,o Crediamigo, programa de microcrédito do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), faz dez anos e está perto de transformar 1 milhão de brasileiros em microempreendedores

Por Adriana Thomasi, de Fortaleza

Pequenos empréstimos, com valores a partir de R$ 100, vêm mudando a vida de muita gente, em especial nos últimos dez anos. Mais visível nas comunidades da periferia das capitais ou de municípios do interior da região Nordeste, a facilidade de acesso a financiamentos embute oportunidades de ocupação e renda e faz surgir uma verdadeira legião de novos microempreendedores. No ano passado, o Crediamigo, programa de microcrédito produtivo orientado do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), o maior do gênero no País, fechou com média de 3,3 mil operações por dia. Trata-se de uma modalidade bem ágil: o empréstimo é liberado de uma só vez em no máximo sete dias úteis após a solicitação.

Desde 1998,ano de criação do programa, até 29 de fevereiro deste ano, foram 790 mil clientes atendidos em 4,1 milhões de operações,com desembolsos de R$ 3,6 bilhões. São números extraordinários, se considerado o valor médio de cada financiamento. Só em 2007, a quantidade de empréstimos superou 824 mil, correspondendo a R$ 794,2 milhões de janeiro a dezembro. Nada menos de 64 mil novos empreendedores engrossaram a base de clientes, representando o maior incremento da história do programa. A carteira de microcrédito do BNB fechou fevereiro de 2008 com 307,7 mil clientes ativos e contratações de R$ 224,3 milhões. Os recursos são liberados para todo o Nordeste, norte de Minas Gerais e norte do Espírito Santo, que formam a área de atuação do banco.

Os empréstimos solidários, tendo como garantia apenas o colateral social da própria clientela, representam 95% da base de clientes. O sistema de colateral social funciona da seguinte forma: o próprio interessado reúne um grupo de amigos empreendedores que morem ou trabalhem próximos e que confiem uns nos outros. Esta união possibilita o "aval solidário", que é a garantia conjunta para o pagamento das prestações. Um é o avalista do outro. Foi uma receita que deu certo.

"Projetamos encerrar este ano com 370 mil clientes ativos e chegar a 2011 com 1 milhão", diz Stélio Gama Lyra Júnior, superintendente de Microfinanças e Projetos Especiais do BNB, instituição com sede em Fortaleza (CE). A carteira de 2007 somou 300 mil clientes ativos, no global. No Ceará, berço do programa, os resultados são os mais animadores. Nada menos de 92,3 mil clientes integram a carteira ativa do programa no estado - posição de fevereiro. O segundo maior tomador desse tipo de empréstimo é a Bahia, com 36,3 mil clientes ativos. A diferença entre os dois estados pode ser explicada em parte porque o programa começou no Ceará e ficou só neste estado por muito tempo, antes de chegar aos demais.

VIDA DE DESAFIOS Pessoas físicas, proprietárias de pequenos negócios nos setores de comércio, indústria ou serviços, seja formal ou informal, podem se habilitar ao crédito. Gente como Francisco Rios Araújo, de 45 anos, portador de deficiência visual causada por glaucoma, que decidiu investir em uma fábrica de antenas para televisão. "Minha vida sempre foi cheia de desafios", diz. Com problemas de visão desde os 14 anos, ele precisou mudar do interior do Ceará para Fortaleza, em busca de tratamento. Por cinco anos, morou em uma instituição que abrigava pessoas saídas do interior do estado. Passou por períodos difíceis, agravados pelo glaucoma - que o deixou cego aos 20 anos -, mas não desistiu.Pois, "com a força e a fé em Deus", como gosta de afirmar, começou a mudar de vida.

Partiu em busca de trabalho e no caminho encontrou uma assistente social que o indicou para a Satélite, fabricante de antenas de televisão."Trabalhei por sete anos na empresa, aprendi o processo e, quando a fábrica mudou para um município vizinho, resolvi sair do emprego e montar meu próprio negócio", conta. O investimento inicial foi de R$ 1.150 com recursos próprios. A empresa apoiou a decisão de Rios e o auxiliou no processo. "Eles me ajudam até hoje, vendendo material", diz.

Com o dinheiro da rescisão do contrato de trabalho, alugou uma casa, comprou equipamentos e começou a produção de antenas externas UHF e VHF, atualmente em 20 diferentes versões. Encontrou no centro da cidade um cliente que acreditou no produto e o indicou para outros quatro,que continuam até hoje. A primeira venda, no valor de R$ 100, Rios não esquece. "Comecei pequeno e agora tenho 40 clientes", adianta, ao revelar que a fábrica, dependendo do mês, chega a faturar até R$ 11 mil.

O aumento das vendas levou à inovação e à diversificação da linha de produtos. O primeiro empréstimo, em torno de R$ 700, foi há mais de cinco anos. "Com o Crediamigo, minha atividade teve um grande salto, pois aumentei o estoque, ampliei a clientela e construí um negócio estável", diz. Após 23 empréstimos - o último foi em torno de R$ 1 mil -, o microempreendedor não apenas conseguiu fortalecer a empresa,mas acumulou patrimônio - três casas, fábrica, carro e ainda ajuda uma instituição para crianças carentes na comunidade. A Antenas Rios também gera quatro empregos diretos, voltados a jovens carentes e sem oportunidade no mercado de trabalho.

MODA DE PRAIA Com base no modelo de redes solidárias, o Crediamigo tornou realidade para milhares de empreendedores brasileiros o acesso ao sistema formal de crédito para montar, ampliar ou melhorar suas atividades. Foi o que ocorreu na Caxangá Moda Praia, em Caucaia, município da região metropolitana de Fortaleza, que começou com três funcionários e, em períodos de maior demanda, chega a até 50 postos de trabalho, incluindo na soma as bordadeiras terceirizadas.

O casal Carlos Antonio Rosa de Oliveira e Márcia trabalhava como sacoleiro, vendendo moda praia, quando abriu a confecção em 2000. A experiência anterior ajudou-os na decisão do tipo de negócio. Um empréstimo da família garantiu a compra de uma máquina e da matéria-prima.Cerca de um ano depois, com vontade de crescer e de melhorar de vida, o casal aceitou o convite de um amigo para participar do Crediamigo.

Com o primeiro empréstimo de R$ 900, Carlos e Márcia compraram malha e aviamentos.Até agora foram 31 empréstimos. Com os recursos do programa ampliaram a produção. "Investi em estrutura física do negócio, reformei a casa, comprei carro e melhorei a qualidade de vida da minha família", afirma Carlos. A Caxangá começou com 40 peças por dia, entre biquínis, maiôs, sungas, saídas de praia, e hoje fabrica 300 peças por dia, produtos que abastecem clientes nos estados de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, além do Ceará.

A empresa também abre oportunidade do primeiro emprego para jovens do bairro Conjunto Guadalajara, em Fortaleza, e ensina a arte da moda praia - da modelagem, passando pelo corte, pintura, bordado, até o acabamento final. Márcia Liduína Constantino da Rocha, funcionária da Caxangá há oito meses, nunca havia trabalhado antes. Hoje, tem uma profissão, um salário regular, ajuda na renda familiar e já pensa em entrar para a faculdade de estilismo e moda. "Essa oportunidade mudou não só a minha vida,mas de toda a família", diz.

O último empréstimo da Caxangá foi de R$ 7,7 mil para capital de giro - o teto máximo do programa é de R$ 10 mil.Como "cliente antigo e sempre pontual",Oliveira aproveita todas as oportunidades de empréstimos em grupo (solidário) ou individuais." Estou sempre no limite do banco e sem nenhuma falha", diz, com orgulho, e afirma que os juros baixos do Crediamigo estimulam a busca por crédito.

BOAS CHANCES Na composição das contratações do Crediamigo, 39% correspondem a giro solidário, 38% a giro popular solidário, 15% a investimento fixo, 6% a giro individual e 2% a giro comunidade. Com prazo médio de pagamento de quatro meses - que pode ser via carnê, quitado em qualquer estabelecimento vinculado ao sistema de compensação bancária -, o programa abre possibilidades de três empréstimos anuais, em média, desde que o cliente esteja em dia com as parcelas. As taxas praticadas variam de 1,95% a 3% ao mês, dependendo do produto de crédito e do tempo no programa. A política do Crediamigo beneficia os clientes mais antigos, com descontos graduais das taxas na proporção em que renovam suas operações.

Um conjunto de fatores como conhecimento da realidade do cliente e orientação dos agentes de crédito,que auxiliam no cálculo da movimentação de caixa e indicam a capacidade de endividamento, mantém os índices de inadimplência média na ordem de 0,94%. Contribui ainda a própria configuração de grupos solidários do Crediamigo, formados por três pessoas, no mínimo, e 30, no máximo, todas conhecidas, que se responsabilizam pelo crédito e pelo aval, o que acaba criando certo comprometimento entre os parceiros.

A pontualidade no pagamento garantiu a Lúcia Belarmino e ao marido Gonçalo César Barros,donos da Ki-Sorvetão, mais de 15 empréstimos. O primeiro, de R$ 500, ajudou a ampliar as vendas, com a distribuição de sorvetes para vários pontos de Fortaleza. A idéia de expandir as atividades começou a geminar em 1996, quando Gonçalo foi demitido e o casal começou a vender dindim - um tipo de picolé caseiro, em vários sabores, embalado em saquinhos plásticos - na própria residência.

Certa do potencial do negócio, Lúcia decidiu participar de um curso gratuito de fabricação de sorvetes caseiros e começou a produzir. Foi quando recebeu o convite para integrar um grupo solidário do Crediamigo. Hoje, totalmente reformada, a Ki-Sorvetão emprega 15 pessoas e trabalha dentro das recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mantendo em seus quadros uma nutricionista, responsável pela elaboração dos sorvetes e informações das embalagens. Com o lucro, Lúcia realizou o sonho da casa própria, comprou automóvel e pôde oferecer melhores condições de estudo para os três filhos.

A sorveteria ainda contribui financeiramente com instituições que atendem a crianças carentes. No Dia da Criança, promove uma festa com brincadeiras de palhaços e distribuição de sorvetes para a garotada.

UNIVERSO FEMININO Mulheres como Maria de Fátima Alves da Silva, dona da Farmácia Mil Cheiros, representam 64% da clientela do programa."O Crediamigo foi o primeiro a oferecer crédito e confiança", diz. A microempreendedora iniciou vendendo perfumes numa pequena prateleira improvisada, em frente à loja onde trabalhava. De início foram R$ 500. Depois de cinco anos, período que pagou em dia mais de 20 empréstimos, Maria de Fátima transformou seu estabelecimento "na maior e melhor farmácia da cidade", como ela diz, e ampliou as chances de crédito para R$ 8 mil.

Localizada no município de Pereiro (CE), a cerca de 340 quilômetros de Fortaleza, a Mil Cheiros vende remédios, perfumes, cosméticos, celulares, além de receber pagamento de contas de água, luz e telefone. Emprega quatro funcionários e ainda atua em parceria com artesãos, que comercializam produtos no interior da farmácia. A perspectiva de bons negócios também estimulou a busca pela especialização. Maria de Fátima decidiu cursar graduação em farmácia, na Faculdade Católica Rainha do Sertão, em Quixadá (CE).

Para a costureira Verônica Sobreira Silva, que até 1998 trabalhava para uma empresa, investir em um negócio próprio significava a chance de acompanhar de perto o crescimento das filhas. Por isso, quando as meninas entraram na adolescência, ela decidiu mudar. Procurou emprego de faccionista, onde poderia costurar em casa. O proprietário da confecção emprestou a máquina de costura e, com disposição, Verônica começou a juntar dinheiro, pois não queria depender apenas de um cliente.

Em pouco tempo, conseguiu adquirir máquinas usadas e contratou as vizinhas para fazer parte do grupo, pagando por peça. Com o aumento da produção, percebeu também que era necessário evoluir. Máquinas novas e modernas poderiam garantir mais qualidade e rapidez ao serviço. Em junho de 2000, recebeu convite para participar de um grupo solidário do Crediamigo. Em 2002, conseguiu a primeira máquina financiada pelo Crediamigo. O negócio evoluiu e hoje são quatro máquinas e 26 pessoas empregadas, que recebem salário e prêmios de estímulo à produtividade. Além disso, a microempreendedora tem casa própria, conta em banco, cartão de crédito e carro novo.

A intensa movimentação da clientela em busca de recursos e o crescimento da economia da região Nordeste vêm influenciando o aumento médio dos empréstimos. Em janeiro de 2002, girava em torno dos R$ 745 e passou para R$ 963 em dezembro do ano passado. O valor dos empréstimos aumenta na medida em que o microempreendimento se desenvolve. Mais recentemente, o BNB firmou acordo com o Sebrae, no sentido de oferecer capacitação gerencial a seus clientes, e com o Instituto Nordeste Cidadania, para alfabetização de microempresários. A idéia é ampliar parcerias para orientação e capacitação de clientes com entidades públicas e privadas.

ALCANCE REGIONAL Com oferta de produtos e serviços - capital de giro, através de grupos solidários ou individualmente, investimento fixo, Crediamigo Comunidade, conta corrente (normal e simplificada), seguros, assessoria empresarial e capacitação -, o programa chega a mais de 1,4 mil municípios do Nordeste, norte de Minas Gerais e do Espírito Santo. Nada menos de 1.517 pessoas estão envolvidas na operacionalização do Crediamigo, que conta com suporte de 170 agências do banco e 37 postos de atendimento.

De janeiro a dezembro do ano passado, o número de clientes ativos cresceu 27% e a expectativa é ampliar esse índice para 30% neste ano. A meta é atingir os municípios do Nordeste e outras regiões do País.O projeto de expansão da rede de atendimento prevê ainda a utilização da internet nos sistemas de aprovação de crédito, já a partir deste ano.

O BNB pretende se consolidar como modelo de atuação em microcrédito. Com o Crediamigo Comunidade, produto desenhado para financiar as camadas ainda mais pobres, o banco procura ampliar a participação no atendimento das necessidades desse segmento populacional, ainda não contemplado com as atuais linhas de crédito. Esse modelo contempla pessoas sem atividade ou com menos de um ano de atuação no mercado. Números de dezembro de 2007 mostram carteira de 20.438 clientes ativos, desembolsos equivalentes a R$ 20 milhões e inadimplência próxima a zero. No período, a média de empréstimos ficou em R$ 276.

A configuração do Crediamigo Comunidade, voltado à base da pirâmide, se apresenta como alternativa para os beneficiários do Programa Bolsa Família. "Planejamos trabalhar com esse segmento da população, numa perspectiva de complementação de renda", acrescenta o superintendente de Microfinanças e Programas Especiais do BNB, Stélio Gama Lyra Júnior.

Em articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Sebrae e governo do Ceará, por meio do representante do Bolsa Família, o banco está empenhado em aliar políticas de crédito com programas de transferência de renda, como forma de impulsionar o desenvolvimento. "O microcrédito poderá se tornar uma perspectiva de fortalecimento da renda também para esse público", reforça.

O Crediamigo Comunidade segue a metodologia dos bancos comunitários ou village banking, difundida com sucesso em países da África,América Latina e Ásia, como importante instrumento de política para redução da pobreza. Nesse sistema, são formados "bancos nas comunidades", constituídos de 15 a 30 pessoas interessadas em iniciar um negócio, gerido pelos seus próprios integrantes. Os empréstimos variam de R$ 100 até R$ 1.000 e atendem a financiamento de capital de giro e pequenos equipamentos para a população de áreas urbanas e semi-urbanas.

De acordo com o superintendente de Microfinanças e Programas Especiais do BNB, os próprios integrantes se responsabilizam por decisões, tais como quem participa do banco, valor do crédito a ser concedido, controle de recebimentos e pagamentos e cobrança das parcelas em atraso. Com base na orientação empresarial dos assessores de crédito, os integrantes dos bancos são estimulados a investir os recursos em atividades produtivas, formar a poupança familiar e discutir questões de interesse da comunidade, conferindo ao produto um forte conteúdo econômico e social.

As primeiras ações do Comunidade ocorreram em 2005,no interior do Ceará, resultado de parceria com a Acción Internacional, organização privada, sem fins lucrativos, com programas em diversos países da América Latina, e evoluíram para os demais estados, como um novo produto." O Comunidade vai além do crédito em si. Envolve outras ações, gerando capital social", diz o superintendente.

 
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