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Mudanças climáticas e a “Grande Ruptura”

2014 . Ano 11 . Edição 82 - 31/12/2014


Sérgio Jatobá

 

O quinto e mais recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), publicado em novembro de 2014, é ainda mais enfático do que os seus antecessores quanto à certeza de que os impactos ambientais decorrentes das mudanças climáticas devem-se à ação humana e estão nos levando progressivamente a um desastre ambiental e econômico. O que o IPCC tardiamente constata de forma praticamente irrefutável, contudo, já é uma etapa vencida para Paul Gilding. O ambientalista australiano, em seu livro A Grande Ruptura – como a crise climática vai acabar com o consumo e criar um novo mundo, mesmo reafirmando o cenário catastrófico do IPCC, prefere dar mais ênfase ao que acontecerá após o inevitável colapso econômico /ecológico, apostando em uma reviravolta civilizatória que resultará em um mundo melhor.

Gilding assegura que o colapso será inevitável porque já perdemos a oportunidade de evitá-lo. E argumenta que historicamente a sociedade só reage às grandes crises quando o nível de desastre é iminente. Assim, as tomadas de decisão que estão sendo sistematicamente adiadas só se tornarão imperativas quando não houver mais tempo para uma mudança gradativa.

Na primeira parte de seu livro, ele esmiúça as razões da sua crença no colapso iminente. Lastreado por vários estudos, defende que o modelo econômico baseado no crescimento contínuo, consumo e uso dilapidador de recursos naturais é insustentável. As consequências, que já não são meras especulações alarmistas, resultarão em desequilíbrios climáticos, escassez de alimentos e instabilidade geopolítica global.

O crescimento econômico, que já estancou nos países mais desenvolvidos, se reduzirá progressivamente e também cessará nos países que ainda se esforçam para mantê-lo em um nível positivo. O fim do crescimento, ou estado estacionário da economia, já era algo previsto pelos fundadores da teoria econômica e do capitalismo de mercado, como Mills, Keynes e mesmo Smith. O crescimento contínuo não é somente insustentável do ponto de vista da reprodução infinita do capital, como também não é distributivo e, portanto, não resolve o problema da pobreza. Pelo contrário, o nível de desigualdade tende a aumentar, mesmo com menor taxa de crescimento.

Para Gilding, a ideia de que o crescimento resolverá o problema da pobreza é uma ilusão inventada para torná-lo moralmente aceitável. Dados da Fundação Nova Economia, apresentados por ele, dão conta de que, para cada cem dólares de crescimento econômico entre 1990 e 2001, somente 60 centavos de dólar foram revertidos para a redução da pobreza. Portanto, não é a produção de mais riqueza que reduzirá a pobreza, mas a sua melhor distribuição.

Já a desigualdade intra e entre nações cresce de forma a preocupar setores sociais que nunca a levaram muito em conta por acreditarem que era um estágio temporário do capitalismo. Estudos recentes, como o do economista francês Thomas Piketty, comprovam que isso não é uma verdade. E se essa questão não for enfrentada, problemas como os das migrações em função de disparidades econômicas, agravados pelas mudanças climáticas, ameaçarão a estabilidade política mundial.

Na segunda parte, Gilding, então, com otimismo inesperado para quem tem tanta convicção do declínio, tenta prever os caminhos de saída da crise. Para isso também não elabora ideias próprias, mas baseia-se em estudos e tendências observadas no presente que já apontariam, segundo ele, as saídas para a crise. Primeiramente apresenta os fundamentos da nova economia de estado estável, defendida por reconhecidos economistas como Herman Daly e Tim Jackson, que advogam ser possível haver prosperidade sem crescimento.

Movimentos sociais contra o consumismo desenfreado, que procuram demonstrar que "comprar mais coisas não melhora suas vidas, mas, em vez disso, as prende num ciclo de falta de tempo, trabalho insatisfatório e dívidas infinitas", tendem a crescer. Menor consumo alivia a pressão sobre os recursos naturais, mas afeta o âmago do capitalismo global moderno. Gilding propõe a inversão da lógica que liga mais consumo com mais crescimento e maior desigualdade. Argumenta que, se a sociedade, por meio dos governos, reduzir a desigualdade, o consumo será menor, reduzindo a necessidade de crescimento, gerando consequentemente menor desigualdade. Cria-se, assim, um círculo virtuoso de crescente equilíbrio social, econômico e ecológico.

Gilding aposta que isso não é uma utopia, considerando o crescimento de movimentos sociais contra o consumismo e de investimentos em alternativas energéticas, reciclagem, mercado de crédito de carbono, a tal economia verde. Nas suas palavras: "essas soluções estão sendo impulsionadas por indivíduos com paixão, pessoas que fazem a diferença e as coisas acontecerem. Tudo o que é preciso é replicá-las e acelerá-las". Resta saber se a paixão de alguns é elemento suficiente para convencer a todos.

 

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Sergio Jatobá é servidor do Governo do Distrito Federal e foi bolsista do PNPD/Ipea

 

 


 
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