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A discriminação contra estudantes fora do “padrão” corporal nas escolas brasileiras

2013 . Ano 10 . Edição 78 - 16/01/2014

Luis Claudio Kubota

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Há poucas décadas, o problema da desnutrição em certas regiões do Brasil era alvo de intenso debate na sociedade. Embora a questão da desnutrição aguda esteja praticamente superada no Brasil, um fenômeno de natureza oposta emergiu: a obesidade. O objetivo deste texto é abordar um aspecto relativamente pouco explorado do fenômeno: o preconceito contra os estudantes “gordos” e, surpreendentemente, também contra os “muito magros”.

Estudos indicam que os obesos são vítimas de preconceito em ambientes escolares, de trabalho, instituições de saúde e mesmo no meio familiar. No caso dos jovens, esse fenômeno pode se refletir em gozações, agressões físicas e isolamento social. Utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) – parceria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística com o Ministério da Saúde – encontramos evidências de que os alunos que se percebem como “muito gordos”, “muito magros” e “gordos” estão proporcionalmente mais sujeitos a serem vítimas frequentes de bullying, uso de medicamentos sem prescrição para perda ou ganho de peso, uso de laxantes ou indução ao vômito, uso de cigarro e drogas, problemas com álcool, violência familiar, ferimentos, entre outros comportamentos e eventos não desejáveis, em relação a estudantes que se consideram “normais” ou “magros”.

Os padrões de resposta são semelhantes para as escolas públicas e privadas. Dentre os estudantes da rede governamental, 19,4% dos que se consideram “muito gordos” declararam ser vítimas de bullying frequentes, contra 5,9% dos que se classificam como “normais”. Na rede privada, os valores para as mesmas classificações são de 17,8% e 6,1%, respectivamente.

No caso das jovens, metade das que se consideram “muito gordas” se sentem sós na maioria das vezes ou sempre, contra 34,4% das “muito magras”, 30,3% das “gordas” e apenas 17,7% das “normais”. A aparência é o motivo do bullying para 48,2% das que se julgam “muito gordas”, contra 29,8% das “muito magras”, 27,7% das “gordas” e apenas 7,9% das “normais”.

No que diz respeito aos rapazes, os resultados são similares: 32,5% dos que se classificam como “muito gordos” se sentem sós na maioria das vezes ou sempre, contra 19,2% dos “muito magros”, 15,1% dos “gordos” e apenas 8,9% dos “normais”. No que concerne à aparência como motivo principal do bullying, há diferenças em relação ao caso feminino: 49,6% para os “muito gordos”, contra 36,5% dos “gordos”, 17,1% dos “muito magros” e 7,4% dos “normais”.

A análise, a partir dessa ótica de percepção corporal, mostra que os estudantes que se classificam fora do padrão “normal” encontram-se em situação de vulnerabilidade, sendo vítimas e também atores de bullying na escola (provavelmente como resposta e defesa), sujeitando seus organismos ainda em formação ao consumo de substâncias prejudiciais, bem como práticas agressivas como a indução ao vômito.

Os resultados sugerem a existência de um fenômeno complexo e recursivo, com o preconceito levando a uma baixa estima, comportamentos nocivos à saúde e uma situação de isolamento social.

importante fazer duas ressalvas. A primeira é que esse diagnóstico não se aplica a todos que se classificam como “muito gordos”, “gordos” ou “muito magros”. Provavelmente muitos deles levam vidas perfeitamente harmônicas na escola e no lar. A segunda é que a PeNSE é estatisticamente representativa dos alunos do 9º ano no ensino fundamental. Entretanto, é mais do que razoável supor que o fenômeno ocorra também em séries anteriores e posteriores.

Feitas essas ressalvas, os indicadores levam a algumas reflexões sobre as políticas públicas. Em primeiro lugar, é importante que os profissionais do ensino estejam atentos ao preconceito em função da aparência. Qualquer aluno sujeito a discriminações constantes será vítima de sofrimento psíquico, com evidentes prejuízos ao seu aprendizado.

Ao passo em que algumas formas de discriminação, como a racial e de gênero, são objeto de grandes preocupações, é importante atentar para outras formas de preconceito que podem afetar o desempenho escolar. Uma exploração mais aprofundada dos dados da PeNSE pode contribuir para um maior entendimento da extensão do fenômeno da discriminação por aparência.

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Luis Claudio Kubota é técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.

 
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