Perfil - Lélia Gonzalez |
2009 . Ano 6 . Edição 51 - 07/06/2009
Antropóloga, ativista, mulher Autora de artigos, ensaios e livros sobre a temática racial, a antropóloga mineira e militante de movimentos negros nos anos 1970, Lélia Gonzalez (1935-1994) foi também um expoente no combate ao preconceito contra a mulhero. Um dos expoentes do movimento negro brasileiro ainda não teve o merecido reconhecimento por parte do restante do País. Lélia Gonzalez (1935-1994) foi seguramente uma das principais vozes a se levantar no âmbito da discussão sobre a questão racial, denunciando, com rara perspicácia e objetividade, a situação da população negra no Brasil.
Nascida em Minas Gerais, foi no Rio de Janeiro onde viveu a maior parte de sua vida. Antropóloga, ao longo de três décadas exerceu o magistério, passando pelas principais universidades do Rio de Janeiro, como a Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Escola de Artes Visuais. Autora de vários artigos e ensaios sobre a temática racial, além dos livros Festas Populares no Brasil (Rio, Índex) e Lugar de Negro, este em co-autoria com Carlos Hasenbalg (Rio, Marco Zero). Sua obra acadêmica e seu trabalho como militante contribuíram para impulsionar não apenas o debate sobre a problemática racial no Brasil, mas também os seus desdobramentos a partir, basicamente, de dois temas correlatos: o tema da ideologia do branqueamento e seus efeitos e o da dupla exposição da mulher negra, discriminada pelo racismo e pelo sexismo. Lélia explicita em seus escritos questões candentes até então não problematizadas. A percepção da particularidade que perpassa a vida da mulher negra é apresentada em sua obra como um novo filão a ser explorado. Luiza Bairros, grande liderança do Movimento Negro e atualmente secretária de Promoção da Igualdade Racial da prefeitura de Salvador, em brilhante artigo sobre Lélia escreveu o seguinte: "Quando a maioria das militantes do MNU ainda não tinha uma elaboração mais aprofundada sobre a mulher negra, era Lélia que servia como nossa porta-voz contra o sexismo que ameaçava subordinar a participação de mulheres no interior do MNU, e o racismo que impedia nossa inserção plena no movimento de mulheres. Mas através de muitas e longas conversas e dos textos dela, aprendemos como incorporar um certo modo de ser feminista às nossas vidas e à nossa militância, articulamos nossos próprios interesses e criamos condições para valorizar a ação política das mulheres negras." Lélia fez parte do grupo de fundadores do Movimento Negro Unificado - MNU, principal canal de ressurgimento da luta pela igualdade racial, nos anos 70. Incansável na luta contra o racismo e a discriminação racial, foi também uma militante da causa feminina, particularmente da mulher negra. A luta contra as desigualdades que afligiam notadamente as mulheres negras trouxe à tona uma nova faceta da problemática racial que ela conseguiu destacar em seus trabalhos acadêmicos e também na sua atuação política. Sua importância para o movimento negro brasileiro tem sido comparada à de Ângela Davis, grande ícone do movimento negro americano. A obra de Lélia, seus escritos e suas ideias, formou gerações de militantes. Atualmente, as mulheres negras se destacam como pontas-de-lança do Movimento Negro. Com invejável organização, perseverança e, sobretudo, a certeza de estarem travando o bom combate. Lélia é e seguirá sendo o grande exemplo que inspira o trabalho dessa geração de guerreiras, que marca e demarca a trajetória da luta contra o racismo e o sexismo no Brasil. O movimento negro e o Brasil muito devem a Lélia Gonzalez. Informações gerais sobre a obra de Lélia Gonzalez, sua participação em congressos, seminários, conferências, cursos - em nível nacional e internacional podem ser encontradas no sítio: www.leliagonzalez.org.br. |