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Meio ambiente e a maldição do crescimento coletivo

2012 . Ano 9 . Edição 72 - 15/06/2012

Rodrigo Mendes Pereira


No mundo em que vivemos há uma grande correlação entre a prosperidade material e a destruição do meio ambiente, sobretudo de recursos naturais não renováveis. Essa correlação nos leva a questionar como será esse mundo daqui a cem anos, quando boa parte das economias hoje em desenvolvimento terão se tornado desenvolvidas, quando mais de 2,5 bilhões de chineses e indianos (e, quem sabe, brasileiros) terão rendas convergindo para os padrões das economias avançadas do Ocidente.

Se o crescimento econômico está associado à destruição do meio ambiente, então a prescrição de política mais lógica seria crescer menos, certo? Afinal de contas, queremos que a geração que nos sucede herde um planeta o mais próximo possível em termos ambientais do planeta que herdamos da geração que nos antecedeu. Nas linhas que se seguem eu vou argumentar que ao contrário do que esse raciocínio prescreve, no mundo dos próximos cem anos o crescimento econômico será mais importante do que nunca como instrumento para a geração de bem-estar.

Numa certa localidade geográfica, quando todo mundo enriquece junto, o aumento no poder de compra é menor do que quando se enriquece individualmente. Trata-se de uma externalidade negativa, uma maldição do crescimento coletivo.

Com o crescimento generalizado da renda há uma expansão natural da demanda por bens e serviços. O efeito final sobre o preço de cada um desses bens vai depender de como a oferta responde a esse aumento de demanda. Mas essa resposta depende fundamentalmente da natureza do bem ou serviço em questão. Bens que são transacionáveis (carros, roupas, alimentos etc.), que podem ser “importados” de outras localidades não sofrerão grandes aumentos de preços. Bens que não são transacionáveis (apartamentos, terrenos, corte de cabelo, serviços de encanador, eletricista etc.), que não podem ser “importados”, tendem a ficar muito mais caros. Com isso, o aumento de poder de compra e de bem-estar material de cada indivíduo naquela localidade será menor, porque haverá inflação local, tão mais alta quanto maior for a parcela de bens não-transacionáveis na cesta de consumo média desses indivíduos. Daí a maldição do crescimento coletivo: enriquecer quando todos enriquecem na mesma proporção deixa o indivíduo ou o país menos rico do que quando ele enriquece sozinho.

Brasília é um bom exemplo dessa maldição do crescimento coletivo. Nos últimos dez anos a renda per capita da cidade tornou- -se de longe a mais alta do país. Enquanto o Distrito Federal tem renda per capita (no conceito PPP) de US$ 25.062, o segundo colocado no ranking, São Paulo, tem renda per capita de US$ 13.331 (The Economist). Paralelamente a esse aumento nominal de renda, houve um forte aumento nos preços dos bens não transacionáveis. Nos últimos dez anos, a inflação nacional foi de aproximadamente 120% (IGP-DI), ou seja, o valor nominal dos bens um pouco mais do que dobrou na média. Mas no mesmo período o valor nominal médio dos imóveis em Brasília quase quadruplicou. Então, ter prosperado em termos nominais em Brasília possivelmente não implicou grandes ganhos de bem-estar porque todos a sua volta também prosperaram, e os bens não-transacionáveis ficaram muito caros. Mas sem dúvida, a pior situação possível é não prosperar num contexto onde todos prosperam. Isso significa baixa renda nominal diante de um “congestionamento de demanda” por bens não transacionáveis.

Brasília, Nova York, Tóquio, ou Cingapura são réplicas regionais do que deverá acontecer em escala global. Nos próximos cem anos, muita gente no mundo vai prosperar. O acesso de bilhões de pessoas ao consumo vai provocar uma pressão de demanda e um aumento de preços. Então cada país que prosperar, na verdade estará prosperando um pouco menos em termos reais, mais ou menos como o indivíduo de Brasília. A diferença é que enquanto nessas localidades existe a válvula de escape dos bens transacionáveis, no mundo considerado como uma unidade, todos os bens são não transacionáveis (a menos que surja um fluxo comercial do planeta terra com outras civilizações extraterrestres, o que é bastante improvável). Então a pressão sobre os preços será muito maior, e da mesma forma que na Brasília do início do século XXI, a pior situação possível será não prosperar.

Dá arrepios pensar na perspectiva de viver num planeta degradado pelo consumo desenfreado de bilhões de habitantes. Mas a evolução tecnológica e o próprio sistema de preços devem ser importantes freios a essa degradação. A perspectiva que realmente deveria estar tirando o sono de policy makers é a de não crescer, a de ser pobre ou tornar-se pobre num planeta que terá 1,3 bilhões de chineses e outros tantos indianos, dirigindo automóveis, comprando livros, roupas, viajando e comendo carne.

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Rodrigo Mendes Pereira é técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos Regionais, Urbanos e Ambientais (Dirur) do Ipea.

 
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