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Perfil - Herbert José de Souza

2011 . Ano 8 . Edição 64 - 10/02/2011

Herbert José de Souza

"Queremos um país democrático, onde a política se realize através da ética e onde a ética seja uma forma superior de realização da política". O sociólogo dedicou sua vida por um Brasil com menos fome e mais cidadania.


Meu Brasil... Que sonha com a volta do irmão do Henfil", o trecho da música O bêbado e o equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, e imortalizada na voz de Elis Regina, faz referência ao sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho. Figura de aspecto magro e fala mansa, e mais do que irmão do cartunista Henfil (criador de figuras antológicas como a Graúna e Fradim), Betinho desenvolveu uma trajetória marcada pela luta contra a fome e a miséria e pela celebração da vida. Como seus dois irmãos (o outro era o músico Chico Mário), Betinho era hemofílico e tornou-se portador do vírus da Aids após uma transfusão de sangue.

A trajetória de militância de Betinho vem da adolescência, do contato com padres dominicanos que exerceram grande influência na Ação Católica, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O sociólogo teve grande participação no movimento estudantil, e durante o curso secundário, ingressou na Juventude Estudantil Católica (JEC) e depois, durante o período universitário, fez parte da Juventude Universitária Católica (JUC). Nesse momento, começou a viajar pelo Brasil nas caravanas do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fez parte do núcleo que fundou a Ação Popular (AP), organização política criada no fim de 1962, formada por católicos determinados a construir o socialismo no Brasil. Nesta fase Betinho consolidou os princípios que marcariam seu discurso e suas ações.

Em 1962, formou-se em Sociologia e engajou-se na luta pelas chamadas reformas de base que marcaram o governo João Goulart. Ao mesmo tempo, exerceu funções de coordenação e assessoria no Ministério da Educação e Cultura - onde fez articulações a favor do projeto de alfabetização de pessoas adultas desenvolvidos pelo então jovem professor pernambucano Paulo Freire - e na Superintendência de Reforma Agrária. Além disso, elaborou estudos sobre a estrutura social brasileira para a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU).

Com a intensificação da repressão promovida pelo golpe militar de 1964, Betinho exilou-se primeiro no Chile, onde viviam cerca de cinco mil brasileiros. O sociólogo deu aulas na Faculdad Latinoamericana de Ciencias Sociales, em Santiago, e atuou como assessor do presidente Allende, deposto em um golpe militar em 1973, pelo general Augusto Pinochet.

Com o golpe no Chile, Betinho asilouse na embaixada do Panamá. Em 1974, já vivendo um processo de desengajamento da AP, foi para o Canadá e depois para o México, onde cursou o doutorado e deu novo rumo à sua história pessoal.

Com a anistia política, em 1979, o sociólogo voltou ao Brasil, e trouxe do exterior a experiência de um novo modo de organização da sociedade civil que não passava pelos partidos políticos e pelos sindicatos. No início da década de 1980, fundou o Ibase - instituição de caráter suprapartidário e supra-religioso dedicada a democratizar a informação sobre as realidades econômicas, políticas e sociais no Brasil.

Em 1985, Betinho soube que havia se infectado com o HIV em uma das transfusões de sangue que precisava fazer periodicamente, em função da hemofilia. No ano seguinte, Betinho ajudou a fundar a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), uma das primeiras e mais influentes instituições do país nessa área, da qual foi presidente durante 11 anos. O sociólogo gostava de dizer que sua condição de soropositivo o forçava a "comemorar a vida todas as manhãs".

Betinho integrou a liderança do Movimento Pela Ética na Política, que culminou no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, em setembro de 1992, e serviu de base para a maior mobilização da sociedade brasileira em favor das populações excluídas: a Ação da Cidadania contra a Miséria, a Fome e pela Vida.

No ano seguinte, em 1993, o presidente Itamar Franco anunciou o programa de combate à fome, e convidou o sociólogo para coordenar o Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Alegando limitações físicas, Betinho recusou o convite, mas aceitou participar como consultor para o conselho. Em menos de quatro meses, ele se tornaria a grande mola propulsora de uma das maiores mobilizações populares contra a fome jamais vistas no Brasil.

A ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria e pela Vida teve seu auge entre junho de 93 e junho de 94. Neste período, 25 milhões de pessoas contribuíram de alguma forma - com doação de dinheiro, de alimentos e roupas - e outras 2,8 milhões se engajaram diretamente na campanha em um dos quatro mil comitês da Ação da Cidadania criados em todo o país. A campanha foi um dos maiores e mais organizados movimentos da sociedade civil, sem filiações partidárias ou ideológicas, a chamar a atenção para o problema da fome no Brasil.

Betinho morreu aos 61 anos em sua casa, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, em nove de agosto de 1997, cercado por amigos e parentes. Em 2010, a Comissão de Anistia concedeu a reparação à família do sociólogo, devido à perseguição política, comprovada por documentos sigilosos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), exercida contra ele no regime militar.

 
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