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Perfil - Milton Santos

2010 . Ano 7 . Edição 60 - 28/05/2010

Milton Santos

De descendente de escravos alforriados a doutor honoris causa, o geógrafo questionou a globalização e ajudou a pensar o desenvolvimento do Brasil

Ivy Faria - de São Paulo

 


No Brasil, falar em Milton Santos é associar o nome a um de seus objetos de estudo, a globalização. A associação, claro, faz todo o sentido desde o ano 2000, quando ele publicou publicou Por Uma Outra Globalização (Editora Record). Entretanto, o legado deste intelectual brasileiro tem múltiplas facetas, que vão além da mera crítica às relações comerciais e culturais entre países do globo.

Formado em Direito, geógrafo brilhante, nordestino, negro: há muitas conexões a serem feitas a Milton Santos, que hoje, dentre as várias homenagens recebidas, empresta seu nome a uma biblioteca municipal em uma região periférica da cidade de São Paulo. Pela trajetória e legado do intelectual, essa associação não poderia ser mais justa.

Trajetória que começou em Brotas de Macaúbas, pequeno município na região da Chapada Diamantina (BA), onde, em 3 de maio de 1926, nasceu Milton Almeida dos Santos, filho de uma família de professores primários descendentes de escravos alforriados.

Duas décadas depois, em 1948, já na capital do estado, Salvador, ele se formou em Direito em uma das escolas mais tradicionais do país, a Universidade Federal da Bahia. Deixou o estado e o país em 1956 para concluir seu doutorado em Geografia Humana na Universidade de Strasbourg, na fronteira entre a Alemanha e a França. Voltou dois anos depois, para fazer sua livre-docência na mesma escola em que cursou Direito, a UFBA, mas desta vez com o enfoque em sua verdadeira vocação, a geografia.

Santos volta ao exterior após ter sido perseguido pelos órgãos de repressão militares, na sequência do golpe de 64: depois de passar dois meses preso em Salvador, ele partiu para um exílio voluntário, no qual lecionou como professor convidado em universidades de todo o mundo, de Paris à Tanzânia, passando pelas prestigiosas Universidade de Columbia e o Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), ambas nos Estados Unidos.

Antes de seguir para o Canadá, casou-se em 1972 com Marie Hélène Tircelin, que havia sido sua aluna em Bordeaux. Cinco anos depois nascia, na Bahia, o primeiro filho do casal, Rafael. Como geógrafa, Marie Hélène contribuiu com seu mestre fazendo traduções e trocando ideias. É neste período que ele publica "Por uma Geografia Nova", obra emblemática da geografia moderna.

Com a reabertura política do Brasil, ele fixa-se na capital paulista, onde permaneceu como professor da Universidade de São Paulo. Milton recebeu mais de vinte títulos de doutor honoris causa em universidades do Brasil e do mundo. Em 1994, foi o primeiro nativo de um país em desenvolvimento a receber o prêmio Vautrin Lud, espécie de prêmio Nobel da geografia. Tantos títulos, porém, não abalaram sua personalidade: o professor nunca deixou de defender que o intelectual deve "ser humilde frente à realidade, mas corajoso para criticá-la".

Coragem não lhe faltou para criticar um dos maiores fenômenos contemporâneos, a globalização. Foi nos corredores da USP, entre as aulas que dava para cursos de pósgraduação, que Milton Santos concebeu a ideia de que era possível sim, construir uma nova globalização, construída por e para os excluídos, objetivando a melhoria da qualidade de vida dos povos. E é neste mesmo contexto que o geógrafo aponta como "vilões" o dinheiro e a informação, pela forma tirana como são usados pelas grandes corporações, inacessíveis para grande percentual da população.

Em "Por Uma Outra Globalização" ele classifica o fenômeno como fábula, pela maneira como as empresas e os Estados construíram a ideia de que a globalização era inevitável; e perversidade, pois os mais pobres não tinham acesso aos seus principais benefícios. Mas o geógrafo também vislumbra no fenômeno uma possibilidade para o futuro, com uma pequena dose de esperança, ao considerar que seriam justamente os mais pobres a exercer um papel de liderança no processo de globalização, podendo deflagrar um movimento social transformador.

Nem tudo na aldeia global era ruim, salientou o geógrafo. Mesmo sem ver os recentes terremotos que arrasaram o Haiti e o Chile, Santos previu que haveria uma solidariedade mundial como consequência da era da informação rápida e cada vez mais acessível. Apesar de ter ficado marcado por suas opiniões sobre a globalização, Milton Santos não se prendeu apenas a este assunto, e sua produção abordou também questões como o uso do espaço, em Metamorfoses do Espaço Habitado e A Natureza do Espaço,ambos editados peal Edusp.

Até 2000, escreveu mais de 40 livros e centenas de artigos. Entretanto, em 24 de junho de 2001, depois de sete anos lutando contra a doença, um câncer de próstata parou sua produção. No mesmo ano foi publicada a obra póstuma "Brasil e Sociedade no Início do Século XXI" (Editora Record) em parceria com a geógrafa argentina Maria Laura Silveira.

 
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