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A desaceleração chinesa e os desafios para a América Latina

2013 . Ano 10 . Edição 76 - 25/02/2013

Foto: Stephane Tougard

Igor Ojeda – de São Paulo

Especialistas minimizam a redução da média de crescimento do país asiático e seus efeitos para o mercado internacional de commodities. Eles apontam que medidas de incentivo do consumo doméstico manterão a demanda por esses produtos em um nível alto, mas exigirão que países latino-americanos diversifiquem sua pauta de exportações

A China tirou o pé do acelerador. Se o planejamento governamental e as previsões econômicas estiverem corretos, o crescimento médio de 10% ao ano das últimas décadas deve se estabilizar no patamar de um dígito nos próximos anos, algo entre 7% e 8%.

Um Produto Interno Bruto (PIB) menor significa redução da taxa de investimentos produtivos por parte do governo chinês. O temor é que essa nova realidade tenha um impacto negativo na economia dos países emergentes, entre eles os do continente sul-americano. Especialistas, no entanto, minimizam tanto a desaceleração da China quanto suas consequências para o mercado internacional de commodities, principal modalidade de importação do gigante asiático. Assinalam que o ritmo de crescimento chinês seguirá muito forte e que sua nova ênfase em medidas de incentivo do consumo doméstico manterá a demanda por esses produtos em um nível alto.

Foto: Divulgação

“É preciso deixar
claro que essa redução
no ritmo de crescimento
chinês para cerca de 7% ao
ano é perseguida desde 1999.
O crescimento de 9% a 11%
impunha à China tensões de
todo tipo, sobre matériasprimas,
transportes, salários,
preços e inflação”


Wladimir Pomar,
escritor e consultor empresarial
especializado em China

“É preciso deixar claro que essa redução no ritmo de crescimento chinês para cerca de 7% ao ano é perseguida desde 1999. O crescimento de 9% a 11% impunha à China tensões de todo tipo, sobre matérias-primas, transportes, salários, preços e inflação”, explica Wladimir Pomar, escritor e consultor empresarial especializado em China. “Em termos absolutos, o crescimento chinês continuará muito grande”, diz ele.

O economista Paulo Passarinho, ex-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, por sua vez, lembra que se deve levar em conta que crescer 10% ao ano sobre uma base muito pequena é bem diferente que crescer 7% sobre a base do hoje segundo maior PIB do mundo.

PRINCIPAL PARCEIRO Renato Coelho Baumann das Neves, diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte) do Ipea, professor da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Rio Branco, esclarece que a alta dos preços das commodities nos últimos anos ocorreu, em grande parte, pelo aumento “extraordinário” de liquidez de recursos capitaneado pelas economias europeias e estadunidense, como maneira de enfrentar a crise econômica global deflagrada em 2008. Como, em sua opinião, isso não deve se repetir com a mesma intensidade, haverá uma acomodação dos preços, “mas não uma queda brusca”.

De qualquer forma, preocupa o aprofundamento da dependência da América Latina em relação à China no último período, país em boa parte responsável pelo relativo bom momento econômico das nações do continente. O Brasil é um dos principais exemplos. Se em 2001 as exportações para o país asiático respondiam por 3,2% do total das vendas brasileiras ao exterior e por 0,34% do PIB nacional, em 2011 essas porcentagens já alcançam, respectivamente, 17% e 1,8%. Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil.

Foto: Dreamstime

Metalúrgica chinesa. Em 2001, as exportações brasileiras para o país asiático representavam 3,2% do total das vendas ao exterior. Em 2011, esse percentual aumentou para 18%


CENÁRIO AINDA FAVORÁVEL
No final de novembro, em conferência do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) realizada em São Paulo, o diretor de Finanças e Relações com Investidores da mineradora Vale, Luciano Siani, revelou que enquanto a empresa fornece 20% do minério de ferro adquirido pela China, o país representa de 40% a 50% de sua receita. O preço da tonelada do produto, hoje a US$ 120, chegou a US$ 190 no ano passado. Siani ressaltou, porém, que embora os preços “exuberantes” dessa commodity tenham ficado para trás, o cenário dos próximos dez a 15 anos ainda é favorável.

Foto: Gervásio Baptista/AB

“Na América Latina
as duas economias que mais
sofreram com a desaceleração
da Ásia foram o Chile e o Peru,
exatamente pelo fato de terem
uma relação muito intensa
com os países daquele
continente”


Renato Coelho Baumann das Neves,
diretor de Estudos e Relações Econômicas e
Políticas Internacionais (Dinte) do Ipea, professor da
Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Rio Branco

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Economistas apontam que países com economias mais diversificadas, como o Brasil, tendem a sofrer menos com uma desaceleração chinesa. Nações como Peru e Chile, por exemplo, sentiriam mais os efeitos. Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um relatório indicando que o segundo teria uma redução de 0,4% de sua economia para cada ponto percentual a menos da taxa de investimento chinesa – no caso brasileiro, a desaceleração seria inferior a 0,1%.

A China é o destino de 22% das exportações chilenas, o que corresponde a mais de 7% do seu PIB. “Na América Latina as duas economias que mais sofreram com a desaceleração da Ásia foram o Chile e o Peru, exatamente pelo fato de terem uma relação muito intensa com os países daquele continente”, lembra Renato Maumann, do Ipea. “De um lado, claro, uma economia como a do Chile é fortemente dependente da cotação do cobre, que representa quase 40% do valor das exportações. Por outro lado, é um país muito ativo na assinatura de acordos de preferências comerciais. Algo como 97% das exportações são feitas no âmbito de acordos preferenciais”, pondera.

MUDANÇA DE RUMO Não é somente a desaceleração da China que vem gerando novos desafios para o resto do mundo. O país asiático passa por uma verdadeira mudança de rumos no plano econômico. O Comunicado do Ipea nº 85, de abril de 2011, intitulado “As relações bilaterais Brasil - China: a ascensão da China no sistema mundial e os desafios para o Brasil” analisou a situação. De acordo com o texto, “As políticas fiscal e monetária, configuradas após a crise e confirmadas no 12º Plano Quinquenal (2011-2015), aprovado em 2011, sinalizam a tentativa de o governo chinês ajustar o padrão de crescimento por meio do esforço de ampliação do consumo das famílias e da desconcentração regional dos investimentos para possibilitar a sustentabilidade do dinamismo econômico de longo prazo”.

Foto: Erik Charlton

Uma das divisões do grupo Baostell, o segundo maior produtor de aço do mundo, em Xangai. A China importa metais em estado quase bruto de países como o Brasil e os revende como produtos industrializados ao mercado mundial

A China, portanto, quer elevar o peso do consumo interno na economia e, ao mesmo tempo, diminuir o das exportações e investimentos. Aumento de projetos de infraestrutura, redução das restrições a empréstimos bancários e cortes na taxa básica de juros são alguns dos instrumentos para alcançar esse fim. O resultado mais latente é o aumento da renda per capita dos chineses e o consequente crescimento da demanda por alimentos.

DUPLICAR RENDA PER CAPITA “O programa do governo chinês para os próximos sete a oito anos tem como meta duplicar a renda per capita de sua população. Isto é, passar de US$ 5 mil para US$ 10 mil dólares ao ano, ao mesmo tempo em que pretende reduzir o gap entre a renda urbana e a renda rural, e entre as maiores e as menores rendas. Isso vai diversificar a demanda por alimentos e outros bens, incluindo commodities”, avalia Wladimir Pomar. Em seu raciocínio, essa diversificação exigirá pesquisas mais finas do mercado chinês, assim como decisões políticas e econômicas que capacitem o Brasil e a América Latina a disputá-lo. “Mesmo porque todo mundo vai oferecer seus produtos aos chineses”, diz ele.

Segundo o comunicado do Ipea, a necessidade da China de obter grandes quantidades de matérias-primas, alimentos e energia, decorrente de sua mudança de rumo econômico, pode manter o preço alto das commodities, beneficiando países como os sul-americanos, por exemplo. “Por outro lado, a produção de manufaturas chinesas, intensiva em trabalho e em tecnologia, para o mercado interno e para exportação, reforça a posição baixista dos preços desses produtos devido ao efeito escala da produção. Isso poderá gerar mudanças nas estruturas das exportações e importações de diversos países”, diz o estudo.

INVESTIMENTOS NO EXTERIOR Para tentar suprir o crescimento dessa demanda por matérias-primas, alimentos e novos produtos, a China vem priorizando os investimentos em outros países. Segundo Pomar, tal realocação de recursos serve, também, para reduzir sua própria taxa interna de investimentos e, consequentemente, o ritmo de crescimento da economia. “A crise chinesa, ao contrário da nossa, era, e ainda continua sendo, de superinvestimento. A China precisa reduzir a taxa de investimento interno de 45% ou mais para cerca de 30% do PIB, de modo a manter um ritmo equilibrado de crescimento entre 6% e 7% ao ano. Portanto, os investimentos no Brasil e demais países destinam-se não a atenuar os efeitos na desaceleração, mas a acentuar ainda mais a desaceleração. Graças a isso, os chineses continuarão com capitais excedentes para investir externamente, o que pode ser vantajoso para os países que precisam industrializar-se”, analisa Pomar.

Uma das categorias de investimento chinês no exterior, porém, preocupa muita gente: a compra maciça de terras agricultáveis, sobretudo na África e na América Latina, para produzir alimentos e mandá-los para casa. “Eles têm tomado algumas medidas para fortalecer suas próprias reservas de fornecimento de matérias-primas.

Foto: Adenilson Nunes/Secom

Técnicos do Ministério da Agricultura da China percorrem indústrias do tabaco instaladas no Recôncavo Baiano, em maio de 2011

De acordo o Comunicado do Ipea nº 85, estimativas não oficiais davam conta que, na época (abril de 2011), os chineses já possuíam cerca de 7 milhões de hectares de terras no Brasil.

Apesar disso, pelo menos em solo brasileiro o destino dos investimentos chineses vem se diversificando. No final de novembro, a Rede Nacional de Informações sobre o Investimento (Renai), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), divulgou dados mostrando que setores como o automotivo, de energia elétrica e de serviços financeiros registraram aumento do volume de investimentos recebidos, desconcentrando os recursos que em grande parte estavam reservados ao setor de commodities. Enquanto os investimentos chineses em mineração haviam caído de US$ 2,7 bilhões em 2011 para US$ 651,1 milhões no final de 2012, os realizados na indústria automotiva tinham crescido de US$ 60 milhões em 2010 para US$ 2,12 bilhões até setembro deste ano.

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Presidenta Dilma Rousseff visita o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da ZTE, uma das maiores empresas de equipamentos de comunicação da China, em abril de 2011

PROMOÇÃO DE INVESTIMENTOS No final de novembro, durante uma reunião da subcomissão de indústria e tecnologia da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), Brasil e China criaram um grupo de trabalho para facilitar e promover investimentos entre os dois países. “O padrão de relacionamento entre os dois países mudou”, afirmou na ocasião o secretário executivo do MDIC, Alessandro Teixeira. Segundo ele, os asiáticos haviam deixado de falar em compra de terras e minas e passado a conversar sobre parcerias industriais.

Foto:  Mark Hillary

Estande de concessionária chinesa no Shopping ABC, em Santo André (SP). O país tem como meta aumentar sua participação no mercado automobilístico brasileiro

 

“As políticas fiscal e monetária, configuradas após a crise e confirmadas no 12º Plano Quinquenal (2011-2015), aprovado em 2011, sinalizam a tentativa de o governo chinês ajustar o padrão de crescimento por meio do esforço de ampliação do consumo das famílias e da desconcentração regional dos investimentos para possibilitar a sustentabilidade do dinamismo econômico de longo prazo”

Paulo Passarinho, no entanto, faz uma ressalva. Para ele, a natureza desses investimentos, mesmo que diversificados, continuam a obedecer a lógica de subsidiar o desenvolvimento interno chinês. “O que se observa é a preocupação maior em utilizar nosso parque produtivo como elemento subsidiário do desenvolvimento chinês. Preferiria que estivéssemos num processo inverso, que nos utilizássemos do dinamismo da China para fortalecer um projeto próprio de desenvolvimento brasileiro”, afirma ele.

Foto: Bel Pedrosa

Segundo Alessandro Teixeira, secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, “O padrão de relacionamento entre os dois países mudou”. Os chineses estão interessados em parcerias industriais, diz ele

Renato Baumann, do Ipea, afirma que interessaria mais ao Brasil o aporte de recursos em setores mais desenvolvidos, como os de alta tecnologia, pesquisa e desenvolvimento. Segundo ele, o tipo de investimentos anunciados aumenta o risco de se construir “enclaves produtivos” no Brasil e demais países da América Latina. “O efeito propagação é mais limitado do que se tivéssemos investimentos mais nobres”, diz.

DE QUEM É O PROBLEMA? Para Wladimir Pomar, o problema é mais dos latino-americanos que dos chineses. “Em geral, os países do continente não têm projetos executivos de infraestrutura nem definições claras dos setores industriais prioritários que desejam desenvolver. Assim, os investimentos dependem mais da vontade chinesa do que de decisão latino-americana. Talvez seja preciso um esforço latinoamericano maior para inverter essa situação e aproveitar melhor a capacidade investidora chinesa, para que ela seja canalizada prioritariamente para a industrialização de nossos países”, defende.

O já mencionado Comunicado do Ipea alertava que a forte expansão dos investimentos da China no Brasil “fora das prioridades da política industrial e sem uma negociação quanto à forma de acesso ao mercado (joint-ventures, alianças tecnológicas etc.)” poderia ocasionar a perda do controle do país sobre suas fontes de energia e recursos naturais, “sem que isso signifique uma maior transferência de tecnologia”.

Resta ver como a situação evoluirá em 2013.

 
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