resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
Qual é a alma do Ipea?

2014 . Ano 11 . Edição 81 - 05/10/2014

rd81not06img01

 

Instituto contrata antropólogos e faz pesquisa para se conhecer melhor

Carla Lisboa

No cinquentenário do instituto, a direção do Ipea decidiu mergulhá-lo em um processo introspectivo para identificar e compreender sua própria personalidade, comportamento, valores, sua disposição interior: seu ethos. Com uma pesquisa aplicada sobre sua cultura, características, relações institucionais, enfim, sobre seus dados etnográficos, contratou uma equipe de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) para realizar a “Etnografia Institucional do Ipea”.

Sabe-se que no mundo das instituições existem aspectos idiossincráticos que não estão explicitados no seu organograma, no regimento ou mesmo num código de procedimentos, e que, no entanto, dão alma a elas.

São características que fazem com que as instituições operem de determinada forma e não de outra. E nem todas chegam aos 50 anos com a preocupação de se autoavaliar. Com 1.283 servidores, o corpo de profissionais do instituto e integrantes de carreiras de Estado precisava passar por um processo desses, avaliam os técnicos de Planejamento e Pesquisa.

rd81not06img02

A etnografia vai investigar os valores, as práticas, os comportamentos, os sistemas simbólicos, entre diversos outros aspectos que moldam o comportamento institucional. “O Ipea fez 50 anos em setembro de 2014, tanto mais do que justificado se dar um presente dele para ele próprio”, justifica Ronaldo Coutinho Garcia, coordenador do Ipea na pesquisa.

Nesse meio século, o perfil do instituto mudou à revelia dos princípios que levaram à sua criação e os primeiros resultados da pesquisa, iniciada em janeiro, no Rio e em Brasília, mostram alguns conflitos de ideias. Embora o trabalho só vá terminar em 2016, já ficou claro que a diversidade do instituto se expressa em variados pontos de vista, sejam geográficos, ideológicos ou metodológicos. Carla Costa Teixeira e Andréa de Souza Lobo, professoras de antropologia da UnB, e Sergio Ricardo Castilho, professor de antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), são os coordenadores da pesquisa.

“Os objetivos específicos são articular dois eixos de reflexão: o entendimento da natureza do trabalho desenvolvido pelo Ipea a partir dos documentos oficiais e a visão daqueles que o realizam; e a compreensão da percepção que estes têm sobre o papel que desempenham neste trabalho”, informa Carla Teixeira, coordenadora geral da pesquisa.

No primeiro ano, além de ter sido coberta a literatura do e sobre o Ipea, foram realizadas conversas, entrevistas e observações de eventos para mapear valores, visões, simbologias e comportamentos no instituto, com apresentação dos primeiros resultados, em agosto de 2014. No segundo ano, o estudo vai mapear as interfaces do Ipea com outras instituições. A apresentação do relatório final do primeiro ano está prevista para janeiro de 2015.

João Viana/Ipea
rd81not06img03
O Ipea fez 50 anos em setembro de 2014, tanto mais do que justificado
se dar um presente dele para ele próprio.
Ronaldo Coutinho Garcia, coordenador do Ipea na pesquisa

Complexo de Caju ína Após seis meses da primeira etapa de desenvolvimento da pesquisa, a equipe de nove pesquisadores reuniu informações com as quais foi possível verificar as principais tensões que permeiam as relações intra e interinstitucionais e indicou alguns pontos de contraste.

São dicotomias clássicas, como, por exemplo, características predominantes frerquentemente atribuídas aos perfis de servidores e atividades desenvolvidas na sede em Brasília e no escritório do Rio de Janeiro, possíveis resquícios de antigas divisões formais entre ações de planejamento e pesquisa. Também aparece o problema de ser ou não das carreiras de Estado. “Várias questões surgiram e variadas explicações foram dadas para elas”, diz a coordenadora geral.

Dentre essas tensões, uma adquiriu relevância e ensejou a realização da pesquisa etnográfica: a denominada por alguns dos servidores de “complexo de cajuína”, numa alusão à música de Caetano Veloso que, nas suas primeiras estrofes, indaga: “Existimos: a que será que se destina?” Havia um interesse coletivo em discutir a existência de um ethos institucional compartilhado em meio ao que muitos identificam como uma crise de identidade dos “ipeanos”.

O objetivo fundamental da pesquisa, no entendimento de Coutinho Garcia, é o de tentar mapear, entender, estabelecer relações entre as práticas, o arcabouço simbólico, as normas, as relações internas de comportamento, de hierarquia, estrutura organizacional, as relações do Ipea com seu público exterior – isso também ajuda a caracterizar.

“Há um quadro de largos interregnos etários, decorrentes da ausência de concursos sistemáticos para a reposição de aposentados, e de fragmentação filosófica, de perspectiva profissional e de assunção da institucionalidade. Por falta de suficiente preparação prévia, os indivíduos entram assumindo diferentemente a institucionalidade do Ipea. Uns entram pensando que o instituto é um lugar importante para auxiliar o Estado, com a visão de servidor público. Outros acham que ingressaram no órgão para ser pesquisadores independentes. Alguns entendem que a autonomia tem de ser plena e, portanto, a prioridade apontada pelo dirigente é coisa descabida e fere a liberdade do pesquisador”, analisa Coutinho Garcia.

Divulgação
rd81not06img04
Os objetivos específicos são articular
dois eixos de reflexão: o entendimento
da natureza do trabalho desenvolvido
pelo Ipea a partir dos documentos
oficiais  e a visão daqueles que o
realizam; e a compreensão da percepção
que estes têm sobre o papel que
desempenham neste trabalho.
Carla Teixeira, coordenadora geral
da pesquisa

Redefinição de papel A partir dessas tensões, a equipe de pesquisa fez análises parciais e percebeu outros conflitos: por que o Estado tem uma instituição que faz pesquisa, mas não faz a pesquisa pura para gerar conhecimento por si, e sim pesquisa aplicada, a serviço das políticas pública? Considera-se, ainda, que a instituição é parte da constituição da política, mas não toma decisão política. Para outros, a instituição está contaminada pelo modelo produtivista das universidades.

As divergências sobre a função dos técnicos de Planejamento e Pesquisa e sobre a missão do Ipea também geram problemas. Parte do corpo técnico quer a publicação de pesquisas semelhantes às produzidas no mundo acadêmico, parte não. “Os Textos para Discussão (TDs), por exemplo, eram produtos de trabalho para consumo interno ao governo e hoje estão se tornando publicações com características acadêmico-produtivistas”, diz Coutinho Garcia.

Esse tipo de questão é tão definidor do papel do instituto que está em curso uma audiência interna para definir um novo modelo de pontuação dos diversos produtos elaborados. A pesquisadora Carla Teixeira diz que ainda é cedo para falar dos efeitos disso e que até agora a equipe apenas mapeou as discussões.

Divulgação
rd81not06img05
Andréa de Souza Lobo, professora de antropologia da UnB

Essa questão da pesquisa em si e a pesquisa aplicada, a academia e o Ipea, é algo que a equipe está buscando compreender melhor. “Há disputa em torno disso. Como é que se pontua mais um artigo científico na Capes do que um projeto, uma pesquisa coletiva? Acho que o Ipea está passando por essa redefinição. O que vai resultar? Não sabemos. É um processo em curso”, afirma.

Histórico Quando foi criado no Rio de Janeiro, em 1964, o instituto era Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada (Epea), sob a liderança de João Paulo dos Reis Velloso. Na época, a ideia era constituir um órgão de governo com pessoal pensante, fora da rotina da administração. “Pretendíamos que o Ipea fizesse pesquisa econômica aplicada, ou seja, policy-oriented, e que ajudasse o governo a formular o planejamento, numa visão estratégica de médio e longo prazos”, esclarece Reis Velloso.

Mas esse perfil foi alterado ao longo dos 50 anos. Isso ocorre porque o Ipea, em meio século, teve sua personalidade modificada várias vezes. Nos primeiros 20 anos, a personalidade do instituto foi muito bem definida e valorizada. Era um dos órgãos mais importantes da República. Nos dez anos subsequentes à ditatura militar, entre 1985 e 1995, passou por um esvaziamento considerável tanto em suas atribuições institucionais como em seus quadros de servidores, e viveu um forte arrocho salarial. Muitos se aposentaram. Outros buscaram ser requisitados. Alguns foram para organismos internacionais.

Arquivo Ipea
rd81not06img06
Edifício na Av. Nilo Peçanha, Centro do Rio de Janeiro:
sede do Ipea nos primeiros anos

A partir de 1995, começou a recomposição de quadros. Entre 1995 e 1997 houve três concursos públicos. Esse processo só foi retomado sete anos depois, com um concurso para técnicos de Planejamento e Pesquisa em 2004; outro, em 2005, para técnicos em administração, analista de sistemas e assessores especializados. O último concurso para técnicos de Planejamento e Pesquisa foi em 2008. Nesses três primeiros concursos dos anos 1990, a maior parte dos ingressantes tinha perfil que contrastava fortemente com o perfil dominante nos 20 primeiros anos.

Na opinião de Coutinho Garcia, nos dez anos entre 1985 e 1995, esse esvaziamento fez com que a instituição tivesse uma perda geracional. “A estrutura etária do Ipea apresentava vazios. Não havia aquela transição suave que acontece quando se aposentam alguns poucos e entram outros poucos e vão sendo incorporados e modelados numa determinada cultura institucional.”

Nesses dez anos de esvaziamento, a cultura institucional foi mais do que fragmentada. “Acho que ela sofreu golpes que promoveram descaracterizações. Não intencionais. Mas o simples fato de muitos terem saído, de o processo de capacitação ter sido desconsiderado como um instrumento fundamental para a construção de um ethos, cobra hoje o seu preço. Toda instituição precisa de um ethos”, analisa o técnico de Planejamento e Pesquisa.

Ele diz que no início da pesquisa constatou-se que havia faixas etárias de servidores com perspectivas e formações distintas e sem muita liga interna, sem que o conjunto desfrutasse de uma mesma concepção a respeito da instituição, professasse os mesmos valores, tivesse lealdades institucionais fundadas nos mesmos princípios. Havia grupos com concepções distintas a respeito da natureza e finalidade da instituição.

“No nosso entendimento, é importante projetar para fora uma personalidade institucional clara. O reconhecimento tem de ser conferido não por nós próprios, mas por quem se encontra fora. A atuação externa de todos e de cada um de nós deve permitir a terceiros formar visões consistentes a respeito do que somos ou do que podemos ser”, defende Coutinho Garcia.


 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334