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Perfil - Angelo Agostini

2012 . Ano 9 . Edição 74 - 31/10/2012

Gilberto Maringoni- de São Paulo

Angelo Agostini


O traço da Abolição

Caricaturista italiano foi o mais importante cronista visual do final do Império e do início da República. Suas imagens de torturas e maus tratos inflingidos aos escravos contribuíram para a formação do movimento abolicionista. Ao longo de mais de quarenta anos, Agostini produziu cerca de 3,2 mil páginas de desenhos sobre a vida política, social e cultural do país e viu a imprensa deixar de ser atividade artesanal para se tornal grande empreendimento capitalista

É quase impossível fazer um levantamento gráfico dos últimos anos da monarquia no Brasil sem que se recorra à profusão de desenhos, charges, caricaturas e imagens variadas produzidas por um italiano que trocou a Europa pelo Brasil ainda na adolescência. Seu nome era Angelo Agostini (1843-1910).

Ele foi o mais importante artista gráfico do Brasil da segunda metade do século XIX. Agostini era, ao mesmo tempo, caricaturista, pintor, um dos inventores das histórias em quadrinhos, jornalista, repórter, editor e militante político. Este homem de qualidades variadas desenvolveu uma das mais longas trajetórias profissionais na imprensa brasileira, entre 1864 e 1908, e produziu extensa representação gráfica de uma sociedade que saia de um defasado regime monárquico para se tornar uma república elitista.

Introdutor das histórias em quadrinhos entre nós, o artista deixou como legado uma obra vasta, diferenciada e irregular. No plano político, foi um ativista na luta pela Abolição da escravatura. Seus trabalhos espalham-se por cerca de 3,2 mil páginas ilustradas.

Se as imagens que chegaram até nós do início do Brasil independente têm em Debret e Rugendas seus principais autores, o registro visual das duas décadas e meia que precederam a República encontra neste artista nascido em Vercelle, no norte da Itália, sua mais perfeita tradução.

ARTISTA MILITANTE Sua estréia profissional, em São Paulo, coincide com o início da Guerra do Paraguai, em 1864. Três anos depois, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde funda publicações, desenvolve sua vertente de cronista visual e se torna um ácido crítico da Igreja Católica, da escravidão e do cotidiano de um país de pouco mais de dez milhões de habitantes. Os últimos trabalhos de Angelo Agostini são publicados quando a República oligárquica está consolidada, em 1908. O país aduirira então um novo papel no cenário internacional, definido pelo fornecimento de matérias-primas aos países centrais e pela entrada maciça de capitais externos aqui.

A característica mais marcante de sua obra é a intransigente defesa do fim da escravidão, especialmente a partir de 1880, através das páginas da Revista Illustrada (1876-1898), a mais importante publicação de variedades do século XIX.

Sua produção, nesses anos, esmerou- -se em mostrar as condições de trabalho e as punições físicas infligidas aos cativos.

Denúncias de maus tratos e torturas, feitas em páginas magistralmente elaboradas, alcançaram imensa repercussão na Corte e nas províncias. Sua atuação foi marcante para a formação de uma corrente de opinião pública abolicionista.

IMPRENSA EMPRESA Quando Agostini inicia sua carreira, em 1864, as pequenas publicações e pasquins, porta-vozes de reduzidos grupos, existiam em número crescente. Apesar dos dados do Censo de 1872, apontando que o analfabetismo marcava 81 % da população brasileira livre, havia no Rio de Janeiro, no final dos anos 1870, mais de 50 publicações regulares, entre diárias, semanais, quinzenais e mensais, de acordo com Nelson Werneck Sodré, em seu História da Imprensa no Brasil.

Reunir gente e algum capital para colocar na rua uma folha de periodicidade irregular e reduzida tiragem não era tarefa das mais difíceis para setores das elites de centros urbanos como Rio de Janeiro, Recife, Salvador ou São Paulo, entre as décadas de 1850 e 1880.

Havia outros artistas na imprensa brasileira de talento semelhante, ou superior em alguns aspectos, ao do piemontês. São os casos do português Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e do também italiano Luigi Borgomaineiro (1836-1876). Mas nenhum deles superou Agostini em versatilidade – era o melhor cronista visual de sua geração e o que melhor captava o ambiente da Corte – e em tempo de atividade profissional.

Agostini era um mestre da litografia. Através dessa técnica, o desenho é feito com um lápis apropriado diretamente sobre uma pedra especial, ou num papel fino e depois decalcado na pedra. Esta recebe, em seguida, um banho de ácido, que corrói as partes não marcadas pela ponta gordurosa do grafite. Ela se torna uma espécie de carimbo. A partir daí, é feita uma matriz em metal, que possibilita a reprodução tipográfica.

IMPRENSA-EMPRESA Perto fim do século, não apenas essa técnica é vista como cara e lenta para publicações regulares, como o panorama empresarial se altera no âmbito da imprensa. Surge um público leitor crescente e as tiragens aumentam em até cinco vezes. O maquinário gráfico sofistica-se e torna-se mais caro do que os acanhados prelos e prensas da fase anterior. Expressões maiores desse avanço são a zincografia e a máquina rotativa.

A possibilidade do uso de cores, da fotografia, de grandes tiragens em tempo curto, o avanço da distribuição em nível nacional, graças ao desenvolvimento dos transportes, coisas impensáveis antes de 1890, tornam-se comuns na virada do século.

Tais fatores interferem na atividade jornalística. O telégrafo faz com que a captação de informações torne-se mais rápida. O tempo de vida de uma notícia encurta-se, a linguagem tem de ser mais ágil, para atender a um público urbano que aumenta sem cessar, e a ilustração passa a contar com possibilidades e qualidades de reprodução até ali inéditas. A atividade de imprensa confunde-se, então, com a grande dinâmica empresarial.

O espaço para a convivência entre iniciativas de pequenos grupos e vultosos empreendimentos reduz-se. Os jornais de menor circulação que não desapareceram passam a ter limitada influência editorial e política.

MUDANÇAS DE ENFOQUE A obra de Agostini foi uma das expressões da complexidade desses anos. A própria visão de mundo do artista não foi unidimensional e, aparentemente, mudou em curtos intervalos. De abolicionista convicto e narrador sensível das idas e vindas dos eventos do período – guerra, campanha abolicionista, protestos populares, enfrentamentos palacianos e parlamentares –, Agostini colocou-se, após a República, como um inconformado com aquilo que julgava serem as mazelas dos novos tempos: a violência, a sujeira da cidade, os vendedores ambulantes, os jacobinos, a exposição pública da prostituição, a falta de cultura do povo etc. Revelou um elitismo e um racismo surpreendentes vindos de quem se colocava, anos antes, como porta-voz de uma causa democrática como a Abolição.

A aparente contradição se desfaz, quando se busca examinar com mais acuidade seus trabalhos durante a campanha pela libertação dos cativos. Agostini bateu-se por uma reforma liberal, condizente com os desígnios dos setores mais avançados das classes dominantes. Externou solidariedade humana para com as vítimas dos excessos do regime de cativeiro, conquistou independência econômica e colocou-se, no que toca aos negócios públicos, como um moralizador enfático. Mas o projeto social vertebrado pelas novas elites era baseado na imigração europeia e no trabalho assalariado e não na incorporação dos negros ao mercado.

Seu comportamento nos fornece uma importante chave para a compreensão das principais vertentes do movimento abolicionista urbano, liderado por setores da elite branca, que desejavam uma campanha restrita ao âmbito do Parlamento e das instituições vigentes.

No plamo profissional, Agostini deixara de ser um pequeno empresário, criador de seus próprios jornais, para se tornar funcionário de grupos editoriais de porte.

A imprensa se tornava indústria. Quando morre, em 1910, Agostini era tido por seus pares como um homem de outra época. Talvez por isso, seu trabalho tenha sido subestimado por décadas. Mas nos últimos anos, sua vida e obra começam a ser estudadas com detalhes.

 
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