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Perfil - A voz do sertão brasileiro

2009 . Ano 7 . Edição 55 - 17/11/2009

A voz do sertão brasileiro

Pedro Barreto - de Brasília


Euclides da Cunha

Jornalista, sociólogo, engenheiro e integrante do movimento republicano, Euclides da Cunha consagrou-se como escritor ao publicar a obra-prima Os Sertões, que continua conquistando leitores. Encarregado da cobertura jornalística da Guerra de Canudos, ele conheceu os costumes e tradições do sertão que relata no livro

O Brasil completa cem anos sem um dos mais importantes escritores de sua história: Euclides da Cunha, autor da obra-prima Os Sertões. Entre homenagens e pesquisas, fica a certeza de que o legado literário sobre uma das épocas mais dramáticas do Nordeste brasileiro ainda tem força para emocionar e conquistar leitores.

Nascido em Cantagalo, no Rio de Janeiro, em janeiro de 1866, Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha desempenhou diversas atividades, além da de escritor e historiador. Foi jornalista, sociólogo e até engenheiro. Frequentou conceituados colégios do estado e ingressou na Escola Politécnica e na Escola Militar da Praia Vermelha.

Lá, viveria um episódio marcante de sua trajetória, em 1888. Contagiados pelas ideias republicanas que ganhavam força no País, que estava a um passo de abolir a escravatura e pôr fim na Monarquia, os militares iriam receber a visita de Tomás Coelho, então ministro da Guerra de Prudente de Morais. Haviam combinado um ato de revolta, mas na hora da inspeção de tropas, todos se mantiveram em fila.

Euclides foi o único a sair de forma. Tirou o sabre, tentou quebrá-lo e o arremessou aos pés do ministro. O ato ficou conhecido como o "episódio do sabre" e foi o assunto de toda a semana no Parlamento brasileiro e nos meios de comunicação. A escola queria que Euclides se declarasse doente mental ou sofrendo de fadiga por estudo. Ele refutou a ideia e se disse pronto a assumir as consequências. Ficou preso por cerca de dois meses, e depois foi expulso da Escola.

A partir daí, passou a escrever para o jornal A Província de S. Paulo. Eram artigos fortes, que defendiam ativamente a proclamação da República. O trabalho abriu espaço para que, em 1897, Euclides da Cunha fosse convidado para ser o correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em uma das insurreições mais famosas de nossa História, a Guerra de Canudos.

Em 30 de agosto daquele ano, ele partiu para o sertão da Bahia, onde cresciam os protestos de sertanejos e jagunços contra as condições de vida na região. Eles eram liderados pelo beato Antônio Conselheiro, que reunia adeptos com discursos contra o descaso dos governantes e com doses de fanatismo religioso.

Antes convicto de que o movimento se resumia a camponeses atrasados, que queriam a permanência da Monarquia, Euclides viu que estava equivocado. Viagens a pé, a cavalo, conversas informais, e, principalmente, a visão da realidade da daquele interior do Brasil levaram o autor a enxergar que aquela luta era por melhores condições de vida.

Desta experiência veio o livro Os Sertões, internacionalmente famoso por sua linguagem e pelo retrato apurado do drama vivido pelo Nordeste brasileiro naquela época. Ele é dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta, nas quais Euclides analisa os aspectos naturais da região, assim como os costumes, tradições e a vida dos habitantes.

"É uma monumental reportagem de guerra, mas que impressiona não exatamente por sua teoria ou pela explicação dos fatos, mas sim pelo lirismo das metáforas, pelo arcabouço literário", explica Anabelle Loivos, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma das coordenadoras do projeto cultural Euclides da Cunha. O livro já teve mais de 50 edições no País e foi traduzido para cerca de 10 idiomas, além de ter sido objeto de estudo e pesquisa em várias instituições acadêmicas brasileiras.

Após voltar de Canudos, Euclides foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 21 de setembro de 1903. No ano seguinte, foi nomeado chefe de uma comissão que demarcaria os limites da fronteira entre Brasil e Peru. O trabalho resultou em uma obra póstuma, À Margem da História, na qual ele denunciou a exploração e a miséria vividas pelos seringueiros da Amazônia. A tragédia de sua morte aconteceu em 1909. As notícias dão conta de que Euclides invadiu, armado, a casa do suposto amante de sua esposa, onde foi assassinado.

Desde então, sua vida tem sido tema de exposições e debates em diversas universidades e instituições brasileiras. No último mês de setembro, o Projeto Cultural Euclides da Cunha, organizado pela UFRJ e pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), preparou o Seminário Internacional 100 anos sem Euclides. Acadêmicos, professores e estudantes participaram de debates interdisciplinares sobre as áreas de pesquisa do projeto.

"Levamos dois anos gestando o projeto, com apoio da Unesco. Fizemos questão de levar o seminário para Cantagalo, município de Euclides, para que ele servisse como espécie de alavanca para o desenvolvimento sociocultural da região. Tivemos a participação de professores do exterior, e o que mais impressionou foram crianças do ensino fundamental expondo trabalhos sobre a escrita de Euclides. É possível, sim, fomentarmos uma nova geração de leitores de obras tão épicas como Os Sertões", garante Anabelle Loivos.

 
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