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O enigma do desemprego

2014 . Ano 10 . Edição 79 - 23/05/2014

Foto: Arquivo/ABr

Recordes históricos de baixas taxas de desemprego levaram especialistas a acreditar no pleno emprego. Mas a tese se defronta com um grande mercado informal, pessoas com subocupação, rendimentos médios baixos e queda na participação de mulheres e de jovens no mercado de trabalho. Essa é a intrincada economia brasileira

Adriana Nicacio

Ao olharem para o mercado de trabalho brasileiro, os gestores de políticas públicas se deparam com a Grande Esfinge do Egito, com corpo de leão, rosto humano, e o desafio: decifra-me ou devoro-te. Há tantos fatores envolvidos na análise do emprego brasileiro que, a depender do recorte, os dados podem indicar pleno emprego, falta de mão de obra qualificada de forma generalizada ou desemprego oculto por desalento.

Ocorre que o mercado de trabalho brasileiro teve um desempenho excepcional em 2013, com taxa de desemprego média, nas seis principais regiões metropolitanas do país, em 5,4%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isolado, esse fato poderia indicar que a economia brasileira vive o pleno emprego. O pleno emprego é o conceito que indica a utilização máxima dos fatores de produção, capital e trabalho, em uma situação de equilíbrio entre a oferta e a procura.

Contudo, o cenário atual não indica que todos os brasileiros conseguem colocação no mercado de trabalho com a remuneração que consideram justa. Tampouco a queda da taxa de desemprego representou um apagão generalizado de mão de obra qualificada, cuja oferta é crescente. A falta de trabalhadores atinge principalmente ocupações que requerem menor grau de qualificação e que já não contam com uma força de trabalho tão grande e disponível como antes. Isso vale, por exemplo, para posições na agricultura, na construção civil e no emprego doméstico. O maior apagão de mão de obra parece estar na base da pirâmide educacional.

Ao analisar os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, o coordenador de Pesquisas de Trabalho e Renda do Ipea, Gabriel Ulyssea, reforça o argumento de que não há falta de mão de obra qualificada no Brasil. Para ele, o País passa por um fenômeno em que cresce o contingente profissional qualificado com nível superior, mas com redução da distância salarial entre os mais e os menos qualificados. Em 20 anos, a renda média dos trabalhadores com até três anos de escolaridade aumentou 71,62% e recuou 4,84% para aqueles com 11 anos de estudo ou mais. “A quantidade aumentando e o preço caindo não é compatível com uma ideia de escassez”, explica Gabriel.

No último boletim Mercado de Trabalho, nº 56, o Ipea avaliou o comportamento do desemprego ao longo de 2013. No primeiro semestre do ano passado, o desemprego aumentou e só alcançou seu baixo recorde histórico graças ao menor número de pessoas procurando emprego no segundo semestre.

O menor número de brasileiros em busca de uma colocação no mercado merece atenção. A taxa de desemprego é muito baixa, mas há um gargalo, que é uma parcela da população em idade produtiva, a qual estaria apta a trabalhar, mas não está no mercado de trabalho. Os pontos de alerta são para as mulheres e os jovens entre 15 e 24 anos.

A participação das mulheres caiu 4,2% entre 2009 e 2012. A dos jovens sofreu queda de 5,9% no mesmo período. Dados do Ipea indicam que 23,2% dos jovens brasileiros não trabalhavam nem estudavam em 1999. Esse percentual passou para 25,7% em 2012. No caso das mulheres, em 1999 eram 38,4%. Em 2012 o percentual alcançou 40,6%. A alta chama atenção pela intensidade em curto intervalo de tempo. “Preocupa, pois tira a possibilidade de aumento na oferta de mão de obra”, comenta Gabriel Ulyssea.

O menor número de brasileiros em busca de uma colocação no mercado merece atenção

Em contrapartida, embora ainda alta, a informalidade continua caindo no Brasil. O percentual médio do trabalho informal em 2013 ficou em 33%, um ponto percentual menor do que no ano anterior. “A propensão à queda deve ser a tônica para este ano. Em janeiro de 2014, o índice ficou em 32,2%, o mais baixo já encontrado para esse mês em todos os anos”, afirmou o diretor-adjunto da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea, Carlos Henrique Corseuil.

Em 2012, 59,4% das mulheres em idade produtiva estavam empregadas. Mas a pesquisa do Ipea mostrou a redução da participação feminina no mercado de trabalho em 4,2% entre 2009 e 2012. Há várias razões, como a opção por cuidar dos filhos ou, ainda, a carência de creches.

NOVO INDICADOR O professor Fernando Mattos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE cobre seis regiões metropolitanas e não envolve a diversidade do mercado de trabalho brasileiro. As pesquisas de desemprego no Brasil medem apenas o desemprego aberto, que são as pessoas que procuraram trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista e não exerceram nenhuma atividade na semana anterior. Ficam de fora o desemprego oculto, seja pelo trabalho precário, seja pelo desalento, quando as pessoas não procuraram emprego no último mês por acreditarem que não iriam conseguir, mas precisam de emprego.

Quando se ampliou o olhar para todo o Brasil, uma diferença apareceu, e muitos a atribuíram, de forma apressada, à cobertura geográfica, não à troca de lentes. No início do ano, o IBGE começou a divulgar os primeiros indicadores de desemprego da PNAD Contínua, uma nova pesquisa trimestral que abrange 3,5 mil municípios, a qual vai substituir a PME e a PNAD anual em 2015. A primeira divulgação em janeiro, com dados de 2012 e 2013, já mostrou taxas de desocupação mais altas que as da PME, com diferenças sempre superiores a 1,5 ponto percentual. Apesar da magnitude dessa diferença, as indicações qualitativas apontadas pelas duas pesquisas são comuns. Uma tendência de queda ao longo de 2012 e uma tendência de elevação entre o quarto trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2013, embora mantendo níveis mais baixos que os de igual período do ano anterior.

A PME, pesquisa que cobre seis regiões metropolitanas, registra uma taxa de desocupação substancialmente mais baixa do que a da PNAD 2012, mesmo quando usados o mesmo recorte etário, a mesma abrangência territorial e a mesma definição de ocupados. Uma menor taxa de desocupação na PME ocorre para todas as regiões da pesquisa quando comparada à respectiva taxa de desocupação na PNAD em setembro de 2012. Com exceção de São Paulo, onde o descompasso é mínimo, o hiato varia de 1,6 ponto percentual em Porto Alegre até mais de 6 pontos em Recife e em Salvador.

E mais: a diferença de cobertura geográfica não ajuda a explicar a distância entre as taxas de desocupação da PME e da PNAD Contínua como muitos têm dito. Pelo contrário: na PNAD anual, o desemprego é até maior nas regiões metropolitanas cobertas pela PME (7,3% em 2012) do que no Brasil inteiro (6,6%).

Para 2014 a aposta de Carlos Henrique Corseuil, do Ipea, é na manutenção do ritmo de evolução do mercado de trabalho, em especial no segundo semestre. “A única ressalva que faço é que, eventualmente, o desemprego pode destoar da tendência de recuperação devido à questão das pessoas que desistiram de procurar emprego e podem querer voltar a procurar”.

INDÚSTRIA Num cenário de emprego em níveis recordes, a indústria vive um revés. Os trabalhadores do setor industrial perderam espaço no total de pessoas ocupadas no Brasil. Caíram de 16,1% em 2012 para 15,8% em 2013. Dez anos antes, quando a série histórica do IBGE começou, os empregados da indústria representavam 17,6%. Conforme a tendência mundial, o espaço foi preenchido pelo setor de serviços, que entre 2003 e 2013 passou de 13,4% da população ocupada para 16,2%.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que a falta de trabalhadores qualificados afeta mais da metade das indústrias do país, embora esse número tenha caído entre 2011 e 2013 de 67% para 65%. De acordo com o diretor do Senai, Rafael Lucchesi, a preparação para o trabalho na indústria é mais complexa do que simplesmente anos de estudo, pois isso, somado à baixa escolaridade e à falta de currículo voltado para o mercado de trabalho, reduz a oferta de mão de obra para o setor. “Na indústria, são necessários conhecimentos específicos, além de habilidades comportamentais e de comunicação que acabam por afetar o desempenho e a produtividade dos trabalhadores”, diz Rafael Lucchesi.

Um exemplo mais específico é a indústria da construção civil. Três em cada quatro empresas afirmam ter dificuldades para encontrar mão de obra qualificada. As empresas reclamam de falta de funcionários básicos ligados à obra, como pedreiros e serventes (94%), seguidos de funcionários técnicos (92%). Há carência também de funcionários especializados (77%) e em pesquisa e desenvolvimento (45%). “A construção passou um período longo estagnada. Quando voltou a crescer, havia um déficit grande de trabalhadores”, explica o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.

 
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