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Inflação - A trajetória dos preços está em alta ou em queda?

2011 . Ano 8 . Edição 66 - 27/07/2011

Foto: Maringoni
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André Barrocal – de Brasília

Oscilações de preços nos últimos meses acendem a luz amarela das autoridades econômicas. Governo e mercado polemizam sobre as causas do fenômeno. Afinal, há risco de descontrole inflacionário ou as pressões externas é que dão o tom no cenário atual?

A inflação ocupa hoje o centro do debate econômico do país. As discussões têm sido tão intensas que fazem lembrar a hiperinflacionária década de 1980, de nenhuma saudade para quem conviveu com as frenéticas remarcações nos supermercados.

A polêmica atingiu o ponto máximo no início de maio, com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador inflacionário mais utilizado no país. Pela primeira vez em quase seis anos, o IPCA havia encerrado um período de doze meses acima da meta inflacionária que o governo persegue anualmente. O objetivo é uma variação anual de 4,5%, com uma flexibilidade de dois pontos para cima e dois para baixo.

É verdade que o sinal vermelho acendeu por apenas 0,01 ponto percentual acima da meta (6,51%), e nem os mais pessimistas traçam cenários catastróficos para o que se verá até dezembro. De sua parte, o governo procura transmitir tranquilidade, garante que a situação está controlada e que o pior já passou. Mas por que, então, a temperatura das análises parecem ter subido junto com a inflação?

DEMANDA OU CUSTOS? As divergências decorrem das interpretações dadas a uma escalada inflacionária iniciada no último trimestre do ano passado. De outubro de 2010 a abril de 2011, a variação mensal dos preços situouse sempre em patamares que representam o dobro do admissível pela meta anual do governo (4,5%). Em geral, autoridades e especialistas concordam que há uma responsabilidade compartilhada na raiz do fenômeno. Todos apontam as commodities (sobretudo os alimentos), os combustíveis e os serviços como as razões da pressão altista.
Mas não há consenso sobre o tamanho da culpa de cada um e, portanto, qual o método mais adequado para se combater a inflação.

Existem duas correntes, basicamente. De um lado, estão os que acreditam que o Brasil sofre com fenômenos vindos do exterior, por conta da alta nos preços das commodities, sobre as quais medidas internas teriam pouca valia. Diante disso, caberiam ações cirúrgicas contra problemas específicos e paciência para esperar uma mudança de cenário. Parte do governo defende essa idéia. De outro, há os que acham que o país ainda não está preparado para conviver com crescimento elevado. Isso geraria pressões na demanda, incapazes de serem atendidas atualmente, o que resultaria em mais inflação. O caso dos preços dos serviços é claro a respeito. A saída mais indicada, neste caso, seria conter as pressões da demanda. Aqui, encontra-se boa parte do chamado mercado.

SINCRONIA ENTRE BC E FAZENDA Com uma sintonia pouco usual na década passada, o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) estão unidos em torno de um mesmo diagnóstico: “Existe um surto inflacionário mundial”, diz o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Diversas regiões do planeta assistem inflação superior à observada no ano passado. Na China e no Canadá, ela dobrou de março de 2010 para março deste ano. Na Rússia e na Europa, avançou 50%. No Chile, era zero e agora está em 3%. Na maioria dos países que, como o Brasil, adotam regime de metas de inflação, a perspectiva é de que haja estouro dos limites neste ano.

Por trás das oscilações dos preços pelo mundo, segundo esta análise, estão os juros e o crescimento baixos nos países ricos. Sobra capital especulativo barato e sedento de aplicações rentáveis, e seus detentores buscaram refúgio em commodities, numa corrida que forçou o preço delas para cima. A situação piorou com os levantes populares em países do Oriente Médio e do Norte da África no começo do ano. Incertezas tomaram do mercado de petróleo e encareceram as cotações do barril, as quais resvalam nos níveis recordes da década de 1970.

Para o Brasil, a consequência foi sentida primeiro à mesa. A comida ficou mais cara. Depois, no carro ou no ônibus. Combustíveis e passagens aumentaram. Quando se deixa de lado a variação do preço nos dois segmentos, o cenário da inflação melhora. Em vez de o IPCA acumular alta de 6,3% em doze meses até março, estaria em 4,76%, perto do centro da meta oficial. “Há de fato uma inflação mundial que atinge todo mundo, inclusive o Brasil, e isso não se resolve com dose alta de juros”, diz o economista Francisco Lopreato, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

ECONOMIA E CONSUMO AQUECIDOS Se encontra adeptos no mundo acadêmico, o diagnóstico governista não entusiasma o mercado. Sócio da consultoria Tendências, o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega reconhece que o cenário externo, especialmente no caso dos alimentos, afetou a inflação. Mas só teria agravado aquilo que ele enxerga como causa real do problema brasileiro: um despreparo estrutural para lidar com economia e consumo aquecidos. “Os analistas de bancos e consultorias não concordam com as premissas do governo”, diz o economista, ao afirmar que “a expansão da demanda está em ritmo incompatível com a capacidade da oferta da economia”.

O desmembramento dos três grandes componentes do IPCA – alimentos/bebidas, serviços e preços administrados – demonstra que a inflação de demanda é campeã. Em doze meses até abril, o preço do segmento “serviços” (gastos com saúde, educação, vestuário, habitação, por exemplo) subiu 8,6%. Em alimentos e bebidas, cresceu 7,8%. Os administrados, que incluem combustíveis e contas de água e luz, variaram 5,7%. Concentrando-se apenas no primeiro quadrimestre do ano, o resultado é igual. A inflação de serviços (4,6%) ganha de alimentos (2,7%) e administrados (3,8%).

“A inflação é de demanda, que bate nos serviços, não é de commodities. Ela está rodando a uma taxa de 8%, com a redução do desemprego e o aumento das despesas de todos os governos no ano passado, por causa da eleição”, afirma o presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Heron do Carmo, ex-coordenador do índice de inflação IPC, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

CHOQUE NO MERCADO DE TRABALHO O desemprego mencionado pelo economista ronda hoje os níveis mais baixos da história, na casa dos 6%, metade do que se via no início da década passada. O salário médio alcança níveis recordes. Neste ano, a criação de empregos com carteira assinada prossegue em ritmo acelerado. De janeiro a abril, foram abertas 880 mil vagas, terceiro melhor resultado da história. O ministério do Trabalho projeta que serão três milhões empregos no total até dezembro, recorde absoluto, caso se confirme.

Foto: Search
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Alguns dos aumentos mais sentidos concentram-se no setor de alimentos

A transformação do mercado de trabalho significa que há mais gente com dinheiro para consumir, e isso anima prestadores de serviços a tentar turbinar seus lucros, reajustando preços. Mas, ao mesmo tempo, pode estar se produzindo um “choque” no setor, com reflexos inflacionários.

Como ficou mais fácil arranjar emprego com salário melhor, empresas do ramo de serviços, como lojas, clínicas médicas ou escolas, estariam com dificuldade para contratar. Resultado: aumentam preços, para fazer dinheiro e achar um funcionário, ou reduz a oferta.

“A inflação se acelerou por uma combinação de choque de commodities e pelo aumento de demanda por serviços. Mas não sabemos se essa pressão nos serviços é demanda ou problema de oferta no mercado de trabalho. Acredito que estamos vendo um choque no mercado de trabalho”, diz o coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea, Roberto Messemberg.

A diferença de diagnóstico sobre os motivos da inflação faz com que as receitas para combatê-la também sejam distintas. E, de quebra, produz certo ruído na relação do Banco Central com os agentes do setor privado num aspecto crucial para o controle de preços no mundo moderno, especialmente em países com regime de metas: as expectativas. Consultorias, analistas, bancos, todos fazem previsões que influenciam a realidade de um empresário que fixa os preços de suas mercadorias ou de um trabalhador atrás de emprego ou reajuste salarial. É uma profecia com grande poder de autorrealização.

EXPECTATIVAS PREOCUPANTES O símbolo desta possibilidade profética é uma pesquisa do Banco Central, chamada Focus, com um grupo de 90 a 100 instituições privadas, a maior parte do sistema financeiro. Toda semana, o BC pergunta-lhes o que esperam para a inflação. Durante dois meses, em março e abril, a previsão para 2011 só piorou, a despeito da tentativa do governo de convencer a sociedade de que seu diagnóstico e receituário estão corretos e que, no fim do ano, os resultados seriam positivos.

Desde o fim do ano passado, a equipe econômica vale-se de um arsenal de ações cirúrgicas contra a inflação em áreas diversas. Para reduzir os empréstimos – e, portanto, o consumo –, subiu a cota de recursos que os bancos pegam dos clientes mas precisam deixar parados no BC (os compulsórios) e o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), para que as instituições parassem de trazer dinheiro barato do exterior para emprestar no Brasil. Cortou R$ 50 bilhões do orçamento e promete pagar R$ 117 bilhões da dívida pública em 2011, decisões que tiram dinheiro da praça. Diminuiu a mistura obrigatória de álcool na gasolina, para baratear a segunda, até que o início da produção de cana alivie o custo do etanol. Promete reforçar a produção agrícola no plano safra 2011-2012, para que o preço dos alimentos caia. Subiu três vezes a taxa de juros do Banco Central, também para desincentivar financiamentos e empréstimos, baixando o consumo.

Por causa desse conjunto de medidas, cujos efeitos ainda não teriam sido suficientemente sentidos pela economia brasileira, o governo acredita que o pior momento da inflação já tivesse ficado para trás, quando o polêmico IPCA de abril tornou-se conhecido. “A partir de junho ou julho, veremos a inflação mensal rodando num patamar compatível com o centro da meta, entre 0,35% e 0,40%. O cidadão comum vai sentir a inflação mais baixa ao longo do ano”, aposta o presidente do BC, Alexandre Tombini.

Para o banco, a inflação deste ano ficará em 5,6%, segundo informou no Relatório Trimestral de Inflação divulgado em março. Acima do centro da meta de 4,5%, mas abaixo do limite máximo de 6,5% superado no olho eletrônico em doze meses até abril. No mercado, as projeções são mais pessimistas. No fim de maio, os entrevistados pela pesquisa Focus cravavam 6,3%. Para a consultoria Tendências, a inflação vai atingir 6,6% e estourar a meta oficial, porque o governo insiste em não dar a devida atenção à inflação resultante do consumo exagerado e hesita em aumentar com mais firmeza o juro do BC.

Foto: Renato Araújo/ABr 
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Para baratear o preço, o governo reduziu a mistura obrigatória de álcool na gasolina

O RISCO DOS JUROS O caminho do juro alto talvez fosse uma alternativa mais fácil para a equipe econômica conter a inflação. Daria uma esfriada geral na economia e pronto. Dificultaria altas de preços de qualquer natureza. O problema é que o governo acredita ter o compromisso político com o eleitorado de fazer o país crescer e distribuir renda. Afinal, foi eleito para dar continuidade a uma administração em que 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza e 30 milhões entraram na classe média, tornando-a majoritária no país.

Na primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de sua gestão, em meados de abril, a presidenta Dilma Rousseff deu um recado claro a respeito de suas intenções. “Eu me preocupo com a questão do crescimento econômico e do controle da inflação simultaneamente”. Ao colocar as duas dimensões em pé de igualdade, a presidenta indicou que não deseja ver um matar o outro. Daí que Banco Central e Ministério da Fazenda entraram em sintonia e quebram a cabeça atrás de soluções antiinflacionárias com menor impacto econômico. “De nada vale uma inflação controlada com uma economia que não cresce”, afirma Tombini. “Não queremos derrubar a demanda que foi construída com sacrifício”, diz Mantega. O governo prevê que o país crescerá em torno de 4% este ano. Bem menos do que em 2010 (7,5%), mas um patamar razoável, diante das circunstâncias.

 

PRESSÕES SALARIAIS Levando-se em conta a postura política oficial, conter os preços no segundo semestre promete ser um desafio e tanto. Para analistas do mercado, a peçachave na equação inflacionária vão ser as negociações salariais dos trabalhadores, que em sua maioria têm data base depois de junho. Será ainda uma época em que começam a vencer acordos salariais feitos por uma série categorias de servidores públicos na gestão Lula. Ganhos reais elevados, acreditam certos analistas, adicionariam gás à já pressionada inflação de demanda. As negociações vão ocorrer no pior cenário possível. Nos contas do economista Fabio Romão, da LCA Consultores, a inflação em doze meses estará acima da meta até outubro. Em agosto e setembro, ultrapassará a barreira dos 7%. Será tentador para os trabalhadores reivindicarem reajustes polpudos.

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Principal interlocutor do governo junto às centrais sindicais de trabalhadores, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, reconhece que há problemas à vista e sugere que os sindicatos entendam que 2011 é um ano especial e moderem o apetite por aumentos. Vai ser complicado convencê-los, no entanto.

Desde 2005, mais de 70% de todas as negociações salariais feitas no país terminaram em reajustes superiores à inflação. Só no ano passado, foram 88% de aumentos reais em média para os trabalhadores, de acordo com o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicos (Dieese). São dados significativos, mesmo que o índice de inflação usado pelo Dieese para fazer os cálculos não seja o IPCA, mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), a chamada inflação da baixa renda. Nos doze meses até abril, o INPC comportou-se quase igual ao IPCA, com alta de 6,3%.

E os trabalhadores já acenam com ímpeto reivindicatório independentemente da moderação pedida pelo governo. No artigo “Salário não é vilão”, publicado na imprensa em maio, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos, diz estar orientando os “sindicatos filiados a organizarem as mais ousadas mobilizações e as mais arrojadas e exigentes pautas de reivindicações dos últimos tempos durante as campanhas salariais que vão ocorrer no segundo semestre”. A CUT aponta outros fenômenos a pressionar os preços, inclusive estruturais, como a alta indexação da economia a inflações passadas e uma carga tributária concentrada mais em consumo do que em patrimônio e renda, o que faz os impostos potencializarem variações de preços.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) concorda que as negociações de salário “serão a prova de fogo” para domar a os preços no segundo semestre. Defensor de que consumo e custos salariais “são os maiores protagonistas” na pressão inflacionária atual, o economistachefe da entidade, Flavio Castelo Branco, diz que o empresariado não tem dúvidas de que, com a economia aquecida, terá de enfrentar cobranças duras. “O dissídio salarial vai elevar a taxa a inflação. Os reajustes nominais serão significativos. Se os ganhos reais fossem reduzidos ou eventualmente nulos, mostraria que o ambiente econômico e as medidas tomadas pelo governo tiveram efeito”, afirma.

Como se vê pela disposição de patrões e empregados, 2011 reserva ainda muita emoção, para quem gosta de polêmica.

 
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