2010 . Ano 7 . Edição 61 - 13/07/2010
Zilda Arns
Os sete pontos da escala Ritcher foram suficientes para abalar uma pequena ilha do Caribe e destruir todo um país. De repente o Haiti acordou na manhã do dia 12 de janeiro com suas cidades devastadas e cerca de 300 mil mortos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A tragédia que chocou o mundo teve um gosto amargo também para os brasileiros: além dos soldados que estavam em missão de paz no país, um nome muito querido do Oiapoque ao Chuí também estava na lista de mortos. Era o de Zilda Arns, brasileira, 75 anos.
Ivy Faria - de São Paulo
O nome da médica pediatra e sanitarista é sinônimo da Pastoral da Criança, entidade que ela fundou em 1983 e que conta com mais de 261 mil voluntários em todo o país. A doutora Zilda, ou a Pastoral, como preferir, foi responsável pela diminuição da mortalidade infantil no Brasil. O trabalho, realizado preferencialmente em comunidades muito pobres, foi reconhecido internacionalmente. A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e a Organização Mundial de Saúde foram algumas que concederam distinções à Pastoral. Só o governo brasileiro indicou a entidade quatro vezes ao prêmio Nobel da Paz.
O nascimento e reconhecimento da Pastoral confunde-se com a vida de Zilda Arns Neumann, uma senhora de voz mansa que nasceu na pequena Forquilhinha, a 212 quilômetros de Florianópolis (SC), em 25 de agosto de 1934. Filha de um casal descendente de alemães que teve 16 filhos, entre eles o hoje arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, o responsável por convencer o patriarca da família a deixar Zilda estudar medicina na Universidade Federal do Paraná.
Depois dos bancos da faculdade, Zilda foi para o Hospital de Crianças César Pernetta e, mais tarde, tornou-se diretora de Saúde Materno-Infantil da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná. Foi baseado em sua experiência que Dom Paulo sugeriu que a irmã criasse um programa para disseminar o uso do soro caseiro dentro da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Surgiu assim a Pastoral da Criança, que hoje atua em mais de 4 mil municípios em todos os estados brasileiros. O legado da doutora Zilda, porém, não se restringe apenas às vidas das crianças: em 2004, ela fundou a Pastoral da Pessoa Idosa, que, segundo a própria instituição, atende atualmente mais de 129 mil idosos.
Mãe de cinco filhos e avó de dez netos, a doutora Zilda viajou o mundo todo para contar sua experiência à frente da Pastoral da Criança. Hoje, modelos semelhantes existem na República Dominicana, Panamá, México, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Argentina, Colômbia, Bolívia, Honduras, Guiné, Guatemala, Timor Leste e Filipinas. Foi para fazer uma palestra sobre o trabalho da Pastoral para religiosos em Porto Príncipe que ela deixou Curitiba, onde morava, rumo ao Haiti.
O terremoto no Haiti pos um fim a uma vida dedicada à caridade. A força do abalo, porém, em nada mudou o legado de Zilda Arns, já que a Pastoral da Criança continua atendendo, em média, 83 mil crianças por mês com uma nova causa: ensinar as mães que é mais seguro deixar os bebês dormindo com a barriga para cima, ideia proposta pela incansável doutora Zilda, que atuava, antes do terremoto, na expansão internacional da Pastoral, para dar saúde e qualidade de vida a mais crianças pobres em todo o mundo.
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