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Crise econômica e reprimarização

2012 . Ano 9 . Edição 74 - 31/10/2012

GRADUANDOS ESCREVEM PARA DESENVOLVIMENTO Entre os dias 16 e 27 de julho, o Ipea, recebeu estudantes de graduação de todo o país, selecionados através de chamada pública, para um intercâmbio do Programa de Incentivo às Novas Gerações (Proing). Os jovens vivenciaram o dia a dia da instituição, através da participação em reuniões, debates e visitas a outros órgãos públicos. Participaram dessa 3ª edição do Proing, 29 estudantes de vários cursos, provenientes de vinte universidades de todo o país. O programa integra o Sistema de Apoio à Pesquisa (SAP). No final, os estudantes produziram artigos sobre temas relacionados ao desenvolvimento. Os textos foram avaliados pro representantes das diretorias do Ipea e seis foram selecionados para publicação.

A Desafios do Desenvolvimento apresenta aqui três desses trabalhos. Em nossa próxima edição, divulgaremos os outros três selecionados.
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Emanuel Sebag de Magalhães

Nos últimos anos, a economia brasileira vem passando por um processo de reprimarização da pauta exportadora. Esse movimento de regressão qualitativa da inserção do Brasil no comércio internacional tem bases endógenas, mas apresenta também forte relação com a recente crise. Em um período de turbulência econômica mundial, os fluxos comerciais tendem a diminuir, atingindo, porém, os países de maneiras distintas. A retração do comercio mundial tem efeitos assimétricos sobre a composição da pauta exportadora brasileira, de acordo com a intensidade dos danos causados por ela em nossos parceiros comerciais. Dado o cenário econômico adverso, que projeções pode-se fazer para a trajetória qualitativa de nossas exportações?

Historicamente a economia brasileira se constituiu como primário-exportadora. O período colonial se caracteriza pelo ciclo do açúcar no nordeste e pela corrida do ouro em Minas Gerais. Já no Império, com a exaustão das jazidas auríferas, o café passa a ocupar o papel principal da produção e comércio exterior do país. Na República, durante a década de 1930, sob os efeitos da crise de 1929, os preços do café despencam concomitantemente com sua demanda mundial, composta primordialmente pelos Estados Unidos, país mais afetado pela crise e principal comprador do café brasileiro à época. A partir desse período, de maneira não uniforme, o país se empenha na constituição de uma indústria nacional. Apesar dos esforços, o país chega ao início do século XXI apresentando baixa competitividade na indústria de transformação e inserção internacional fundamentalmente baseada em commodities agrícolas e minerais e em semimanufaturados.

Diferentemente da crise de 1929, que forçosamente levou o país a se industrializar alternativamente à produção do café, a recente crise acentuou o caráter primário das exportações. Os preços das commodities atravessaram um período de alta desde 2006, com uma retração durante o primeiro momento da crise em 2008, retomando a trajetória ascendente já a partir de 2009, chegando a atingir um máximo em abril de 2011 (índice de commodities Bloomberg/CMCI). Outro fator que distingue os efeitos da crise do subprime na pauta exportadora é o crescimento econômico da China e seu estabelecimento como principal parceiro comercial brasileiro, ultrapassando os Estados Unidos.

Qualitativamente, as exportações brasileiras para esses dois países são bem distintas. A pauta exportadora para os EUA, mesmo sofrendo processo de reprimarização, tem se estabelecido majoritariamente por mercadorias industrializadas de baixo valor agregado. Os principais produtos comercializados são óleos brutos de petróleo, semimanufaturados de ferro ou aços e também manufaturados como aviões e partes de motores.

Em contrapartida, recentemente o Brasil vem estreitando laços econômicos com a China. As exportações brasileiras para esse país são primordialmente soja, minérios de ferro e pastas químicas de madeira, uma pauta notadamente primária. Essa distinção no perfil do comércio brasileiro com esses países associado ao cenário de crise serve como indicativo de qual será a trajetória qualitativa futura da pauta exportadora. Os EUA, ainda maior demandante de manufaturados e de semimanufaturados, continua a sofrer os efeitos da crise, crescendo modestos 2,2% no primeiro trimestre de 2012, o que sinaliza uma possível queda nas exportações brasileiras desse conjunto de mercadorias. A China, principal comprador de commodities do Brasil, desacelera, mas continua a crescer mesmo com o cenário desfavorável, fechando o segundo trimestre com variação do PIB de 7,6%. Esse panorama faz crer que o perfil primário da pauta exportadora tenda a se acentuar.

O processo de formação de um caráter eminentemente primário de nossas exportações é então distinto daquele de nossas raízes históricas. Suas consequências, porém, parecem apontar para a mesma direção. Atualmente a desindustrialização e a financeirização do capital produtivo no Brasil tem relação direta com o movimento de reprimarização. Essa forma de inserção no mercado mundial, por sua vez, apresenta suas fragilidades, perpetuando a posição periférica do país no sistema capitalista, de elevada vulnerabilidade externa e dependência econômica.

O recente avanço das exportações brasileiras está fortemente ligado ao ‘efeito China’. Mas, no longo prazo, esse modelo é sustentável? O tão almejado desenvolvimento poderá ser alcançado pelo país afirmando-se essencialmente como exportador de matérias primas? Mesmo dentro de outros contornos, a história infelizmente insiste em se repetir.

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Emanuel Sebag de Magalhães é graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará e membro do Viès - Núcleo de Economia Política.

 
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