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Daewon Choi

2014 . Ano 11 . Edição 82 - 31/12/2014

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Foto: João Viana/Ipea

Daewon Choi

 

Daewon Choi, 56 anos, é o economista que preside a Associação Coreana de Estudos do Comércio e da Indústria (Korean Association of Trade and Industry Studies), uma think tank que reúne mais de 300 doutores em economia da Coreia do Sul, responsável pela publicação da revista The Journal of International Trade and Industry Studies, eleita a melhor entre os acadêmicos de seu país. Ele se diz apaixonado pelo Brasil e conhece o país como poucos estrangeiros.

A Coreia do Sul foi o
único país que conseguiu 
transpor a barreira do 
subdesenvolvimento e, em 50 
anos, deixou de ser mais pobre 
que a Bolívia e Moçambique 
para ser mais rico que Nova 
Zelândia e Espanha

Por esse motivo, aceitou dar esta entrevista para a Desafios do Desenvolvimento. Em quase duas horas de conversa, por telefone, declarou sua admiração pelo Brasil, mas também teceu duras críticas à falta de uma política industrial e educacional de qualidade no país. Durante a conversa, em um bom português que aprendeu durante os anos em que morou aqui, quando fez seu doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de São Paulo (USP), em 1993, foi firme ao dizer que o maior país da América Latina poderá perder o seu lugar no jogo das economias emergentes se não estreitar trocas comerciais e tecnológicas com a Ásia. “O Brasil tem de olhar para onde o relógio está indo.” Para ele, o ponteiro do desenvolvimento econômico e tecnológico segue adiantado em direção aos países asiáticos, liderados pela China e Índia, uma dupla que, garante ele, poderá dominar o mundo se souber trabalhar junta. 

O economista vive em aviões pelo mundo e em suas andanças conheceu, há três anos, alguns estados do Nordeste brasileiro, em um projeto para a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). Segundo ele, o epicentro futuro do desenvolvimento está no hemisfério Sul e não mais no Norte. Ele traz à tona aspectos reveladores de que os Estados Unidos e a Europa já não são mais os motores da economia global, de que o pensamento do mercado livre sozinho não faz mais sentido, de que é preciso agir em conjunto com o Estado. Ele acredita piamente que “daqui a dez anos todo o tipo de tecnologia vai nascer na Ásia, passar pela Ásia e de lá para o mundo.” 

 O que lhe dá tanta certeza é a rotina de aulas constantes nas universidades na Coreia, China, Europa, EUA e América Latina, presenciando o que se passa nesses lugares em termos de pensamentos e vendo produtos que estão sendo desenvolvidos. Por isso insiste: “O Brasil tem de olhar e trabalhar junto com a Ásia. Do contrário, corre o sério risco de perder o lugar para a Indonésia, que tem tantos recursos naturais quanto o Brasil e está na região”.

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Mas para isso, diz, é preciso uma mudança estrutural e profunda no sistema brasileiro de educação, que, apesar de ter reduzido os índices de analfabetismo, vem criando, ao mesmo tempo, legiões de analfabetos funcionais incapazes de interpretar e compreender adequadamente as necessidades  para a construção de uma sociedade pensante e inovadora. Exemplos não faltam, analisa, e a própria Coreia do Sul é um deles. Para ele, é necessário empregar a educação produtiva em substituição à educação apenas de consumo e de má qualidade. “Sem a base de um conhecimento humano não podemos avançar no conhecimento econômico.”

A Coreia do Sul foi o único país que conseguiu transpor a barreira do subdesenvolvimento e, em 50 anos, deixou de ser mais pobre que a Bolívia e Moçambique para ser mais rico que Nova Zelândia e Espanha, com uma renda per capita de US$ 23 mil em 2013. Naquele mesmo ano, a renda per capita do Brasil era de R$ 24.065 (pouco menos de US$ 10 mil). O país cresceu acelerado entre 1963 e 1997, baseado nos pilares da abertura econômica, expansão da força de trabalho e aumento do nível de educação da população. No início deste ano, finalizou o processo de transição para sua nova capital administrativa, Sejong City, a 150 quilômetros de Seul, uma cidade inteligente e sustentável que custou cerca de R$ 55 bilhões.

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A internet não existia quando a Coreia resolveu adotar sistema semelhante ao do Japão, no pós-Segunda Guerra Mundial, para acabar com o analfabetismo e ampliar o acesso da população à educação. Modelo esse, por sinal, que a China copiou mais tarde, afirma Choi. Hoje, a internet é o meio mais poderoso para propagar informação, educação e viabilizar a geração de mais inovação e tecnologia. Esse assunto despertou o interesse do economista durante o período em que trabalhou para a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) e resultou no artigo Banda larga e a política industrial: a experiência coreana, publicado em 2013. Nesse artigo, ele analisa a relação direta entre o desenvolvimento econômico e a banda larga de internet em seu país, onde Estado e iniciativa privada conseguiram pensar em tecnologia como elemento central de um sistema de inovação que, em conjunto com outros ativos produtivos e de infraestrutura, criou uma dinâmica que favorece setores econômicos e sociais do país.

Na sua visão, a cada ano o Brasil perde de dois a três anos na corrida da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), arriscando continuar dependente de commodities como minério de ferro e soja. Hoje em dia, o uso de internet de banda larga de alta velocidade via celular é quase gratuito na Coreia, lembra Choi, realidade bem distante da brasileira.
Leia a entrevista.

“Hoje, a internet é o meio
mais poderoso para propagar
informação, educação e
viabilizar a geração de mais
inovação e tecnologia”

Desenvolvimento – O senhor defende a visão de que o centro da economia global está mudando cada vez mais para o Sul e não mais para o Norte. Por quê?
Daewon Choi – Eu consegui criar uma plataforma de discussão aqui na Coreia do Sul de que o epicentro futuro do desenvolvimento está no hemisfério Sul e não mais no Norte. Mas isso não significa que o Norte não seja mais importante. Afinal, seus países são conhecedores de governança, tecnologia e inovação. Estou considerando aí principalmente Europa e Estados Unidos, onde eu vivia antes. No entanto, o Sul tem uma força de mão de obra e capital maior ou tão grande quanto, além de estar começando a criar suas próprias tecnologias, apesar de ainda estar longe de alcançar escalabilidade global, principalmente em termos de governança. Por isso vejo com relevância a decisão dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de criar um banco para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento entre os países do bloco. Além de complementar o Banco Mundial e outros, de estimular a economia nessas regiões, também vai contribuir para a eliminação da pobreza e geração de boa governança mais equilibrada. 

Desenvolvimento – Qual seria o papel do Norte nesse novo cenário? 
Daewon Choi – O Norte fez o seu trabalho no passado, mas com a crise atual não dá para fazer como antes. Os Estados Unidos não têm mais capacidade produtiva e financeira como única locomotiva de crescimento econômico global. Os cinco maiores bancos do mundo são chineses. A Europa sai de uma crise para entrar em outra. Entretanto, esses podem ser avaliadores de um novo sistema emergente. É preciso criar sinergia entre a experiência do Norte com o novo mercado e o potencial econômico dos BRICS com países emergentes, mas sem incorrer no risco de repetir modelos do passado.

Quem é Daewon Choi

Economista, professor e presidente da
Korean Association of Trade and
Industry Studies. Foi economista na 
Cepal (Comissão Econômica para
a América Latina e o Caribe), ECE 
(Comissão Econômica para Europa),
UNESCAP (Comissão Econômica e
Social para Ásia e Pacífico), ADB
(Banco Asiático de Desenvolvimento) 
e da Asia Fellow na Universidade
de Harvard, nos Estados Unidos. 
Também foi do AIIB (Banco Asiático
de Investimento em Infraestrutura). 
Ensinou economia na Seoul National
University, na KDI Economic School, 
na Coreia, e na Ocean University
of China. Fez doutorado na USP com
a tese Pensamento Econômico
Latino-Americano na Época da 
Globalização, e mestrado em Direito
na Universidade de Lausanne, Suíça.
Também é especialista em
OMC e política industrial e tecnológica. 
Conhece pessoalmente 100
países, a maioria deles de economias emergentes.


Desenvolvimento – Que exemplo o senhor
sugere?
Daewon Choi - O unfettered free market (mercado livre sem restrições) sozinho não vai mais resolver tudo eternamente. Isso já teve sua validade. Chegou a hora de utilizar o papel “relativo” e ao mesmo tempo “competente” do Estado no Norte. A iniciativa privada dos EUA, como GM e AIG, precisou da assistência do Estado na época da crise financeira, dada a realidade de Too Big to Fail e afrouxamento quantitativo. Outro exemplo. O capitalismo asiático, com a política industrial e macroprudencial (China, Japão, Singapura e Coreia), entrou na crise em 1997 porque pensou que estar no clube da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) seria uma garantia de ser país rico. Abriu a conta de capital sem entender O Capital, de Marx. Foi uma ilusão. O economista americano Paul Krugman intitulou isso de factor-driven growth. A China aprendeu da lição da Coreia e usou a política macroprudencial desde Deng Xiaoping até hoje. Vai continuar com a Zona de Livre Comércio de Shanghai até a internacionalização de yuan. O Brasil também aprendeu com sua própria experiência da dívida externa dos anos 1980 e da crise financeira dos 1990. Mas a política macroprudencial sem política industrial e tecnológica deixa uma estrutura produtiva vulnerável, como o Brasil de hoje. A questão do Brasil de hoje não é mais a política de substituição de importação ou a promoção de exportação. Esse debate só seria válido hoje se você inclui o fator asiático dentro da equação. Fora disso, é o protecionismo sem proteína. 

Desenvolvimento – A China, a Índia e a Rússia não estão no Norte? Ou essa questão geográfica não as inclui na definição clássica político-econômica dos hemisférios?
Daewon Choi– O conceito Sul não é mais a questão geográfica. O DNA dos BRICS é diferente do do G7 ou do da OCDE. Por exemplo, na produção mundial antes da crise financeira de 2008-2009, a China estava atrás. Mas na produção global de hoje, China e BRICS são cada vez mais ativos e predominantes. A própria OCDE fez uma análise. Em 2060 o PIB total dos membros da OCDE vai ser bem menor que o dos BRICS e emergentes. Aí eu diria: não 2060, mas 2020. Hoje em dia, os 10 maiores portos do mundo em termos de movimentação comercial estão todos na Ásia, exceto Rotterdam, segundo a revista americana Forbes. Não há nenhum porto americano nessa lista. Em 2020, Rotterdam vai sair da lista. Hoje em dia, a realidade não espera por uma ficção científica. Estamos vivendo um mundo onde a razão não é produzida com inferência de standard deviation (desvio padrão), mas com GPS e Big Data.

“Se o Brasil não baixar
o custo da banda larga
móvel até o custo marginal,
será difícil competir com a
Ásia. Hoje em dia, o uso de
internet de banda larga de
alta velocidade via celular
na Coreia é quase gratuito”


Desenvolvimento – O Brasil teria algum papel nesse contexto global? 
Daewon Choi – O Brasil já tem o papel de soft power no cenário mundial. O Brasil é grande. Pode ser a quinta maior economia ainda e com uma melhor distribuição de renda. Entre todos os países do planeta, o Brasil tem o futuro melhor. Mas precisa desenvolver sua própria teoria econômica, primeiramente. E isso não é possível sem fechar algumas colunas, como o da educação. Sem acesso global a uma boa educação não é possível formar grandes massas de trabalhadores pensantes, que não apenas reproduzam, mas questionem e inventem. Aqui na Coreia do Sul, 80% dos coreanos vão para a universidade. Evidentemente temos evasão e bolha escolar, mas não temos analfabetos e quase todos entendem o que está acontecendo no país. Eles têm um grau de consciência elevado. Sem a base de um conhecimento humano não podemos avançar no conhecimento econômico. 


Desenvolvimento – Isso que diz tem alguma relação com artigo que o senhor publicou para a Cepal: Banda larga e política industrial: a experiência coreana?
Daewon Choi– Tem. Países asiáticos estão avançando rapidamente na Internet das Coisas (Internet of Things), em O2O (Online2Offline), em Big Data e Cloud Computing. Você não sente e não vê, mas sem isso não respira. Sob a égide da OMC (Organização Mundial do Comércio), é proibido utilizar subsídios para empresas. Mas a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) como plataforma de inovação é um caminho perfeitamente permitido. Isto é, utilizar a TIC como ferramenta neutra mas dinâmica de política industrial e tecnológica. A Coreia foi a pioneira disso e a China aprendeu logo. A China tem uma população de 1.4 bilhão. A tecnologia 4G funciona muito bem, cobrindo aonde essa população for. O Brasil está atrasado nisso e ainda é incrivelmente caro. Se o Brasil não abaixar o custo da banda larga móvel até o custo marginal será difícil competir com a Ásia. Hoje em dia, o uso de internet de banda larga de alta velocidade via celular na Coreia é quase gratuito. O governo coreano está por detrás disso. A cada ano, o Brasil está perdendo de dois a três anos no que se refere à TIC. É extremamente importante revisar a política de tecnologia no país. Se o Brasil conseguir igualar a Coreia ou China nessa área, a economia tem futuro. Se não, o Brasil tem que exportar mais minério de ferro e soja, sofrendo a cada cinco, dez anos, a volatilidade de preços. Quando a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) me convidou, eu fiz uma proposta de utilizar a internet como meio para democratizar a educação oferecendo conteúdo de ensino de qualidade gratuito em parceria com vários estados, como acontece nos EUA  com MOOC (massive open online courses). Não tenho conhecimento se isso foi adiante.

Desenvolvimento – Como nasceu essa proposta? 

Daewon Choi – Tudo foi iniciado pela Sudene, que pediu ao governo coreano a ajuda para montar uma política econômica e industrial para o Nordeste há três anos. A pedido da Sudene, o governo sul-coreano financiou um projeto no Nordeste e abriu um concurso público para enviar técnicos ao Brasil. Na época, eu era consultor do Asian Development Bank e Research Fellow na Harvard University. Quando voltei à Coreia, como professor de economia do Korea Development Institute (KDI), tomei conhecimento do projeto e passei no concurso público. Visitei os estados do Nordeste para estudar as melhores alternativas para se industrializar. Uma das opções de industrialização era a implantação das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), como Pecém, no Ceará, que são áreas de produção com incentivos especiais. ZPE é uma das opções entre vários instrumentos de desenvolvimento industrial. Por um lado, eu concordo com economistas como José Serra sobre o desafio da ZPE. Mas, por outro, seria difícil ignorar o papel das Zona Econômica Especial (SEZ) e ZPEs na China que, através desse instrumento, conseguiu elevar a renda média dez vezes em 20 anos. A China acabou de lançar a Zona de Livre Comércio de Shanghai e agora está criando três outros deste modelo no país. A diferença é que a China utilizou ZPEs em função de produção entre capital e trabalho, enquanto o Brasil perdeu ZPEs em função de debate entre substituição e exportação. Para uma política industrial, o incentivo fiscal é apenas um dos instrumentos necessários, mas não suficiente. A China não só entendeu a divisão internacional de trabalho ou supply chain como instrumentos, mas também conseguiu gerar plataforma de cadeia de inovação, além do supply chain. Evidentemente a China aprendeu com a Coreia. Por isso, a economia coreana hoje tem desafio muito grande. O Brasil tem de entrar nessa cadeia de inovação global. Se não, vai depender da Ásia cada vez mais. Neste contexto, o Brasil tem desafios e oportunidades no futuro. No Nordeste, há de se estabelecer e aperfeiçoar uma política industrial e tecnológica de dimensão nacional e ao mesmo tempo global. E enquanto isso não acontecer, a região não vai se desenvolver dinamicamente. 

“A educação do Brasil tem de
ser global e tem de competir
com a coreana, a chinesa,
a indiana, não só com a
americana ou europeia”

Desenvolvimento – Mas o Nordeste tem os complexos de Suape, em Pernambuco, e o Pecém, no Ceará.

Daewon Choi– Isto é verdade. O Nordeste brasileiro pode ser o Novo Polo Industrial para o Brasil no futuro. Mas os polos industriais no Nordeste se concentram na faixa litorânea, não vão para o interior. Não há recursos humanos para viabilizar isso no Nordeste a curto prazo. Bem diferente do que acontece na China, onde os polos se espalham para dentro do país e entre as regiões. As SEZ e ZPEs foram muito utilizadas na China, mas elas não tinham o fim pelo fim. Elas estavam dentro das políticas econômicas especiais. A China utilizou um múltiplo de políticas para diversificar, estudando as realidades locais e trabalhando para que o desenvolvimento viesse de dentro para fora, e mudar o ciclo de produção. No Brasil, isso não funciona dessa maneira e as políticas vão de Brasília para o Nordeste e não vice-versa. A lei atual de ZPE do Brasil é dos anos 1980, com alta inflexibilidade. É preciso remodelar esse sistema. Se tivesse tempo, eu gostaria de trabalhar para o governo brasileiro para ajudar a remodelar a política industrial e tecnológica. O Nordeste, por exemplo, pensa que todo tipo de indústria com alta tecnologia não é adequado para si porque a região é pobre. Isso está errado. Estão aí a Coreia e a China para provar isso. Mas, fundamentalmente, sem a criação dos recursos humanos, não há industrialização sustentável. A China tem desde a mais baixa tecnologia até a mais alta tecnologia ao mesmo tempo. No crescimento econômico, tecnologia pode ser tanto insumo como produção de saída. A China está conseguindo esse ciclo virtuoso. O plano Brasil Maior tem de incorporar verticalmente esse ciclo virtuoso. O Brasil Maior é o plano horizontal à la OMC.

“China e Índia juntas
formarão o mercado de três
bilhões (de consumidores),
com 60% na faixa de classe
média, daqui a 20, 30 anos,
que é três vezes maior que
toda a população dos EUA
e da Europa combinadas”


Desenvolvimento – Como mudar isso? 

Daewon Choi
– Tem de gerar uma elite de think tank que possa pensar e competir globalmente, ao mesmo tempo trabalhando para eliminar o analfabetismo literário e funcional. A educação do Brasil tem de ser global e tem de competir com a coreana, a chinesa, a indiana, não só com a americana ou a europeia. É preciso abrir os olhos para o mundo. A relação atual entre países é baseada em trocas de níveis iguais. Se você não dá, você também não recebe. O Brasil tem de utilizar o meio de cooperação tecnológica com emergentes da Ásia. Entre Coreia e Brasil existe um Comitê de Cooperação Industrial. Há que aproveitar o potencial dessa instituição. O Nordeste não tem um canal de comunicação com o Pacífico, apenas de mercadorias. Alguns portos do Nordeste, por exemplo Itaqui, no Maranhão, podem ser o Novo Polo da Indústria Azul no futuro, junto com Zonas Especiais Econômicas. Em dez anos, o Nordeste pode aproveitar o canal da Nicarágua, que vai ter uma capacidade muito maior que o do Panamá, para ter uma via produtiva para o Pacífico. Estou convencido de que, sem industrialização, o Nordeste não vai conseguir eliminar a pobreza. Sem eliminar a pobreza do Nordeste, o Brasil não vai ser a quinta maior economia global.

Desenvolvimento – Qual medida a ser adotada no enfrentamento dessa questão da educação?
Daewon Choi– O Brasil precisa adotar a educação produtiva, em que, se você consome 50%, você tem de produzir 50%. A economia é um sistema de produção e consumo. Sem produzir não se pode consumir. Ao contrário da Ásia, a educação no Brasil tem caráter de consumo. Livro é caro, não tem acesso popular, o custo é alto e a qualidade de ensino é muito baixa. O setor educacional é mais atrasado no Brasil. Qual foi a revolução econômica da China? Foi a educação. 

Desenvolvimento – Empresas como Samsung, LG, Hyundai e Kia Motors receberam grandes incentivos do governo, principalmente nos anos 1980 e 1990. A política educacional do governo também ajudou na influência das tecnologias desenvolvidas por essas empresas?

Daewon Choi – A educação na Coreia não tem classe, não tem estrato social. Na China, o filho de um fazendeiro virou o ministro de Relações Exteriores. No Brasil isso não ocorre, apesar de o governo ter feito bem alguns programas sociais. Mas isso é quantitativo, não é qualitativo. No Nordeste, por exemplo, eu vi alguns centros de treinamento de empresas com conteúdo atrasado. As grandes empresas coreanas tiveram uma ajuda muito grande do governo durante o período inicial de industrialização dos anos 1960 até os 1980, mas depois da OMC e da crise financeira asiática de 1997, o FMI cortou esses subsídios, deixando um grande número de empresas falir. Essas empresas (Samsung, LG, Hyundai, Kia Motors) hoje recolhem as melhores cabeças da Coreia, mas educam também. A Coreia é a maior investidora em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) da Ásia. A Samsung tem centros de estudos de alta tecnologia, com seus próprios institutos de estudos e análises. Um profissional contratado fica um ano fora do país apenas estudando, sem trabalhar. É outra forma de elevar o nível de recursos humanos.

Desenvolvimento – Apesar das deficiências educacionais que o senhor citou, o Brasil consegue produzir inovação. Ou o senhor não concorda?
Daewon Choi– Concordo em absoluto. Veja bem. O Brasil tem o que a Coreia não tem: Embraer, ou seja, a indústria aeronáutica. Na agricultura, o Brasil tem avançado muito em agrotecnologia. Isso mostra que Brasil tem alto potencial e pode avançar em inovação rapidamente. Agora, o Brasil precisa ter um olho para si, para a região, e outro para o mundo. A qualidade dessa inovação precisa melhorar. Logo depois de terminar o meu doutorado na USP, em 1993, eu dava aula de economia na Universidade Southern Califórnia, EUA, trabalhando como consultor internacional da ONUDI (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial) para o governo do Brasil. Eu disse para a equipe econômica do Planalto que o Brasil precisava desenvolver uma política industrial de informação de semicondutores, pois no futuro todo software estaria ligado a semicondutores de uma maneira ou outra. Disseram que eu estava errado. O tempo provou que não. Hoje em dia, 30% do valor de um carro vêm da eletrônica. A China tem uma política industrial de informação de hardware que o Brasil não tem e que possibilita que uma empresa que nasceu há cinco anos, como a fabricante chinesa Xiaomi, ultrapasse a Samsung em número de vendas de smartphones na China, fazendo a coreana perder 15% do mercado. A Índia também tem uma política definida. Por isso que eu digo: China e Índia trabalhando juntas vão dominar o mundo da TIC. Nós já estamos testando o 5G, enquanto o Brasil ainda está no início da implantação do 4G. Para se ter uma ideia, 5G é mil vezes mais rápido que 4G e é capaz de transmitir o holograma ao vivo via celular. É o outro mundo.

“A China tem uma política
industrial de informação de
hardware que o Brasil não
tem e que possibilita que
uma empresa que nasceu há
cinco anos, como a fabricante
chinesa Xiaomi, ultrapasse
a Samsung em número de
vendas de smartphones na
China, fazendo a coreana
perder 15% do mercado”

Desenvolvimento – Qual conselho o senhor daria para as autoridades brasileiras?
Daewon Choi – O Brasil precisa de uma nova visão da economia global e entender a velocidade da mudança econômica global. Pensar a forma de trabalho entre mercado e Estado, e vice-versa, como fez a China. O Brasil não olha para a Ásia. Tem pouco conhecimento sobre a região, exceto via Liberdade e Bom Retiro (dois bairros de imigrantes asiáticos em São Paulo). O Brasil tem de olhar para onde o relógio está indo. O ponteiro da história saiu das dinastias Mongólia e Ming, fez uma volta por Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Estados Unidos e hoje sua direção é China e Índia. Quem vai liderar a economia mundial no século 21 é a Ásia. 

Desenvolvimento – Mas o Brasil tem ampliado sua pauta de exportações e as relações com a Ásia, principalmente por causa dos BRICS. 
Daewon Choi – Tem. Mas ainda existe um preconceito no Brasil em relação aos asiáticos. É preciso quebrar essa barreira. O Brasil tem de ampliar o comércio interindustrial e a cooperação tecnológica. Elevar IPI de 30% deixa entrar mais asiáticos para remontar no país, mas não produzir as peças no país. A China hoje produz carro de US$ 5.000 e até US$ 50.000. O Brasil tem de entender o supply chain e inovação asiático.

“Entre todos os países do
planeta, o Brasil tem o
futuro melhor. Mas precisa
desenvolver sua própria teoria
econômica, primeiramente.
E isso não é possível sem
fechar algumas lacunas,
como o da educação”

Desenvolvimento – Que exemplo seguir?
Daewon Choi – Antes, quase 70% das exportações coreanas eram para os EUA. Hoje, 70% vão para a Ásia. Se você olhar bem, o que mudou foi a estrutura de supply chain. A Coreia importava do Japão e exportava para China com novo valor agregado. Nesse ínterim, a Coreia conseguiu avançar na tecnologia mais que o Japão, em alguns. Por exemplo, HDTV, celular, etc. Agora a China está avançando mais que a Coreia em alguns produtos tecnológicos, como, por exemplo, painéis solares. Nesse jogo, eles competem entre si, mas colaboram entre si. Europa e EUA perdem espaço cada vez mais. O Brasil não está nesse jogo. São exemplos desse tipo. Pois quem olhar para a Coreia do passado vai perder a Coreia do futuro. E o Brasil tem futuro melhor do que a Coreia porque não tem somente recursos naturais, mas tem recursos humanos mais jovens.

Desenvolvimento – O que dá tanta certeza desse futuro asiático?
Daewon Choi – O raciocínio é que o centro global da política econômica de capital, de recursos humanos, de tecnologia, está migrando para a Ásia. China e Índia juntas formarão o mercado de três bilhões, com 60% na faixa de classe média daqui a 20, 30 anos, que é três vezes maior que toda a população dos EUA e da Europa combinadas. Futuristas podem suplementar com drones e robôs. Mas China e Índia podem criar mais drones e robôs porque o custo de produção é mais baixo. Muito simples. Robôs vão ter os nomes de Keynes, Friedman e Romer, etc. Hoje em dia, Baidu, Alibaba e Tencent da China têm capitalização muito maior que eBay e Amazon juntos. Daqui a dez anos todo tipo de tecnologia vai nascer na Ásia, passar pela Ásia e de lá para o mundo. Eu estou muito certo disso, porque viajo sempre dando aulas de economia nas universidades na Coreia, China, Europa, EUA e América Latina. Vejo os produtos e os pensamentos. Por isso o Brasil tem de olhar e trabalhar junto com a Ásia. Do contrário, vai perder o lugar para a Indonésia, que tem recursos naturais tanto quanto o Brasil. 

Desenvolvimento – Mas isso não seria deixar o Brasil dependente da Ásia? 
Daewon Choi – Não é depender da Ásia. Dado o fuso horário e a distância, o Brasil nunca vai depender da Ásia. Mas, se não olhar e trabalhar com ela, vai depender dela no futuro. O Brasil tem de praticar com a Ásia o comércio e o investimento intraindustrial, no qual, diferentemente do comércio imperialista (interindustrial), há trocas simultâneas de produtos horizontalmente, diferenciados entre parceiros comerciais com semelhantes níveis de renda, em que ora um exporta matéria-prima barata, ora material de alta tecnologia. A Ásia precisa do Brasil, precisa de carnaval para melhorar a vida social, com igualdade, respeito mútuo, sem preconceito e com eliminação da pobreza. O século 21 não é da Ásia, mas do Pacifico com o Brasil. Aí o carnaval fica melhor para todos.

 



 
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