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Retratos - Canoas e jangadas

2009 . Ano 6 . Edição 53 - 3/08/2009

Por Suelen Menezes, de Brasília

Iphan inicia trabalho de preservação das embarcações tradicionais e assegura condições de sobrevivência para os pescadores, que não conseguem competir com a pesca predatória de grande escala


País de dimensões continentais, com mais de nove mil quilômetros de litoral banhado pelo Oceano Atlântico e com uma das maiores reservas de água doce do Planeta, o Brasil desenvolveu uma grande diversidade de tipos de embarcações, que espelham também a riqueza da formação cultural brasileira. A história do país está diretamente ligada à navegação: foi no comando de 13 caravelas que Pedro Álvares Cabral chegou, em abril de 1500, a essa terra hoje chamada Brasil. Mas o povo que habitava essas terras, os indígenas de variadas tribos, também tinha suas embarcações.

Ao longo de 500 anos de história, novas embarcações foram desenvolvidas para atender às especificidades de cada região. Afinal, com tanta água e variedade de ambientes geográficos litorâneos, lacustres e fluviais, não é de estranhar que o país seja um dos mais ricos em diversidade de barcos tradicionais e se destaque como detentor de boa parte do patrimônio naval da humanidade.

O Brasil, país de muitas caras, cores e jeitos. Essa miscigenação que formou a população também está representada nas embarcações tradicionais. Somem-se ambientes aquáticos distintos, como Amazônia, Pantanal, rio São Francisco, Bacia Fluvial do Paraná: teremos cada comunidade desenvolvendo um tipo de barco aperfeiçoado para suas condições específicas.

A canoa baiana, considerada a rainha das canoas brasileiras, é uma forma derivada diretamente dos modelos africanos. As jangadas do Nordeste, as baleeiras do Sul, o saveiro da Bahia. As canoas, traineiras, botes e bateiras são encontrados em todas as regiões do país, mas cada um diferente do outro. As bianas e cúters do Maranhão. Todas são representações da diversidade cultural do país, que carrega traços indígenas, europeus, africanos e orientais.

São mais de cem diferentes tipos de embarcações identificadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), porém um inventário realizado no final do século XIX, pelo almirante Alves Câmara, registrou mais de duzentas. Em um século, metade desse patrimônio se perdeu.

Preocupado com a preservação do patrimônio naval, um dos ramos mais desconhecidos e ameaçados do país, o Iphan criou, no ano passado, o projeto Barcos do Brasil, com o objetivo principal de preservar e valorizar as embarcações tradicionais brasileiras. Com o apoio de entidades públicas e privadas, a meta é localizar e cadastrar os barcos tradicionais, seus contextos culturais e ajudar a melhorar a vida de seus usuários e detentores: marinheiros, pescadores, mestres, construtores e auxiliares.

O diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, Dalmo Vieira Filho, explica que as mudanças nos contextos culturais, sociais e econômicos das comunidades de usuários e detentores desses barcos tradicionais têm contribuído para o seu desaparecimento. "A pesca artesanal tem diminuído ao longo dos anos, porque o pescador já não consegue suprir as necessidades de sua família", explica. Os pescadores tradicionais têm dificuldade de competir com a pesca de arrastão, com rede de malha fina e outras formas de pesca predatória, como a feita com explosivos.

Outra questão importante, segundo Vieira Filho, é a restrição da extração da madeira, matéria-prima para a confecção dos barcos. Algumas já não são mais encontradas ou não podem mais ser utilizadas. "Estudos ambientais estão em curso para verificar as madeiras que podem ser utilizadas na fabricação dos barcos. A dificuldade é que cada parte do barco usa um tipo de madeira. A nossa ideia é ter uma área de manejo", explica.

"O nosso desafio é fazer com que o usuário das embarcações tradicionais tenha condições dignas de trabalho. A preservação deve ser feita não em prejuízo, mas em benefício dos pescadores. Não é impedir o acesso à tecnologia, mas reconhecer o valor cultural da tradição e sua eficiência, e melhorar a qualidade de vida do pescador", afirma.

Vieira Filho explica que a embarcação tradicional nada deixa a desejar em comparação ao barco a motor. Tendo em vista que o Brasil tem um regime regular de ventos, as velas e remos fazem um excelente trabalho. Sem contar que é mais econômico para o pescador, que não precisa usar óleo diesel e nem gastar com mecânico. O casco movido a motor não requer tanta sofisticação, o que descaracteriza o trabalho artesanal.

A proposta do projeto Barcos do Brasil é organizar o inventário do patrimônio naval brasileiro para proteger e valorizar as embarcações e as atividades relacionadas a elas, como pesca, artesanato e fabricação, e também monitorar e conservar as principais embarcações. O projeto prevê ainda a construção de barcos tradicionais em locais públicos, com o intuito de divulgar e preservar as técnicas de carpintaria naval, e o desenvolvimento de programas de conservação e ma enção dos barcos tradicionais para pescadores, construtores e usuários de barcos; e criar unidades regionais do Museu Nacional do Mar.

O Museu Nacional do Mar, localizado em São Francisco do Sul (SC), foi criado em 1993, numa parceria do governo do estado com o Iphan. Entre 2003 e 2004, o museu foi revitalizado. O local recebe mais de 60 mil visitantes por ano. Para 2010, está prevista a construção das unidades de Maragogipe (BA) e Parnaíba (PI). No final de julho, a Bahia foi sede do 3º Seminário do Patrimônio Naval Brasileiro, realizado em Salvador. O encontro reuniu especialistas em preservação do patrimônio naval de várias esferas do governo federal e do setor privado, que discutiram alternativas para a sustentabilidade dos pescadores artesanais, com a valorização da produção pesqueira por meio do aperfeiçoamento da armazenagem e comercialização do pescado.

 
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