2014 . Ano 10 . Edição 79 - 23/05/2014
Carlos Henrique Corseuil
Lauro Ramos
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No dia 17 de janeiro de 2014 o IBGE fez a primeira divulgação dos resultados da sua mais nova Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios, a PNAD Contínua. Essa pesquisa tem frequência trimestral e uma amostra com cobertura nacional. Os dados divulgados naquela ocasião cobriam o período entre o primeiro trimestre de 2012 (2012/1) e o segundo trimestre de 2013 (2013/2) e se resumiam a um conjunto de indicadores restrito na área de trabalho. Mesmo tendo sido divulgadas de forma ampla todas as etapas do processo de elaboração da PNAD Contínua, o assunto passou a repercutir em maiores proporções no momento em que vieram os primeiros números.
E uma das dimensões mais exploradas na mídia foi a diferença apontada entre os indicadores da PNAD Contínua e os da Pesquisa Mensal de Emprego, a PME, também do IBGE, sobretudo aquela registrada na taxa de desocupação. O propósito deste artigo é contribuir para o entendimento dessa diferença. Entre os possíveis determinantes, um deles foi bastante citado pelos analistas, qual seja, as diferenças na cobertura e seleção da amostra: enquanto a amostra da PNAD Contínua cobre todo o território nacional, a amostra da PME cobre apenas seis regiões metropolitanas do Brasil.
As duas linhas do Gráfico 1 (abaixo) mostram a evolução na taxa de desemprego pela PNAD Contínua e pela PME no período 2012/1 a 2013/2. Chama a atenção a diferença sempre superior a 1,5 pp entre as taxas de desemprego da PNAD Contínua e da PME. Apesar da magnitude dessa diferença, as indicações qualitativas apontadas pelas duas pesquisas são comuns, uma tendência de queda ao longo de 2012 e uma tendência de elevação entre 2012/4 e 2013/2. O ponto inserido de forma isolada na altura de 2012/3 traz o valor da taxa de desocupação calculada com os dados da PNAD 2012, cuja semana de referência era em setembro desse mesmo ano. Vale dizer que esse valor, que é de 6,6%, também é maior que o registrado para a PME (5,4%) e bem mais próximo do valor registrado na PNAD Contínua (7,1%).
A princípio, esse fato poderia ser visto como evidência de que a questão da cobertura da amostra seria a principal fonte de explicação para o fato de a taxa de desemprego da PNAD Contínua ser sempre superior àquela indicada pela PME. Afinal, as duas pesquisas com amostras representativas de todo o território nacional registram taxas de desocupação relativamente próximas quando comparadas àquela proveniente de uma pesquisa com cobertura restrita a seis regiões metropolitanas. As evidências empíricas não respaldam, todavia, esse argumento. Na verdade, a taxa de desemprego nas regiões cobertas pela PME, quando calculada dentro da PNAD, foi maior que a taxa agregada da PNAD em 2012 (7,3% e 6,6%, respectivamente).
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Em que pese ser admissível o argumento de um maior dinamismo do mercado de trabalho nas metrópoles, a maior pressão por parte da oferta a que estão sujeitos – fluxos migratórios, concentração populacional, etc. – acaba acarretando um desemprego maior. Ou seja, o efeito da cobertura amostral serve para atenuar outras fontes de disparidade entre as duas pesquisas que atuam no sentido de ampliar a diferença nas respectivas taxas de desocupação.
De fato, conforme pode ser visto na tabela a seguir, uma menor taxa de desocupação na PME ocorre para todas as regiões da pesquisa quando comparada à respectiva taxa de desocupação na PNAD em setembro de 2012. Com exceção de São Paulo, onde o descompasso é mínimo, o hiato varia de 1,6 pp em Porto Alegre até mais de 6 pp – mais que o dobro - nas duas metrópoles nordestinas. Em resumo, a PME registra uma taxa de desocupação substancialmente mais baixa do que a da PNAD 2012 mesmo quando são computadas com o mesmo recorte etário, a mesma abrangência territorial e a mesma definição de ocupados.
___________________________________________________________________________________ Carlos Henrique Corseuil é diretor-adjunto de Estudos e Políticas Sociais do Ipea Lauro Ramos é técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea. Artigo baseado na nota técnica intitulada “Sobre a comparação da taxa de desocupação na PNAD Contínua e na PME”
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