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Perfil - Aziz Ab’Saber

2012 . Ano 9 . Edição 72 - 15/06/2012

Mônica de Medeiros Mongelli - de São Paulo

Aziz Ab’Saber

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Geografia da vida brasileira

O geógrafo Aziz Ab’Saber (1924-2012), falecido em 16 de março, deixa um legado de defesa do meio ambiente e de oposição à ação predatória dos interesses econômicos junto aos recursos naturais. Mais do que tudo, foi um cientista múltiplo e autor de vasta obra. Professor emérito da FFLCH-USP, ele participou ativamente da vida política e social do país nas últimas décadas

Analisar os diferentes ambientes e paisagens no território brasileiro foi uma das grandes missões de vida do professor Aziz Nacib Ab’Saber, um dos maiores geógrafos físicos do país, nacional e internacionalmente reconhecido e premiado.

Tendo percorrido numerosos rincões do Brasil, o pesquisador nos ajudou a descobrir diferentes paisagens e a entender os processos dinâmicos e continuados da formação natural e cultural delas.

“A paisagem é sempre uma herança”, dizia o professor. Herança histórica e herança cultural dos povos agindo sobre os diferentes ambientes. Ambientes esses que possuem características distintas de solo, clima, vegetação, relevo e água. Dessa combinação resultam espaços e lugares os mais diversos, expressivos e originais do Brasil.

Para descrevê-los, o pesquisador partia formas de vegetação e condições climáti-desenvolvimento às áreas, mas nem sempre da divisão do território brasileiro no que denominou seis Domínios Morfoclimáticos e Fitogeográficos: Amazônico, dos Cerrados, dos Mares de Morros, das Caatingas, das Araucárias e das Pradarias. Cada domínio, geralmente associado a determinada região do país, possui feições específicas de relevo, tipos de solos, domínio e a de outro, há faixas de transição e de contato, com minibiomas, formações paisagísticas e condições ecológicas variadas.

No domínio amazônico estão as terras baixas, originadas por processo de sedimentação, com floresta equatorial, e onde há grande influência dos rios formadores da maior bacia hidrográfica do mundo. “Rios com colorações distintas: rios negros, rios brancos, brancos superargilosos e rios verdáceos”, relata o professor. Em localidades de difícil acesso – em que se verificam minibiomas como igapós, campinas, campinarãs e campos submersivos – há famílias que moram em palafitas e se locomovem utilizando embarcações tradicionais. No passado, a extração da borracha permitiu desenvolver economicamente parte dessa região amazônica. Posteriormente, a industrialização e também vários projetos governamentais buscaram levar desenvolvimento às áreas, mas nem sempre alcançando os efeitos positivos almejados

CÓDIGO FLORESTAL Todas essas diferenças regionais foram muito bem compreendidas pelo professor Aziz, que era consciente das condições de vida dos grupos sociais repre-sentados por trabalhadores rurais dos sertões interiores, por comunidades pesqueiras dos belos litorais do Brasil atlântico, por habitantes do rústico nordeste seco, por moradores de comunidades carentes nas grandes metrópoles, entre outros cidadãos brasileiros.

Foi para beneficiar esses grupos pouco assistidos que o professor batalhou como militante no decorrer de sua trajetória. Dedicou-se a numerosos projetos, sempre demonstrando que seu conhecimento científico esteve aplicado, a serviço da construção de um Brasil mais democrático, humano e igualitário

Envolvido nos debates mais importantes das ciências brasileiras e informado quanto a acontecimentos políticos, sociais e econômicos do país, Aziz Ab’Saber posicionou-se contrário ao novo Código Florestal. Criticou o texto por não levar em conta o zoneamento físico e ecológico de todo o território nacional, incluindo a complexa região semiárida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul e o pantanal mato-gros sense. O professor chegou a defender a criação de um Código da Biodiversidade para contemplar as espécies animais e vegetais.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL Apaixonado pelas coisas da natureza e atento ao comportamento dos homens face ao futuro do planeta, o professor Aziz era um contundente defensor da verdadeira educação ambiental, entendendo-a como algo necessário e dependente da correta aplicação das ciências. Para ele, a humanidade precisaria desenvolver um novo ideário comportamental, tanto em âmbito individual quanto em escala coletiva. Educação ambiental envolve todas as escalas, começando pela casa, passando pela rua, pelo bairro, ultrapassando as periferias, a cidade e a metrópole, atingindo a escala nacional e planetária. Obriga a um entendimento claro sobre a projeção dos homens em espaços terrestres, herdados da natureza e da história.

“É preciso pensar no lugar de cada um de nós nos espaços sociais criados pelas condicionantes socioeconômicas”, dizia ele. Além disso, verificar os desajustes nas formas de ocupação dos solos rurais, refletir sobre o crescimento das cidades e a pressão gradativa provocada pelos espaços urbanos.

Todos esses ensinamentos são aplicáveis à tarefa do profissional educador e, em especial, do professor de Geografia, que teria o papel fundamental de ajudar o aluno a entender o local onde vive para atuar sobre ele.

“O foco da educação deve ser o estudo de soluções para problemas regionais. É preciso ensinar o aluno a diferenciar, entre tudo o que se pode aprender, as questões que realmente interessam a ele a partir do ambiente em que vive. O conhecimento da região deve englobar informações sobre os limites territoriais, as características geográficas, econômicas e políticas. Essas informações servirão para ele se localizar como cidadão e sempre servirão de base para qualquer estudo de espaços maiores, como as macrorregiões do país”.

A VIAGEM DA GEOGRAFIA Essa orientação está ligada à própria vivência do professor Aziz, nascido em São Luís do Paraitinga /SP, que se recordava da primeira viagem feita como aluno da Universidade de São Paulo. “Foi uma excursão que deixou São Paulo, passou por Sorocaba, Itu, Salto, Campinas e depois retornou. Foi definitiva em minha vida. Senti que iria me dar bem lendo a paisagem e me decidi pela Geografia”.

Tendo nos legado sua admirável obra, composta por mais de 350 publicações, entre livros, ensaios, teses e projetos, o professor Aziz faleceu no dia 16 de março de 2012, em São Paulo, aos 87 anos, vítima de infarto.

Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade da qual Aziz Ab’Saber foi presidente de honra, expressou: “Um ser de uma ética única, que nunca deixou de falar aquilo que acreditava, batalhou pelos valores dele. Vai fazer muita falta neste país”. Ruth Andrade, secretária-geral da mesma entidade, comentou: “Acredito que Aziz era um caso raro de casamento entre ser cientista e ser humanista. Ao mesmo tempo em que ele tinha um conhecimento incrível, não só de Geografia, mas de várias áreas, ele tinha a perspicácia de fazer a relação desses assuntos com o cotidiano das pessoas”.

No campo científico, Aziz foi autor da Teoria dos Redutos, tendo se debruçado sobre os documentos da natureza e as evidências do passado geológico da Terra, os paleoclimas e as paisagens de exceção, que testemunham a história do planeta e de seus paleoambientes. Paisagens de exceção poderiam ser entendidas como áreas diferenciadas das demais à sua volta, como enclaves, avaliados pelo professor como coisas fantásticas, preciosidades, áreas que justificariam ser protegidas, reconhecidas e aproveitadas em projetos de educação para as ciências.

 
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